Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América - Introdução
Livro: Alan Greenspan - Capitalismo na América
Capitalismo na América [recurso eletrônico] : uma história / Alan Greenspan, Adrian Wooldridge ; tradução de Catharina Pinheiro ; revisão técnica de Ricardo Doninelli. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Record, 2020. Greenspan, Alan; Wooldridge, Adrian. Capitalismo na América: Uma história (p. 2). Record. Edição do Kindle. (Formatei em 563 páginas)
Pgs. 1-35
"INTRODUÇÃO"
1 - Ano de 1620: Os chineses têm um argumento forte. Beijing tem uma população de mais de um milhão de habitantes, num período em que as maiores cidades europeias (Londres, Paris, Nice) não têm mais do que 300 mil. O servidor público imperial é selecionado a partir de um país imenso com base nos exames mais exigentes do mundo. Os estudiosos chineses compilaram uma enciclopédia de 11 mil volumes. Os navegadores chineses construíram os maiores navios do mundo. (...) Um mongol afirma que seu império mistura pessoas de todas as raças e religiões em um coquetel de criatividade.
2 - A parcela de patentes do mundo detidas pela América aumentou de 10%, quando Ronald Reagan foi eleito, para 20% hoje.
3 - Greenspan se preocupa com o "então presente": ...hoje, o crescimento da produtividade está praticamente estagnado. Tylen Cowen falou sobre uma “grande estagnação”. Lawrence Summers resgatou a expressão de Alvin Hansen “estagnação secular”.
4 - A América deve seu nascimento a uma série de golpes de sorte. A rebelião que deu origem aos Estados Unidos poderia não ter acontecido se o establishment britânico tivesse ouvido Edmund Burke e buscado uma política mais moderada. Os rebeldes eram beneficiários de uma guerra global entre os britânicos e os franceses. A luta pela independência teria falhado se George Washington não houvesse sido um grande líder. Os golpes de sorte continuaram se sucedendo após o nascimento do país. A compra do Território da Louisiana da França por Thomas Jefferson em 1803 duplicou o tamanho do país, acrescentando terras férteis, o rio Mississippi e o porto de Nova Orleans. A América comprou a Flórida da Espanha em 1821, anexou o Texas em 1845 e o Oregon em 1846, e com a vitória na Guerra Mexicano-Americana acrescentou a Califórnia em 1850.
5 - A América herdou muitas das melhores tradições britânicas, de um governo limitado, passando pela common law, a um respeito pelos direitos individuais que, de acordo com o eminente historiador Alan Macfarlane, remonta ao século XIII. A América envolveu-se em uma troca incessante de conhecimentos informais com a Grã-Bretanha, importando imigrantes britânicos, que com frequência traziam consigo segredos industriais, e enviando americanos para visitar fábricas, siderúrgicas e exposições britânicas.
6 - Ainda a independência dos EUA: O novo país foi concebido durante uma revolta contra um regime mercantilista que acreditava que o sucesso econômico da nação era medido pelo tamanho de seu acúmulo de ouro, fruto das balanças comerciais positivas alimentadas por políticas protecionistas. A Constituição americana, escrita em 1787 e ratificada em 1788, determinou que todo o país fosse um mercado comum unificado sem tarifas ou taxas externas impostas ao comércio interestadual.
7 - Coloca o protestantismo como algo fundamental para o crescimento dos EUA. O contato direto com a Bíblia era incentivado o que levava as pessoas a aprenderem a ler. Os puritanos de Massachusetts fundaram escolas e universidades em uma escala sem paralelos em qualquer outro país. Uma lei de Massachusetts obrigava todos os chefes de família a ensinarem seus filhos a ler. Até Harvard foi fundada nesse espírito (carta de 1643 é uma fonte).
8 - Os Fundadores injetaram direitos de propriedade no DNA do país. A frase de Thomas Jefferson sobre os “direitos inalienáveis” do homem à “vida, [à] liberdade e [à] procura pela felicidade” era uma reformulação da frase de John Locke no “Segundo Tratado” sobre o homem ter “por natureza o poder” de preservar “a vida, a liberdade e o Estado contra os danos e os ataques de outros homens”. A Constituição dividiu o poder em grande parte para proteger os proprietários da predação das massas ou de um ditador. A proteção vigorosa da propriedade não só encorajou o empreendedorismo interno, pois todos tinham uma certeza razoável de que poderiam manter seus ganhos, como também investidores externos a investirem seu dinheiro na América sob o argumento de que não teriam seu capital roubado e seus direitos contratuais ignorados. (A meu ver, ele exagera isso tudo. EUA foram uns dos grandes caloteiros de dívida desse período). Por fim, enfatiza a importância da proteção a patentes (que também não lembro agora o quanto é preciso essa informação ou não).
