"Livro": Ricardo Sasseron - Determinantes da Produtividade (PTF e CGI) - Intro e Capítulo 2
"Livro": Ricardo Sasseron - Determinantes da Produtividade (PTF e CGI)
Sasseron, Ricardo Henrique - Determinantes da produtividade: análise do impacto do índice GCI e seus componentes sobre a PTF / Ricardo Henrique Sasseron. – Ribeirão Preto, 2016. 113 p. Orientador: Prof. Dr. Luciano Nakabashi - Dissertação de Mestrado – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – FEA-RP - Universidade de São Paulo – USP - Programa de Pós-Graduação em Economia - Área: Economia Aplicada, 2016.
Pgs. 1-16
"INTRODUÇÃO"
1 - Segundo Hsieh e Klenow (2010), o estado atual do debate atribui ao capital humano uma contribuição de 10 a 30% para explicar as diferenças de renda entre países, de cerca de 20% ao capital físico, enquanto o restante (de 50 a 70%) é atribuído a diferenças na Produtividade Total dos Fatores (PTF).
2 - A metodologia utilizada para o cálculo da PTF é a da contabilidade do desenvolvimento, que pressupõe a parametrização de uma função de produção e cálculo da PTF de forma residual. (...) Uma das contribuições do trabalho é realizar uma série de estimativas da PTF para o Brasil, considerando as mudanças metodológicas da Penn World Table (PWT), que é a base de dados utilizada.
3 - CGI é um índice do Fórum Econômico Mundial: Desde 2005, o FEM disponibiliza um índice de competitividade, o Global Competitiveness Index (GCI), que combina indicadores de diversas fontes sobre os determinantes da competitividade, os quais são agrupados em 12 pilares: instituições, infraestrutura, ambiente macroeconômico, saúde e ensino básico, ensino superior e treinamento, eficiência do mercado de produtos, eficiência do mercado de trabalho, desenvolvimento do mercado financeiro, capacidade de absorção tecnológica, tamanho do mercado, sofisticação do ambiente de negócios e inovação.
Pgs. 17-35
"CAPÍTULO 2: "O conceito de produtividade e seus determinantes"
4 - PTF: Na prática, a maior parte dos trabalhos adota apenas os fatores capital e trabalho e medidas da qualidade desses insumos, conforme será explicado no Capítulo 3, deixando de lado outros fatores de produção, como terra e recursos minerais. (...) Alguns autores preferem chamar a produtividade resultante de produtividade multifatorial, por conta da medida não incluir todos os fatores produtivos possíveis.
5 - ...É uma medida obtida de forma residual, no sentido de que há dados para o produto (Y ) e para os fatores de produção (X), sendo a PTF calculada isolando-se A na Equação 2.1. (...) Isto aqui eu sempre pensei: Seguindo Weil (2009), a produtividade, conforme medida pela PTF, pode ser analisada como o resultado da combinação de dois elementos: do avanço tecnológico, que disponibiliza novas tecnologias produtivas, além de novos produtos; e da eficiência com que os fatores de produção e a tecnologia são utilizados na produção. Enfim, A = tecnologia + eficiência.
6 - Na função de produção, a não rivalidade da tecnologia aparece como a possibilidade de retornos crescentes de escala. Ideias podem ser "imitadas" a baixo custo.
7 - Uma das implicações da não rivalidade da tecnologia é que o tamanho do mercado influencia nos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Isso ocorre porque a inovação tecnológica pode ser usada quantas vezes for necessária, sem que se tenha que incorrer nos custos para replicá-la ou reinventá-la.
8 - Quanto à eficiência, mesmo entre países ricos poderemos ver grandes disparidades:
9 - ...Sequer basta ter a mesma tecnologia!: ...houve diferenças de produtividade mesmo quando se trata de uma mesma empresa com plantas produtivas nos três países, sendo razoável supor que o acesso à tecnologia seja o mesmo entre elas. (...) A organização explica. No caso da indústria automobilística, por exemplo, observa-se que as montadoras japonesas trabalham de forma muito próxima com seus fornecedores, possibilitando melhor racionalização de procedimentos.
10 - Cita várias causas de ineficiência: roubos... rent-seeking... recursos ociosos... má alocação... proibição de uso de tecnologias... (Anteriormente, foram discutidas barreiras à adoção de tecnologia por países mais pobres, como a questão do conhecimento tácito e da apropriabilidade da tecnologia desenvolvida em países mais ricos. Aqui, segue-se Weil (2009), classificando a proibição do uso de certas tecnologias como uma questão de ineficiência, e não como um atraso tecnológico, já que o país, mesmo com todas as possibilidades de adotar a tecnologia, “opta” por proibi-la.).
