Livro: João Bernardo - Economia dos Conflitos Sociais - Capítulo 2 (PARTE "D")

                                                                            

Livro: João Bernardo - Economia dos Conflitos Sociais



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Pgs. 144-169


"CAPÍTULO 2: "Mais-valia relativa e mais-valia absoluta"


113 - Coloca que a confusão entre exploração e situação material faz com que alguns teóricos achem que os trabalhadores de polos mais avançados de mais-valia relativa - vem termos como "aristocracia operária" e afins - são menos explorados ou mesmo que compartilham lucros com a burguesia do país.


114 - A forma como nas últimas décadas se operou o processo de descolonização, pelo triunfo da conciliação nacionalista de interesses sociais radicalmente antagônicos, constituiu uma das mais profundas derrotas orgânicas dos trabalhadores, interrompendo a sua constituição como uma classe efetiva em escala mundial.


115 - Mais-valia absoluta enseja apenas repressão? Na verdade, porém, nenhuma classe dominante pode manter o seu poder se baseada unicamente na repressão. Podemos ver agora como as ambigüidades suscitadas pela dualidade geoeconômica permitem aos capitalistas da área da mais-valia absoluta articular os seus interesses com as ilusões dos trabalhadores. Refere-se ao populismo. Falsos inimigos e afins. Cita a tese de Corradini das "nações proletárias" e o fascismo.


116 - Cita revoltas vitoriosas que ocorriam no mundo naquele momento. Articulação das lutas: ...Nem a pletora de trabalhadores subempregados se limita então à vulcânica irrupção de uma violência sem freio, mas de curto fôlego e desprovida de objetivos precisos; nem a percentagem reduzida de trabalhadores inscritos no setor mais produtivo se limita a pressões recuperáveis graças à burocratização das instituições reivindicativas. O sentido organizativo e de orientação estratégica de uns e o radicalismo de ação dos outros têm, em todos estes casos, feito recuar os governos e impedido a aplicação das medidas graves, por vezes mesmo têm obrigado as classes dominantes a introduzir consideráveis alterações no regime político. O sucesso destes movimentos vem de conjugarem, numa prática de luta comum, as experiências de cada um dos grandes setores da força de trabalho, ultrapassando assim efetivamente a sua decisão.


117 - ...Mas estes movimentos têm sido breves e, além disso, nunca até hoje incluíram ao mesmo tempo a totalidade dos trabalhadores de uma vasta área, de um conjunto de países. E a própria cedência dos governos desencadeia mecanismos desmobilizadores e recuperadores, que analisarei na última seção.


118 - Reorganização do trabalho - por exemplo, tornando-o mais intenso e/ou eficiente no uso de recursos - pode aumentar a produtividade, mas não encontra o mesmo potencial "infinito" dos mecanismos de mais-valia. As possibilidades de o desenvolvimento da produtividade se processar dentro dos limites de um estágio tecnológico já dado esgotam-se ... mais ou menos rapidamente e, a prazo, os mecanismos da mais-valia relativa exigem a abertura de novos estágios. Estes se caracterizam, em comparação com cada um dos anteriores, pelo aumento da massa dos elementos empregados de capital constante.


119 - Em um setor avançado ou outro, a mais-valia relativa pode até trazer redução do capital constante, mas no aspecto global este tende a ir aumentando, coloca. Num setor específico é que tudo pode acontecer. 


120 - Queda da taxa de lucro com o aumento progressivo do volume de capital constante? Depende das contratendências. Colocada a questão deste modo, o decisivo é que a definição genérica dos mecanismos da produtividade não permite, por si só, prever em que medida a redução do valor de cada um dos elementos do capital constante compensará o seu aumento em quantidade.


121 - Creio que isto aqui também tenha a ver com mudança de preferências no consumo: ...Talvez possa também admitir-se como uma das formas de contrariar a baixa da taxa de lucro a abertura de novos ramos de produção, que durante uma fase inicial necessitam de menos capital constante, até virem progressivamente a sofrer a mesma tendência geral ao agravamento da composição técnica. Nesse estágio inicial, parece-me estarem hoje alguns dos novos tipos de serviços.


