Livro: Piketty - O Capital no Século XXI - Capítulo 8

                       

Livro: Piketty - O Capital no Século XXI



Pgs. 342-383


"CAPÍTULO 8: "Os dois mundos"


291 - Para alguns, o Reino Unido é um caso intermediário entre o europeu e o americano.


292 -  França do Século XX. Queda da desigualdade teve pouco ou nada a ver com a mudança nas estruturas dos altos salários (e também não teve a ver com transferência estatal, já que esse dado só será analisado depois). Foi essencialmente a queda das altas rendas do capital:




293 - ...No caso dos "1%" francês, o tombo foi ainda maior. auge de quase 22% para cerca de 8 ou 9%¨.


294 - Em suma, a redução da desigualdade na França durante o século XX foi, em grande parte, resultado da queda dos rentistas e do colapso das altas rendas do capital. Nenhum processo estrutural de compressão generalizada da desigualdade — em particular, da desigualdade do trabalho — parece ter desempenhado papel relevante no longo prazo, contrariando as previsões otimistas da teoria de Kuznets. (...) Trata-se de uma lição fundamental a respeito da dinâmica histórica da distribuição da riqueza, sem dúvida alguma a mais importante do século XX — tanto que encontramos os mesmos fatos, com pequenas variações, para todos os países desenvolvidos.


295 - ...Em grande medida, a redução da desigualdade ao longo do século passado é o produto caótico das guerras e dos choques econômicos e políticos por elas provocados, e não o resultado de uma evolução gradual, consensual e branda. No século XX, foram as guerras que fizeram do passado tábula rasa, e não a suave racionalidade democrática e econômica.


296 - Diferenças de fontes de renda na França de 1932 (era ainda mais rentista) e, depois, na de 2005. Rendas do trabalho: salários, bônus, prêmios, aposentadorias. Rendas do capital: dividendos, juros, aluguéis. Rendas mistas: rendas de profissões não assalariadas e de empreendedores autônomos. Os 10%, o 1%, o 0,01%...




297 - Compara as épocas a 2005: ...As rendas do capital não mais dominam as rendas do trabalho, a não ser dentro de um grupo relativamente restrito: o 0,1% das rendas mais elevadas (ver o Gráfico 8.4). Em 1932, esse grupo social era cinco vezes mais numeroso; na Belle Époque, ele era dez vezes maior.


298 - Sobre gestores e afins: Em grande medida, passamos de uma sociedade de rentistas para uma de executivos — isto é, de uma sociedade em que o centésimo superior era representado por rentistas (pessoas que detinham um patrimônio suficientemente importante para viver de rendas anuais produzidas por esse capital) para outra em que o pico da hierarquia de rendas, incluindo o centésimo superior, é composto de assalariados muitíssimo bem remunerados, pessoas que vivem da renda do seu trabalho. (serve pra todo país?)


299 - ...Mais detalhes: Na metade mais pobre do décimo superior, estamos, verdadeiramente, no mundo dos executivos: em geral os salários representam 80-90% do total das rendas. Entre os 4% seguintes, a participação dos salários diminui de leve, mas prevalece sobre a do capital: 70-80% do total das rendas, tanto no período entreguerras quanto hoje em dia (ver Gráficos 8.3-8.4). Em meio ao vasto grupo dos “9%” (isto é, o décimo superior à exceção do centésimo superior), é possível encontrar indivíduos que vivem principalmente dos seus salários, quer se trate de executivos ou outros cargos de comando de empresas privadas, quer se trate de administradores de agências públicas.


300 - ...É evidente que os tipos de emprego e os níveis de qualificação mudaram com o tempo: no período entreguerras, os professores do ensino fundamental e médio, e mesmo os de ensino básico em fim de carreira, faziam parte dos “9%”; hoje, é preciso ser professor universitário, pesquisador ou ainda um funcionário público de alto escalão para pertencer a esse grupo. No passado, um supervisor ou até um técnico qualificado não estaria muito longe de fazer parte dele, mas agora é preciso ser, no mínimo, um gerente de nível intermediário e, cada vez mais, um alto executivo, proveniente de uma faculdade prestigiosa de engenharia ou administração.


