Livro: R. P. Fernandes - Ortodoxos Vs Heterodoxos Sobre o Crescimento da China - PARTE "A"
"Livro": Raphael Pinto Fernandes - Ortodoxos Vs Heterodoxos Sobre o Crescimento da China
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - INSTITUTO DE ECONOMIA - MONOGRAFIA DE BACHARELADO - CONTRAPOSIÇÃO DE DUAS ABORDAGENS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO CHINÊS NO PERÍODO PÓS-REFORMAS - Raphael Pinto Fernandes. Orientador: Ana Cristina Reif. Janeiro 2018
Pgs. 1-12
"INTRODUÇÃO"
1 - O crescimento chinês: ...com o discurso “getting rich first”, a China alcançou entre 1978 a 2003 uma taxa média de crescimento do PIB e do PIB per capita de 7,9% e 6,6% ao ano respectivamente.
Pgs. 13-32
"CAPÍTULO 1: "UMA VISÃO HETERODOXA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO CHINÊS"
2 - O modelo de Harrod (1938, 1948, 1973) é o ponto de partida para a teoria do crescimento econômico heterodoxa.
3 - "Explica", com equações, o modelo lá do "Supermultiplicador de Sraffa". Não percebi, porém, qual a grande novidade. Expansionismo - especialmente o crescimento dos gastos autônomos, a exemplo de compras do governo - evitando a subutilização, mas com limites: ...Deste modo, se o aumento da parcela do investimento for exagerada, a taxa de crescimento da DA pode se elevar tanto que seria impossível que a oferta da economia acompanhe tal processo explosivo.
4 - Crédito, investimento de estatais, transferências sociais, salários do funcionalismo, tudo isso poderia ser arma de estímulo. Coloca que não é necessário incorrer em déficits orçamentários para promoção do crescimento econômico neste modelo.
5 - A China possui restrições quanto a recursos naturais per capita e hídricos. A industrialização foi inclusive o caminho que sobrou. O legado maoísta foi significativo para fornecer uma base de acumulação primitiva de capital. O investimento na indústria pesada, até por precauções militares.
6 - Gouveia (2012) destaca que outra importante política pré-reforma foi a restrição de mobilidade imposta pelo hukou11 , que impedia a migração do campo para os centros urbanos e impunha um forte controle de diversas atividades econômicas pela burocracia estatal.
7 - China e o crescimento da população e do emprego:
8 - Dados do crescimento chinês por período:
9 - Num primeiro momento das reformas de Deng Xiaoping, há o Gini caindo e o crescimento do consumo das famílias rurais: O período de 1978 a 1988 é marcado pelo início das reformas, com destaque para as reformas rurais: a dissolução das comunas, o aumento dos preços agrícolas e a retomada do sistema de agricultura familiar, que elevou a produtividade agrícola e diminuiu as disparidades existentes entre o campo e a cidade, como ilustra o Gráfico 1, no qual o Coeficiente de Gini registrou o menor valor (0,24) em 1984. (...) As terras ainda eram propriedade do Estado, mas, mediante contratos, concedia o direito de exploração das mesmas às famílias, que, em contrapartida, eram obrigadas a vender cotas de produção para o Estado, caracterizando o sistema dual-track. Para maiores detalhes, ver Gouveia (2012).
10 - Não obstante, com as restrições demográficas impostas pelo hukou, o excedente de trabalho na lavoura, proporcionado pelo aumento da produção rural, foi empregado para expansão do emprego rural não agrícola e assim desenvolveram-se fortemente as Empresas de Vilas e Municípios (EVMs), acelerando o processo de industrialização rural. A expansão destas atividades no campo também contribuiu para o crescimento da renda agrícola. Pela tabela 1, em 1978, 31,5 milhões de habitantes eram empregados em atividades rurais exceto o plantio, enquanto que em 1987 tal número crescera para 81,3 milhões.
11 - Outra importante reforma do período foi a introdução das Zonas Econômicas Especiais (ZEE), para promoção das relações externas. Gouveia (2012) destaca que, a partir desta estratégia, foi permitida a importação de máquinas e equipamentos para modernização da indústria e aumento da produtividade, através da exportação de bens intensivos em mão-de-obra. Desta forma, as exportações se aceleram no período, crescendo 20,6%. Porém, como estas ainda não representavam uma parcela significativa do PIB, o efeito sob a taxa de crescimento do PIB foi reduzido.
