Livro: David Sainsbury - Windows of Opportunity, How Nations Create Wealth - Capítulo 2

                                                                                                                                        

Livro: David Sainsbury - Windows of Opportunity, How Nations Create Wealth



Pgs. 60-88


"CAPÍTULO 2: "Uma teoria da capacidade dinâmica do crescimento económico"


26 - Como empresas prevalecem?  Elas podem aumentar sua eficiência de produção por inovação ou podem criar uma vantagem competitiva sobre seus rivais com base em uma dinâmica de capacidades/oportunidade de mercado. A primeira reduzirá o denominador, e a segunda aumentará o nominador no cálculo do valor agregado per capita.


27 - Criar vantagem competitiva e não virar mero tomador de preço é o desafio. Fugir da concorrência perfeita. Tal vantagem deve ser algo durável e difícil de imitar. 


28 - A história mostra que a mudança técnica ocorre muito rápido em alguns setores, enquanto em outros dificilmente avança por séculos.


29 - ...Reinert dá um incrível exemplo de atividade, em si, pouco propícia à inovação: ...Os produtores mais eficientes de bolas de beisebol para o esporte nacional americano são encontrados no Haiti, Honduras e Costa Rica. As bolas de beisebol hoje ainda são costuradas à mão, assim como eram quando foram inventadas, já que todos os engenheiros e todo o capital dos Estados Unidos não conseguiram mecanizar sua produção. Cada bola de beisebol é costurada à mão com 108 pontos, e cada trabalhador é capaz de costurar quatro bolas de beisebol por hora. Não há inovação, diferenciação, retornos crescentes de escala, escopo ou experiência e nenhuma sinergia com outras atividades econômicas. A competição é, portanto, semelhante à de uma mercadoria. Como resultado, até mesmo os salários dos produtores de beisebol mais eficientes são assustadoramente baixos. No Haiti, eles estavam em torno de 30 centavos por hora em 2007, com relatos dizendo que chegaram a 14 centavos por hora em meados da década de 1990.


30 - ...Já outras...: Bolas de golfe são, em comparação, um produto de alta tecnologia, e um dos produtores importantes, com 40 por cento da produção americana, é encontrado na cidade de New Bedford, Massachusetts. Ao contrário das bolas de beisebol, a P&D desempenha um papel importante na produção de bolas de golfe, e embora New Bedford seja uma área de altos salários, os custos diretos de mão de obra representam apenas 15 por cento dos custos de produção devido à intensidade de capital do processo de produção. (...) Os salários de produção na área de New Bedford estavam, em 2007, entre US$ 14 e US$ 16 por hora.


31 - Ademais, há campos produtivos que já saturaram quase toda a possibilidade de lucro via expansão da mais-valia relativa: Em 1850, eram necessárias 15,5 horas de trabalho para produzir um par de sapatos masculinos padrão. Então, uma explosão de produtividade ocorreu na produção de calçados, com a rápida mecanização tornando possível cinquenta anos depois, em 1900, empregar apenas 1,7 horas de trabalho para produzir um par de sapatos idêntico. Durante esse período, St. Louis, no Missouri, tornou se uma das cidades mais ricas dos EUA, com base em sua produção de sapatos e cerveja. (...) Depois de 1900, a curva de aprendizado para calçados achatou-se, e em 1936 eram necessárias apenas 0,9 horas. À medida que a curva de aprendizado achatou-se, a produção de calçados foi transferida para regiões mais pobres, e os EUA, por muito tempo exportadores de calçados, agora importam praticamente todos os seus calçados. 


32 - Mercados perfeitos são para os pobres.


33 - Se olharmos para o registro histórico, descobriremos que a agricultura quase sempre produziu baixas taxas de valor agregado per capita; a indústria produziu altas taxas de valor agregado per capita; enquanto os serviços produziram alguns setores de alto valor agregado per capita, como serviços financeiros e profissionais e TI, e muitos setores de baixo valor agregado per capita, como o comércio varejista, atividades de assistência residencial e atividades de serviços de alimentos e bebidas. São "janelas de oportunidades" diferentes.


