Livro: David Sainsbury - Windows of Opportunity, How Nations Create Wealth - Capítulos 5 e 6
Livro: David Sainsbury - Windows of Opportunity, How Nations Create Wealth
Pgs. 139-161
"CAPÍTULO 5: "Seguindo em frente"
80 - O sucesso da Inglaterra da indústria do algodão: A participação do algodão no valor agregado total da indústria cresceu de 2,6 por cento em 1770 para 17 por cento em 1801. Além disso, as exportações de tecidos de algodão atingiram 60 por cento da produção em 1820, tornando-se a maior mercadoria no comércio do século XIX. Além disso, continuou a representar mais de 30 por cento das exportações de manufatura britânicas em 1899, quando a Grã-Bretanha ainda era de longe o maior exportador.
81 - Os tecidos ingleses só ganharam força após o banimento dos tecidos orientais, preferência da época. Com o tempo, essas importações da Índia se tornaram uma séria ameaça à indústria de lã, e os Atos do Parlamento em 1701 e 1720 tornaram ilegal o uso e o uso de sedas indianas e chinesas, e o uso de tecidos de algodão indianos. Então, um produto que era popular entre o povo britânico foi efetivamente banido. (...) Os consumidores começaram a procurar por qualquer empresa que pudesse produzir uma imitação razoável do algodão indiano, e isso levou a uma enorme demanda latente pelas indústrias de algodão e linho já existentes em Manchester. (...) Em outras palavras, isso forneceu à indústria de algodão de pequena escala em Manchester uma demanda latente massiva por roupas de algodão baratas, garantindo que seu investimento em novas tecnologias seria lucrativo.
82 - ... Ao mesmo tempo, ocorreu uma explosão de invenções técnicas que, quando combinadas com a demanda por produtos de algodão, criaram uma "janela de oportunidade" para a indústria britânica. A invenção da lançadeira voadora de John Kay tornou a tecelagem muito mais rápida e, uma vez que foi amplamente adotada na década de 1760, um único tear poderia devorar o fio de pelo menos meia dúzia de rodas de fiar. Dá outros exemplos.
83 - Em 1721, em Derby, Inglaterra, o primeiro exemplo bem-sucedido de uma fábrica que tinha todas as características de uma fábrica moderna mecanizada foi construído por John e Thomas Lombe em uma ilha no Rio Derwent. Era uma fábrica de fiação de seda e tinha uma grande força de trabalho envolvida na produção coordenada usando maquinário motorizado, neste caso acionado por uma roda d'água de 23 pés de altura. (...) Em 1782, havia duas fábricas de algodão na área de Manchester. Em 1830, havia noventa e nove, e em 1835 havia 1.262 fábricas de algodão em todo o Reino Unido, 683 delas em Lancashire.
84 - ...Os pools de mão de obra especializada e qualificada cresceu em várias cidades de Lancashire: Bolton (fios finos); Oldham (fios grossos); Blackburn e Burnley (tecidos grossos). (...) Na década de 1870, as indústrias de algodão ao redor do mundo podiam facilmente comprar equipamentos e plantas britânicas e até mesmo a expertise em engenharia britânica. Mas nenhuma outra indústria de algodão no mundo podia facilmente adquirir a força de trabalho altamente produtiva da Grã-Bretanha; nenhuma outra indústria no mundo tinha passado pelo processo de desenvolvimento de um século que havia produzido a força de trabalho experiente, especializada e cooperativa que a Grã-Bretanha possuía. Infraestrutura de ponta e fabricação eficiente de máquinas também eram nítidas vantagens.
85 - Em 1850, a Grã-Bretanha liderava o mundo na produção de produtos químicos inorgânicos, como cloro, alvejante, soda cáustica e ácido sulfúrico. A principal razão para esse domínio foi a grande demanda doméstica de indústrias como têxteis, sabão e vidro, que por sua vez pode ser rastreada até o grande mercado doméstico e os altos níveis de renda per capita. Vieram então os orgânicos, começando lá mesmo na Inglaterra. Mas enquanto os corantes orgânicos foram descobertos e comercializados pela primeira vez na Grã-Bretanha, em vinte anos a Alemanha ultrapassou a Grã-Bretanha em sua produção, e na década de 1880 dominou a indústria química orgânica.
