Livro: IPEA - Produtividade e PTF no Brasil de 1990 a 2010
Livro: IPEA - Produtividade e PTF no Brasil de 1990 a 2010
Pgs. 1-35
1 - Já tinha "printado" as conclusões desse texto aqui no blog, mas vou ler e fichar o texto todo agora.
2 - PRODUTIVIDADE NO BRASIL: UMA ANÁLISE DO PERÍODO RECENTE* - Luiz Ricardo Cavalcante** - Fernanda De Negri**
3 - Receito do "sucesso" da Era Lula/PT: Os fatores que concorreram para ciclo de crescimento econômico e inclusão social envolviam as políticas sociais de redistribuição de renda e de valorização do salário mínimo (SM), a expansão do crédito, a incorporação de um grande contingente de população ao mercado de trabalho e de consumo e um cenário externo de crescimento acelerado que impulsionou a valorização de commodities exportadas pelo Brasil.
4 - Alguns problemas nos comparativos da vida: ...Bonelli e Bacha (2013, p. 237), por exemplo, registram que a revisão das contas nacionais, em 2007, resultou em “uma nova série de crescimento do PIB e dos componentes da demanda agregada desde 2000, bem como novos valores para o PIB em 2000 e anos anteriores (até 1995). Isso implicou extensas alterações na série do estoque de capital e nos deflatores do PIB e do investimento. Delas resultaram mudanças substanciais em diversos parâmetros usados na análise”.
5 - A polêmica PTF: Essencialmente, a PTF captura a parcela da taxa de crescimento do produto que não é explicada pelo crescimento dos estoques dos fatores de produção. Contudo, não há consenso quanto a uma série de aspectos práticos envolvidos com sua estimação. Esses aspectos envolvem o formato da função de produção, o valor dos parâmetros na função de produção escolhida (por exemplo, o valor de alfa de uma função do tipo Cobb-Douglas) e os métodos de determinação do estoque de capital (Alves e Silva, 2008). Nos termos usados em um documento do Banco Mundial (2000), “diferenças completamente inócuas nas suposições podem acarretar estimativas muito distintas do aumento da PTF”.
6 - Uma das medidas mais diretas da produtividade do trabalho corresponde ao quociente entre o produto e o número total de pessoas ocupadas. PL = Y/L.
7 - ...A manipulação algébrica da equação (4) permite concluir que a taxa de crescimento do PIB per capita corresponde à soma das taxas de crescimento da produtividade do trabalho, da taxa de ocupação e da taxa de participação.
8 - ...Embora permanentemente válida por sua própria definição, a equação (5) nem sempre é facilmente aplicada porque as séries têm descontinuidades e requerem ajustes para serem usadas no longo prazo.8 Para aplicá-la ao período entre 1940 e 2000 e interpretar movimentos ocorridos na economia brasileira nesse intervalo, Bonelli (2005), por exemplo, precisou recorrer a diversos procedimentos para compatibilizar séries de dados produzidas de acordo com diferentes metodologias.
9 - Resumo: Enquanto mais de 90% do crescimento no período 1992-2001 se deveu à produtividade do trabalho, no período 2001-2009 apenas pouco mais da metade do crescimento do PIB per capita foi explicado pelos ganhos de produtividade, e o restante foi devido ao aumento das taxas de participação e de ocupação.
10 - ENORME parênteses nessa análise toda: Na verdade, o acelerado crescimento da produtividade do trabalho entre 2009 e 2011 requer ainda análises mais detalhadas, uma vez que se trata de um biênio marcado por um acentuado crescimento do produto e por uma intrigante queda da PEA, que passa de 99.111 para 98.282 (em milhares de pessoas). Opostamente, os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) registram, para as Regiões Metropolitanas do Recife (RMR), de Salvador (RMS), de Belo Horizonte (RMBH), do Rio de Janeiro (RMRJ), de São Paulo (RMSP) e de Porto Alegre (RMPA), uma evolução positiva da PEA, que passa de 23.407 mil pessoas, em 2009, para 23.867 mil pessoas, em dezembro de 2011. Assim, os dados relativos a 2011 usados para a construção do gráfico 1 e da tabela 1 são ainda preliminares, estão sujeitos a correções e, por isso, devem ser usados com cautela.
11 - PTF de Bonelli e Bacha não incluem o capital humano na sua formulação (creio que, caso incluísse, daria um total percentual menor, já que parte seria explicada por ele e não por um "PTF puro"? Ou é o contrário?). Os autores concluem que a taxa média anual de crescimento da PTF, que se situou em 0,24% no período 1993-1999, alcançou 1,03% no período 2000-2011.
