Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América - Capítulo 12 (PARTE "A")
Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América
Pgs. 410-422
"CAPÍTULO 12: "ENFRAQUECIMENTO DO DINAMISMO AMERICANO"
406 - Este livro mostrou repetidamente que a maior vantagem comparativa da América foi seu talento para a destruição criativa. Ele faz toda uma comparação dos EUA com os europeus ricos, mas que deve ter um gigantesco quê de exagero, afinal, no fim das contas, a produtividade do trabalho por hora, após toda esse século, continua mais ou menos a mesma entre todos esses países. Na Grã-Bretanha, os grandes empreendedores comemoravam o sucesso reduzindo os negócios, comprando terras e um título de nobreza. Na América, não existe aristocracia acima da aristocracia dos empreendedores.
407 - Coloca a ampla mobilidade de fatores como chave do sucesso estadunidense: A lei de falências mais liberal do mundo permitia que as companhias fechassem. O maior mercado interno do mundo permitia que as pessoas se mudassem para lugares onde suas habilidades eram generosamente recompensadas. Os Estados Unidos aceitavam que cidades fantasmas e fábricas fechadas são o preço do progresso. Em parte, o país ainda é um sucesso: ...As empresas americanas hospedam 61% dos usuários de redes sociais do mundo, executam 91% das buscas e inventaram os sistemas operacionais de 99% dos usuários de smartphones. A Google processa 4 bilhões de buscas por dia.
408 - Os Estados Unidos dominam os altos escalões que comandam as finanças globais. A participação dos bancos de investimento de Wall Street no mercado global cresceu para 50%, enquanto as firmas europeias encolheram e os aspirantes asiáticos ficaram estagnados. Os gerentes de fundos americanos administram 55% dos ativos mundiais sendo geridos, enquanto uma década atrás esse número era de 44%. (...) Os Estados Unidos são o lar de quinze das vinte melhores universidades e de mais de 60% do capital de risco do mundo. A parcela da América nas patentes registradas no mundo aumentou de 10%, quando da eleição de Ronald Reagan, para 20% na atualidade.
409 - As fórmulas de novo fôlego administrativo às companhias estadunidenses: Jack Welch, CEO da General Electric por duas décadas no final do século XX, aconselhou as companhias a abandonarem os mercados que não dominavam. Warren Buffett, o investidor mais famoso do século XXI, elogia as companhias que têm um “fosso” ao seu redor — uma barreira oferecendo estabilidade e poder de mercado.
410 - ...Greenspan retorna, porém, à preocupação com a decadência da destruição criativa: Segundo o Departamento do Censo, a mobilidade geográfica está caindo há três décadas. A migração entre estados caiu 51% abaixo da média apresentada nos anos de 1948 a 1971, e está caindo continuamente desde a década de 1980. A taxa de mudanças entre condados caiu 31% no mesmo período, enquanto a taxa de mudanças dentro dos condados caiu 38%. Essa nova inércia é observada particularmente entre os afro-americanos: depois de terem migrado em números tão grandes do Sul na primeira metade do século XX, eles agora estão sossegando.
411 - Mudar-se para centros econômicos está ficando muito mais difícil para os americanos. O nova-iorquino típico hoje gasta cerca de 84% da média salarial nacional com aluguel. Isso torna impossível para uma pessoa comum, do Kansas, por exemplo, mudar-se para Manhattan. Critica o excesso de regulamentação imobiliária - visando o bem-estar, por sinal, dos que já moram lá - ao que entendi. Capitais que são cheias de regras e restrições que dificultam muito a construção de casas e a fundação de novos negócios. Chang-Tai Hsieh e Enrico Moretti estimam que, se fosse mais barato se mudar para as cidades mais produtivas dos Estados Unidos, o produto interno bruto seria 9,5% mais alto em consequência de melhores empregos.
412 - A ascensão social está se tornando mais difícil: Raj Chetty, da Universidade Stanford, calculou, com base em um amplo estudo dos registros fiscais, que a probabilidade de uma pessoa de 30 anos ganhar mais do que seus pais na mesma idade caiu de 86% quarenta anos atrás para 51% na atualidade. Um estudo de 2015 de três economistas do Federal Reserve e um colega da Universidade de Notre Dame demonstrou que o nível de rotatividade no mercado de trabalho vem caindo há décadas. Teria ficado mais difícil demitir pessoas (não diz quais leis mudaram nesse sentido, estranho...).
413 - Pede até mais investimentos públicos. Os investimentos públicos nos transportes caíram de 2,3% do PIB nos anos 1960 para cerca de 1,7% na atualidade, menos do que na Europa e muito menos do que na China. As estradas, particularmente no Nordeste e na Califórnia, estão cheias de buracos. O Aeroporto Internacional John F. Kennedy é um cortiço constrangedor se comparado, digamos, ao Aeroporto Internacional de Pudong, em Xangai. Os trens da América são carroças lentas se comparados aos trens-bala da China. Continua numa extensa lista de defeitos da infraestrutura geral dos EUA, seja na energia, saneamento ou nos transportes.
414 - Se isto aqui é uma tendência só nos EUA eu realmente não sei: A participação de novas firmas (com cinco anos ou menos de existência) em todos os negócios caiu de 14,6% em 1978 para apenas 8,3% em 2011, mesmo enquanto a parcela das firmas que estavam fechando as portas permaneceu praticamente a mesma, entre 8% e 10%. A parcela dos empregos em firmas novas caiu de 18,9% no final dos anos 1980 para 13,5% pouco antes da grande recessão. A proporção de pessoas com menos de 30 anos com ações em companhias privadas caiu de 10,6% em 1989 para 3,6% em 2014. (...) O número de novas empresas de tecnologia entrou em declínio desde o pico alcançado em 2000. Critica, ainda, a baixa na média de IPO's.
