Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar - Capítulo 4 (PARTE "B")

                                                   

Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar



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Pgs. 108-117


"CAPÍTULO 4: "Que desabrochem cem flores - COMO “FAZER” ECONOMIA"


90 - Austríaca: Resumo: Ninguém sabe o suficiente; então deixemos todo mundo em paz. Grande diferença metodológica com os neoclássicos. Partem da racionalidade limitada: Ela vê a racionalidade humana como algo severamente limitado. Seu argumento é que o comportamento racional só é possível porque nós, seres humanos, limitamos de forma voluntária, embora inconsciente, as nossas opções, aceitando sem questionar as normas sociais. “O costume e a tradição se interpõem entre o instinto e a razão”, entoou Hayek.


91 - Aqui Chang está de sacanagem com os neoclássicos, mas ok: ...Assim, os austríacos dizem que o livre mercado é o melhor sistema econômico não porque somos pessoas perfeitamente racionais que sabem tudo (ou pelo menos tudo que precisamos saber), tal como nas teorias neoclássicas, mas exatamente porque não somos muito racionais e porque há tantas coisas no mundo que são impossíveis de se conhecer em sua essência. Essa defesa do livre mercado é muito mais realista do que a neoclássica, que se baseia no pressuposto de que a racionalidade humana existe num grau absurdo, e na crença irrealista de que é possível saber tudo que há no mundo.


92 - Porém, Chang coloca que a ordem espontânea não reina sempre nas melhores economias capitalistas. O capitalismo é cheio de “ordens construídas” desse modo, como a empresa de responsabilidade limitada, o banco central ou as leis sobre a propriedade intelectual, que não existiam até o final do século XIX. A diversidade dos arranjos institucionais — e as diferenças resultantes no desempenho econômico — entre diferentes economias capitalistas é também resultado, em grande parte, de uma construção deliberada da ordem, e não do seu surgimento espontâneo. Mesmo o mercado é "livre": ...Ele se baseia em normas e regulamentos concebidos de maneira deliberada, que proíbem certas coisas, desencorajam outras e incentivam outras mais. Pontos extremos disso? Escravizados, narcóticos, trabalho infantil, órgãos...


93 - As regras mudam: ...As commons, terras de pastagem de propriedade coletiva das comunidades e que não podiam ser compradas nem vendidas, se tornaram terras privadas por meio dos enclosures [cercamentos de terras] realizados na Grã-Bretanha entre os séculos XVI e XVIIIO mercado para licenças de emissão de carbono foi criado apenas na década de 1990.


94 - Por sinal, há grande diversidade e "cada qual tem seu capitalismo", digamos. A Coreia do Sul confia mais nas soluções de mercado do que a Grã-Bretanha quando se trata de serviços de saúde; mas ocorre o contrário quando se trata do fornecimento de água ou de estradas de ferro.


95 - A escola (neo-)schumpeteriana. Resumo: O capitalismo é um poderoso veículo de progresso econômico, mas se atrofia à medida que as empresas se tornam maiores e mais burocráticas. Schumpeter bebeu em Marx. Ele argumentou que o capitalismo se desenvolve por meio de inovações feitas por empreendedores, ou seja, a criação de novas tecnologias de produção, novos produtos e novos mercados. As inovações dão ao empresário bem-sucedido um monopólio temporário em seu mercado, permitindo-lhe obter lucro excepcional, que Schumpeter chamou de lucro empresarial. Com o tempo seus concorrentes imitam as inovações, forçando o lucro de todos a baixar para o nível “normal”.


96 - ...Essa competição impulsionada por inovações tecnológicas, na visão de Schumpeter, é muito mais poderosa e importante do que a concorrência de preços dos neoclássicos — produtores tentando derrubar uns aos outros com preços mais baixos, aumentando a eficiência com que usam tecnologias já dadas.


97 - ...Ele argumentou que nenhuma empresa, por mais firmemente enraizada que pareça, está a salvo desses “vendavais de destruição criativa” a longo prazo. O declínio de empresas como a IBM e a General Motors, ou o desaparecimento da Kodak, que em seu auge dominavam o mundo em seus respectivos setores, demonstra o poder da competição através da inovação.


98 - ...Apesar de acreditar tanto no dinamismo do capitalismo, Schumpeter não era otimista sobre seu futuro. Em CSD, ele observa que, com a escala crescente das firmas capitalistas e a aplicação de princípios científicos à inovação tecnológica (o surgimento dos “laboratórios empresariais”), os empresários estavam cedendo lugar para gestores profissionais, a quem ele chama, com desprezo, de “tipos executivos”. (...) ele não conseguiu enxergar que o empreendedorismo se tornava rapidamente um esforço coletivo, envolvendo não só o empreendedor visionário, mas também muitos outros agentes dentro e fora da empresa. Há sistemas (constelações) de inovações. Até o governo está envolvido. O toyotismo, por exemplo, tenta fazer com que os próprios operários do chão da fábrica sejam agentes importantes de inovação.


99 - Dito isto, a escola (neo-)schumpeteriana pode ser criticada por se 112 concentrar em excesso na tecnologia e na inovação, negligenciando relativamente outras questões econômicas, como o trabalho, as finanças e a macroeconomia.


100 - Keynesianismo: Resumo: O que é bom para os indivíduos pode não ser bom para a economia como um todo


101 - A incerteza: A melhor explicação do conceito de incerteza foi dada, talvez de modo surpreendente, por Donald Rumsfeld, secretário de Defesa no primeiro governo de George W. Bush. Numa coletiva de imprensa sobre a situação no Afeganistão em 2002, Rumsfeld opinou: “Existem fatores conhecidos que são conhecidos. Coisas que nós sabemos que sabemos. Há desconhecidos conhecidos. Quero dizer, coisas que sabemos que não sabemos. Mas há também desconhecidos desconhecidos. Coisas que nós não sabemos que não sabemos”. A ideia de “desconhecidos desconhecidos” resume bem o conceito de incerteza de Keynes. Pode haver excesso de poupança. O juro vai ao chão - como esperado pelos modelos de equilíbrio, tornando investir mais atraente -, mas nem assim isso vira investimento (lei de Say falha). O que pode acontecer? No final a poupança vai se contrair para se igualar à demanda de investimentos, agora menor!


102 - O dinheiro passa a ser mais que um mero meio de troca. É um meio de fornecer liquidez — ou seja, uma maneira para alterar rapidamente a posição financeira — em um mundo incerto


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