86 - Nessas novas indústrias intensivas em capital, as unidades de produção alcançaram economias de escala ou escopo muito maiores; isto é, à medida que o volume de materiais processados aumentava, seu custo por unidade caía muito mais rapidamente do que nas antigas indústrias intensivas em mão de obra. Era necessário um fluxo de entradas (fornecedores) e saídas (varejistas etc.) constantes para dar segurança a um investimento do tipo. Tal coordenação não acontecia automaticamente, em vez disso, exigia-se a atenção constante de uma equipe gerencial. A revolução do barateamento nos transportes permitiu essa "concentração de custo", digamos assim, toda valer a pena. Os diferenciais nas potenciais economias de escala e escopo de diferentes tecnologias de produção explicam não apenas por que grandes empresas hierárquicas apareceram em algumas indústrias e não em outras, mas também por que elas apareceram repentinamente nas últimas duas décadas do século XIX.
87 - Afirma que os alemães superaram os demais basicamente porque "largaram primeiro" em relação a investir em pesquisa e inovação nessas indústrias de retornos de escala crescente. Aproveitaram a curta janela de oportunidade na qual nem todo mundo ainda pesquisava sobre o tema. Depois, pra manter, é mais fácil. Reter pessoal qualificado etc. Fizeram os investimentos necessários no século XIX, digamos.
88 - ...Uma explicação apresentada é que o sistema universitário da Alemanha tinha uma base científica muito mais forte, particularmente em química orgânica, e parece ter sido mais responsivo às necessidades da indústria do que as universidades na Grã Bretanha. Sainsbury coloca, porém, que isso é apenas parte da história. Os gerentes alemães entenderam que a ciência e a tecnologia poderiam fornecer a eles vantagens competitivas tão importantes quanto o acesso a mercados, matérias-primas e capital; e esse entendimento surgiu do fato de que muitos deles eram químicos treinados e habilidosos que desfrutavam de relacionamentos de respeito mútuo com os principais professores universitários. Em outras palavras, o principal impacto da forte base de pesquisa universitária foi que ela melhorou as capacidades dos gerentes de empresas alemãs.
89 - Indústria automobilística: as primeiras inovações vieram da Europa e os primeiros produtos eram meio que artesanais. Os artesãos eram altamente qualificados e coordenados pelo empresário da montagem. Henry Ford é quem mudou tudo isso ao vislumbrar a enorme oportunidade que existia devido à demanda latente por um carro barato e utilitário que qualquer homem ganhando bons salários poderia possuir.
90 - Traz os esforços do governos dos EUA em padronização de peças intercambiáveis durante uns cinquenta anos a partir de meados do Século XIX. Inicialmente visavam aumentar a produtividade da indústria de armas e reparos das mesmas. Não precisava cada "artesão" trabalhar com peças e máquinas de fazer armas diferentes. Sainsbury coloca que toda essa lógica foi desembocar na automobilística também mais tarde, já que o desenvolvimento da produção em massa de Henry Ford foi baseado em trabalhos anteriores sobre a intercambialidade de peças. (...) Ele também se beneficiou dos avanços recentes em máquinas-ferramentas, que permitiram que trabalhassem em metais pré-endurecidos. (...) a Ford conseguiu desenvolver designs inovadores que reduziram o número de peças necessárias e as tornaram fáceis de anexar.
91 - Após a intercambialidade... Finalmente, em um golpe de gênio na primavera de 1913 em sua nova fábrica de Highland Park em Detroit, Ford introduziu a linha de montagem móvel, que levou o carro além do trabalhador parado. Essa inovação reduziu o tempo de ciclo do trabalhador de 2,3 minutos para 1,19 minutos, cortando os minutos necessários para montar o motor, por exemplo, em 62 por cento. Henry Ford agora tinha um carro que foi projetado para fabricação e também era fácil de usar. Qualquer um poderia dirigir e consertá-lo sem um motorista ou mecânico. E o preço caiu constantemente. (...) Em 1908, o preço do Modelo T era de US$ 850. À medida que Ford desenvolvia seu sistema de produção em massa, o preço caiu para US$ 600 em 1913 e US$ 360 em 1916. Como resultado da redução de preço, as vendas do Modelo T aumentaram cinquenta vezes, enquanto a participação de mercado aumentou de 10 por cento em 1909 para 60 por cento em 1924. Os lucros sobre o patrimônio líquido às vezes eram tão altos quanto 300 por cento ao ano, e os EUA atingiram uma posição dominante nos mercados mundiais de exportação. (...) É também outro exemplo impressionante de como uma empresa, tendo alcançado uma enorme vantagem competitiva, é capaz de crescer rapidamente em casa e no exterior, fazendo uma contribuição significativa para a taxa de crescimento de seu país. Mais tarde, viria Sloan com os departamentos e modelos variados, tornando o domínio dos EUA no setor ainda maior.
