Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar - Capítulo 10

                                                           

Livro: Ha-Joon Chang - Economia: Modo de Usar



Pgs. 275-297


"CAPÍTULO 10: "Eu conheci gente que já trabalhou - TRABALHO E DESEMPREGO"


233 - Vida infernal: Até o século XIX, a maior parte das pessoas que vivia nos atuais países ricos do Ocidente em geral trabalhava de setenta a oitenta horas por semana, com alguns trabalhando mais de cem horas. Como normalmente (nem sempre) eles tinham a manhã de domingo livre para ir à igreja, isso significava que trabalhavam pelo menos onze horas, e é possível que até dezesseis horas por dia, exceto aos domingos.


234 - Alguns trabalhadores migrantes internacionais trabalham em condições análogas às de trabalhadores forçados no final do século XIX e início do XX.


235 - O Estado não deve se meter na liberdade de alguém escolher um emprego horrível (longas jornadas, por exemplo)? Talvez todos nós devêssemos ser um pouco “comunistas” e perguntar se as condições que estão por trás da decisão dos pobres de aceitar de maneira tão desesperada trabalhos “ruins” são aceitáveis


236 - A OIT estima que, em 2012, havia cerca de 21 milhões de pessoas no mundo trabalhando em situação análoga à escravidão. Isso representa apenas 0,6% da força de trabalho global estimada em 3,3 bilhões (ou 0,3% da população mundial), mas 0,6 ainda é alto demais. (...) Mesmo nos países ricos, estima-se que 0,15% da população trabalhe de maneira análoga à escravidão.


237 - A Guiné-Bissau (57%) lidera o ranking, seguida da Etiópia (53%) e depois Chade, República Centro-Africana, Serra Leoa e Togo (todos com 47% ou 48%). Muitos outros países com índices altos de trabalho infantil (digamos, acima de 30%) ficam na África. Mas alguns ficam na Ásia (Camboja com 39%, Nepal com 34%) e América Latina (Peru, com 34%).


238 - ...Nos anos 1960, a Coreia do Sul, apesar de ser na época um dos países mais pobres do mundo, eliminou virtualmente o trabalho infantil para crianças abaixo de doze anos ao tornar obrigatória a educação primária e fiscalizar isso de maneira determinada. Esses exemplos mostram que a pobreza não é uma desculpa para a prevalência do trabalho infantil, embora possa limitar o quanto é possível reduzi-lo e a velocidade com que pode fazê-lo.


239 - Em muitos países ricos, as pessoas trabalham em torno de 35 horas por semana, embora a semana de trabalho seja consideravelmente mais longa nos países do Leste asiático (Japão, 42 horas; Coreia, 44 horas; Cingapura, 46 horas).


240 - Longas jornadas "voluntárias": A proporção da força de trabalho que produz por horas demais é mais alta na Indonésia (51%) e na Coreia (50%), com países como Tailândia, Paquistão e Etiópia tendo proporções acima de 40%. As proporções são menores na Rússia (3%), Moldova (5%), Noruega (5%) e na Holanda (7%).


241 - Os mexicanos, vistos como os arquetípicos “latinos preguiçosos” nos Estados Unidos, na verdade trabalham por mais tempo do que as “formigas trabalhadoras” coreanas. (...) Os italianos também desafiam o mito dos “tipos preguiçosos mediterrâneos” trabalhando tanto quanto os norte-americanos e 1,25 vez o número de horas de seus vizinhos germânicos.


242 - Segurança/qualidade do trabalho: Países como, em ordem alfabética, Austrália, Finlândia, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça oferecem o ambiente de trabalho mais seguro — apenas um ou dois de seus trabalhadores a cada 100 mil morrem por ano por acidentes no trabalho. A taxa correspondente está entre trinta e quarenta em El Salvador e na Índia, e em torno de vinte na Etiópia e na Turquia. As taxas na maior parte dos outros países em desenvolvimento para os quais há dados disponíveis (muitas vezes não há) variam entre dez e quinze. 


