"Livro": Pêssoa e outros - Evolução da Produtividade Total dos Fatores na Economia Brasileira
"Livro": Samuel Pêssoa e outros - Evolução da Produtividade Total dos Fatores na Economia Brasileira (2003)
Pgs. 1-47
1 - Na verdade é um artigo apenas. Cobre o período 1950 a 2000.
2 - Aspectos "originais" da metodologia: ...utilizamos um cálculo do nível da PTF (descontada da evolução da fronteira tecnológica), a qual chamaremos de produtividade total dos fatores descontada (PTFD). De posse da PTFD é possível proceder-se aos estudos de contabilidade (ou decomposição) do crescimento. Além da metodologia usual, utilizamos um método de decomposição do crescimento, que chamaremos de decomposição teórica do crescimento, que desconta da contribuição da acumulação de capital para o crescimento econômico a parcela que é induzida pelo progresso tecnológico.
3 - Uma das conclusões: Um resultado importante obtido a partir da decomposição teórica é que o progresso tecnológico foi o principal determinante do crescimento do produto por trabalhador da economia brasileira no período 1950-2000. Em particular, uma parcela expressiva da acumulação do capital ao longo do período foi induzida pelo crescimento da fronteira tecnológica. No entanto, este progresso técnico foi fruto da ligação de nossa economia com as demais economias de mercado. A componente específica da PTF, a PTFD, reduziu-se em 15 % no período.
4 - Um último resultado para o Brasil é que desde 1980 o produto marginal do capital (PMgK) encontra-se no mesmo nível do PMgK para a economia americana, em torno de 15% ao ano. A estabilidade do retorno do capital constitui evidência adicional de dinâmica de crescimento balanceado. O fato do retorno do capital na economia brasileira ser aproximadamente igual ao retorno da economia americana, apesar da relação capital trabalho ser muito mais elevada nesta última, é uma indicação de que não parece possível uma elevação acentuada da taxa de investimento no Brasil se não houver elevação acentuada da escolaridade e/ou da produtividade. (Investimento privado né?)
5 - Uma premissa do artigo: A evolução da fronteira tecnológica é dada pela taxa de crescimento de longo prazo do produto por trabalhador da economia americana.
6 - Problemas nos cálculos de PTF relacionados a estimativas de estoque de capital inicial: Para algumas economias, este procedimento superestima o estoque inicial de capital. Isto ocorre porque, para alguns países, como as economias da Europa Continental e o Japão, os primeiros anos da década de 50 foram caracterizados por um nível de investimento anormalmente elevado em função da reconstrução associada ao pós-guerra. Esta superestimação do estoque inicial de capital faz com que a PTF no início da década de 50 seja subestimada, e seu aumento nos anos seguintes seja magnificado. No entanto, para o valor da taxa de depreciação usado neste artigo, após 20 anos os cálculos da PTF não são sensíveis ao valor do estoque inicial de capital.
7 - A "produtividade descontada": A motivação para focarmos na PTFD e não na PTF (que incorpora variações da produtividade total dos fatores decorrentes do progresso tecnológico), como é tradicional, é que o modelo neoclássico de crescimento supõe que todos os países têm acesso à fronteira tecnológica e, deste modo, diferenças na produtividade total dos fatores refletem diferenças no nível da PTF que independe do progresso tecnológico.
8 - Neste artigo, consideraremos duas decomposições de crescimento. A primeira, que chamaremos de Decomposição Logarítmica do Crescimento, é comumente encontrada na literatura. Esta decomposição será empregada somente para o Brasil, para efeito de comparação com outros estudos da produtividade total dos fatores para a economia brasileira. A segunda decomposição, que chamaremos de Decomposição Logarítmica Teórica do Crescimento, difere da primeira por descontar da contribuição do capital aquela parcela que é induzida pelo progresso tecnológico e elevação da escolaridade. Klenow e Rodriguez-Clare (1997) e Hall e Jones (1999) empregaram esta decomposição em seus estudos de decomposição de desenvolvimento, isto é, efetuaram uma decomposição de ‘crescimento’ para diversos países em um único ponto do tempo. (...) A idéia por trás deste procedimento é que, como em crescimento balanceado a razão capital-produto é constante, a acumulação de capital induzida pelo progresso tecnológico será atribuída corretamente ao aumento da produtividade total dos fatores, o que não ocorre na contabilidade tradicional do crescimento.
9 - Para calcular a taxa de depreciação, é necessário dispor de dados detalhados sobre o estoque de capital. Neste artigo, utilizaremos a taxa de depreciação obtida a partir de dados da economia americana, em função da qualidade dos dados disponíveis sobre o estoque de capital. As Contas Nacionais dos EUA (NIPA) calculam o estoque de capital avaliado a preços de mercado a partir do apreçamento dos investimentos passados para cada um dos tipos de unidade de capital com grande desagregação. De posse de uma curva de preços para o mercado secundário de cada tipo de bem de capital, é possível avaliar para o ano corrente o estoque de capital em unidades monetárias do investimento em um tipo de capital efetuado em um ano anterior. 3,5% ano, em média, foi o achado.