301 - ...Em meio aos “9%”, também é possível encontrar médicos, advogados, comerciantes, donos de restaurantes e outros empresários não assalariados em número crescente à medida que nos aproximamos do grupo do “1%”, como mostra a curva relativa à parcela das “rendas mistas” (rendas dos trabalhadores não assalariados, remunerados por seu trabalho e por seu capital profissional), que reportamos separadamente nos Gráficos 8.3-8.4. As rendas mistas representam até 20-30% das rendas totais próximas ao limiar do centésimo superior. Acima disso, a representatividade dessas rendas cai e é dominada pela renda do capital puro (aluguéis, juros e dividendos), à medida que se escala o centésimo superior.


302 - Os 9% e os imóveis: As rendas do capital parecem representar menos de 10% das rendas dos “9%”, de acordo com o Gráfico 8.4, mas isso resulta unicamente do fato de que esses gráficos — assim como as séries sobre as parcelas do décimo superior e do centésimo superior — se baseiam nas rendas do capital que figuram nas declarações de renda e excluem os aluguéis “fictícios” desde os anos 1960 (o valor de locação dos alojamentos ocupados por seus proprietários, que antes fazia parte da renda tributável). Incluindo as rendas do capital não tributável (como os aluguéis “fictícios”), a participação das rendas do capital alcançaria — e mesmo ultrapassaria de leve — 20% das rendas dos “9%” nos anos 2000-2010.


303 - Limites (ou sobre como a coisa é ainda pior na prática, no que tange à desigualdade): Em primeiro lugar, os Gráficos 8.3-8.4 consideram unicamente as rendas do capital que constam das declarações de renda, o que nos leva a subestimar sua importância devido à evasão fiscal (é mais fácil esconder a renda de um investimento do que a renda dos salários, por meio de contas bancárias estabelecidas em outros países ou em países que cooperam pouco com o país de residência do detentor) e a isenções tributárias que permitem que certas categorias de rendas do capital escapem legalmente da declaração do imposto de renda (para o qual o princípio geral original, tanto na França quanto em outros países, é de taxar todas as rendas a despeito de sua forma). Considerando o fato de que as rendas do capital são sobrerrepresentadas no décimo superior, essa subdeclaração implica que as parcelas do décimo e do centésimo superiores apresentadas nos Gráficos 8.1-8.2, com base nas rendas declaradas, tanto na França quanto nos outros países que estudamos, estão subestimadas. Essas parcelas, que são, em todo caso, aproximações interessantes pelas ordens de grandeza que desvelam (assim como outras estatísticas econômicas e sociais), devem ser tratadas sempre como estimativas enviesadas para baixo da desigualdade de renda realmente em vigor. É um problema de mensuração em todas as épocas, afirma, e, ao que entendi, pode mexer em três ou até cinco pontos percentuais na participação do capital no total das rendas.


304 - Há algumas dúvidas sobre como medir certas coisas: ...Isso pode acarretar diferenças relevantes, uma vez que os ganhos de capital — em particular, os ganhos a partir de vendas de ações — são um tipo de renda do capital fortemente concentrado entre as rendas mais altas (às vezes ainda mais do que os dividendos). Se incluirmos os ganhos de capital nos Gráficos 8.3-8.4, a participação das rendas do capital nos dez milésimos superiores seria não de 60%, mas algo da ordem de 70-80% (dependendo do ano). Para não enviesar as comparações, apresentamos os resultados para os Estados Unidos com e sem os ganhos de capital.


305 - Guerras: ...o “1%” explica, sozinho, em torno de três quartos da queda da desigualdade entre 1914 e 1945, enquanto os “9%” explicam cerca de um quarto dela.


306 - A crise de 29 devastou o 1%, mas não afetou muito o pessoal do "9%": ...os “9%” constituem o mundo dos executivos, que são na realidade grandes beneficiários — comparados com outras categorias — da crise dos anos 1930. Eles foram menos afetados pelo desemprego do que os assalariados mais modestos (em particular, eles jamais conheceram as enormes taxas de desemprego que assombravam os trabalhadores dos setores industriais) e, também, foram menos impactados pela queda dos lucros das empresas que tanto afetou aqueles acima deles na hierarquia das rendas


307 - ...Mais: A severa deflação que a França sofreu (os preços caíram 25% entre 1929 e 1935, num contexto de colapso do comércio e da produção) desempenhou um papel central: as pessoas que conseguiram manter seus empregos e o salário nominal — quase sempre funcionários públicos — viram, em plena depressão, uma alta do poder de compra e do salário real em razão da queda generalizada dos preços. Além disso, as rendas do capital dos “9%” — os aluguéis, bastante rígidos em termos nominais — também foram favorecidas pela deflação e sofreram um aumento significativo em seu valor real, enquanto os dividendos pagos ao “1%” desabavam.


