Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América - Conclusão
Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América
Pgs. 441-474
"CONCLUSÃO"
443 - Os americanos provavelmente gozavam o padrão mais elevado de vida do mundo na época — mais alto, em média, do que o de seus antigos mestres coloniais na Grã-Bretanha —, mas qualquer análise moderna mostraria que eles tinham vidas miseráveis. Em 1790, o americano comum ao nascer tinha uma expectativa de vida de cerca de 40 anos. Três quartos dos americanos extraíam o sustento da terra — arando os campos e se dispersando como os seres humanos haviam feito desde o nascimento da agricultura. (...) As viagens eram lentas e perigosas. O máximo que o americano comum — isolado e atormentado — poderia esperar, nas palavras de Abraham Lincoln, era “uma cama limpa sem cobras”.
444 - Em 1790, os negros eram uma proporção muito maior da população do que são hoje: 19% versus 13%. Eles compunham 43% da população da Virgínia, 27% da Carolina do Norte, 44% da Carolina do Sul e 36% da Geórgia.
445 - Destruição criativa/produtiva em ação: ...a indústria telefônica reduziu o número de operadores de mesa telefônica de 421 mil em 1970, quando os americanos faziam 9,8 bilhões de chamadas de longa distância, para 156 mil em 2000, quando faziam 106 bilhões de chamadas.
446 - Empreendedores: os "heróis" imperfeitos do capitalismo, segundo Greenspan: Charles Goodyear ficou tão obcecado pela vulcanização da borracha que condenou a família a uma vida de pobreza e esqualidez, com três de seus filhos tendo morrido na infância. Isaac Singer traiu o sócio, tirando-o do negócio, sufocou uma das mulheres até deixá-la inconsciente, era polígamo e negligenciou os filhos. John Henry Patterson, fundador da National Cash Register Company, era viciado em dietas da moda, fanático por exercícios, tomava cinco banhos por dia e certa vez jejuou por 37 dias. Henry Ford iniciou uma série de planos ambiciosos para melhorar o mundo, inclusive o da eliminação das vacas, que não conseguiu concretizar. Levou empresários e ativistas pela paz à Europa, num navio, durante o início da I Guerra dizendo que estavam chegando para acabar com ela. (...) Thomas Watson transformou a IBM em um culto à personalidade que incluía hinos da companhia sobre “nosso amigo e guia”, um homem cuja “coragem ninguém pode desafiar”.
447 - Por que é difícil vender a destruição produtiva? São vários problemas. O primeiro é que seus custos na maioria das vezes são mais óbvios do que os benefícios. Estes tendem a ser indistintos e a surgirem no longo prazo, enquanto os custos são concentrados e surgem instantaneamente. (...) O “vento perene” da destruição criativa, portanto, encontra um “vento perene” de oposição política. As pessoas dão-se os braços para proteger empregos ameaçados e salvar indústrias moribundas. Elas denunciam os capitalistas pela sua ganância.
448 - Alerta para o perigo do medo e dos pânicos financeiros: ...Os investidores conservam apenas os ativos mais seguros e líquidos. A liquidez manda e todos fazem reverência a ela. Só se empresta aos melhores pagadores. O crédito seca. Companhias entram em colapso. Pessoas são demitidas. Mais uma vez, o processo se alimenta de si mesmo: o pânico cria contração; a contração cria mais pânico.
449 - A destruição criativa esteve longe de ser perfeita. Um só exemplo: As mortes provocadas por acidentes industriais em Pittsburgh quase dobraram de 123 para 214 por 100 mil habitantes entre 1870 e 1900.
450 - Progresso: A queda dos preços dos alimentos foi particularmente notável: em 2000, o americano comum gastava um décimo da sua renda para se alimentar, enquanto essa proporção era a metade em 1900. (...) Comida era algo tão caro que William McKinley fez campanha para a presidência em 1896 com a promessa de “Jantar Completo”. (...) Em 2000, o maior problema era a obesidade: 27% dos americanos são oficialmente classificados como obesos, enquanto na França são 6% e no Japão são 2%;
451 - Em 1900, metade de todas as residências familiares tinha mais de uma pessoa por quarto. Em 1980, o mesmo podia ser dito de apenas 4,5% das famílias. Menciona, ainda, a brutal melhoria nas condições de higiene e saneamento. (...) A expectativa de vida das pessoas dobrou. Em 1900, o americano tinha uma expectativa de vida de cerca de 40 anos. Três doenças infecciosas — tuberculose, pneumonia e cólera — provocavam quase metade das mortes. (...) A expectativa de vida para as populações não caucasianas passou de 33 anos em 1900, quinze anos a menos do que a média entre os brancos, para pouco menos do que a média dos caucasianos em 2000.