92 - Interessante: Muitas pessoas pensaram que os americanos perderiam a liderança muito antes, nos anos após a Primeira Guerra Mundial. Henry Ford era muito aberto sobre suas técnicas, e mesmo antes da Primeira Guerra Mundial havia um fluxo constante de visitantes em Highland Park, incluindo André Citroën, Louis Renault, Giovanni Agnelli da Fiat, e William Morris, fundador da Oxford Motor Company e sua subsidiária MG; assim como Herbert Austin, fundador da Austin Motor Company. (...) William Morris visitou Highland Park em 1914 e retornou à Inglaterra determinado a copiar imediatamente as técnicas de produção em massa em sua própria fábrica. No entanto, ele enfrentou grandes dificuldades, o que mostra por que as novas capacidades empresariais que dão a uma indústria em um país uma enorme vantagem competitiva nem sempre são imediatamente copiadas pelas mesmas indústrias em outros países. Cita alguns defeitos da "cópia" lá.
93 - EUA sempre estiveram na ponta das inovações tecnológicas da indústria da computação a partir de meados do século XX. ...Ambos os tipos de empresas nos EUA foram pioneiras em computadores durante a década de 1950, com base na demanda setorial sustentada por contratos governamentais, principalmente do Departamento de Defesa. Da IBM à Microsoft. (...) Em 1969, a IBM havia capturado 70 por cento do mercado mundial de computadores de uso geral.
94 - ...Microcomputadores pessoais começam a surgir: Em 1977, três empresas em diferentes partes do país introduziram seus produtos iniciais: Apple Computer na Califórnia; Radio Shack no Texas; e Commodore na Pensilvânia. Mas a indústria ainda estava em sua infância quando, na primavera de 1980, a gerência da IBM decidiu aproveitar essa nova oportunidade. Com uma estratégia brilhante e perfeitamente executada, refletindo sua capacidade de desenvolvimento de novos produtos, a IBM deu um grande impulso à nova indústria. Ao fazer isso, no entanto, ajudou a desenvolver um produto que, com o tempo, destruiria o domínio mundial do mainframe, no qual a IBM e seus clones eram os líderes. (...) Startups e empresas estabelecidas invadiram esse enorme mercado novo e, em 1986, havia cerca de 200 empresas produzindo clones de IBM PC.
95 - ...Enfim, foi o último exemplo apresentado de indústria revolucionária. (...) Em cada caso, as empresas no país economicamente bem sucedido foram capazes de ganhar uma enorme vantagem competitiva sobre empresas em outros países ao adquirir novas capacidades organizacionais e tecnológicas. Importava serem capacidades difíceis de imitar. (...) Em nenhum dos casos, por exemplo, parece que a capacidade de acessar capital deu às empresas uma vantagem competitiva.
Pgs. 162-188
"CAPÍTULO 6: "Alcançando o apanhado"
96 - Começa tratando da abertura da China e Índia. Voltando ao caso da Índia antes do processo de reforma econômica começar em 1991, a economia do país era amplamente fechada para o mundo exterior. A moeda indiana, a rupia, era inconversível, e altas tarifas e licenças de importação impediam que mercadorias estrangeiras entrassem no país. Os Planos Quinquenais do país se assemelhavam ao planejamento central na União Soviética; e aço, mineração, máquinas-ferramentas, água, telecomunicações, seguros e usinas elétricas, entre outras indústrias, foram efetivamente nacionalizadas em meados da década de 1950. Além disso, licenças elaboradas, regulamentações e burocracia acompanhante, comumente chamadas de Licence Raj, eram necessárias para abrir negócios na Índia entre 1947 e 1990. (...) No entanto, em resposta a uma crise financeira, o Primeiro-Ministro Narasimha Rao e seu Ministro das Finanças Manmohan Singh iniciaram em 1991 um programa de liberalização econômica.