11 - Em 2005, a PTF brasileira foi cerca de 0.39, em uma escala em que a produtividade dos Estados Unidos foi normalizada para 1. Não se sabe o quanto a tecnologia geral do Brasil é atrasada em relação a dos EUA. A depender de quantos anos de atraso se estime, há diferentes estimativas para a nossa deficiência comparada no que tange ao ponto "eficiência/organização":
12 - ...Como se pode observar, no caso da discrepância de produtividade entre Brasil e Estados Unidos, a eficiência é mais relevante, a não ser que se suponha um atraso tecnológico de 50 anos ou mais, quando a tecnologia no Brasil seria 64% do nível nos Estados Unidos, enquanto a eficiência seria 60%. Sendo improvável uma defasagem tecnológica tão grande, já que muitas tecnologias atuais são vistas nos dois países de maneira similar, como o uso de celulares e computadores, por exemplo, então conclui-se que a questão da eficiência é fundamental para explicar diferenças de produtividade entre os países.
13 - Isaksson (2007) identifica diversos fatores que influenciam a PTF, ou que pelo menos estão correlacionados com seu crescimento. Entre eles, capital humano (tanto educação quanto saúde), infraestrutura, importação (mas não comércio em geral), instituições, nível de abertura, competição (principalmente medidas de privatização), desenvolvimento do mercado financeiro, geografia e intensidade de capital na economia ocuparam posições de destaque, afetando a PTF de forma direta e indireta.
14 - Vai citando vários estudos sobre PTF. Exemplo: Os autores constroem 5 indicadores para mensurar a efetividade das políticas pró-competição nos diferentes países, e concluem que existe uma relação positiva e significante entre essas políticas e o crescimento da PTF. Porém, são vários os condicionantes/determinantes da PTF. Acemoglu chega a incluir a sorte.
15 - O presente estudo se baseará na análise dos indicadores que formam o índice GCI, particularmente, os chamados pilares de competitividade, os subíndices formados por estes e o índice geral. (...) (Os pilares já foram apresentados aqui no ponto 3 mais acima).
16 - Instituições para North: ...as leis e regras formais, que instituem restrições legais aos indivíduos, juntamente com os mecanismos de cumprimento dessas leis; e pelas restrições informais, como normas de comportamento, convenções e códigos de conduta, além da governança corporativa das empresas. Facilitar transações e garantir direito de propriedade seriam as chaves. Democracia e separação de poderes, com judiciário independente, também seriam cruciais (o que choca com alguns exemplos?). Já o excesso de burocracia e regulação e a eficiência e qualidade dos serviços públicos, além da corrupção, são importantes entraves.
17 - A questão da estabilidade macro não é só (ou fundamentalmente) para atrair investimentos. Dar segurança e tal. O governo não pode prestar serviços de forma eficiente se tiver de fazer pagamentos de juros elevados sobre as suas dívidas passadas. A existência de défices fiscais limita a capacidade futura do governo de reagir aos ciclos de negócios. As empresas não podem operar de forma eficiente quando as taxas de inflação estão fora de controle. Em suma, a economia não pode crescer de forma sustentável a menos que o macroambiente seja estável.
18 - Setor social: ...um trabalhador saudável tem mais capacidade física e mental para realizar um melhor trabalho; segundo, menor é a abstenção no trabalho por conta de doenças. De forma indireta, crianças mais saudáveis têm um desempenho melhor na escola e desenvolvem melhores habilidades cognitivas, aumentando o nível de capital humano do país. A maior expectativa de vida das pessoas aumenta o retorno de investimentos de longo prazo, como educação, além de aumentar o incentivo das pessoas a pouparem para o futuro, o que eleva a taxa de poupança e o investimento da economia.
19 - PTF e estoque de capital humano (os problemas de ser uma medida residual): ...apesar de a educação ter um efeito positivo sobre a produção de um país, conforme sugerem diversos estudos, medidas de PTF normalmente já buscam levar em consideração esse efeito, de forma que esse pilar, teoricamente, não afetaria essas medidas - o que depende da qualidade das medidas de capital humano adotadas. (...) O impacto da educação na produtividade do trabalho já foi testado empiricamente em diversos estudos. Barro e Lee (2013), por exemplo, encontram que o produto por trabalhador no mundo aumentaria cerca de 2% para cada ano adicional de escolaridade, enquanto Acemoglu (2008) coloca que o retorno encontrado na literatura empírica para a educação é de cerca de 6-10% de renda para cada ano adicional de escolaridade. A ideia é que isso não tenha impacto na medida PTF.
