Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar - Capítulo 6
Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar
Pgs. 160-194
INTERLÚDIO II - Seguindo em frente…
SEGUNDA PARTE - Utilização
"CAPÍTULO 6: "“Quanto vocês querem que seja?” PRODUÇÃO, RENDA E FELICIDADE"
139 - Tendemos a usar o PIB em vez do PIL porque não há uma única maneira, com que todos concordem, de avaliar a depreciação (aqui basta dizer que há várias maneiras conflitantes), o que complica muito a definição do “l” no PIL.
140 - Para a Suécia e a Suíça, que têm mais empresas nacionais operando no exterior do que empresas estrangeiras operando dentro do país, o PNB é maior que o PIB, em torno de 2,5% e 5%, respectivamente, com dados de 2010.
141 - "Coisas" como agricultura de subsistência, trabalho doméstico e moradia própria complicam o cálculo e comparações: Ao contrário dos produtos trocados através dos mercados, a atribuição de valor de mercado a produtos não comercializados envolve suposições, gerando imprecisão nos números.
142 - Consequências práticas da paridade do poder de compra (PPP ou também PPA): O resultado dessa conversão é que a renda PPA dos países com mão de obra cara no setor de serviços (os países ricos, excluindo alguns com muita mão de obra imigrante barata, como os Estados Unidos e Cingapura) é significativamente inferior à renda segundo a taxa de câmbio do mercado, enquanto a renda PPA dos países com mão de obra barata (os países pobres) tende a ser muito superior à renda pela taxa de câmbio do mercado. (...) Continuando na comparação Dinamarca-México acima, a renda PPA per capita da Dinamarca em 2010 era uns 30% inferior à renda segundo a taxa de câmbio do mercado (40140 dólares versus 58980 dólares), enquanto a renda per capita PPA mexicana é aproximadamente 60% superior à renda 171 segundo a taxa de câmbio do mercado (15010 dólares versus 9330 dólares). (Acrescento a questão da sub e superapreciação cambial também, que pode haver aqui e ali).
143 - O ajuste da PPA é muito sensível à metodologia e aos dados utilizados, até porque depende do pressuposto heroico de que todos os países consomem a mesma cesta de bens e serviços. E não estamos falando de diferenças pequenas. Em 2007, ao alterar seu método de avaliação da renda PPA, o Banco Mundial reduziu a renda PPA per capita da China em 44% (de 7740 dólares para 5370 dólares) e aumentou a de Cingapura em 53% (de 31710 dólares para 48520 dólares) de um dia para o outro.
144 - Trabalho doméstico; danos ao meio ambiente; compras supérfluas que nada acrescentam; o quanto se sacrifica de tempo livre, etc. Tudo isso não é "medido" diretamente pelo PIB per capita. A qualidade de vida não é exatamente igual ao tamanho da renda per capita de um país. Além de possíveis distorções causadas pela desigualdade (renda média não é mediana, por exemplo). Chang cita até o problema da compra de bens "posicionais" (que só satisfazem se forem "exclusivos"), citando até um episódio de Big Bang Theory como referência.
145 - Segundo o Banco Mundial, em 2010 o país com a maior renda (RNB) per capita foi Mônaco (197460 dólares), seguido por Liechtenstein (136540 dólares). No entanto, ambos são paraísos fiscais com populações minúsculas (33 mil e 36 mil habitantes, respectivamente). Assim, se excluirmos países com uma população de menos de meio milhão, a Noruega, com renda per capita de 85380 dólares, é o país mais rico (ou seja, com a maior RNB per capita).
146 - A tabela 6.2 apresenta uma seleção de países menos desenvolvidos. Ela mostra que a maior parte está na África, com alguns na Ásia (Nepal, Bangladesh, Camboja, Tajiquistão, Quirguistão) e apenas um na América Latina (Haiti).
147 - A renda per capita do país mais rico (Noruega) era espantosamente 534 vezes maior que a do mais pobre (Burundi), em 2010. Mesmo se tomarmos um caso menos extremo, como os Estados Unidos (número sete a partir do alto, com 47140 dólares) versus Etiópia (número oito de baixo para cima, com 380 dólares), o diferencial da renda é de 124 vezes. (...) Com esses ajustes de PPA, a diferença de renda entre os países ricos e os mais pobres diminui comparada com a renda calculada em termos de taxas de câmbio. A diferença entre o maior e o menor PNB per capita reduz de 534 vezes (Noruega versus Burundi) para “apenas” 206 vezes (Luxemburgo versus República Democrática do Congo).
148 - Notas para ranquear felicidade? Temos alguns possíveis problemas com autoavaliações. Pessoas podem dourar a pílula pra se sentirem melhor consigo mesmas. Muitas pessoas que são oprimidas, exploradas ou discriminadas dizem — e elas não estariam mentindo — que são felizes. Muitas até se opõem a mudanças que iriam melhorar a sua própria sorte: muitas mulheres europeias foram contra a introdução do voto feminino no início do século XX. Alguns podem até desempenhar um papel ativo na perpetuação da injustiça e da brutalidade — foi o caso dos escravos que lideraram a opressão de outros escravos (...). Os marxistas chamam esses casos de “falsa consciência”. Chang vai daí para os dilemas filosóficos do filme Matrix, a la Marilena Chauí. Que direito tem Morpheus de “resgatar” as pessoas só para fazê-las se sentirem infelizes?
149 - Chang coloca que algumas entidades estão tentando incluir mais critérios e parâmetros em questionários para atrelarem melhor a questão da felicidade ao nível e qualidade de vida e tal. Tentam deixar a coisa menos subjetiva. Enfim, deve ser um campo cheio de debate sobre a melhor forma de mensuração.
150 - ... Diferentes índices de felicidade incluem elementos muito distintos; assim, o mesmo país pode ter uma classificação muito diversa dependendo do índice. Mas alguns países — os escandinavos (em especial a Dinamarca), a Austrália e a Costa Rica — em geral obtêm classificação elevada em um número maior de índices do que outros países. Alguns, como México e Filipinas, tendem a se sair melhor em índices com maior peso nos fatores subjetivos, sugerindo certo grau de “falsa consciência” na população.
.
Comentários
Postar um comentário