452 - O avanço do conhecimento levou a comportamentos melhores: cidades começaram a recolher o lixo, a purificar a água e a processar os esgotos; os cidadãos passaram a lavar as mãos e adotaram hábitos de limpeza pessoal melhores.
453 - Em 1900, os trabalhadores de fábrica trabalhavam em média quase 60 horas por semana — 10 horas por dia, ano após ano. Em 1950, esse número caiu para cerca de 40 horas, permanecendo assim desde então.
454 - Os trabalhos se tornaram menos extenuantes. Ademais, o número de americanos que morreram por acidentes no trabalho caiu de 38 a cada cem mil em 1900 para quatro a cada cem mil no ano 2000. (...) Em 1900, as pessoas começavam a trabalhar jovens e morriam dois anos após a aposentadoria. (...) Michael Cox, economista-chefe do Federal Reserve Bank de Dallas, calcula que o número total de horas trabalhadas ao longo da vida caiu cerca de 25% durante o século XX. No mais, o trabalho doméstico semanal era pesadíssimo e consumia uma longa jornada. Era praticamente impossível uma ampla participação das mulheres no mercado de trabalho assim.
455 - No ano 2000, o americano médio gastava dez vezes mais com recreação do que em 1900, e cinco vezes mais do que em 1950.
456 - De volta a 1800: Os Estados Unidos eram uma economia agrícola: três quartos dos trabalhadores passavam a vida trabalhando na terra. Mais de 30% da força de trabalho em nível nacional e 50% no Sul eram escravos, muitos dos quais envolvidos no cultivo do tabaco para a exportação.
457 - Corta pra 1869: A economia do Norte da América era o modelo de uma civilização progressista: baseada no trabalho livre, guiada por mecanismos de mercado e caracterizada por níveis relativamente baixos de desigualdade. A maioria das pessoas continuava trabalhando em fazendas familiares ou em pequenas empresas, mas a lógica da escala e do escopo começava a predominar. (...) Melhorias nos sistemas de transportes (em particular a revolução dos canais) encorajavam fazendeiros a irem para o Oeste a fim de tirar vantagem do solo mais barato e da terra mais fértil, e para se especializar em gêneros específicos: os fazendeiros do Oeste se concentravam nos grãos, enquanto os do Leste se concentravam em laticínios e pomares.
458 - ...O Sul: A invenção da colheitadeira mecânica aumentara a produtividade. A Revolução Industrial na produção têxtil, especialmente na Grã-Bretanha, estimulara a demanda. E a expansão dos estados sulistas para oeste, principalmente para o Texas e o Kansas, aumentara o território que poderia se transformar em campos de algodão cultivados por escravos. Os escravos correspondiam a cerca de 70% da força de trabalho nos estados centrais do Cinturão do Algodão, como a Carolina do Sul, a Geórgia e o Mississippi. Como as fortunas dos proprietários de escravos concentravam-se principalmente na forma de trabalhadores agrícolas escravizados, eles tinham pouco incentivo para investir em outras formas de criação de riqueza, como a indústria ou a infraestrutura (cidades, estradas ou escolas).
459 - Corta pra 1910: A escravidão fora abolida, a agricultura encolhera para menos de um terço do emprego total, a indústria havia se expandido para um quinto, e os Estados Unidos haviam alcançado quase a alfabetização plena, com apenas 7,7% dos americanos, a maioria filhos de escravos, ainda analfabetos. Negócios de larga escala alimentados por forças inanimadas — água, carvão, vapor e eletricidade — eram comuns. O maior crescimento relativo no emprego dera-se no setor empresarial: grandes empresas precisavam de administradores, contadores, secretários e telefonistas. Imigrantes chegam aos montes nos navios e mulheres começam a aparecer um pouco mais no mercado de trabalho.