9 - O país foi fundado por corporações empresariais, como a Virginia Company e a Massachusetts Bay Company. Os primeiros “homens livres” americanos eram, aliás, acionistas de companhias, e as primeiras “associações” foram assembleias gerais de companhias. (...) A disposição da América em “acrescentar algo de heroico à sua forma de fazer comércio”, como considera Alexis de Tocqueville, produziu um culto ao empreendedor. Eram os verdadeiros agentes da história, na visão norte-americana. Pessoas que construíam algo do nada, inventores como Thomas Edison, que deteve 1.093 patentes, e criadores de companhias como Henry Ford, Thomas Watson e Bill Gates.
10 - Em sua infância, a república estava dividida entre duas visões diferentes do futuro — a visão de Thomas Jefferson de uma república agrária descentralizada de pequenos produtores rurais e a visão de Alexander Hamilton (incrivelmente visionária) de uma república urbana com parques industriais promovendo o crescimento econômico e um banco poderoso irrigando a economia.
11 - A geografia "abençoada" (em parte roubada): A América possui mais quilômetros em rios navegáveis do que o resto do mundo junto. Os maiores desses rios — Missouri, Ohio, Arkansas, Tennessee e, é claro, o gigante Mississippi — fluem diagonal, e não perpendicularmente, moldando o país em uma unidade geográfica natural. (...) Montana é tão rica em metais preciosos que seu apelido oficial é Estado do Tesouro. A Cordilheira de Mesabi, em Minnesota, está cheia de minério de ferro. O Texas fica sobre um lago de petróleo (lago este que hoje está crescendo, graças à invenção do fraturamento hidráulico). O Meio-Oeste é uma tigela de trigo.
12 - EUA e recursos naturais. Além da corrida pelo ouro e depois pelo petróleo, há outro exemplo marcante de abundância. A América não sofreu com os limites de recursos que atrasaram o crescimento em outros países. De 1890 a 1905, quando a indústria americana do aço explodiu, a participação de Minnesota na produção de ferro do país subiu de 6% para 51%, e o preço interno dos minérios de ferro caiu pela metade, garantindo que os magnatas do ferro do país pagassem muito menos pela matéria-prima do que seus concorrentes britânicos.
13 - Forte imigração e taxa de natalidade também foram marcas: No século XIX, a população foi multiplicada por um fator de quase 15, passando de 5,3 para 76 milhões, um total maior do que o de qualquer país europeu, com exceção da Rússia. Greenspan coloca que havia forte migração interna também.
14 - A América produziu as maiores corporações do planeta: a U.S. Steel, formada em 1901, primeira companhia de um bilhão de dólares, empregava cerca de 250 mil pessoas.
15 - O problema dos dados sobre PIB e produtividade: ...Para dados anteriores, os historiadores precisam recorrer ao censo decenal, que começou a ser feito na década de 1790. Eles complementam os dados oficiais do censo com informações de diversas fontes sobre produção industrial, colheitas, rebanhos e horas trabalhadas. Porém, conforme apontado por Paul David, os dados referentes ao período anterior à década de 1840 não são muito precisos.
16 - Destruição criativa e aço estadunidense ao final do Século XIX: Graças à inovação incansável, o custo unitário (uma medida substituta para produção por hora) do aço Bessemer sofreu uma redução notável, com uma queda de 83,5% do preço no atacado entre 1867 e 1901. Vai citando inúmeras inovações tecnológicas: A máquina de costura, inventada em 1846 e produzida em grande escala na década de 1870, aumentou a produtividade em mais de 500%.
17 - O telégrafo foi evoluindo durante meados do Século XIX: A inauguração do cabo transatlântico (após vários adiamentos) em 1866 finalmente criou a comunidade financeira transatlântica, com comerciantes em Nova York, São Francisco e Londres comunicando-se em tempo real. (...) A revolução da informação eliminou todos os tipos de ineficiência e incerteza que antes atrasavam as transações comerciais. Varejistas podem encomendar novos produtos assim que os antigos deixam as prateleiras. Fornecedores podem manter uma supervisão constante da cadeia de abastecimento. Etc. e Etc.
18 - Durante um bom tempo as novas tecnologias pode m demandar quantias até crescentes das velhas. A revista Nation abordou o paradoxo da popularidade do cavalo na era do vapor em outubro de 1872: (...) "Temos falado há tantos anos da ferrovia, do barco a vapor e do telégrafo como os grandes “agentes do progresso”, que quase ignoramos completamente o fato de que a nossa dependência do cavalo cresceu quase pari passu com a nossa dependência do vapor. Abrimos grandes linhas de vapor e de comunicações por todo o país, mas elas precisam ser alimentadas por produtos e passageiros a cavalo. Cobrimos o oceano com grandes navios a vapor, mas eles não podem ser carregados nem descarregados sem os cavalos".
