"Livro": Nintil (Artir) - Análise Econômica Neoclássica Completa da URSS - Capítulos 1 e 2

                                                                                    

"Livro": Nintil (Artir) - Análise Econômica Neoclássica Completa da URSS



Pgs. 1-5


"INTRODUÇÃO"


Obs preliminar: descobri, já depois de ler boa parte do texto, que tenho uma versão word - a primeira - que parece melhor que o "livro". Algumas coisas estão mais completas lá, ao menos a parte de economia. Quando quiser rever, ver por lá.


1 - Não sei se chegou a ser vendido como livro, nem que seja virtual. Talvez sim. BACK IN THE USSR: What life was like in the Soviet Union, de autoria de José Luis Ricón Fernández de la Puente segundo a capa.


2 - Publicado pelo nada suspeito Adam Smith Institute.


3 - Nada importante no texto introdutório.



Pgs. 6-13


"CAPÍTULO 1: "Crescimento do PIB"


4 - Começa fazendo umas comparações numa seleção aparentemente nada aleatória de países capitalistas que, em algum momento, estiveram pareados com a URSS, mas tiveram um "fim" melhor. (Não se explica o porquê de esses países serem representativos do "capitalismo", sendo que vários são conhecidas histórias de sucesso e, como se sabe, a grande maioria está presa na armadilha da renda média ou pior, mas "ok"... No mais, vou até deixar passar não terem usado escala "log")



5 - Em outro gráfico, logo depois, compara inclusive com países de curva demográfica bastante diversa. Enfim...


6 - Isto aqui é verdade (além dos ganhos de produtividade que se costuma ter com a mera urbanização/concentração/industrialização): Existem várias razões pelas quais os países mais pobres tendem a crescer mais rapidamente: • Inicialmente, há muitos ganhos de eficiência a serem obtidos, como a construção de infra-estruturas estrutura, melhorando o Estado de direito e fazendo a transição da agricultura para indústria. • Além disso, os países que não estão na fronteira dos avanços tecnológicos beneficiam do que já foi pesquisado.


7 - Aqui é mais honesto: No período que Allen analisa – 1928 a 1970 – podemos ver claramente que, dada a sua nível de desenvolvimento económico, a União Soviética cresceu como seria de esperar. Critica, porém, as últimas décadas do país.



8 - Os dados são de Maddison.


9 - Coloca que a URSS completou a alfabetização ainda em 1960 e que, a partir daí, incluindo-se também o fato de o país ter uma alta taxa de investimento, deveria ter crescido, segundo um modelo (Easterly & Fischer), a 4,7% ao ano (não se explica bem o porquê, afinal, após um tempo, a manutenção de taxa de investimento, mesmo alta, leva a um crescimento cada vez menor... Isso é Solow básico...) e, no entanto, a média a taxa média de crescimento da URSS no período 1960-1989 foi de 2,36%. Por sinal, a do Ocidente, no mesmo período, foi de 2%! (segundo o próprio texto).



Pgs. 14-45


"CAPÍTULO 2: "Da Fazenda à Fábrica"


10 - Vai se voltar ao "período Stálin". Em poucas palavras, a abordagem de Stalin é resumida pelo que Allen chama de modelo de Feldman: investir em bens de capital agora leva a uma maior disponibilidade de bens de consumo no futuro, mesmo quando isso possa levar a uma queda nos bens de consumo hoje. É apenas uma extensão do fato de que existe um trade-off entre consumo e investimento, e que o investimento normalmente tem retornos positivos.


11 - A poupança não ser determinada pelo mercado ("decisão das pessoas", diz) foi um trunfo do regime. Numa economia planificada, é estabelecida uma taxa de poupança nacional e os planos são emitidos para que os indivíduos se adaptem a ele. A fonte do capital/poupança veio dos camponeses, já que a indústria era, ainda, primitiva. Estado comprava dos camponeses a preço baixo e lhes vendia a preços elevados.


12 - Tal plano já existia em Preobrazhenski. Elevado investimento em indústria pesada e baixo consumo.