308 - ...O processo se inverteu por completo com a chegada da Frente Popular ao poder, com as fortes altas salariais dos trabalhadores graças aos acordos de Matignon e com a desvalorização do franco em setembro de 1936, que conduziu ao renascimento da inflação, gerando uma queda da parcela dos “9%” e do décimo superior em 1936-1938.


309 - A discussão anterior ilustra a importância de se decompor a renda minuciosamente, em décimos e centésimos e em categorias de rendas. Se fôssemos analisar a dinâmica do período entreguerras usando um indicador sintético de desigualdade como o índice de Gini, seria impossível entender qualquer coisa — não teríamos sido capazes de separar os efeitos sobre a renda do trabalho e os impactos sobre as rendas do capital, tampouco de identificar as evoluções de curto e longo prazo.


310 - Nos Estados Unidos, a deflação acabou em 1933, com a chegada de Roosevelt ao poder; logo, a reversão que ocorreu na França em 1936 foi antecipada para 1933 no caso americano. Como já afirmamos, a história da desigualdade é, em todos os países, uma história política e caótica.


311 - Logo após as guerras mundiais, tivemos a compressão das hierarquias salariais (nos anos 1920 e, mais tarde, nos anos 1940 e nos anos 1950-1960) e, em seguida, a reconstituição e o alargamento das desigualdades salariais.


312 - Quando a inflação ajuda os pobres?! Parece que no período das guerras mundiais foi possível assistir a fenômenos assim: Nos dois casos, o roteiro é o mesmo: durante as guerras, a atividade econômica cai, a inflação aumenta, os salários reais e o poder de compra diminuem, e, nesse processo, os salários mais baixos tendem a se revalorizar e a ser mais protegidos da inflação do que os mais elevados, o que pode provocar mudanças relevantes na distribuição da massa salarial se a inflação for alta. A melhor indexação dos baixos e médios salários pode ser explicada pelas percepções de justiça social e de normas de equidade em meio aos assalariados — procura-se evitar uma forte queda do poder de compra dos mais pobres e demanda-se que os mais abastados esperem até o fim do conflito para que suas remunerações se recomponham.


313 - ... Outro fator de homogeneização salarial: Também é possível imaginar que a mobilização de parte importante da mão de obra jovem e pouco qualificada para as forças armadas — ou para os campos de prisioneiros — tenha melhorado a posição relativa dos salários baixos e médios na hierarquia.


314 - É interessante notar que os movimentos da divisão capital-trabalho e os da desigualdade das rendas do trabalho têm a tendência de evoluir de modo semelhante e de se reforçar mutuamente no curto e no médio prazo, mas não em períodos mais longos. Por exemplo, as duas guerras mundiais tiveram como características uma queda da participação do capital na renda nacional (e da relação capital / renda) e uma compressão da desigualdade salarial. De maneira geral, a desigualdade tende a ser “procíclica” (evolui na mesma direção que o ciclo econômico, ao contrário dos movimentos contracíclicos): nas fases de boom econômico, a participação dos lucros na renda nacional tende a crescer, e os altos salários — incluindo as remunerações primárias e as gratificações — aumentam mais rápido do que os salários baixos e médios.


315 - ...Coloca a França do pós-II Guerra como exemplo do dito acima. O salário mínimo nacional fora criado em 1950, mas não sofreu alterações e revalorizações e, assim, se distanciou bastante do salário médio.


316 - Maio de 68: ...para sair da crise, o governo do general De Gaulle assinou os acordos de Grenelle, que previam uma alta de 20% do salário mínimo. O salário mínimo foi oficialmente indexado — em parte — ao salário médio em 1970, e os sucessivos governos de 1968 a 1983 se sentiram compelidos a aumentá-lo consideravelmente a cada ano diante do clima político e social em ebulição. Foi assim que o poder de compra do salário mínimo aumentou mais de 130% entre 1968 e 1983, enquanto o salário médio não subiu mais do que 50%, o que resultou numa forte compressão da desigualdade salarial. Após 82, houve movimento contrário. Mesmo sob governo dito "socialista". Houve fim do gatilho, congelamento de salário e políticas de austeridade.