12 - Os protestos da Praça Tiananmen em Pequim eram devido ao aumento da inflação que corroía o salário real. Estas manifestações foram duramente reprimidas pelo Governo. Foi uma das características do período 1988-91. Para conter as pressões inflacionárias, o governo diminuiu substancialmente a taxa de investimento das empresas estatais no período – o que leva os autores a perceberem este período como desaceleração puxada pelos investimentos. Desta forma, os investimentos contribuíram para apenas 6,5% do crescimento do PIB. Por sua vez, as exportações corresponderam ao elemento mais dinâmico, em virtude de um processo de depreciação cambial. Estas cresceram 20,1% por ano, em média, e atribui-se 51,6% do crescimento do PIB pelo seu desempenho.
13 - ...No período seguinte, com o controle da inflação, isso mudou: O período de 1991 a 2001 é classificado por Kotz e Zhu (2010) como um período de crescimento puxado pelo investimento. (...) O crescimento da renda urbana acompanha o crescimento do PIB, porém o crescimento da renda rural permanece estagnado, o que acarretou na piora da distribuição de renda no país. (...) Ademais, nas cidades, as reformas salariais entre 1994 e 1995 fizeram com que o crescimento dos salários se mantivesse abaixo do crescimento da produtividade, o que ampliou a participação dos lucros na renda. (MEDEIROS, 2013).
14 - ...A partir de 1990, os investimentos começam a crescer também por uma nova via além dos investimentos das SOEs e das EVMs: a entrada de Investimento Direto Estrangeiro (IDE). (...) foi a solução encontrada para introduzir capitais estrangeiros, modernas tecnologias e métodos gerenciais atualizados necessários à atualização econômica do país.
15 - Esse montante de capitais era severamente controlado pelo governo chinês, classificando os setores econômicos em “encorajados”, “permitidos”, “restritos” e “proibidos”, para dessa forma, favorecer as indústrias de exportações e de alta tecnologia. Majoritariamente a partir dos anos 90, IDEs intensivos em tecnologia, característicos de empresas multinacionais (EMNs) de países desenvolvidos realçavam a estratégia de controle do capital estrangeiro ao interesse de “catching-up” tecnológico chinês: o acesso ao grande mercado potencial consumidor chinês em troca da transferência de tecnologias. Uma das consequências deste processo foi a instalação de vários centros de pesquisa e desenvolvimento no país.
16 - ...Em 1991 a China havia dispendido 0,73% de seu PIB (U$ 13,4 bilhões) em P&D, evoluindo para 1,31% de seu PIB (U$95,5 bilhões) em 2005.
17 - Quadro-resumo da política industrial chinesa (SOEs são as estatais, agora com mais autonomia):
18 - Com este arcabouço de políticas, há fortes incentivos para promoção das exportações. Kotz e Zhu (2010) analisam os anos de 2001 e 2007 como um crescimento puxado tanto pelos investimentos quanto pelas exportações.
19 - A formação bruta de capital fixo (FBKF) continuou a se elevar e, a partir de 2002, os investimentos residências sobem exponencialmente com a liberalização do mercado de terras urbanas e a inauguração de um mercado imobiliário.
20 - ....O grande número de demissões pós 1990 diminuiu a participação da SOEs devido às privatizações e ao aumento da participação do setor privado, onde tal processo proporcionou uma informalização do mercado de trabalho chinês, menor crescimento dos salários, maior concentração de renda e em perdas significativas do aparato de seguridade social chinesa. Com isso, eleva-se o peso da educação, da saúde e da moradia no orçamento das famílias, levando a um grande aumento da poupança com retração do consumo.
21 - Teses: Akyüz (2011) irá expor que o valor adicionado pelas exportações em relação ao PIB é muito elevado, propondo que o crescimento chinês baseou-se na expansão das exportações em detrimento do consumo interno. (...) Kotz e Zhu (2010) – em conformidade com as teses da desaceleração das exportações, do sobre-investimento e do subconsumo na China – destacam que depender das exportações e dos investimentos como fonte de crescimento pode não ser sustentável no longo prazo. Além de tornar o ciclo de crescimento mais frágil, eis que mais suscetível a fraco desempenho da economia mundial ou mesmo barreiras protecionistas.
22 - Culpa a diminuição das exportações pelas taxas mais baixas. A isto, se relaciona o excesso de investimentos na economia chinesa. Este excedente intensificou o problema de excesso de capacidade produtiva, levando a um declínio da produtividade e da eficiência do capital e numa diminuição da taxa de lucro.
23 - Para encorajar o consumo, os defensores da tese do subconsumo defendem que deve-se elevar a renda disponível das famílias, tanto no campo quanto na cidade, e assim promover uma melhor distribuição da mesma. Querem Welfare State para diminuir a taxa de poupança. (...) Para fortalecer o Estado de Bem-estar social, pode-se elevar a taxação, sobretudo sobre os mais ricos, para que se possibilite o aumento das transferências de renda do governo. O percentual das receitas governamentais no PIB ainda é pequeno se comparado aos padrões internacionais – o que garante espaço para aumentos.