460 - Em 1950, já temos um EUA em transição para o trabalho de escritório, porém... A produção de manufaturados era o setor econômico mais forte do país, responsável por cerca de um quarto da força de trabalho. Em outros aspectos, era o embrião de uma economia muito diferente. (...) Uma proporção significativa desses empregos de escritório encontrava-se no governo: o Pentágono era o maior prédio do mundo, e os empregos na burocracia de escritório se espalharam como mato. Um diploma do ensino médio tornara-se a norma educacional. As universidades tinham dado início à sua longa expansão.
461 - A redução da imigração: ...abriu oportunidades para os negros, que abandonaram o atrasado Sul à procura de emprego nas indústrias do Norte. A proporção dos negros vivendo fora do Sul aumentou de 11% em 1910 para 32% em 1950. Paradoxalmente, a decisão de reduzir suas conexões com o mercado de trabalho europeu ajudou a América a integrar os mercados de trabalho do Norte e do Sul.
462 - EUA do ano 2000: ...a maioria dos trabalhadores manipulava símbolos em vez de produzir objetos. Do total dos trabalhadores, 30% tinham formação universitária e menos de 10% não haviam concluído o ensino médio. Mais de metade da força de trabalho estava em escritórios — exercendo suas profissões ou no setor de serviços. (...) A proporção de mulheres com idade a partir de 16 anos no mercado de trabalho cresceu de 34% em 1950 para 60% em 2000. Já a proporção dos homens das mesmas faixas etárias no mercado caiu de 86% para 75% — e a expectativa era de que continuasse caindo nas décadas seguintes. A imigração voltou a acelerar, agora especialmente de latinos e asiáticos.
463 - Elogia que o país tolere o fracasso. Uma coisa que Steve Jobs tem em comum com Henry Ford (e, aliás, também com R. H. Macy e H. J. Heinz) é o fato de ter falido.
464 - Coloca que os EUA podem ter que atacar os benefícios sociais ao estilo do que a Suécia fez na década de 90. A proporção do PIB que ia para os gastos públicos dobrou de 1960 a 1980, alcançando o pico de 67% em 1993. O setor público contratou mais de um milhão de novos funcionários entre 1950 e 1990, um período em que o setor privado não apresentou nenhuma criação líquida de empregos.
465 - ...Os suecos reduziram a parcela do PIB direcionada aos gastos públicos de 67% em 1993 para os 49% que vigoram hoje. Carl Bildt diminuiu o teto tributário e eliminou uma mixórdia de impostos sobre propriedades, doações, patrimônio e heranças. O governo vestiu uma camisa de força fiscal graças à qual deve produzir um superávit ao longo do ciclo econômico. Sua dívida pública caiu de 70% do PIB em 1993 para 37% em 2010, e seu orçamento foi de um déficit de 11% para um superávit de 0,3% no mesmo período. Reformaram a previdência também, inclusive associando a idade mínima ao crescimento da expectativa de vida (pelo que entendi, ainda está em 67 anos a previdência lá). Coloca que houve um consenso entre os partidos pela responsabilidade. Há até um disjuntor que é acionado se a economia entra em recessão: as pensões diminuem quando a economia não pode sustentá-las. (...) O exemplo da Suécia mostra que até o país mais viciado em governo pode alterar seu curso.
466 - Afirma que a coisa como vai é insustentável. Hoje, o aposentado mediano de 65 anos de idade pode esperar viver mais 19,5 anos, enquanto esse número era de 12,7 anos para os homens e de 14,7 anos para as mulheres em 1940 (cinco anos depois de o sistema ter sido estabelecido). A idade para a aposentadoria foi estabelecida num momento em que a maioria das pessoas esgotava seus corpos em trabalhos físicos extenuantes.
467 - Prevenindo a nova crise de 2008 sem necessidade de burocratização (solução de 2010, a Lei Dodd-Frank): Às vésperas da crise financeira, os bancos mantinham em média 10% de seus ativos como capital próprio. Os ativos tangíveis do Lehman Brothers caíram para cerca de 3%. Se os reguladores houvessem forçado o banco a manter, digamos, 25%, ou até melhor, 30%, para reduzir a probabilidade de um calote contagioso — a raiz da crise financeira —, 2008 teria sido uma angina em vez de um infarto. Corporações não financeiras raramente enfrentam insolvência, pois mantêm quase metade de seus ativos como capital próprio.