317 - Altos executivos: O fenômeno foi mais marcante nos Estados Unidos, mas não deve ser ignorado nos casos europeus. A parcela do centésimo superior da hierarquia de salários, que era menor do que 6% da massa salarial total nos anos 1980-1990, cresceu sistematicamente a partir do fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, alcançando 7,5-8% da massa salarial ao final dos anos 2000 e começo dos anos 2010. Trata-se de um aumento de cerca de 30% em uma década, o que é um valor bastante significativo. Se subirmos mais na hierarquia dos salários e gratificações e estudarmos o 0,1% ou o 0,01% dos salários mais altos, encontraremos aumentos ainda maiores, com elevações do poder de compra superiores a 50% em dez anos.


318 - EUA: ...a desigualdade americana dos anos 2010 é tão extrema em termos quantitativos quanto a que caracterizava a velha Europa em torno de 1900-1910, mas sua estrutura é bastante diferente.




319 - No início do Século XX, a Europa era mais desigual que os EUA. (...) a desigualdade da propriedade do capital era um pouco menos extrema no Novo Mundo. Isso não significa, claro, que a sociedade americana de 1900-1910 correspondesse ao ideal mítico de uma sociedade igualitária de pioneiros. (...) Contudo, a desigualdade americana não era a desigualdade europeia: a importância dos ganhos de capital era elemento fundamental nas altas rendas americanas, sobretudo com a euforia dos mercados de ações nos anos 1920 (ver gráfico 8.5 acima).


320 - Desigualdade nos EUA durante o período das guerras: ...por certo, não houve destruição física causada pela guerra, mas ocorreram fortes choques relacionados à depressão econômica e às políticas fiscais adotadas pelo governo americano nos anos 1930-1940. Por fim, se considerarmos o período 1910-1950 como um todo, constata-se que a compressão da desigualdade foi bem mais fraca nos Estados Unidos do que na França (e, de modo mais geral, do que na Europa). Em suma, os Estados Unidos partiram de um pico mais baixo de desigualdade às vésperas da Primeira Guerra Mundial e, mesmo com um declínio, após a Segunda Guerra se encontravam num nível mais alto que o da Europa. O período de 1914-1945 é a história do suicídio da Europa e de sua sociedade de rentistas, mas não do suicídio dos Estados Unidos.


321 - ...Entre os anos 1950 e 1970, os Estados Unidos passaram pela fase mais igualitária de sua história: o décimo superior da hierarquia de rendas detinha cerca de 30- 35% da renda nacional americana, mais ou menos o mesmo nível observado na França de hoje.


322 - Volta a lembrar a questão da subestimação nesses dados todos: Os dados disponíveis — imperfeitos — sugerem que a correção para a subdeclaração das rendas do capital pode chegar a algo entre dois e três pontos percentuais da renda nacional. A parcela não corrigida do décimo superior alcança 49,7% da renda nacional americana em 2007 e 47,9% em 2010 (com uma tendência de alta).


323 - Sobre os 10%, aquela alfinetada básica: Nesses grupos estão os economistas que trabalham como professores universitários americanos, os mesmos que tendem a acreditar que a economia americana funciona muito bem e, em particular, que ela remunera o talento e o mérito com justiça e precisão: aí está uma reação bastante humana e compreensível


324 - Contribuição da desigualdade para a crise de 2008: A razão é simples: a alta da desigualdade teve como consequência uma quase estagnação do poder de compra das classes populares e médias nos Estados Unidos. Daí só poderia resultar o endividamento crescente das famílias menos abastadas, sobretudo considerando que o acesso ao crédito foi ficando cada vez mais fácil e a falta de regulação dos bancos e das instituições de intermediação financeira, cada vez menos escrupulosas, ávidas por bons rendimentos, pela enorme poupança financeira injetada no sistema pelos mais ricos.


325 - ...Concretamente, se acumularmos o crescimento total da economia americana ao longo dos trinta anos que antecederam a crise, isto é, de 1977 a 2007, observa-se que os 10% mais ricos se apropriaram de três quartos desse crescimento — o 1% mais rico absorveu sozinho cerca de 60% do crescimento total da renda nacional ao longo desse período. Para os 90% restantes, a taxa média de crescimento da renda foi de menos de 0,5% por ano


326 - EUA e o retorno dos altos salários:




327 - ...O período da II Guerra: Essa fase de “grande compressão” da hierarquia salarial americana foi amplamente estudada. Ela trouxe à tona o National War Labor Board, autoridade que, de 1941 a 1945, foi responsável por aprovar os aumentos de salários nos Estados Unidos e que só costumava emitir tais autorizações para os salários mais baixos. Em particular, os salários dos executivos eram sistematicamente congelados em termos nominais, e seriam recompostos apenas em parte no fim da guerra