243 - Estabilidade do emprego: Não há um modo consensual de medir a segurança no emprego, mas a medida mais confiável é provavelmente a parcela de empregados com menos de seis meses no trabalho, publicada pela OCDE para seus países membros. De acordo com esse dado, em 2013 os trabalhadores turcos têm a menor segurança (26%), seguidos pelos da Coreia (24%) e México (21%). De acordo com essa medida, os trabalhadores de Eslováquia, Grécia e Luxemburgo têm os empregos mais seguros (todos em torno de 5%).


244 - Mesmo que estiver desempregado, você pode estar tranquilo financeiramente se morar em um desses países europeus em que os benefícios para desempregados (ou seja, pagamentos de seguro-desemprego) equivalem de 60% a 75% dos salários prévios por até dois anos. Mas esses países são exceção na escala global. Nos Estados Unidos, o governo oferece apenas de 30% a 40% de seu salário prévio (dependendo do estado em que você mora). Na maior parte dos países em desenvolvimento, esse benefício não existe.


245 - Máquinas paradas não são o único desperdício do problema do desemprego: Se as pessoas continuam desempregadas por muito tempo, as habilidades delas se tornam ultrapassadas e a confiança diminui, tornando-as menos produtivas no futuro.


246 - O chamado desemprego "tecnológico" gera, no mínimo, custos de transição para as novas demandas por trabalho.


247 - Sindicatos e legislação rígida criariam o que os liberais chamam de desemprego "político".


248 - Há, ainda, o "cíclico", que vem das crises na demanda. Depressão ou mesmo uma recessão. Keynesianismo entra na veia pra resolver.


249 - Desemprego "sistêmico": os salários "de eficiência" levam ao mesmo? Os salários "de mercado" poderiam ser menores, o que geraria mais empregos. Interessante que Chang puxa de Marx, da ideia de exército de reserva, essa interpretação. É ter disponível sempre quem aceitaria fazer o mesmo por menos para não ter maiores custos de vigilância. 


250 - Chang crê que coexistem, em algum grau bem variável no tempo e espaço, todos esses cinco tipos de desemprego (nem "fichei" aqui o friccional)


251 - Problemas da definição oficial de desemprego: Um deles é que “trabalhando” se define de maneira generosa como fazendo mais de uma hora de trabalho remunerado por semana. Outra é que, ao exigir que as pessoas estejam ativamente procurando trabalho para serem consideradas desempregadas, esse método exclui os chamados trabalhadores desestimulados (pessoas que desistiram de procurar emprego em razão de fracassos seguidos, mesmo quando ainda desejam trabalhar) das estatísticas de desemprego. (...) Para lidar com as dificuldades criadas pelos trabalhadores desestimulados, os economistas às vezes olham a taxa de participação da força de trabalho, que é a parcela da população economicamente ativa (os empregados e os desempregados) na população em idade produtiva. Uma súbita queda na taxa provavelmente indica que houve um aumento no número de trabalhadores desestimulados, que não são mais contados como desempregados.


252 - ...Outro problema é que, especialmente nos "subdesenvolvidos", há muito subemprego (muitos períodos ociosos) e baixa produtividade. Empregos quase que inventados, que pouco adicionam realmente. A agricultura de subsistência, especialmente a familiar, também envolve debates. É discutível se essas pessoas devem ser consideradas empregadas, já que se você as removesse das fazendas de suas famílias, você reduziria muito pouco a produção, talvez nada.


253 - Subemprego/trabalho parcial: A OIT estima que a proporção da força de trabalho nessa situação pode ser de até 15% a 20% em alguns países em desenvolvimento. Nesses países, a taxa de desemprego aumentaria facilmente em cinco a seis pontos se convertêssemos essas pessoas em trabalhadores de tempo integral equivalentes. É contra a vontade da pessoa.


254 - Chang conclui com uma crítica: O alto nível de desemprego é considerado um problema relativamente menor apesar de seus imensos custos humanos, enquanto um pequeno aumento na inflação é tratado como se fosse um desastre nacional.


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