10 - Para obter o valor da taxa de progresso tecnológico, ajustamos uma tendência exponencial à série do produto por trabalhador dos Estados Unidos entre 1950 e 1972, corrigindo pelo aumento da escolaridade média de força de trabalho. (...) A taxa de crescimento do produto por trabalhador nos EUA no período 1950-1972 foi de 2,2% ao ano. Uma parcela deste crescimento resultou da elevação da escolaridade média da força de trabalho ao longo do período. Como o modelo neoclássico assume que o nível de capital humano é constante em crescimento balanceado, precisamos descontar o aumento da escolaridade da taxa de crescimento do produto por trabalhador para tornar o modelo compatível com os dados. Fazendo este cálculo, obtemos g = 1,53%. (...) Escolhemos o subperíodo 50-72 pois há consenso de que após o choque do petróleo a economia americana passou por uma desaceleração da taxa de crescimento da PTF, o que implica em uma redução da PTFD. Como veremos adiante, esta redução não ocorreu para todas as economias. Assim, este subperíodo satisfaz melhor às hipóteses de crescimento balanceado.
11 - As Contas Nacionais do Brasil tendem a superestimar a participação do capital na renda. O motivo é que a metodologia das Contas Nacionais computa a renda dos trabalhadores conta-própria, sem carteira e empresários como sendo renda do capital. Como parte desta renda na verdade é decorrente do trabalho, é preciso fazer uma correção desta estatística. Neste artigo, usaremos o valor corrigido segundo a metodologia apresentada em Gomes et al. (2002), que obtém um valor da participação do capital na renda para a segunda metade da década de 90 de 0,40.
12 - Há dados de estoque de capital para o Brasil de 50. O valor encontrado para a relação capital-produto em 1950 é de 1,94. Com base neste valor para a relação capital-produto, obtemos o valor do estoque de capital da economia brasileira em 1950.
13 - A PTFd tem razoável correlação inversa com a relação capital/produto ("produtividade do capital") (Obs: O resultado expresso na Figura 1 não se altera se empregarmos no cálculo da PTFD os dados da Contas Nacionais Brasileiras para investimento e produto em vez dos dados da PWT.):
14 - Detalhe interessante: A função de produção Cobb-Douglas implica que a elasticidade de substituição entre capital e trabalho é unitária. Uma consequência deste fato é que, no longo prazo, a demanda de capital apresenta elasticidade unitária. No entanto, Pessôa, Pessôa e Rob (2003) fornecem evidência de que a elasticidade-preço da demanda de capital é menor do que um. Em particular, os autores estimam um valor de 0,7 para a elasticidade de substituição entre capital e trabalho. Diante desta evidência, utilizamos também em nossos cálculos da produtividade total dos fatores a função de produção com elasticidade de substituição constante (CES) e um valor de 0,7 para a elasticidade de substituição capital-trabalho. Os resultados não mudam de forma significativa, de modo que reportamos somente os resultados para a função de produção Cobb-Douglas.
15 - JK: Entre 1956 e 1961 a PTFD eleva-se e K/Y reduz-se, indicando um movimento cíclico de desaceleração da economia.
16 - ...Entre 1950 e 1966, a PTFD cresceu aproximadamente 9%, o que equivale a uma taxa anual de crescimento da produtividade total dos fatores de 0,5% acima da fronteira tecnológica. Em resumo, entre 1950 e 1966 a economia brasileira apresenta aproximadamente as características de uma trajetória de crescimento balanceado: produtividade crescendo aproximadamente à taxa de progresso tecnológico e relação capital-produto estável.
17 - Período 1967-76: Durante este período, o crescimento da PTFD foi de 18% (o que equivale a uma taxa anual de crescimento de 1,67%).
18 - Período 1977-91: Ao longo deste período, a PTFD sofreu uma redução de 36% (2,1% ao ano).
19 - Pinheiro et al. (2001) encontram uma taxa de crescimento negativa para a PTF na década de 90 quando excluem capital humano, e uma taxa de crescimento pequena, mas positiva, quando incluem capital humano.
20 - Decomposição do crescimento em cada período pelos dois diferentes métodos (ver ponto 8 mais acima):
21 - ...Como mostra a Tabela 3, a contribuição do capital para o crescimento do produto por trabalhador no período 1950-2000 se reduz de 53% na contabilidade do crescimento para 21% na decomposição teórica. Isto sugere que uma parcela expressiva da acumulação de capital no período foi induzida pela evolução da fronteira tecnológica. De fato, durante o período 1950-2000, o crescimento da fronteira foi o principal fator responsável pelo crescimento do produto por trabalhador na economia brasileira. A Tabela 3 também confirma que se verificou uma queda da PTFD ao longo do período, sem a qual a taxa de crescimento da produtividade do trabalhador se elevaria em 25%.
22 - Comparam Brasil a outros países. Fiquei surpreso com gráfico indicando queda da produtividade do capital - e da PTFd - nos EUA durante os anos 80 e 90. Já vi dados que apontavam o oposto.