13 - URSS e histórico de renda per capita:



14 - O período selecionado muda bem as comparações:



15 - Quedas das taxas de crescimento anual:



16 - Distância do PIB per capita em relação à Suiça:



17 - O ano de 1928 é bastante utilizado por ser o marco inicial dos planos quinquenais e coincidir com a recuperação do nível de atividade econômica pré-guerras (WWI e a Civil).


18 - Uma observação final: nas regressões de Easterly, as variáveis explicativas mais importantes para crescimento são as matrículas no ensino secundário e o investimento/PIB. Ambos são fáceis de controlar coercitivamente, que foi o que foi feito. Mas talvez tivessem sido muito mais baixos sem fora o comunismo. Talvez o comunismo funcione precisamente através de elevados investimentos forçados e alta escolaridade forçada. Este é o argumento de Allen: sem comunismo a Rússia nunca teriam investido no futuro e teriam esbarrado em ritmos mais lentos crescimento. Uma questão secundária é se valeu a pena em termos de bem-estar. (Por sinal, ensino secundário é tão mais importante que os demais assim?). Coloca que o problema é a poupança forçada e a ideia de que a Rússia czarista não poderia seguir caminhos parecido. Assim, o autor não parece concordar muito com Allen.


19 - Produtividade agrícola: Allen compara EUA e Canadá (1918-1922) com a Rússia (1913) e conclui que a produtividade era praticamente a mesma. Mas a colheita de 1913 foi parcialmente particularmente bom, diz Ellman, exagerando a produção russa. Ele deveria ter escolhido um tempo mais longo intervalo de tempo para a comparação, em vez de apenas um ano. (...) Fertilidade: O stalinismo ajudou a acelerar a transição demográfica. Menos crianças significa menos dependentes por pessoa em idade ativa, um “dividendo demográfico” que normalmente ocorreu ao mesmo tempo que os padrões de vida começaram a subir na maioria dos países ocidentais. A regressão de Allen implica que Estaline é responsável por menos de metade do declínio da fertilidade. A outra metade provavelmente se deveu à Segunda Guerra Mundial. (...) Padrão de vida: Allen diz que o padrão de vida nas áreas urbanas e rurais cresceu no período 1928-37 (a historiografia aceita afirma que apenas o consumo urbano aumentou). Isto é baseado em um cálculo de calorias que difere dos valores mais aceitos.


20 - Allen não menciona em parte alguma a má colheita de 1936 e a resultante escassez de alimentos, o consumo de substitutos do pão, a desnutrição, as doenças relacionadas com a desnutrição e a fome no início de 1937. O NKVD relata “dificuldades alimentares”, migração das áreas mais afetadas, desnutrição grave e mortes por doenças e fome no início de 1937


21 - De acordo com Osokina ... “a rede comercial do estado [na década de 1930] era subdesenvolvida e regionalmente desigual. Não poderia competir em eficiência com o comércio privado do período da NEP…. Como resultado, o comércio socialista apresentava paralisações, sortimentos pobres e insuficientes, longas filas e grandes perdas." 


22 - Problemas da acumulação primitiva stalinista? Está longe de ser óbvio que a população rural soviética no final da década de 1930 se considerava pelo menos tão rica como estava em 1928. A recepção calorosa dada aos nazis na Ucrânia em 1941 certamente não indica isso. Não foi só na Ucrânia que os habitantes rurais não parecem ter notado a “melhoria do nível de vida” que Allen calcula. Em Abril de 1943, um coronel soviético relatou ao secretário-geral do Comintern que “no Don e no Kuban os alemães conseguiram cair nas boas graças dos habitantes locais… os alemães jogaram principalmente com os kolkhozy. A dissolução dos kolkhozy foi celebrada como um feriado importante."