122 - Ainda assim, no longo prazo, Marx "botava fé" na queda. Creio que Marx, talvez pela época em que escreveu, certamente também em virtude de contradições e limitações estruturais da sua obra, subestimou seriamente a capacidade de expansão da produtividade capitalista.


123 - Fases da mais-valia relativa: Cada fase constitui um estágio orgânico, de duração pluridecenal, em que um dado tipo de conflito e de recuperação dos conflitos sustenta instituições e uma estrutura social próprias.


124 - Eu não consigo ver onde está provado tal grau de determinismo (a depender de como se interprete até vai, mas...): Em definitivo, é sempre da luta de classes que depende o ritmo da mais-valia relativa e, portanto, da reprodução em escala ampliada do capital.


125 - Aqui creio que está a comparar o desemprego - o qual considera fazer parte do jogo, tendo suas expansões e retrações a depender do período - no capitalismo "normal" e o "de Estado" (Socialismo real): Nomeadamente, nos regimes que tiverem abolido a particularização da propriedade e onde a administração econômica é altamente centralizada, cada empresa não possui uma autonomia de decisão que permita expelir os trabalhadores de momento excedentes, os quais permanecem, como desempregados ocultos, no interior do universo empresarial. Onde predomina, porém, o caráter particular da propriedade e onde é bastante descentralizada a administração da economia, a independência das empresas leva-as a expulsar os trabalhadores supranumerários, colocando-os em situação explícita de desemprego. O que os capitalistas contabilizam como custos em cada uma destas situações não será certamente muito diferente; remunerações médias mais baixas num caso corresponderão, no outro, à média entre salários mais elevados e subsídios de desemprego inferiores. Coloca, porém, que também há casos de "desemprego oculto" nas empresas privadas (imagino que bem mais raros).


126 - Coloca que desde Marx já se sabe que aumentar o consumo dos trabalhadores nem sempre é a resposta para saída da crise. Já Marx, na parte final da quarta alínea do capítulo XX, no Livro II da sua obra maior, observara que, se o aumento da capacidade de consumo dos trabalhadores pudesse resolver as crises, como alguns pretendiam, e continuam, aliás, a pretender — curiosamente entre os próprios marxistas —, então estas não seriam sempre precedidas por um período em que a força de trabalho obtém efetivamente uma porção maior dos bens de consumo produzidos; Marx comentava que essas épocas de prosperidade, em vez de afastar as crises, ao contrário as preparam e as anunciam.


127 - JB diz: ...a questão das crises não se conta entre as que os ideólogos do capital mais gostem de versar. Na verdade, as crises não têm causas próprias. Uma crise não é senão o agravamento do funcionamento de um sistema contraditório e as suas causas não diferem de todas as contradições do próprio sistema. Aqui também vejo exagerado grau de determinismo. Veja-se o quanto a "grande moderação" coincidiu, vide os gráficos, com períodos de muito menor volatilidade para o capitalismo.


128 - Coloca, ao que entendi da prolixidade, que das crises resulta a desvalorização de ambos os capitais - constante e variável - o que enseja a recuperação da taxa de lucro. Cita histerese e trabalhos parciais como forma de desvalorização da força de trabalho. (Imagino que a própria queda dos salários reais em crise tenha seu importantíssimo lugar).


129 - Detalhe importante na "recuperação econômica": A desvalorização do capital, na sua dupla forma de desvalorização dos elementos do capital constante e de desvalorização da força de trabalho, decorre de uma crise nos mecanismos da mais-valia relativa mas, ao mesmo tempo, cria as condições para que se desenvolva o recurso à mais-valia absoluta.


130 - Mostrarei na quarta seção como o processo normal de desenvolvimento tecnológico capitalista faz com que um novo estágio comece a difundir-se antes de que tenham chegado ao fim material da sua existência todos os meios de produção decorrentes do anterior; a introdução de cada novo estágio acarreta sempre um grau de desvalorização dos elementos mais antiquados do capital constante em funcionamento. A crise difere deste processo normal porque generaliza e amplifica a desvalorização.


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