23 - A Tabela 4 apresenta os resultados da decomposição teórica para os Estados Unidos. A Tabela 4 mostra que a evolução da fronteira tecnológica foi responsável por 80% do crescimento do produto por trabalhador nos EUA entre 1950 e 2000. A contribuição do capital ao longo do período foi de apenas 9%, o que é consistente com a hipótese de que a economia americana se encontra aproximadamente em crescimento balanceado. A contribuição da PTFD foi negativa em 22%, devido à queda significativa observada entre 1973 e 1982.
24 - A Figura 3 mostra que o PMgK para a economia americana oscila em torno de 15%. Para a década de 90 esteve por volta de 14%. Se supusermos uma alíquota média de imposto sobre o capital de 40%, obtemos uma taxa marginal de retorno líquida da depreciação e de impostos da ordem de 6% ao ano.
25 - E a Coréia? Pelos cálculos dos autores, todo o excesso de crescimento da economia coreana sobre a economia brasileira ao longo do período 1950-2000 foi fruto da acumulação de capital físico e humano.
26 - América Latina, como um todo (exceção de Chile, que ficou meio estável), viu cair sua PTFd:
27 - O texto ensaiou possíveis explicações, mas não vi sentido nelas. Talvez com mais desenvolvimento...
28 - Países de língua inglesa: A Nova Zelândia apresenta uma queda mais forte da PTFD, de forma parecida à verificada na América Latina. A Austrália apresenta um comportamento estável da PTFD ao longo do período. A Irlanda distingue-se dos demais Países de Língua Inglesa por apresentar uma significativa elevação da PTFD a partir de 1993, caracterizada por uma elevação de 35% entre 1993 e 2000 (taxa anual de 4,5% além da evolução da fronteira).
29 - Europa Continental: As economias da Europa Continental apresentam crescimento da PTFD entre 1950 e 1970. Áustria, Itália e Bélgica apresentam um comportamento estável da PTFD entre 1970 e 2000. Os demais países da Europa Continental apresentam pequena queda a partir de meados dos anos setenta, sendo a queda mais acentuada para a Suécia.
30 - Lembram que provavelmente há o efeito da superestimação do estoque de capital inicial em razão da reconstrução do pós-guerra (...e, consequentemente, um valor subestimado da PTFD inicial).
31 - ...Para corrigir a questão da superestimação, a solução é aumentar, na conta, o retorno marginal do capital naquele contexto (o que parece ser realista), o que permite um capital inicial menor. Por esta razão, refizemos os cálculos da PTFD para estes países, escolhendo o valor do estoque de capital por trabalhador destes países em 1950 de forma a fazer com que a produtividade marginal do capital destes países fosse de 30% em 1950, o que corresponde ao dobro da produtividade do capital média do EUA entre 1950 e 2000. Além de constituir possível extremo superior para a PMgK, o novo valor do estoque inicial de capital foi suficiente para reverter a queda observada na relação capital-produto nos anos 50.
32 - As economias Ibéricas apresentam forte crescimento da PTFD entre 1950 e 1974. A PTFD de Portugal e Espanha eleva-se até atingir um pico em meados dos anos setenta, quando passa a sofrer uma queda contínua até meados dos anos noventa. A queda total foi de aproximadamente 30%, revelando um comportamento bastante semelhante ao observado para a América Latina. (...) É importante observar que, contrariamente ao que ocorreu com os países da Europa Continental, Espanha e Portugal não estavam sendo reconstruídas neste período. No entanto, em razão do elevado aumento da PTFD entre 1950 e 1974, refizemos os cálculos da PTFD para estes países de forma a fazer com que a produtividade marginal do capital destes países fosse de 30% em 1950.
33 - E os países dos milagres asiáticos?
34 - Só havia justificativa, a meu ver, pra refazer o do Japão, mas enfim... "refizemos os cálculos da PTFD para o Japão e demais países do Leste Asiático de forma a fazer com que a produtividade marginal do capital destes países fosse de 30% em 1950". Postou o novo gráfico em seguida e foi praticamente igual, com oscilações - pisos e picos - mais suaves. A decomposição assim ficou:
35 - Na parte das conclusões do artigo, colocam: Para diversas economias há evidência de desaceleração da produtividade a partir de meados dos anos setenta. Para muitos países - OECD e Leste Asiático - esta desaceleração se estabiliza na década de oitenta e início da década de noventa. Para os países da América Latina (AL), a queda da taxa de crescimento da PTF é mais elevada e persistente. (...) Em comparação com outros países, a evidência mostra que o crescimento da PTF em excesso à evolução da fronteira tecnológica observado no Brasil entre 1967 e 1976 não se verificou em outros países.
36 - ...Apesar de não constituir o escopo deste trabalho, uma interpretação possível para a expressiva elevação da PTFD no período 1967-76 é que ganhos de produtividade advindos de reformas institucionais do PAEG tenham elevado a eficiência agregada da economia brasileira.
37 - Os apêndices são detalhamentos matemáticos. Só passei o olho.
FIM!
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