Livro: Michal Kalecki - Teoria da Dinâmica Econômica - Apresentação e Prefácio
Livro: Michal Kalecki - Teoria da Dinâmica Econômica
Pgs. 1-27
"APRESENTAÇÃO e PREFÁCIO"
1 - Livro da famosa Coleção da Abril: Os Economistas. Nome Completo: Michal Kalecki - Teoria da Dinâmica Econômica - Ensaio Sobre as Mudanças Cíclicas e a Longo Prazo da Economia Capitalista. Apresentação de Jorge Miglioli. Tradução de Paulo de Almeida.
2 - A apresentação é longa - mais de vinte páginas - e o prefácio, de 1952, é só uma página. Jorge Miglioli, nascido em 1935, é licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planificação e Estatística de Varsóvia (Polônia) e livre-docente em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, onde é Professor titular do Departamento de Economia e Planemento Econômico.
3 - Sobre o livro/obra: Foi originalmente publicada em inglês em 1954 e, com alguns acréscimos e correções, em 1965. O próprio autor fez essa advertência sobre seu texto "no Prefácio à edição japonesa da obra": “Este livro está cheio de equações, dados estatísticos, diagramas etc. Ao leitor isso pode provocar a errada impressão de que o tema central seja a aplicação da Matemática e da Estatística à pesquisa econômica. Mas não se trata disso, absolutamente. As equações matemáticas são usadas apenas para condensar o curso do raciocínio e dar-lhe maior precisão. Os dados estatísticos servem para demonstrar que os resultados teóricos não contradizem os fatos e que, portanto, esses resultados fornecem explicação fidedigna dos fenômenos pesquisados”.
4 - Michal Kalecki nasceu em Lodz, em 22 de junho de 1899. Estudou na Escola Politécnica de Varsóvia e depois na de Gdanski, mas não chegou a graduar-se. Seu primeiro título acadêmico ele o obteve aos 57 anos de idade, quando, já internacionalmente reconhecido, o governo polonês o nomeou professor universitário; e em 1964 a Universidade de Varsóvia lhe conferiu o título de doutor honoris causa. (...) Foi um autodidata. Em sua formação como economista, recebeu profunda influência das obras de Marx e de outros autores marxistas.
5 - ...Retornando à Polônia, ocupou diversos cargos: diretor de pesquisas no departamento de ciências econômicas da Academia Polonesa de Ciências (1955/56), presidente da Comissão de Planejamento de Longo Prazo (1957/60), vice-presidente do Conselho Econômico do Estado (1957/63), e também, ao longo de todo esse tempo (isto é, de 1956 a 1969), professor na Escola Central de Planificação e Estatística. (...) Kalecki morreu em Varsóvia no dia 17 de abril de 1970.
6 - Voltando para a Polônia em 1955, no ano seguinte Kalecki se viu no meio das manifestações políticas que derrubaram o governo stalinista de então e criaram, no país, um ambiente democrático favorável ao ressurgimento cultural. Na área da Economia iniciou-se um grande debate que incluía desde os princípios básicos dessa ciência até questões muito específicas do sistema produtivo polonês. Defendia reforço dos conselhos operários a fim de "dar mais participação" ao mesmo no planejamento.
7 - Foi David Ricardo, porém (em seus Princípios de Economia Política e Tributação, 1817), quem deu consistência teórica à “lei de Say”; mais tarde, John Stuart Mill (Princípios de Economia Política, 1848) se encarregou de transformá-la em dogma, e como tal ela foi incorporada pelos economistas neoclássicos. Foi ele quem defendeu que toda poupança viraria investimento, não havendo problemas com a "Lei". No mais, o trânsito do capital entre setores conserta possíveis problemas de excesso provisório de produção.
8 -Miglioli coloca que Malthus já refutava a Lei de Say no tempo dela. Em vez da propensão a poupar dos capitalistas, Malthus chamava de "preferência pela indolência". Não gastar com nada. Determinantes da demanda efetiva que poderiam mexer com a coisa? ...Malthus menciona a redistribuição da renda, a expansão das exportações e dos gastos improdutivos (entre os quais se incluem os gastos públicos). Marx pensou parecido quando tratou de possíveis problemas de realização. Valor criado que tem dificuldade para se realizar. O consumo dos capitalistas, seja ao menos na forma de investimento, era necessário para realizar a mais-valia. Nada garantia que isso aconteceria, daí as crises de superprodução, digamos assim.
9 - Marxistas se debruçaram sobre a questão. Por exemplo, Tugan-Baranovski (em seu livro sobre As Crises Industriais na Inglaterra, edição russa de 1894 e edição francesa, modificada, de 1913) deixou bem claro duas questões básicas: 1) o desenvolvimento da economia capitalista depende não apenas da expansão das forças produtivas, mas também da ampliação dos mercados para absorver a produção; 2) contrariamente à tese dos teóricos subconsumistas, o aumento do consumo (seja dos trabalhadores ou dos capitalistas) não é imprescindível para realizar a crescente produção; esta pode ser realizada apenas no setor produtor de equipamentos — por exemplo, são produzidas máquinas para produzir mais máquinas para fazer ainda mais máquinas. Também Rosa Luxemburg (em A Acumulação de Capital, 1913) acentuou o primeiro ponto. Mas não entendeu o segundo; para ela, era necessário haver um mercado externo (fora do sistema capitalista) para absorver a crescente produção e, assim, estimular a acumulação capitalista. Esta é uma falsa solução teórica: apesar disso, ao propô-la, Rosa Luxemburg destacou uma questão relevante para as economias capitalistas: o papel das exportações e dos gastos públicos (especialmente com armamentos) no processo de realização da produção.