24 - Mais vias: O aumento do crédito às famílias e de mecanismos de hipoteca e financiamentos também irão ajudar a reduzir a poupança, por estar diretamente relacionado ao motivo habitação, motivo destacado por Maggu (2012).
25 - Mas a China é mesmo dependente de exportações? Anderson (2007) discorre que a correlação entre as taxas de crescimento do PIB e das exportações seriam praticamente de um para um em economias onde imperam o export-led growth, como é o caso de diversos países asiáticos como Cingapura, Malásia, Coréia do Sul e Tailândia. A China teria uma estrutura parecida com a economia americana, na qual as exportações apresentam certa relação com a performance econômica, porém o crescimento do PIB possui uma trajetória muito mais estável, e assim, o autor conclui que o crescimento da China seria puxado pelos componentes domésticos da demanda agregada, negando o export-led growth. (Creio que nem oito nem oitenta. Bem mais comércio que os EUA, por exemplo).
26 - Há sobreinvestimento? ...o elevado peso dos investimentos públicos (50% do total para Li), onde a maior parcela destina-se à infraestrutura, faz com que a elevada taxa de investimento não se transforme em excessiva expansão da capacidade produtiva, de modo a causar uma subutilização oriunda do sobreinvestimento.
Pgs. 33-42
"CAPÍTULO 2: "O CRESCIMENTO ECONÔMICO CHINÊS PELA ABORDAGEM ORTODOXA"
27 - As limitações do modelo de Solow: ...países produzem e consomem um único bem homogêneo (o produto), as firmas operam sob concorrência perfeita, os indivíduos são maximizadores e os preços são flexíveis, não há comércio internacional e a tecnologia é exógena – no sentido de não ser afetada por decisões intencionais de gastos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Os agentes poupam uma fração constante de sua renda, denominada s, integralmente revertida em investimentos, e a população cresce a taxa constante n.
28 - (Em Jones, que já li e fichei, está muito melhor explicado.)
29 - O crescimento econômico neste modelo, medido pela taxa de expansão do PIB per capita, está diretamente relacionado à taxa de progresso tecnológico. Porém, como a tecnologia é uma variável exógena, o Modelo de Solow não consegue uma explicação satisfatória para justificar os diferenciais de renda per capita entre as nações, particularmente quando se considera que a taxa de progresso tecnológico é idêntica em todos os países. Como foi visto anteriormente, elevações em s a causam um aumento permanente da renda per capita, como visto pela equação (6), porém, sem efeitos sobre a taxa de crescimento no longo prazo.
30 - Acréscimos na teoria de Solow: o capital humano. Ele meio que age como a elevação da taxa de investimento. Aumento o nível de renda até determinado ponto, já que implica "não-trabalho" para adquirir habilidades até um patamar "x". O capital humano permitiria, nesta visão, um uso mais eficiente dos fatores de produção e da tecnologia disponível. Vale notar, contudo, que o crescimento do produto per capita no estado estacionário permanece determinado pela taxa de progresso tecnológico, g, tal como na equação 10.
31 - Progresso tecnológico está relacionado a ideias, que são não-rivais. Desta forma, a produção de conhecimento gera retornos crescentes de escala, o que, por sua vez, implica a necessidade de modelagem de concorrência imperfeita.
32 - ...As patentes e direitos autorais surgem da premissa: A motivação do inventor é a possibilidade de auferir lucros extraordinários que superem o custo de invenção inicial.
33 - ...Neste cenário da economia de ideias, o crescimento populacional pode ser um motor do crescimento. Quanto mais pessoas numa economia, em termos absolutos, tem-se mais possíveis inovadores e maior é a probabilidade de criação de novas ideias.
34 - Parênteses: O modelo apresentado difere do modelo original de Romer (1990) (...). Neste caso, como a produtividade da pesquisa é proporcional ao estoque de ideias, então, com o passar do tempo, a produtividade dos pesquisadores cresce, mesmo que o número de pesquisadores seja constante, o que pode levar a um resultado de aceleração da taxa de crescimento que, na visão de Jones et al. (2013), seria incompatível com a realidade. Para uma discussão mais detalhada a respeito deste resultado, ver Serrano (2002).
35 - Aumento no investimento ou na proporção da população alocada no setor de pesquisa, por sua vez, gera efeito nível, mas não altera a taxa de crescimento de longo prazo.
36 - O crescimento populacional e uma maior população, em termos absolutos, correspondem a um maior fluxo de ideias, onde se terá potencialmente mais inovadores e empreendedores. Assim sendo, a taxa de crescimento do longo prazo de uma economia é proporcional ao crescimento da população. (JONES ET AL., 2013).
(...)
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