Livro: João Bernardo - Economia dos Conflitos Sociais - Prefácios

                                                                        

Livro: João Bernardo - Economia dos Conflitos Sociais



Pgs. 5-8


"Prefácio (da primeira edição) - por Maurício Tragtenberg"


1 - Segunda edição São Paulo: Expressão Popular, 2009. Esta versão em pdf tem alterações mínimas relativamente à segunda edição


2 - A burguesia tanto recorre à exploração da mais-valia absoluta, quanto mantém uma ditadura autoritária que fecha os sindicatos impedindo o surgimento de profissionais da “negociação”, prende trabalhadores e fecha os canais políticos de participação social. Como mostra o autor, essa não é a única técnica de manutenção da dominação e da exploração. A burguesia pode recorrer a mecanismos “participativos”, cedendo em parte às reivindicações operárias, porém antecipando-se a elas mediante o aumento da exploração do trabalho através da mais-valia relativa. (...) O Estado Restrito participaria do esquema de exploração da mais-valia absoluta e o Estado Amplo, segundo João Bernardo, é concomitante à exploração da mais-valia relativa.


3 - ...O capitalismo, considerando o alto custo social da repressão direta, recorre a inovações tecnológicas para o aumento da produtividade, isto é, da exploração do trabalho. Recorre a "ideologias conciliatórias". Co-gestão e afins. Surge a burocracia sindical. O "Estado Amplo" desenvolve políticas sociais de integração da mão-de-obra no sistema, acentuando a exploração da mais-valia relativa.


4 - Por um processo coletivo de luta, o trabalhador rompe com a disciplina fabril criando estruturas horizontais, conselhos, comissões — essas sim constituem o elemento revolucionário, pois significam no ato a implantação de relações comunistas entre seus membros. (...) O comunismo não é algo a atingir; decorre da auto-organização da mão-de-obra através de estruturas horizontais que rompem com o verticalismo dominante nas unidades produtivas. É aí que se criam relações sociais novas, incompatíveis com a disciplina fabril tradicional e precursoras de relações sociais comunistas, ou seja, da auto-organização do trabalhador a partir da unidade produtiva superando o verticalismo, a hierarquia e a fragmentação que o capital procura eternizar no seu seio.



Pgs. 9-18


"Notas para a leitura de Economia dos Conflitos Sociais (da segunda edição) - por Ricardo Antunes"


5 - A luta que não quer abolir o sistema costuma atuar em dois flancos:  aquelas que procuram aumentar os insumos incorporados na força de trabalho, ou aquelas outras que procuram reduzir o tempo de trabalho despendido no processo de produçãoEstas duas modalidades de luta articulam-se e mesclam-se freqüentemente quando, por exemplo, lutam por melhores condições de trabalho; mas, segundo o autor, distinguem-se “na análise porque dão lugar a processos econômicos distintos”.


6 - Gestores e burguesia: Ambas se apropriam da mais-valia, ambas controlam e organizam os processos de trabalho, ambas garantem o sistema de exploração e têm uma posição antagônica em relação à classe trabalhadora.


7 -  Como no mundo capitalista atual o Estado Amplo se sobrepõe ao Estado Restrito, ele abarca também o poder nas empresas, os capitalistas que se convertem em legisladores, superintendentes, juízes. (...) "em suma, constituem um quarto poder inteiramente concentrado e absoluto, que os teóricos dos três poderes clássicos no sistema constitucional têm sistematicamente esquecido, ou talvez preferido omitir". (...) Foi contra esta leitura restritiva do Estado que Adam Smith considerava que, ao lado do poder político (civil e militar), dever-se-ia acrescentar também o poder de mando e controle na exploração da força de trabalho nas empresas



Pgs. 19-21


"Prefácio à primeira edição"


8 - Minimiza as mudanças da virada para os anos noventa:  Ambos os blocos constituíam as alternativas possíveis no interior de um quadro capitalista comum. E o pêndulo que agora oscila para um lado movera-se antes em sentido contrário. Na década de 1930, foi a planificação central soviética que influenciou profundamente a economia dos demais países. E, porque estes levaram a experiência mais longe do que se conseguiu no Leste europeu, a planificação descentralizada, assentada nas grandes companhias transnacionais, pode atualmente encarregar-se da organização global da economia mundial.


9 - Assim via a questão da queda do "comunismo": ...Não só dirigentes de tradição stalinista foram obrigados a adequar-se às novas condições, mas também políticos de oposição até há pouco isolados, tantas vezes ineptos, sempre roídos de rivalidades, viram-se forçados a unir-se e a governar em conjunto. Mas esta afirmação de força dos trabalhadores tem sido afinal uma manifestação de fraqueza porque, com exceções como a da grande vaga de greves na União Soviética em meados de 1989, limitam-se a pressionar a reorganização do capitalismo. (...) Movimentos descentralizados, característicos do presente ciclo longo da mais-valia relativa, não puderam por isso ser contidos nem assimilados pelas burocracias stalinistas centralizadoras, apenas pelas burocracias descentralizadas, ou pluricentradas, que agora se instalam.


10 - Coloca que a multiplicidade de países - exemplo da cisão da Tchecoslováquia, entre outros - contribui para o enfraquecimento, e não fortalecimento, do nacionalismo. A pluralidade de fronteiras é um fator de dispersão e é precisamente tal ausência de coesão que importa ao capital transnacional, para tecer as redes que unem os estabelecimentos nos vários países e articular, em cada um deles, os pólos de desenvolvimento e a manutenção de vastas áreas estagnadas. É isto que hoje começa a se passar no Leste europeu.


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