19 - Tanto a siderurgia quanto a agricultura testemunharam melhorias incríveis tempos depois de os comentaristas terem desistido de falar sobre a “era do aço” e a “revolução agrícola”. Os conversores a oxigênio que substituíram os fornos Siemens-Martin depois da Segunda Guerra Mundial (e que, como o nome sugere, usavam oxigênio em vez de ar) reduziram o tempo necessário para produzir um lote de aço de oito a nove horas para 35 a 40 minutos. Entre 1920 e 2000, o trabalho por tonelada de aço bruto foi reduzido em um fator de mil, de mais de três horas trabalhadas por tonelada métrica para apenas 0,003.
20 - ...Os eletrodomésticos e os alimentos processados reduziram o tempo gasto na preparação de refeições, na lavagem de roupa e na limpeza da casa de 58 horas por semana em 1900 para 18 horas por semana em 1975. (...) O trabalho doméstico, porém, não é considerado um fator de produção na criação do PIB e, portanto, esse grande avanço dos padrões de vida não é capturado nem pela jornada de trabalho nem pela PMF. (PTF)
21 - ...O Bureau of Labor Statistics estimou que o leitor de código de barras hoje usado nos caixas aumentou a velocidade dos operadores no registro de uma venda em 30%, e reduziu o trabalho dos operadores de caixa e dos empacotadores entre 10% e 15%.
22 - Os sindicatos americanos eram muito mais fracos de que seus equivalentes europeus. Eram oprimidos pelas cortes judiciárias, que declaravam repetidamente a ilegalidade das associações profissionais, e prejudicados por conflitos internos, entre trabalhadores qualificados e desqualificados, imigrantes e nativos, além de vários outros grupos de interesse. Os sindicatos alcançaram um poder significativo somente na década de 1930, com uma sucessão de decisões legais pró-trabalhadores. Um terço eram sindicalizados aí.
23 - ...A Lei Taft-Hartley de 1947 baniu a obrigatoriedade de filiação a sindicato como requisito para trabalhar em uma empresa.
24 - Coloca que a destruição criativa sempre foi valorizada nos EUA. Muitos dos maiores empresários da América do século XIX, incluindo Charles Goodyear, R. H. Macy e H. J. Heinz, sofreram repetidas falências antes de enfim alcançarem o sucesso. Claro, porém, que havia pressões políticas em sentido contrário. O lado perdedor da destruição criativa tende a se concentrar, enquanto os vencedores tendem a se dispersar. (...) Pode levar décadas para que os benefícios da destruição criativa se manifestem, enquanto os custos frequentemente são imediatos.
25 - Greenspan parece até saudoso do tempo pré-1913, quando não existia imposto de renda federal. Outros trechos marcam bem sua posição: A Constituição americana manteve continuamente os ativistas do governo sob controle. A Suprema Corte derrubou o National Industrial Recovery Act (Lei de Recuperação da Indústria Nacional) de Franklin Roosevelt, que impunha amplos controles estatais à economia. Os congressistas americanos evitaram que Harry Truman introduzisse um sistema de saúde nacional depois da Segunda Guerra Mundial. Ativistas liberais várias vezes tiveram sucessores mais conservadores. — Roosevelt foi sucedido por Dwight Eisenhower (via Truman), Lyndon Johnson, por Richard Nixon, e Jimmy Carter, por Ronald Reagan. Lembra que Friedman era um astro de TV.
26 - Greenspan coloca que a destruição criativa está sob suspeita: O ritmo de criação de novas companhias alcançou seu ponto mais baixo desde a década de 1980. Sobre a política atual, quer um liberal à moda antiga: Donald Trump é a coisa mais próxima que a América já produziu de um populista no estilo latino-americano, prometendo afastar a concorrência externa e forçando companhias a oferecerem acordos “justos” a seus funcionários.
27 - Em 2017, os benefícios sociais ficaram com mais de 14% do PIB americano, enquanto em 1965 eram apenas 5%. (Normal tendo em vista a demografia, não?)
28 - Posiciona-se a favor da regulação financeira, especialmente depois de 2008. Historicamente, os setores não financeiros da economia americana têm apresentado uma proporção “capital próprio/ativo total” entre 40% e 50%. Entre companhias com esse equilíbrio de capital, calotes contagiosos são muito raros. Os calotes contagiosos são uma característica infeliz de instituições financeiras que apresentam uma proporção “capital próprio/ativo total” muito menor.
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