12 - Ellery Jr.: ...calcula um crescimento médio anual da PTF de 1,40% no período 2002-2011 contra uma taxa média anual de 0,91% no período 1992-2002. O autor veria mérito nas reformas dos anos 90 (FHC) e na política de valorização do salário mínimo (hipótese discutível de que os salários estariam puxando a produtividade...)
13 - ..."Detalhe": O autor constata ainda que, ao incluírem no modelo as safras de capital e o capital humano, praticamente toda a variação da PTF observada entre 1992 e 2008 desaparece. Isso o leva a creditar o crescimento da PTF na década de 2000 à melhora da qualidade tanto da mão de obra quanto da produção de máquinas e equipamentos. Essas observações mostram como a trajetória da PTF é sensível ao formato da função de produção escolhida para calcular esse indicador.
14 - Diferentemente dos demais trabalhos mencionados nesta seção (que usam as séries de PIB e estoque de capital em reais constantes), Ferreira e Veloso (2013) calculam a PTF usando uma função de produção que inclui o capital humano – equação (7) – e dados em dólares ajustados pela paridade do poder de compra (PPC). (...) Os resultados indicam uma taxa de –1,2% no período entre 1993 e 2003 e uma taxa de 1,5% para o período 2003-2009.
15 - ...Não fui só eu que achei isso estranho: ...conviria, ainda, investigar se o formato da curva do gráfico 3 não estaria relacionado, também, com os ciclos de valorização e desvalorização real da moeda brasileira em relação ao dólar. (Tendo, como parece ter, não é a medida ideal de PTF a meu ver).
16 - Barbosa Filho, Pessôa e Veloso (2010, p. 93) incluem, na função de produção que utilizam, um indicador de capital humano e um índice de utilização da capacidade instalada u. Trata-se, assim, da função de produção mais completa dos trabalhos citados até aqui conforme indicado na equação (8).
17 - A trajetória acabou ficando parecida com a de Ellery:
18 - Concluindo sobre a PTF: ...na maioria dos casos, o crescimento observado é significativamente reduzido à medida que os modelos passam a incluir aspectos como o capital humano e as safras de capital.
19 - Conforme indicado na seção 2 deste estudo, a taxa média anual de crescimento da produtividade agregada do trabalho no Brasil (definida de acordo com o primeiro tópico indicado anteriormente) foi de 1,09% no período entre 1992 e 2001 e de 1,17% entre 2001 e 2009. Os diferentes métodos utilizados para ajustar as séries de pessoal ocupado – e, por vezes, as diferentes agregações de períodos de tempo – podem levar a resultados um pouco diferentes. (...) Assim, Bonelli e Bacha (2013) concluem que, entre 1993 e 1999, a taxa média anual de crescimento da produtividade do trabalho no Brasil alcançou 0,36% e subiu para 0,67% no período entre 2000 e 2009. Bonelli e Veloso (2012, p. 48), ao restringirem a análise ao período entre 2003 e 2009, registram uma taxa média anual de crescimento da produtividade do trabalho correspondente a 1,2%. Um procedimento semelhante é empregado por Ferreira e Veloso (2013, p. 164) que, entretanto, calculam a produtividade do trabalho usando dados em dólar considerando a PPC. Assim, para o intervalo entre 1990 e 2000, os dados indicados pelos autores permitem calcular uma taxa média anual de crescimento do produto por trabalhador de –0,52%, ao passo que, no período entre 2000 e 2009, a taxa alcança 1,10%.
20 - Squeff (2012, p. 5), em um estudo em que discute “a hipótese de desindustrialização brasileira a partir de indicadores não encontrados usualmente na literatura sobre o tema”, calcula a produtividade do trabalho com base no quociente entre o valor adicionado e o total de ocupações, usando dados do SCN. Com o propósito de expurgar o efeito de variações de preço sobre o valor adicionado (calculado com base nas tabelas de recursos e usos do IBGE), Squeff (2012) calcula deflatores setoriais anuais para cada uma das 42 atividades do antigo SCN e para cada uma das 56 atividades do sistema usado a partir de 2000 (apurados nas tabelas sinóticas do IBGE). Com base nos dados reportados, pode-se concluir que, entre 2000 e 2009, a produtividade do trabalho cresceu a uma taxa média anual de 1,0% (ou 0,9% se forem consideradas apenas as extremidades da série). Esse resultado – convergente com a tendência mostrada no parágrafo anterior – exibe uma grande heterogeneidade intersetorial (gráfico 5).