20 - Pilar "eficiência do mercado de produtos": Um ambiente propício para o comércio e a produção também pressupõe um mínimo de intervenção do governo que impeça a atividade econômica, por meio da criação de impostos e taxas distorcivas e onerosas, por exemplo, ou de regras discricionárias sobre investimento estrangeiro direto (que limitam a propriedade de estrangeiros), ou ainda restrições sobre o comércio exterior (World Economic Forum, 2014, p. 7). (...) A eficiência do mercado de bens e serviços também depende das condições da demanda, como orientação para o cliente e sofisticação do comprador, que, por razões culturais ou históricas, podem diferir entre países, criando pressões diferentes para inovação e eficiência das empresas.
21 - Defende-se, ainda, flexibilidade do mercado de trabalho para otimizar a alocação de recursos e que se evite políticas de estabilidade excessiva para alguns, seja o que for isso.
22 - Pilar "capacidade de absorção tecnológica": A questão de se a tecnologia foi desenvolvida internamente ou em outros países é irrelevante nesse pilar. O ponto central é o acesso das firmas às novas tecnologias e a capacidade das mesmas de absorvê-las e utilizá-las. O potencial de um país de desenvolver tecnologia de ponta e criar inovações é mensurado pelo último pilar, de inovação.
23 - Tamanho do mercado e abertura: Outra forma é com incentivos à inovação, uma vez que o desenvolvimento de novas tecnologias e ideias é mais rentável em mercados maiores. Romer (1990), explora essa ideia e conclui, por meio de um modelo de crescimento endógeno via progresso tecnológico, que a integração com o mercado mundial aumenta o crescimento econômico. Além disso, o tamanho do mercado possibilita maiores ganhos com especialização da produção, conforme proposto por Adam Smith em seu clássico livro.
24 - Pilar "sofisticação do ambiente de negócios": A qualidade das redes empresariais e das indústrias de apoio de um país, medida pela quantidade e qualidade dos fornecedores locais e pela extensão da sua interacção, é importante por diversas razões. Quando as empresas e os fornecedores de um determinado sector estão interligados em grupos geograficamente próximos, chamados clusters, a eficiência aumenta, são criadas maiores oportunidades de inovação em processos e produtos e as barreiras à entrada de novas empresas são reduzidas.
25 - Por fim, no que tange ao "inovação", enfatizam o papel de um sistema eficiente e acessível de patentes, como incentivo para a quantidade de investimentos em P&D que as empresas realizam.
26 - ...Pesquisas recentes apontam para a importância também de inovações não ligadas à investimentos formais em P&D. Por exemplo, inovação em gestão, organização da produção, práticas no trabalho, entre outras melhorias, podem aumentar a eficiência produtiva de uma empresa. Coloca que muitos fatores vão condicionar isso: cultura corporativo; disponibilidade de mão-de-obra qualificada; venture capital...
27 - Dividem em três grupos de pilares, dos mais básicos (servem a praticamente qualquer país em qualquer estágio de desenvolvimento) ao mais sofisticado (fazem a diferença especialmente aos desenvolvidos, podendo ter efeitos diminutos nos demais):
28 - Metodologia do CGI: Critérios de mensuração do índice geral: Os países que compõem a fronteira tecnológica são os 10 países com maior número de patentes per capita. (...) O peso atribuído a cada subíndice (esses três grupos acima), no cálculo do GCI final, muda de acordo com o estágio de desenvolvimento em que o país é classificado. Usam cinco estágios, baseados principalmente em PIB per capita PPP (há algumas ponderações para os países que são "ricos" porque montados em recursos naturais/minerais...).
29 - Problemas: ...Como pode ser visto pela descrição dos pilares e subíndices, essas variáveis estão intimamente relacionadas entre si, o que torna mais complexa a tarefa de tentar separar os indicadores em diferentes conjuntos. Uma das consequências é a alta correlação entre as variáveis, como pode ser visto na Figura 15 do Capítulo 7, o que pode causar o problema de multicolinearidade.
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