34 - O comércio internacional (...) fornece uma oportunidade de aumentar o nível de valor agregado per capita de uma nação, ao mesmo tempo em que representa um perigo de que seu valor agregado per capita seja reduzido. O comércio internacional torna possível para uma nação aumentar seu valor agregado per capita eliminando a necessidade de suas próprias empresas produzirem todos os bens e serviços que deseja. Ela pode então se especializar naquelas indústrias e segmentos onde suas empresas têm um alto valor agregado per capita e importar aqueles produtos e serviços onde suas empresas têm um baixo nível de valor agregado per capita. Dessa forma, ela pode aumentar seu nível médio de valor agregado per capita. (...) Além disso, se as empresas transferirem atividades de alto valor agregado per capita para o exterior devido ao ambiente lá que permite que tais atividades sejam realizadas de forma mais lucrativa (levando em conta salários estrangeiros e outros custos), isso terá um impacto negativo no nível de valor agregado per capita do país de origem.


35 - Polemiza com Krugman sobre "alto valor" e "competitividade": A forte reação contra o termo parece estar lá porque as suposições implícitas por trás da competitividade contradizem o próprio cerne do pensamento neoclássico. Em um mundo habitado por 'empresas representativas' operando sob informações perfeitas e sem efeitos de escala – as suposições ortodoxas da teoria neoclássica – a competitividade não tem sentido. Assim, a visão de Krugman de que falar é um 'setor de alto valor' é tolice. A competitividade é causada por fatores que os economistas neoclássicos tradicionalmente assumiram como inexistentes.



36 - Estágios do crescimento: Em nações no estágio orientado a fatores, empresas de sucesso internacional tiram suas vantagens quase exclusivamente de fatores básicos de produção, sejam eles recursos naturais, condições favoráveis de crescimento para certas safras ou um conjunto de mão de obra semissalariada abundante e barata. No estágio orientado a investimentos, a vantagem competitiva é baseada na disposição e capacidade das empresas de investir agressivamente em instalações modernas, eficientes e frequentemente de grande escala, equipadas com a melhor tecnologia disponível nos mercados globais. (...) No terceiro estágio, impulsionado pela inovação, as empresas não apenas se apropriam e melhoram a tecnologia e os métodos de outras nações, mas os criam. As empresas indígenas de uma nação impulsionam o estado da arte em tecnologia de produtos e processos, marketing e outros aspectos da competição; e, assim, segmentos menos sofisticados e sensíveis a preços são gradualmente cedidos a empresas de outras nações. A força motriz da economia baseada na riqueza é a riqueza que já foi conquistada.


37 - ...Em indústrias simples, como a produção de roupas baratas ou a montagem de componentes eletrônicos, é difícil para qualquer empresa obter uma vantagem competitiva. Consequentemente, o valor agregado per capita das empresas é baixo, e os salários que elas podem pagar também são baixos.


38 - A melhor vantagem competitiva: Nem todo conhecimento/informação dá pra colocar num papel: Knowhow é diferente, pois envolve a capacidade de executar ações tácitas; ou seja, ações que não podem ser explicitamente descritas. Por exemplo, a maioria de nós sabe andar de bicicleta, embora conscientemente não saibamos como o fazemos. Knowhow é a capacidade computacional que nos permite executar certas ações tácitas, e pode ser acumulada tanto no nível individual quanto no coletivo. (...) se a capacidade de acumular conhecimento e know-how para fabricar produtos e serviços é difícil, é provável que os países tenham acumulado níveis variados de conhecimento e know-how dependendo de sua história econômica e, portanto, a complexidade dos produtos e serviços que eles podem produzir variará.


