Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar - Capítulo 4 (PARTE "C")
Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar
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Pgs. 118-136
"CAPÍTULO 4: "Que desabrochem cem flores - COMO “FAZER” ECONOMIA"
103 - A escola institucionalista — o velho e o novo? Resumo: Os indivíduos são produto da sua sociedade, embora possam mudar as regras. O velho nasce com Veblen: Veblen também tentou entender as mudanças na sociedade em termos evolucionários, se inspirando na então recente teoria de Charles Darwin. O individuo não é sempre e nem precisar ser aquele egoísta/racional.
104 - ...Foi proclamada oficialmente como escola institucionalista em 1918, com a bênção de Veblen, sob a liderança de Wesley Mitchell (1874-1948), aluno de Veblen e na época líder do grupo. O New Deal teria muitos envolvidos dessa escola. Para Chang, o referido programa tratava muito mais das instituições — a regulação financeira, a segurança social, os sindicatos, a regulação dos serviços públicos — do que de política macroeconômica. Outra figura de destaque nas décadas seguintes: Arthur Burns (presidente do Conselho de Assessores Econômicos para o presidente dos Estados Unidos, 1953-6; e presidente do Federal Reserve Board, 1970-8).
105 - Chang faz a seguinte crítica: Ela não conseguiu teorizar plenamente os diversos mecanismos através dos quais as instituições surgem, persistem e mudam. Só via instituições como resultados de decisões coletivas formais (legislação) ou como produto da história (normas culturais). Contudo, as instituições podem ser criadas de outras formas: como uma ordem espontânea surgindo das interações entre indivíduos racionais (escolas austríaca e nova economia institucionalista); através de tentativas por parte de indivíduos e organizações de desenvolver dispositivos cognitivos que lhes permitam lidar com a complexidade (escola behaviorista); ou como resultado de uma tentativa de manter as relações de poder existentes (escola marxista). No mais, alguns institucionalistas foram muito longe na "onda" e "mandaram um" "não existe o indivíduo" (Clarence Ayres).
106 - A partir dos anos 1980, um grupo de economistas com inclinações neoclássicas e austríacas, liderado por Douglass North, Ronald Coase e Oliver Williamson, fundou uma nova escola de economia institucional, conhecida como nova economia institucional. Divergem entre eles sobre o grau de limitação da racionalidade humana. Aceitam o autointeresse como grande força, algo em comum com o entendimento neoclássico. (...) Detalhe do rodapé: Também há uma influência pouco percebida da escola marxista (North foi um marxista na juventude), ao menos no que se refere ao objeto de estudo, como relações de propriedade (North e Coase) e funcionamento interno da empresa (Coase e Williamson).
107 - É uma escola que irá dar ênfase aos custos de transação, não apenas os de produção. Alguns definem custos de transação de maneira um pouco estreita como o custo envolvido nas próprias trocas do mercado — informar-se sobre produtos alternativos (“pesquisar compras”), gasto de tempo e dinheiro para fazer compras, e eventualmente negociar preços melhores. Outros o definem de forma mais ampla como o “custo de funcionamento do sistema econômico”, o que inclui o custo de realizar as trocas de mercado, mas também os custos envolvidos em executar o contrato depois de terminada a troca. Assim, nessa definição mais ampla, o custo de transação inclui o custo de policiamento contra furtos, manter o sistema judicial em funcionamento, e até monitorar operários nas fábricas para que façam o máximo do trabalho especificado em seus contratos.
108 - Algumas transações deixam de ser feitas no mercado (mais caras devido aos custos de informação e execução de contratos) para serem feitas internamente (sob mesmo comando hierárquico). Tem a ver com o quanto uma organização vai verticalizar as coisas e etc.
109 - A escola behaviorista. Resumo: Como nós não somos inteligentes o suficiente, precisamos restringir deliberadamente a nossa própria liberdade de escolha, através de regras. Vai além do humano egoísta/racional e traz o conceito de racionalidade limitada. Essa escola tem uma afinidade fundamental com a escola institucionalista, da qual alguns de seus membros também fazem parte. (...) A escola atingiu proeminência recentemente através das áreas de finanças comportamentais e economia experimental. Mas ela tem origens nas décadas de 1940 e 1950, em especial nas obras de Herbert Simon (1916- 2001), agraciado com o prêmio Nobel de economia em 1978.