97 - Finalmente, na Polônia, após o fracasso do governo comunista nas eleições de junho de 1989, um programa de reforma foi elaborado e, em dezembro de 1989, aprovado pelo Sejm (a câmara baixa do parlamento polonês) e assinado pelo presidente. Isso limitou drasticamente a influência do estado sobre a economia e aboliu a fixação de preços para muitos produtos, permitindo que fossem ditados pelo mercado em vez do Escritório Central de Estatística.
98 - ...No entanto, há muitos países na África que eram economias de mercado durante esse período, mas não se recuperaram. "Acertar os preços" não é suficiente.
99 - O que as estratégias desses países aproveitaram? Os fatores que abriram janelas de oportunidade para elas foram a liberalização do comércio, novas formas de transporte e o crescimento das cadeias globais de valor (GVCs). Cita as quedas contínuas de tarifas desde o fim da segunda guerra mundial, por exemplo, graças ao GATT.
100 - Antes do desenvolvimento da conteinerização, os navios eram carregados manualmente. Isso não era apenas caro, mas significava que os produtos importados podiam permanecer por semanas no porto. (...) Economistas estimaram que a conteinerização impulsionou o comércio muito mais do que todos os cortes de tarifas entre 1947 e 1994.
101 - Também houve a oportunidade da revolução nas comunicações. ...Esses custos de comunicação mais baratos interagiram com duas outras tendências – a queda espetacular no preço do poder de computação e o aumento igualmente impressionante nas taxas de transmissão de fibra óptica e largura de banda – para causar a morte da distância para ideias digitalizadas. Como resultado, estágios de fabricação que antes tinham que ser feitos a uma curta distância agora podiam ser realizados em diferentes países sem uma perda significativa de eficiência ou pontualidade. (...) A terceirização da manufatura para o México e a China não fazia sentido econômico quando a coordenação tinha que ser feita por telefone, fax ou correio expresso noturno.
102 - Cadeias globais de valor e subdesenvolvimento: Quando a revolução das GVCs começou a ganhar força, muitos países em desenvolvimento decidiram que as barreiras comerciais estavam prejudicando suas chances de obter sua parcela de empregos terceirizados e, por volta de 1990, começaram a cortar tarifas entusiasticamente.
103 - A maneira como os países em desenvolvimento usaram as GVCs para explorar tecnologia estrangeira e informações de mercado diferiu significativamente. Por exemplo, Cingapura usou amplamente a transferência interna da sede de uma empresa estrangeira para sua subsidiária em Cingapura. Em contraste, Taiwan e, especialmente, a Coreia do Sul, confiaram principalmente na transferência externa por meio de mecanismos como a Fabricação de Equipamentos Originais (OEM), uma importante inovação organizacional que facilitou muito o aprendizado e a atualização tecnológica em países em desenvolvimento.
104 - Coloca que o fluxo de pessoas se intensificou. A batalha pelos cérebros também. Esses fluxos envolveram tanto cidadãos do país em recuperação indo para o exterior para aprender e depois retornando para casa; quanto cidadãos dos países avançados se estabelecendo, ou simplesmente visitando, os países em desenvolvimento como consultores, professores ou como pessoal técnico para empresas locais e estrangeiras.
105 - ...O exemplo mais óbvio de uma comunidade técnica transnacional é aquela que o governo de Taiwan ajudou a criar no Parque Científico de Hsinchu. Como já visto no Capítulo 4, o parque científico continha muitos retornados dos EUA, que em 1999 haviam criado 110 das 284 empresas no parque. Ao mesmo tempo, um número crescente desses engenheiros altamente móveis, nascidos em Taiwan e educados nos EUA, começou a trabalhar nos EUA e em Taiwan, viajando regularmente pelo Pacífico. Conforme viajavam entre as duas regiões, eles carregavam conhecimento técnico, bem como contatos, capital e informações sobre novas oportunidades e mercados. Dessa forma, eles formaram uma comunidade técnica transnacional que desempenhou um papel significativo na aceleração do fluxo de habilidades, know-how e informações de mercado entre as duas regiões.