328 - A forte desigualdade das rendas do capital e sua expansão desde os anos 1970 explicam cerca de um terço da alta da desigualdade de renda nos Estados Unidos (...). Já a desigualdade salarial explica 2/3 do crescimento da desigualdade de renda total nos EUA "neoliberal" (já pega parte dos 70s). Esse tipo de desigualdade não seria problemático em razão da ampla mobilidade social? Qualquer um pode subir ou descer a ou desses salários? Pois bem: ...os dados compilados pelo governo americano permitem medir a evolução da desigualdade dos salários levando em consideração a mobilidade — isto é, calculando os salários médios individuais durante longos períodos (dez, vinte, trinta anos). Constata-se, assim, que o aumento da desigualdade é idêntico em todos os casos, qualquer que seja o período de referência escolhido. Ou seja, nem os atendentes do McDonald’s, nem os operários de Detroit, tampouco os professores de Chicago ou os gerentes médios e altos executivos da Califórnia passaram um ano de suas vidas como dirigentes de uma grande empresa americana. É possível deduzir isso por intuição, mas é sempre melhor poder mensurá-lo de modo sistemático.


329 - Mudanças no 1%? Wolff e Zacharias notam, com razão, que nosso artigo inicial de 2003 com Emmanuel Saez salientava exageradamente a substituição de coupon-clipping rentiers por working rich, quando, na verdade, trata-se mais de uma “coabitação”.


330 - Participação das rendas do capital em percentis cada vez menores do topo. Dados dos EUA de 1929 e de 2007:




331 - ...De todo modo, assim como na França, embora de forma menos pronunciada, a diferença é que hoje é preciso escalar ainda mais na hierarquia da renda para observar o predomínio do capital. Em 1929, as rendas do capital (dividendos e ganhos de capital, essencialmente) eram a fonte mais importante de recursos para o 1% das rendas mais altas (ver o Gráfico 8.9). Em 2007, seria necessário chegar ao 0,1% das rendas mais altas para que esse fosse o caso (ver o Gráfico 8.10). Isso já incluindo os ganhos de capital.


332 - Os superexecutivos: ...o fato é que, em várias grandes empresas americanas, há bem mais do que apenas cinco executivos cuja remuneração os coloca entre o 1% das rendas mais altas em nível nacional (352.000 dólares em 2010) ou mesmo entre o 0,1% das rendas mais altas (1,5 milhão de dólares em 2010). (...) a grande maioria do 0,1% das rendas mais altas — entre 60% e 70%, seguindo as definições adotadas — corresponde, durante os anos 2000, aos altos executivosPor outro lado, esportistas, atores, artistas — além de integrantes de outras áreas — representam menos de 5% desse grupo. Enfim, as celebridades e supercelebridades não são tão relevantes na questão da desigualdade como o livro de introdução, acho que de Mankiw, deu a entender. 


333 - Outra observação (num dos rodapés): A questão dos “superempresários” como Bill Gates não é tão relevante para a análise das rendas e não pode ser examinada corretamente se não for concentrada apenas nos patrimônios e na evolução do ranking das fortunas correspondentes. Ver o Capítulo 12.


334 - E os grandes "traders" e galera doida em geral das finanças? 80% das rendas mais altas não provêm das finanças, e a elevação dessas rendas americanas se explica, antes de tudo, pela explosão da remuneração dos altos executivos das grandes empresas, sejam elas do setor financeiro ou não.


335 - ...Salientemos, por fim, que, de acordo com as regras fiscais americanas, e também com a lógica econômica, incluímos nos salários as gratificações recebidas pelos altos executivos, assim como o valor do exercício de stock options, forma de remuneração que desempenhou papel bastante importante no aumento da desigualdade apresentada nos Gráficos 8.9-8.10. A fortíssima volatilidade das gratificações, bônus e valores de exercício de opções explica as flutuações da participação dos altos salários na renda nos anos 2000-2010. (...) Concretamente, se um alto executivo tiver a possibilidade de comprar por 100 dólares as ações de sua empresa e se o preço das ações for de 200 dólares no momento em que ele exerce essa opção, a diferença entre as duas cifras — 100 dólares — será tratada como parte do salário ao longo do ano fiscal da empresa. Se o executivo, em seguida, vender essas ações por um valor ainda maior (por exemplo, 250 dólares), a diferença — 50 dólares — será registrada como ganho de capital.


.


Comentários