23 -  "Allen sugere que, uma vez concluído o movimento “da exploração agrícola à fábrica”, os pontos fortes da economia soviética tornaram-se os seus pontos fracos. A fraca restrição orçamental impediu a indústria de se adaptar à escassez de mão-de-obra e ao aumento dos custos de energia. Planos centralizados centraram-se no aumento da produção de energia em vez de na redução do consumo. Muitos viram esta como uma era em que os planos se tornaram cada vez mais ineficazes. A opinião de Allen é contrária: “os planos foram implementados; o problema é que elas não faziam sentido”. (...) À medida que a má alocação piorou, a economia parou de crescer. Há muitas análises cuidadosas e dados interessantes sobre a alocação de investimentos. Para apoiar o seu diagnóstico, Allen deve minimizar o papel dos incentivos. Ele sugere que a agricultura colectiva “não era inimiga do crescimento da produtividade” (p. 174); na indústria, os “desincentivos à inovação podem não ter sido tão fortes como normalmente se acredita” (p. 208); em geral, a economia soviética declinou não por causa de “problemas de incentivos”, mas por causa de “uma falta de imaginação no topo” (p. 211). Vou precisar de mais persuasão, no entanto. (...)". 


24 - Cita autores céticos quanto ao "e se..." do "mercado livre com camponeses" combinando aos controles sobre a indústria. Esse mix já não estaria funcionando a contento antes dos planos quinquenais. A industrialização nos moldes soviéticos demandaria a ditadura.


25 - Paul Gregory (2004) concorda com Allen em que a estagnação da URSS se deveu aos maus planos de produção sendo seguidos, não devido a um problema de incentivo. Porém, como uma diferença gritante: ...Onde Allen localiza esta queda na má tomada de decisões, Hayek-Mises e Gregory veem isso como uma falha sistêmica na aquisição das informações necessárias para planejar adequadamente, gerando tomada de decisão deficiente.


26 - Um dos pontos de Allen é que a Rússia teria tido um mau desempenho como exportador de alimentos orientado para o mercado na recessão entre guerras ou na guerra que se seguiu. Seria o destino do czarismo, por exemplo.


27 - Algumas possíveis críticas que também fazem ao modelo econômico soviético: ...Assim, uma medida bruta do PIB soviético (com base em estatísticas soviéticas publicamente disponíveis) não seria diretamente comparável à do Ocidente, pois seria necessário ajustar-se à falta de escolha e a uma discrepância mais ampla (em termos de qualidade e quantidade) entre os produtos que estão sendo produzidos e os produtos que estão sendo demandados. Acrescentaria que as comparações do PIB per capita não revelam directamente o bem-estar dos cidadãos. Para nos aproximarmos do bem-estar, precisaríamos descontar o investimento, o que beneficia as gerações futuras à custa de padrões de vida mais baixos das atuais. (Esse último é meio esquisito. Por aqui, até o milagre japonês receberia pancada).


28 - Rússia czarista:



29 - ...A partir da média da trajetória de tal período, ele curtiu projetar possíveis curvas mais à frente, como se tudo fosse assim homogêneo.



30 - Alguns argumentam que os níveis pré-WWI só foi alcançado lá por 1934. Ou que o melhor "marco comparativo" seria por volta de 1937, em razão da tendência de crescimento anterior. Até lá, todo o "mérito" stalinista seria de mera recuperação dos desastres, mas já com fatores próprios para tanto.


31 - Enfim, coloca que o crescimento soviético é muito ou nada impressionante a depender do marco escolhido:




32 - Allen crê que a intensificação da Guerra Fria evitou que a URSS pudesse crescer mais uns dois pontos percentuais ao ano, já que tinha desviar recursos que poderiam ser investidos em P&D civil. José De La Puente parecer ver a coisa bem diferente: É bem sabido que a falta de incentivos de mercado tornou a alocação de P&D soviética ineficaz. A evidência citada para isso vem de artigos publicados em 1986 e 1990. ...inibiu a difusão de inovações


33 - Ademais... Felizmente existe um relatório da CIA para a União Soviética despesas em P&D (1969). O relatório começa dizendo que em 1969 a quantidade de P&D dedicado ao sector civil estava, contrariamente a Allen, a aumentar, e não a diminuir. E, dado isso, a P&D tende a ter um efeito retardado na produtividade, um declínio pós-1970 na P&D não teria causaram uma queda imediata na produtividade total dos fatores em 1970.



34 - Gastos militares são bons? O consenso no campo da economia da inovação, dada a evidência actualmente disponível é que nem a guerra nem as despesas militares são boas para a inovação, em relação a um cenário contrafactual sem guerra e maior P&D civil.


