Livro: João Bernardo - Economia dos Conflitos Sociais - Capítulo 1 (PARTE "A")

                                                                        

Livro: João Bernardo - Economia dos Conflitos Sociais



Pgs. 22-46


"CAPÍTULO 1: "Mais-valia"


11 -  A estrutura do modelo da mais-valia é a de uma relação social, entendida como movimento de tensão entre dois pólos.


12 - Capital variável: Karl Marx deixou esta problemática absolutamente clara na própria terminologia que criou. Para ele, o capital variável é variável precisamente porque é a única fração do capital que dá lugar à criação de novo valor, variando por aí de dimensão a massa do capital total. E o valor que só se conserva após o ato é o capital constante.


13 - Trabalho assalariado e expropriação da classe trabalhadora: Assalaria-se a força de trabalho e, portanto, se retira dela a capacidade de consumo independente dos produtos, precisamente com o objetivo de fazê-la produzir; e é privada do controle sobre o produto criado precisamente com o objetivo de assalariá-la de novo; e é afastada da organização do processo de trabalho precisamente para ser mantida em desapossamento em ambos os termos da relação e se reproduzir como produtora assalariada.


14 - JB e valor: O valor criado durante um período de trabalho se define pela totalidade do tempo de trabalho despendido durante tal período, independentemente da proporção em que se possa repartir em produção de mais-valia e reprodução do capital variável avançado; é da capacidade global de trabalho exercida pelos trabalhadores durante esse período que resulta o novo valor.


15 - ... o tempo de trabalho incorporado num dado produto é sempre superior ao tempo de trabalho efetivado durante o período em que se fabrica tal produto. Há o valor novo criado e o que se conserva (mantendo o valor da parte gasta de produtos criados durante processos de produção anteriores).


16 - Os elementos representativos do capital constante são trabalho morto enquanto permanecerem exteriores ao elemento ativo das relações sociais, enquanto a força de trabalho em ação não os inserir de novo no processo de produção da mais-valia. (Daí o desespero dos patrões nas greves...)


17 -  A ruptura de Galileu com a tradição aristotélica não consistiu apenas na negação do geocentrismo, mas ainda na afirmação de que os modelos matemáticos seriam a própria expressão da realidade física.


18 - Descartes: Foi talvez este filósofo quem melhor expressou a separação entre o homem e a natureza, não só ao postular a dualidade substancial entre o pensamento da mente e a extensão material tridimensional, mas ainda ao propor, para cada um destes campos, diferentes aplicações do método matemático


19 - Enquanto para o empirismo o processo de conhecimento era a ação de múltiplas coisas sobre outras e, assim, um aspecto da fisiologia das sensações, nos sistemas de Spinoza e Leibniz o conhecimento é uma relação totalizante e é esta o objeto filosófico. A compreensão da atividade racional era entendida, antes de mais nada, como um autoconhecimento e este seria o conhecimento da relação do indivíduo com o todo e, portanto, do todo enquanto relação. Daí a dificuldade tida por esta corrente para pensar a existência de elementos, enquanto tais, no todo em que se unem.


20 - Apresente Kant como síntese das tendências anteriores no que tange à problemática do conhecimento. Foi possível a Kant não restringir o objeto da experimentação à natureza ou, por outras palavras, pôde assimilar a experiência à experimentação, porque compreendeu que a especificidade do método experimental consiste em não seguir o percurso natural mas sim em reconstituir o objeto natural consoante um percurso próprio ao intelecto


21 - (Toda essa parte sobre filosofia é explicada de forma notavelmente chata. Destaquei um trecho ou outro das abstrações, até por serem mais "didáticos").


22 - Ao que entendi/o, a razão e a natureza podem se tocar em Kant. Enquanto se limitara ao mundo natural, a experimentação era reservada ao não-eu, reproduzindo assim a cisão entre o indivíduo e a natureza. Ao desenvolvê-la num novo tipo de introspecção, Kant negou essa cisão, pois, tornando-se ambos objeto da experimentação, o eu e o mundo exterior redefinem-se como relacionados.


23 - ...O “penso, logo existo” é o “penso” algo. O eu para Kant existe sempre numa relação — intelectual, e não prática — com os objetos. (...) O eu do kantismo não é o eu do empirismo, sensorialmente passivo e fragmentado na multiplicidade dos elementos; nem o eu de Spinoza e Leibniz, modelo de união dos elementos do todo, mas inativo nesse resumo a si dos elementos. Surge-nos na filosofia de Kant um eu-em-relação, ativo pelo processo de conhecimento. (...) Noutro trecho: Kant foi claro a este respeito num dos pontos centrais da primeira edição da Crítica da Razão Pura, quando converteu o “penso, logo existo” em “penso, logo existe o exterior a mim”, transformando o eu em um eu-em-relação.


24 - Coloca que Kant trouxe princípios unificadores apriorísticos como arquitetura da razão.


25 - Eles realmente eram assim tão radicais?: Spinoza e Leibniz resolviam a originária cisão entre o homem e a natureza numa forma de união que tinha como condição absoluta a redução do mundo exterior ao modelo do eu, negando-se assim à natureza a sua exterioridade; o modelo dessa união consistia na redução do processo de conhecimento à razão, em alheamento da atividade sensorial.


26 - Contra a concepção do princípio da unidade enquanto redução do todo ao eu, Kant manteve a afirmação fundamental do empirismo: a existência real do mundo exterior. Porém, como o eu-em-relação reproduz os seus princípios apriorísticos, ou seja, como é um eu que se reproduz nessa relação, nem se trata de uma relação com a natureza (empirismo), nem de uma relação final do eu consigo mesmo (spinozo-leibnizianismo). Como consequência. só conhecemos o que produzimos, por exemplo.


27 - Para Kant, algo só pode ser e não ser ao longo do tempo, e não simultaneamente, como sucederia se concebesse a inserção no mesmo momento em movimentos de relação opostos. Não pensando a contradição, o kantismo não pode, por isso, ter uma dinâmica estrutural.


28 - Critica o kantismo: Nos termos estritos deste sistema filosófico é impossível estabelecer pontos comuns entre os reinos da necessidade e da liberdade, pois a distinção é absoluta entre o fenômeno e o em-si.


29 - Isto aqui parece uma ponte entre Kant e Hegel: ...O conhecimento, em Fichte, é o movimento entre termos que só são opostos nesse movimento, que esse movimento estabelece como opostos e que nele encontram a sua união. É o movimento da vida, onde se destrói a facticidade dos termos e a possibilidade da sua definição substantiva. (...) Por isso Fichte pôde converter a antinomia kantiana, que era exclusivamente post-factum, numa verdadeira contradição


30 - Ao que entende, Fichte era materialista? A unidade-disjunção é o ponto de vista realista, a unidade simples é o ponto de vista idealista


31 -  Hegel deve ser entendido como o continuador direto da filosofia fichteana, limitando-se a dar ao desenvolvimento lógico inerente à concepção de processo as características também de um desenvolvimento temporal. No hegelianismo, tal como na obra de Fichte, os termos apenas são opostos na, e pela, relação em que se encontram; mas, projetada no tempo, a síntese genética foi transformada por Hegel num processo dialético, a contradição historicizou-se. O autodesenvolvimento do espírito absoluto é assim o desenvolvimento do universo, é a história do mundo; e por isso, como a razão é constitutiva deste processo, Hegel pôde afirmar a realidade do racionalMas a matéria é apenas uma manifestação dessa atividade mental. Os, grandes temas filosóficos de Fichte e, mais ainda, o seu conceito de processo foram conservados por Hegel, que projetou para a história o absoluto.


(...)


Comentários