415 - Enquanto isso, as "grandonas" consolidam a concentração: A parcela das receitas geradas pelas empresas da Fortune 100 nas receitas das empresas listadas na Fortune 500 cresceu de 57% para 63% entre 1994 e 2013. (...) O número de companhias registradas na bolsa caiu quase pela metade entre 1997 e 2013, de 6.797 para 3.485. (...) A Economist dividiu a economia em mais ou menos novecentos setores cobertos pelo censo econômico americano. Dois terços deles se tornaram mais concentrados entre 1997 e 2012. A média ponderada de participação das quatro principais firmas em cada setor aumentou de 26% para 32%. A consolidação foi mais pronunciada nos setores mais intensivos em conhecimento da economia.
416 - Um grupo de pesquisadores da OCDE integrado por Dan Andrews, Chiara Criscuolo e Peter Gal argumenta que a difusão de boas ideias está levando mais tempo do que no passado, o que é preocupante. As empresas de elite que se encontram entre as 5% principais, chamadas de “empresas de fronteira”, ficam à frente por um período muito maior do que no passado, aumentando sua produtividade, enquanto os 95% restantes das empresas continuam estagnados. O setor de tecnologia da informação está produzindo uma classe de empresas de superfronteira: a produtividade dos 2% no topo da lista das companhias de TI aumentou em relação à das outras empresas de elite. Empresas de pontas costumam pescar os melhores profissionais logo na universidade, o que dificulta ultrapassagem por empresas novas.
417 - Preocupa-se com uma tendência à desocupação presente em alguns grupos. Em Scranton, Pensilvânia, 41% dos indivíduos com mais de 18 anos se retiraram da força de trabalho. Em Syracuse, Nova York, o número é 42,4%.15 A desocupação geralmente é acompanhada de uma vida de pequenos crimes e dependência química: em particular, uma epidemia de uso de opiáceos e metanfetamina está encurtando vidas e agravando patologias sociais.
418 - Greenspan coloca que problemas que já eram fortes entre as famílias negras estão chegando também nos brancos (talvez os EUA comecem a se preocupar bastante então...): Entre os brancos que concluíram o ensino médio, o percentual de filhos de mães solteiras aumentou de 4% em 1982 para 34% em 2008. Traz números crescentes de abandono no ensino médio também, mas me parece que houve algum erro de tradução na magnitude. Conclui que famílias desfeitas são péssimos indicativos e prognósticos.
419 - A taxa de encarceramento na América é entre oito e dez vezes mais alta do que a dos maiores países europeus. Em grande parte, isso se deve à persistência de leis antidrogas draconianas, que encarceram pessoas que praticam pequenos atos ilícitos relacionados às drogas por longos períodos de tempo. A mancha do cárcere fica: Um estudo mostrou que 60% dos presos que eram soltos estavam desempregados um ano após a soltura.
420 - ...O número de mortes causadas pelo uso de drogas, por doenças do fígado relacionadas ao álcool e pelo suicídio está aumentando, enquanto o progresso contra o que mais mata na meia-idade, como doenças cardíacas e o câncer, está perdendo força. Os autores argumentam que a explicação mais plausível para tudo isso é o gradual “colapso da classe trabalhadora branca com ensino médio após seu auge no início dos anos 1970” em virtude do desaparecimento de empregos com salários altos e do acúmulo de disfunções sociais. Aponta a redução drástica de estabilidade no emprego e os tratamentos de saúde caros como causas de desesperança/intranquilidade.
421 - EUA e educação/escolarização: A proporção dos jovens de 17 anos que concluíam o ensino médio aumentou de 6,4% em 1900 para 77% em 1970. Já a proporção dos formandos do ensino médio que se matricularam em universidades aumentou de 45% em 1960 para 63% em 2000. Claudia Goldin e Lawrence Katz, da Universidade de Harvard, estimam que o tempo de instrução aumentou 0,8 ano por década ao longo das oito décadas decorridas entre 1890 e 1970, e esse aumento contribuiu com 0,35 ponto percentual de crescimento da produtividade e da produção por pessoa.
422 - ...Desde 1980, os Estados Unidos perderam seu ritmo de inovação pedagógica. A proporção dos americanos que concluíram o ensino médio estacionou ou diminuiu, dependendo da métrica adotada (James Heckman descobriu que o percentual de indivíduos de 18 anos com diplomas do ensino médio “autênticos” havia caído para 74% em 2000). 11º lugar entre as nações desenvolvidas, nesse percentual. Faz também a crítica à qualidade, mas meio que não há dados antigos para comparar, creio. Os testes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (o PISA), da OCDE, classificaram os alunos americanos de 15 anos no 17º lugar em leitura, 20º lugar em ciências e 27º em matemática.
423 - Para os americanos de 55 a 64 anos, a probabilidade de terem concluído o ensino médio é maior do que a das suas contrapartes nos 34 Estados-membros da OCDE. No que diz respeito à conclusão do ensino médio, os americanos de 24 a 34 anos estão empatados no nono lugar com quatro outros países. Somos também o único país onde a taxa de graduação universitária da população de 24 a 34 anos não é maior do que a da população de 35 a 64.
424 - Está preocupado com a possibilidade de os EUA perderem as vantagens históricas da imigração. Boa parte das empresas de sucesso e patentes registradas vieram dos imigrantes. Outros países ricos, como Canadá e Austrália, estão tentando ativamente atrair imigrantes de alta qualidade.
(...)
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