21 - ...Uma vez que Squeff (2012) usa deflatores setoriais, esse desempenho não pode ser atribuído a mudanças de preços relativos devido a elevações de preços de commodities agrícolas e minerais no período analisado.
22 - ...Esse cenário negativo para a indústria se mantém quando, em vez das contas nacionais, utilizam-se os dados provenientes da PIA do IBGE.
23 - ...Os efeitos da crise são bem visíveis em 2009, quando, por força do desaquecimento da economia, o valor da produção industrial caiu fortemente, sem uma correspondente redução no nível de emprego industrial, implicando uma importante queda no indicador de produtividade, que, em 2010, retoma os níveis anteriores. No período todo, a PIA mostra uma queda de mais de 10% na produtividade da indústria.
24 - Pode-se ... calcular a produtividade por meio da relação entre a produção física e as horas pagas. Uma vez que o IBGE divulga esses dados mensalmente, é possível, nesse caso, obter séries mais detalhadas. O gráfico 7 exibe a trajetória da produtividade da indústria geral, da indústria extrativa e da indústria de transformação no período entre dezembro de 2000 e junho de 2013.
25 - ...Para o período como um todo, essa taxa alcançou 2,23% para a indústria geral, 1,86% para a indústria extrativa e 2,13% para a indústria de transformação. Se a análise do gráfico for limitada ao período entre dezembro de 2000 e outubro de 2008, as taxas de crescimento para esses três agregados correspondem a 3,40%, 5,01% e 3,15%. No período entre outubro de 2009 e junho de 2013, por sua vez, a produtividade se mantém praticamente estagnada para a indústria geral e a indústria de transformação (0,02% e 0,03%, respectivamente) e cai na indústria extrativa (–3,05%). Isso quer dizer que o cenário relativamente favorável desaparece após a crise internacional de 2008.
26 - O texto inclui dados de outra fonte que usou método semelhante para concluir que "o período entre 1996 e 2000 foi marcado por taxas de crescimento inferiores à média superior a 2% da década de 2000".
27 - O desempenho agregado da produtividade, calculada com base na relação entre a produção física e as horas pagas, oculta variações setoriais expressivas no interior da indústria de transformação.
28 - Madeira, papel e gráfica e vestuário foram os melhores. (...) nesse mesmo intervalo, apenas quatro setores exibiram taxas negativas de crescimento da produtividade: i) coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool; ii) máquinas e aparelhos elétricos, eletrônicos, de precisão e de comunicações; iii) metalurgia básica; e iv) alimentos e bebidas.
29 - A contradição nos indicadores de produtividade: A análise amparada na relação entre a produção física e as horas pagas revelou que a taxa média mensal anualizada de crescimento da produtividade alcançou níveis mais elevados (2,25% para a indústria geral, 2,22% para a indústria extrativa e 2,13% para a indústria de transformação) do que os observados quando se usam o valor adicionado e o pessoal ocupado. (...) A comparação dessas taxas pode significar um crescimento mais acelerado dos custos em relação às receitas (o que justificaria a queda do valor agregado em um contexto de crescimento da produção física) ou um nível maior de consumo intermediário na produção total, conforme já mencionado.
30 - ...Os dados relativos à indústria de transformação reafirmaram a percepção de que o setor tem enfrentado, ao longo dos últimos anos, um conjunto de dificuldades para elevar seus níveis de produtividade. Finalmente, mesmo a análise dos dados calculados com base na evolução da produção física do setor industrial (que sugere uma trajetória um pouco melhor da produtividade ao longo da década de 2000) revela a estagnação dos indicadores de produtividade entre 2009 e 2012.
31 - Possíveis fatores "externos" que causam a baixa produtividade: deficiência de infraestrutura e pouca concorrência em diversos setores.
32 - ...Por fim, entre as possíveis hipóteses associadas aos fatores internos às empresas, estão: i) a qualificação da mão de obra (produtividade marginal decrescente da força de trabalho aliada a baixos investimentos em treinamento dentro das empresas); ii) os proporcionalmente reduzidos investimentos empresariais em pesquisa e desenvolvimento no Brasil; e iii) as reduzidas economias de escala e escopo alcançadas em alguns setores mais oligopolizados.
FIM!
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