468 - ...Os danos seriam mínimos, acredita Greenspan. De 1870 a 2017 nos Estados Unidos, com raras exceções, a receita líquida dos bancos comerciais como percentual do seu capital próprio variava entre 5% e 10% ao ano, não importava qual fosse o tamanho das margens de proteção de capital. Esse percentual aumentou na iminência da crise de 2008, presumivelmente refletindo um maior risco associado à grande expansão dos poderes dos bancos comerciais, mas o aumento foi modesto.
469 - EUA versus China: ...a América tem algo precioso que falta à China: um regime político estável que tanto restringe o poder do presidente quanto permite uma transição bem-sucedida entre um líder e o seguinte. Até agora, não há relatos de bilionários americanos comprando casas em Xangai ou Beijing para uma possível emergência.
470 - O problema das regulamentações/burocracia em geral: ...tornam o futuro distante mais incerto, assim desencorajando empresas a investirem em projetos com frutos de longo prazo.
Pgs. 474-480
"APÊNDICE - DADOS E METODOLOGIA"
471 - Coloca que as contas nacionais antes de 1929 eram bem precárias. Porém, há possibilidade de estimativa. Sabemos que tipo de construções as pessoas habitavam e que tipos de transportes usavam não apenas a partir das descrições (e ilustrações) modernas, mas também de exemplos que sobreviveram ao tempo. Também temos descrições detalhadas das provisões (em calorias) consumidas pelo Exército Continental e, em alguns casos, dos alimentos consumidos pela população civil. Isso sugere um ritmo mais lento de aumento da produtividade no século XIX e no início do século XX em comparação ao período de 1929 a 2017.
472 - O PIB do governo foi estimado com base em dados dos gastos dos governos federal, estaduais e locais. Os dados referentes aos gastos do governo federal remontando a 1789 são disponibilizados pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Os dados referentes aos gastos dos governos estaduais e locais remontando a 1902 são disponibilizados pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Nós estimamos os gastos dos governos estaduais e locais anteriores a 1902 com o uso de uma combinação dos dados sobre receitas (1800-1900) e mudanças na dívida (1838-1902) de Sylla, Legler e Wallis. O PIB rural foi estimado com base em dados sobre a receita rural (1869--1937) de Robert Martin e a produção rural (1800-1900) de Marvin Towne e Wayne Rasmussen. Dá mais detalhes lá dos outros componentes.
473 - Chegamos à produtividade estimando o número agregado de horas trabalhadas no horário comercial e comparando-as à produção empresarial. Isso foi feito primeiro estimando-se o emprego nas empresas rurais e não rurais, e depois multiplicando o emprego por estimativas da média de horas semanais trabalhadas para os dois setores. Usamos dados sobre o emprego total e o emprego no setor rural de Weir13 e Weiss.14 Subtraindo o emprego rural do emprego total, chegamos ao emprego não rural, que, em seguida, redimensionamos até chegarmos ao emprego em empresas não rurais.
474 - Trabalho nas fábricas: Nossa referência nessa série de dados são as horas em média trabalhadas nas manufaturas remontando a 1869 de John Kendrick. Em 1869, a média semanal de horas trabalhadas era de 57,7, ou quase dez horas por dia no curso de uma semana de seis dias. Presumimos que isso representava todos os trabalhadores, e que o número era um pouco mais alto para os anos anteriores a 1869.
475 - ...A semana útil começou a diminuir e depois a cair rapidamente em 1914, quando Henry Ford dobrou a remuneração paga por suas fábricas e reduziu seu dia de trabalho de nove para oito horas, seguindo a crença de que o crescimento da produtividade após oito horas por dia era baixo. Observando o aumento dos ganhos em produtividade e da lucratividade de Ford, muitas outras empresas seguiram seu exemplo. FDR trouxe a jornada legal de quarenta horas a 20% da força de trabalho em 1938.
476 - Traz mais detalhamentos sobre o cálculo da produtividade. Não fichei.
477 - PTF: Empregamos uma versão simplificada do procedimento detalhado de estimativa para a PMF. Derivamos os serviços de capital dos dados de Raymond Goldsmith sobre o estoque de capital da nação e sua taxa de depreciação.19 Derivamos o input de trabalho das nossas estimativas da jornada ajustada de acordo com as capacidades com base nos dados referentes às matrículas nas escolas.20 A parcela da renda creditada ao trabalho foi extraída dos dados sobre remunerações de Robert Margo21 e Stanley Lebergott.
478 - No mais, agradecimentos ao fim do livro.
FIM!
Comentários
Postar um comentário