106 - Estratégia de Taiwan: Como havia muitas empresas de pequeno e médio porte em Taiwan, e uma ausência de grandes empresas, o governo fez uso de agências do setor público. No caso da indústria eletrônica, como veremos novamente mais adiante neste capítulo, o órgão público usado foi o Instituto de Pesquisa em Tecnologia Industrial (ITRI), que havia sido criado para fornecer suporte público para P&D, e consórcios de pesquisa formados com empresas taiwanesas.
107 - Uma terceira abordagem, pioneira de Cingapura, foi o uso de corporações multinacionais. O governo de Cingapura acreditava que a base empresarial local era muito fraca para liderar o processo de industrialização e, em vez disso, encorajou as MNCs a assumirem esse papel. As corporações multinacionais são a melhor fonte mundial de competências tecnológicas, e Cingapura foi pioneira na abordagem de oferecer a elas condições favoráveis para localizar suas atividades em seu país, aumentando assim a habilidade geral e as capacidades tecnológicas de suas empresas nacionais. (...) O governo de Cingapura também buscou atualizar a atividade das multinacionais de acordo com suas prioridades estratégicas, direcionando seus investimentos para atividades de maior valor agregado e encorajando as afiliadas existentes a atualizar suas tecnologias e funções. Esta foi uma política muito ativa envolvendo intervenções extensivas na criação de habilidades; encorajando instituições de P&D e tecnologia; desenvolvimento de infraestrutura; suporte a fornecedores; e atraindo, direcionando e orientando investimentos. Também foi muito bem-sucedida.
108 - O conceito de “janelas de oportunidade” foi usado pela primeira vez por Carlota Perez e Luc Soete em 1988 para se referir ao papel que os novos paradigmas tecnoeconómicos podem desempenhar em permitir que empresas retardatárias superem as tradicionais. Eles apontaram para as dificuldades enfrentadas por empresas em países em desenvolvimento ao tentar competir contra empresas bem estabelecidas em países desenvolvidos que se beneficiavam de economias de escala e curvas de experiência. A única maneira que parecia que as empresas nessas circunstâncias poderiam crescer era escolher produtos maduros e combiná-los com os baixos salários de um país em desenvolvimento. No entanto, dado que produtos maduros são precisamente aqueles que esgotaram seu dinamismo tecnológico, tal estratégia carrega consigo o risco de ficar preso em um padrão de desenvolvimento de baixo salário e baixo crescimento. Um processo de recuperação eficaz só pode ser alcançado, eles argumentaram, adquirindo a capacidade de participar da geração e melhoria de tecnologias, em oposição ao simples "uso" delas. (...) Eles ... argumentaram que a recuperação ocorre quando as empresas estão em posição de aproveitar as "janelas de oportunidade" temporariamente criadas por transições tecnológicas ou outras. Todos estão na mesma posição de aprender uma tecnologia nova. Ou seja, não se trata de mera corrida por aprimoramento.
109 - Uma janela tecnológica de oportunidade ocorre quando uma grande mudança tecnológica acontece; por exemplo, a mudança da era analógica para a era digital em eletrônicos de consumo. Uma janela de demanda se abre quando um novo tipo de demanda ocorre, há uma grande mudança na demanda local ou um novo conjunto de consumidores aparece, como aconteceu no caso da demanda por carros de baixo custo na Índia. Finalmente, uma 'janela de política pública/institucional' pode ser aberta por meio de intervenção pública em uma indústria ou mudanças drásticas em suas condições institucionais. Por exemplo, ao alcançar a liderança na indústria mundial de telefonia móvel, a Nokia aproveitou a estratégia regulatória europeia que buscava substituir rapidamente o padrão analógico pelo padrão digital GSM para telefones celulares.
110 - Políticas de incentivo: O principal instrumento de política usado pelo governo taiwanês nessa fase foi uma obrigação de conteúdo local que forçou produtores estrangeiros a atualizar as capacidades de fornecedores locais de peças e componentes. Em 1965, regras de conteúdo local foram impostas para aparelhos de TV em preto e branco em um nível de 50 por cento, aumentando gradualmente para 90 por cento em 1974. Essa intervenção direta do governo foi projetada para promover o desenvolvimento de uma indústria local de peças e componentes. Zonas francas e institutos de P & D foram outras armas de industrialização.