110 - Simon: ...critica a escola neoclássica por assumir que as pessoas possuem uma capacidade ilimitada de processar informações, ou uma racionalidade semelhante à de Deus (que ele chama de “racionalidade olímpica”). E o problema começa em processar as tantas informações que já temos e não tanto a falta de informações, que também importa. Precisamos, assim, de "atalhos/heurística". Espécie de pensamento intuitivo/bom senso. Subjacente a todos esses dispositivos mentais está a capacidade de reconhecer padrões, que nos permite abandonar um grande leque de alternativas e focar num pequeno leque de possibilidades, administrável e promissor. Simon costumava citar os mestres de xadrez como exemplo de quem usa uma abordagem mental. Não se trata de uma busca incansável e às vezes impossível pela decisão ideal, mas sim focar no que é bom o suficiente.
111 - ...Polêmica: Alguns economistas neoclássicos tentaram reinterpretar a racionalidade limitada para que ela se encaixasse nos modelos de otimização. Alguns argumentam que a racionalidade limitada simplesmente significa que vemos a decisão econômica como a “otimização conjunta” dos custos de recursos (uma tradicional preocupação neoclássica) e os custos da tomada de decisão. Em outra reinterpretação comum, as pessoas são vistas como otimizando ao escolher as melhores regras de decisão, em vez de tentar fazer a escolha certa a cada decisão. Mas essas reinterpretações no fim não funcionam porque presumem níveis ainda mais irrealistas de racionalidade do que o modelo-padrão neoclássico. Como agentes que não são racionais o suficiente nem mesmo para otimizar um ponto (custos de recursos) pode otimizar dois (custos de recursos e custos de decisão)? Como agentes que não são inteligentes o suficiente para tomar decisões racionais em ocasiões específicas criam regras de decisão que lhes permitirão tomar decisões em média ótimas?
112 - Segundo os institucionalistas, construímos rotinas organizacionais, bem como instituições sociais para que possamos compensar a nossa racionalidade limitada. Tal como a heurística no nível individual, essas regras organizacionais e sociais restringem nossa liberdade de escolha, mas nos ajudam a fazer escolhas melhores porque também reduzem a complexidade do problema. Ressalta-se em especial o fato de que essas regras tornam mais fácil para nós prever o comportamento dos outros atores relacionados, que vão seguir essas regras e comportar-se de uma determinada forma. Esse é um ponto que a escola austríaca também enfatiza, usando uma linguagem um pouco diferente, quando fala da importância da “tradição” como base para a razão.
113 - Herbert Simon, escrevendo em meados dos anos 1990, estimava que aproximadamente 80% das atividades econômicas nos Estados Unidos aconteciam dentro de organizações como empresas e governo, e não através do mercado. Ele argumentava que um nome mais apropriado seria economia da organização.
114 - A escola behaviorista também oferece razões convincentes para explicar por que certas qualidades humanas como a emoção, a lealdade e a justiça importam — sentimentos que a maioria dos economistas, em especial neoclássicos e marxistas, descartariam como irrelevantes ou, na pior das hipóteses, como distrações que afastam as pessoas das decisões racionais. Exemplo: Os behavioristas argumentam que a lealdade organizacional de seus membros é essencial para que uma organização funcione bem, pois uma organização cheia de membros desleais seria esmagada pelo custo de monitorar e punir os comportamentos egoístas. A questão da justiça é muito importante nesse ponto, já que os membros de uma organização ou de uma sociedade não vão desenvolver a lealdade se julgarem que estão sendo tratados de forma injusta.
115 - O problema? Muitos autores se concentraram demais na questão dos indivíduos. Também é preciso acrescentar que, dado o seu foco na cognição e na psicologia humana, a escola behaviorista tem pouco a dizer sobre questões de tecnologia e macroeconomia.
116 - Chang dedica alguns parágrafos a analisar as compatibilidades e troca de ideias entre as escolas. Cita vários exemplos. Destaco: ...Embora espalhados por todo o espectro político, os clássicos (à direita), os keynesianos (no centro) e os marxistas (à esquerda) compartilham uma visão da sociedade baseada em classes. Os austríacos e os keynesianos podem estar em conflito desde a década de 1930, mas têm em comum (como também com os behavioristas e os institucionalistas) a visão de que o mundo é um lugar muito complexo e incerto e que nossa racionalidade para lidar com ele é muito limitada.
117 - Creio que há um quadro-resumo-comparativo ao final do capítulo, mas saiu todo mal formatado no arquivo que estou lendo.
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