35 - Um porém: uma parte cada vez menor ia, de facto, para as forças armadas, mas estes recursos não eram iguais ou equivalentes, e os melhores entre eles estavam cada vez mais dedicados para a pesquisa militar.


36 - Problemas de maximização da utilidade marginal nos modelos soviético e czarista. Exemplos: ...Comunas camponesas: após a abolição da servidão, os camponeses mudaram-se para comunas. Alguns argumentam que as comunas restringiam a mobilidade dos trabalhadores; eles não permitem que os camponeses vendam seus terra. Sair da comuna significa renunciar à sua participação nela. Isto apareceria no componente de mobilidade laboral da cunha. (...) Capitalismo monopolista: a Rússia pré-revolucionária tinha um sistema econômico parecido com capitalismo monopolista. O Estado restringiu a concorrência, levando ao surgimento de mercados ineficazes.


37 - Cita outros: Mercados de consumo segmentados e racionamento com controle de preços; coletivização agrícola implicando exploração e perda de bem-estar etc. 


38 - A política de "Big Push" soviética pode ter ajudado nos problemas de coordenação? Esta é a ideia de que um mercado livre pode ficar preso num baixo equilíbrio de desenvolvimento devido a problemas de coordenação (por exemplo, as empresas não constroem postos de gasolina porque as pessoas não têm carros, e as pessoas não compram carros porque não há postos de gasolina) , e que um governo, através do investimento em áreas-chave, geralmente infraestruturas, pode mudar o equilíbrio para um equilíbrio de elevado desenvolvimento. Afirma que pesquisadores concluíram que a fatia do trabalho, especialmente a componente de produção, diminuiu no URSS em comparação com a Rússia czarista, mas que a PTF industrial teve um desempenho inferior ao tendência czarista.


39 - ...Assim sendo, abraçaram o contrafactual "czarista". Acreditamos que a industrialização de Stalin não deve ser usada como uma história de sucesso na economia do desenvolvimento, deveria, em vez disso, ser estudado como um exemplo onde a realocação brutal resultou em menor produtividade e menor bem-estar social. (...) Estender a Rússia czarista ao futuro teria de facto resultado num crescimento menor em comparação com a União Soviética (mas maior bem-estar!). Na verdade, colocaram que reformas liberalizantes no czarismo (impedindo barreiras à entrada, especialmente) ou mesmo a NEP de Lênin apresentariam resultados superiores... (Enfim, e se...).


40 - Sobre o Big Push: Nossas descobertas são inconsistentes com as previsões das teorias do Big Push de que o investimento estatal abrangente deve aumentar a produtividade no setor manufatureiro. (...) A PTF caiu em ambos os sectores durante as principais fases da industrialização coletivização e permaneceu abaixo das tendências czaristas na maioria dos anos. (Como cada cálculo de PTF conta uma história, seria interessante ver como foi esse aí). (...) Para Cheremukhin et al., o stalinismo funcionou ... não por causa de nada em particular inerente ao planejamento central, mas porque resolveu os problemas do czarismo por meio de transição compulsória das fazendas para as fábricas.


41 - Conclusão do autor: A liberalização das reformas na Rússia czarista teria provavelmente levado a um crescimento ainda mais rápido. Contudo, é difícil saber se é plausível que essas reformas teriam sido efectivamente implementadas tendo em conta o contexto institucional. A afirmação de Allen de que, sem Estaline, a Rússia ter sido um país com um nível de rendimento semelhante ao da América Latina não pode ser descartado. (...) O ingrediente secreto do crescimento soviético é o aumento da parcela do investimento no PIB e a força na transição da agricultura para a indústria. (...) O espetacular crescimento soviético inicial foi alcançado antes da Segunda Guerra Mundial e pode ser atribuído a uma recuperação da Primeira Guerra Mundial e da guerra civil.

 

42 - ...No mais... A explicação consensual para a estagnação posterior da União Soviética está em grande parte correta: o planejamento central tem problemas de incentivo e de informação, e o crescimento que aumenta insumos (capital e trabalho) por si só não é sustentável sem aumentos da produtividade. A Guerra Fria pode ter sido um factor, mas não o que explica essa diminuição da produtividade.


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