111 - ...Havia parcerias público-privado na indústria. Em 1990, devido a políticas como os consórcios de I&D, a indústria electrónica de Taiwan representava nada menos que 12,2 por cento da produção do país. Respondiam rapidamente às novidades do mercado.
112 - A Coréia do Sul tinha uma estrutura bem mais centralizada. A estratégia de recuperação coreana foi basicamente uma repetição da japonesa. Primeiro, os fabricantes coreanos de semicondutores adotaram uma estratégia de crescimento desequilibrada ao se concentrar em DRAMs, como a indústria japonesa havia feito antes deles. Após estreitar rapidamente a lacuna tecnológica com os japoneses, as empresas coreanas novamente imitaram os japoneses ao adotar o que foi descrito como uma "estratégia de recuperação dinâmica". Isso envolveu o desenvolvimento de uma DRAM de 4M e uma DRAM de 16M quase simultaneamente. (...) Deve-se notar que essa estratégia de recuperação simultânea em gerações sobrepostas de produtos requer níveis extremamente altos de investimento. Os chaebol coreanos conseguiram sustentar isso devido à sua estrutura de propriedade.
113 - ... Alguns anos após começar a produzir DRAMs usando tecnologia de fabricação comprada, a Samsung escolheu desenvolver sua própria tecnologia de design para DRAMs de 256K ou mais. Nesse processo, o papel dos postos avançados de P&D no exterior no Vale do Silício e cientistas e engenheiros que retornavam foi crítico, e a DRAM de 256K da Samsung, desenvolvida por sua equipe do Vale do Silício, foi avaliada como melhor do que as contrapartes japonesas.
114 - ...No que diz respeito ao padrão de desenvolvimento, o padrão de recuperação da Coreia do Sul em relação às DRAMs foi um "pulo de etapas". No entanto, talvez seja melhor descrito como um "comprimido", já que a Samsung não "pulou" ou deu menos importância às DRAMs de 4M, mas desenvolveu as DRAMs de 4M e 16M simultaneamente; e foi a produção em massa das DRAMs de 4M que foi a principal responsável pela mudança na liderança de mercado dos produtores japoneses para a Samsung.
115 - Por que a Europa foi perdendo algumas fatias da indústria do vinho? Foi uma janela de oportunidade em razão da demanda. Devido ao aumento da riqueza e das viagens ao exterior, as pessoas se tornaram mais sofisticadas em seus gostos. Isso levou o vinho a se tornar mais popular como bebida, dando origem, por sua vez, a uma preferência pelos vinhos varietais cabernet, sauvignon, merlot e chardonnay, tipicamente produzidos no Novo Mundo. Chile, Argentina, EUA, África do Sul, Austrália e afins foram sabendo aproveitar.
116 - ...A difusão do consumo de vinho para um grande número de consumidores relativamente inexperientes, que compravam vinho principalmente em supermercados, resultou em uma ênfase maior no marketing e na "construção de produtos" consistente. Além disso, atacadistas e supermercados preferem estocar apenas as marcas mais vendidas, em vez de rótulos pequenos ou novos. Essa estratégia de vendas obviamente tem um impacto prejudicial nas indústrias de vinho que têm vinícolas pequenas e micro, como na Itália.
117 - ...A Califórnia, entre as áreas produtoras do Novo Mundo, foi pioneira na introdução dessa nova abordagem científica, com seus programas de pesquisa amplamente focados na introdução de novas variedades de uva e na redução da variabilidade da produção. Isso foi feito para produzir vinhos de sabor e qualidade consistentes, apesar da variabilidade nas condições climáticas, características do solo e outras condições locais.
118 - Austrália: ...Os dois principais atores são a Australian Wine and Brandy Corporation (a organização setorial nacional); e o Australian Wine Research Institute (o órgão nacional de pesquisa), que é fortemente vinculado à Grape and Wine Research and Development Corporation, um órgão governamental dedicado ao financiamento de projetos de P&D.
119 - Em nenhum caso os governos escolheram produtos ou empresas vencedores, ou tomaram decisões empreendedoras, embora tenham visado indústrias onde achavam que havia uma "janela de oportunidade". (Não? Nem na Coréia do Sul? No mínimo escolheram setores...). Em vez disso, o papel dos governos em países que alcançaram foi o de se juntar ao setor privado para ajudar as empresas a desenvolver novas capacidades com as quais criar vantagens competitivas.
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