10 - Coloca que Myrdal e especialmente Keynes foram quem sistematizaram os melhores ataques à Lei de Say, vendo as catástrofes da crise de 29. Antes, contudo, de surgir a Teoria Geral de Keynes, Kalecki já havia publicado, em polonês, três estudos que constituíram, em conjunto, a primeira formulação precisa e sistemática do papel da demanda efetiva no processo de reprodução capitalista. Nesses estudos pode-se constatar claramente a influência de Marx, Tugan-Baranovski e Rosa Luxemburg, como o próprio Kalecki o reconhece. Isso de 1933 a 1935. Só na década de 50 seu pioneirismo foi divulgado e reconhecido. No mais... Muitos economistas marxistas passaram a perceber que a obra de Kalecki sobre as economias capitalistas, embora desprovida do vocabulário marxista tradicional e com todo o estilo formal e as expressões matemáticas, constituía um desenvolvimento do velho “problema da realização”.
11 - Sobre este livro de 1954, o próprio autor coloca como condensador aprimorada da ideia dos dois anteriores. Em suma, o último livro constitui a versão mais completa das idéias de Kalecki sobre o problema da dinâmica das economias capitalistas.
12 - Distribuição de renda e monopólio: ...Quanto maior o grau de monopólio, maior é o preço (e, dentro dele, o lucro) que uma indústria pode cobrar por sua mercadoria em relação ao custo de sua produção (onde se incluem o custo dos insumos e os salários); logo, maiores são os lucros em relação aos salários, isto é, maior é a participação dos lucros na renda gerada.
13 - Kalecki considera que a taxa de juros de longo prazo, que é a que mais importa na determinação dos empréstimos para investimentos, não tem grandes oscilações nos ciclos econômicos longos. Ou seja, diminui a importância da coisa.
14 - Muitas teorias tratam o investimento como se este fosse acessível a qualquer indivíduo disposto a arriscar-se num empreendimento produtivo, o que caracterizaria, nas palavras de Kalecki, “um estado de democracia econômica onde qualquer pessoa dotada de habilidade empresarial pode obter capital para iniciar um negócio”. A realidade, contudo, não é esta. A quase totalidade dos investimentos é efetuada por pessoas (físicas ou jurídicas) que já são proprietárias de capital. Logo, ao tratar dos determinantes do investimento, é preciso levar em conta esse fato, como o faz Kalecki (ver capítulo 8).
15 - Kalecki e suas determinantes do investimento: ...Essa teoria apresenta diversos pontos fracos, entre os quais dois merecem destaque: 1) a influência do progresso técnico não é ressaltada, permanecendo embutida numa constante adicionada à equação dos determinantes do investimento; 2) não se explica por que os capitalistas continuam a investir (a ampliar seu capital fixo) apesar da existência de considerável margem de capacidade produtiva ociosa. Kalecki está ciente das deficiências de sua teoria, e por isso mesmo continuou a estudar o problema. Poucos anos antes de sua morte, publicou um trabalho onde apresentou uma nova explicação dos determinantes do investimento, eliminando aqueles dois pontos fracos. De acordo com essa explicação, o estímulo ao investimento decorre da concorrência entre os capitalistas: um capitalista é levado a introduzir inovações tecnológicas e, portanto, a investir (visto que as inovações estão embutidas nos novos equipamentos de capital), apesar da existência de capacidade ociosa, para captar lucros auferidos por seus concorrentes (ver o ensaio “Tendência e Ciclo Econômico” em Crescimento e Ciclo das Economias Capitalistas).
16 - ...no referido ensaio, o progresso técnico passa a ser o principal determinante do investimento, e é daí que Kalecki obtém tanto a equação do ciclo como a da tendência. Kalecki não separará mais aqui, ciclo com evolução estacionária (sem a tendência ascendente gerada pelo progresso técnico) e ciclo com tendência.
17 - Apesar de Kalecki ter formulado diversos modelos de ciclos, seu princípio básico é sempre o mesmo. A variável estratégica na explicação do nível da atividade econômica, seja num ano ou seja ao longo do tempo, é o investimento. É essa variável que, através do seu efeito multiplicador, determina o volume geral dos gastos (isto é, da demanda efetiva) e, assim, a renda nacional num dado ano.
18 - Já no Prefácio, Kalecki adverte: Convém também salientar que nas análises estatísticas foi empregado o método dos mínimos quadrados. Esse procedimento pode parecer algo grosseiro à luz dos desenvolvimentos mais recentes das técnicas estatísticas. Deve-se observar, contudo, que o propósito da análise estatística aqui encetada é mostrar a plausibilidade das relações entre variáveis econômicas a que se chegou teoricamente e não obter os coeficientes mais prováveis dessas relações.
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