39 - Ecofísicos e geografia: Hidalgo e Haussman teorizaram que produtos que exigem uma grande entrada de conhecimento e know-how tenderiam a ser exportados de apenas alguns países. Alguns dos produtos exportados por um grande número de países incluem vestimentas simples, como roupas íntimas, camisas e calças; enquanto alguns dos produtos exportados por relativamente poucos países incluem instrumentos ópticos, aeronaves e dispositivos de imagem médica. Uma varredura tão simples sugere que as indústrias que exigem menos conhecimento e know-how estão presentes em mais lugares, como seria de se esperar. (Torna-se necessário tirar, porém, os recursos naturais raros da jogada, como urânio. Veja-se, abaixo, como a galera do petróleo costuma ser outlier na correlação PIB per capita e complexidade).



40 - (Aparentemente os dados estão bastante desatualizados aí acima. Pra não dizer esquisitos. Índia mais rica que China? Quando? Deve ser 1985)


41 - Coloca que o nível de complexidade em 1985 em relação ao nível de renda per capita no mesmo ano foi um bom preditor de quais países mais cresceriam entre 1985 e 2000, por exemplo. (...) em períodos de dez a quinze anos, a complexidade econômica das exportações de um país é uma boa medida de sua capacidade de aumentar seu PIB per capita



42 - Saburo Okita, outro economista japonês e mais tarde Ministro das Relações Exteriores na década de 1980, adotou o "modelo dos gansos voadores" e argumentou que um país pobre é capaz de atualizar sua tecnologia saltando de um produto para outro com conteúdo de conhecimento crescente. (...) No caso de roupas baratas, o primeiro ganso voador foram as empresas japonesas, que impulsionaram seu valor agregado e aumentaram o padrão de vida do Japão a tal ponto que a produção foi assumida por empresas sul-coreanas, enquanto as empresas japonesas se mudaram para a fabricação mais complexa de aparelhos de TV. As empresas sul-coreanas então aumentaram seus custos de mão de obra, e roupas baratas foram por um tempo produzidas em Taiwan, até que a mesma coisa aconteceu lá e a produção de têxteis baratos se mudou para a Tailândia e Malásia, e então finalmente para o Vietnã. Dessa forma, todo um grupo de países usou a produção de roupas para atualizar suas capacidades de produção e padrão de vida.


43 - Há forte interligação entre as inovações (e know-how) de diversos setores. Usando a analogia de Hidalgo, escreve:  ...Trazer uma indústria complexa para um novo país é, segundo ele, como tentar mover um quebra-cabeça de uma mesa para outra. Quanto mais peças houver no quebra cabeça, maior a probabilidade de ele se desfazer quando alguém tenta movê-lo. Também é mais fácil, ele ressalta, mover tal quebra-cabeça se alguém tiver apenas que mover algumas peças para outra mesa, na qual as peças restantes do mesmo quebra-cabeça já foram montadas.


44 - A partir de mapas como os de Hidalgo, dá pra deduzir várias coisas. ...Então podemos dizer que mangas são similares a bananas, mas não motocicletas, porque firmas produtoras de mangas tendem a contratar trabalhadores nas mesmas categorias que firmas produtoras de bananas, enquanto fabricantes de motocicletas o fazem. não. (...) Essas informações sobre as ligações entre as indústrias, juntamente com o conhecimento da escada do desenvolvimento econômico, devem dar ao formulador de políticas uma compreensão dos processos que determinam a taxa de crescimento econômico de um país e devem permitir que ele ou ela formule mais facilmente políticas para aumentá-la.


45 - Há protecionismos e protecionismos:  Acredito que um forte argumento pode ser feito para permitir que países em desenvolvimento usem tarifas para proteger 'indústrias nascentes', mas não pode haver tal argumento para países desenvolvidos usarem protecionismo para ajudar indústrias em declínio. Tal protecionismo apenas enfraquece os incentivos para realocar recursos em novos produtos e empresas que sejam competitivos e, como resultado, desacelera o crescimento econômico. (...) Portanto, é importante que os países desenvolvidos se vejam competindo com os países em desenvolvimento em uma "corrida para o topo" e não em uma "corrida para o fundo". Em uma 'corrida para o fundo', mão de obra barata e uma taxa de câmbio 'favorável' podem ser vistas como a melhor maneira de atingir competitividade.


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