Livro: Paul Singer - Aprender Economia - Capítulo 5
Livro: Paul Singer - Aprender Economia
Pgs. 134-156
"CAPÍTULO 5: "DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO"
79 - Semicolônias: ...alguns países, devido à luta entre as próprias metrópoles, permaneceram politicamente independentes, porém, na prática, foram colonizados coletivamente por vários países industrializados. Casos notórios foram a China e o Egito. Países que tiveram economia colonial, sem terem sido colônias, no sentido estrito do termo, são chamados de “ semicolônias” . Também países que alcançaram sua independência política mas se mantiveram economicamente subordinados às antigas ou novas metrópoles, como ocorreu no século passado com países da América Latina, são ou foram semicolônias.
80 - Nas colônias e semicolônias, geralmente há um ou poucos setores exportadores. Muitas vezes pra um só país. No Brasil, durante um longo período — que se estende da Independência até os anos 60 deste século — o Setor de Mercado Externo era quase só produtor de café, que chegou a representar quase 90% da nossa receita de exportações. (...) O Setor de Mercado Externo é o setor dinâmico da economia colonial. Via de regra, é o setor que mais cresce, em que a produtividade é mais alta, em que os métodos de produção são mais modernos. Nossas fazendas de café eram — e são — das mais produtivas do mundo, pois a técnica de produzir e processar café avançou junto com a Revolução Industrial.
81 - ...No Brasil, do Segundo Império até o fim da Primeira República, a oligarquia cafeeira foi a nata da nata, o setor mais importante da oligarquia. O mesmo papel foi desempenhado pelos criadores de gado na Argentina, pelos produtores de cobre no Chile etc. (...) podemos dizer que no Setor de Mercado Externo havia quase sempre a presença — ou diretamente na produção, ou na infra-estrutura e na intermediação — do capital imperialista. No caso do gado, ao menos a produção costuma ser mais do capital local mesmo. Essas economias, em geral, eram muito dependentes do ritmo de crescimento das indústrias dos países mais avançados que usavam seus produtos. Coloca que o Chile passou por um período ruinoso quando o salitre foi substituído por adubos químicos. Entretanto, com a descoberto da fartura do cobre, arranjou nova atividade dependente, digamos assim.
82 - Exemplifica com o ciclo da borracha, que acabou não por queda de demanda, mas por anos de esforços dos ingleses em levar a cultura para suas colônias de clima semelhante, colhendo resultados mais baratos na Malásia e Indonésia. (...) toda aquela economia muito próspera da extração da borracha na Amazônia, que deu a Manaus e a Belém uma certa riqueza e desenvolveu a infraestrutura de transportes e comunicação na região, entrou em crise, por um acontecimento totalmente externo à economia amazônica.
83 - O mercado interno nas economias coloniais: Comandado pelos importadores — a chamada “burguesia compradora” —, o Setor de Mercado Interno estava montado sobre o eixo da importação de produtos industrializados, realizando o seu transporte até o interior, até as áreas em que havia economia monetária, a sua comercialização no atacado e varejo, os serviços de assistência técnica e de reparação, o financiamento das transações daí decorrentes etc. Além disso, compunha o Setor de Mercado Interno uma série de serviços urbanos, como telefone, luz, gás, transporte urbano etc., algum artesanato — um conjunto de atividades de produção de mercadorias, geralmente desenvolvidas por companhias capitalistas, porém extremamente restritas, sendo como que uma sombra da atividade principal de exportação. Quando esta entrava em crise...
84 - ...Além desses dois setores, havia ainda um vasto Setor de Subsistência. Na realidade, na maior parte dos países de economia colonial, a parte da população ocupada na produção para o mercado, em atividades que estariam mais ou menos inseridas no modo de produção capitalista, era uma minoria. De acordo com os dados disponíveis, pode-se estimar que no Brasil, provavelmente, não mais que um terço da população economicamente ativa, no auge da nossa economia colonial — na década dos 20 deste século —, era absorvida por essas atividades. Não produziam pro mercado. Chama de "economia de aldeia" e inclui até alguns latifundiários.
85 - Coloca que só algo "externo" para quebrar esse ciclo vicioso de interligação entre setores da economia colonial. Como já foi mencionado, na época da grande depressão, o nível de comércio mundial caiu enormemente, o Setor de Mercado Externo de todas as economias coloniais entrou numa fortíssima crise, o que enfraqueceu as oligarquias agro-exportadoras ou minero-exportadoras. Um grupo com pretensões diferentes assumia o poder.
86 - ...Vem a estratégia da substituição de importações: Para que a substituição de produtos antes importados por produção nacional possa ocorrer, é preciso proteger as novas indústrias contra a competição estrangeira — (...) —, e lhes assegurar suporte financeiro; o governo é obrigado a construir redes de energia elétrica e de transporte, cuidar da formação profissional etc. etc. E indispensável que o Estado se empenhe para que essa industrialização possa prosseguir. E esse empenho é crescente. Não é muito grande no começo do processo, na medida em que se exploram mercados já formados — o industrial é inicialmente muitas vezes o antigo importador, que já tem contato com os clientes, que já tem oficinas de reparo dos produtos que antes importava.
87 - A industrialização por substituição de importações, portanto, esbarra em países pequenos — Chile, Uruguai etc. — na estreiteza do mercado interno, que não é suficiente para uma produção em escala industrial.
88 - Estrangulamento externo: as importações não diminuem com o processo de substituição, mas mudam a pauta. Importa-se o necessário pra substituir. Os países em industrialização passaram a se endividar porque não conseguiam o volume necessário de divisas para poder importar tudo o que era necessário para que o processo de industrialização pudesse prosseguir.
89 - Coloca que as teorias marginalistas do desenvolvimento enfatizam que o capital externo é quem vai quebrar o ciclo vicioso do subdesenvolvimento. Depois, reduz-se a dependência. Os países atrasados teriam baixo nível de poupança e, consequentemente, capital.
90 - "Marginalistas" e a industrialização: Como eles atribuem a ausência do desenvolvimento à falta de poupança, ocasionada pela própria pobreza, pela inexistência de valores aquisitivos e pelo excessivo crescimento populacional, estes autores criticam os esforços industrializadores como “ irracionais” pois representariam desperdício de capital, que seria aplicado mais eficientemente na produção agrícola ou mineral. Estando em 1980, cita Chile e Argentina como exemplos de aplicação dessas políticas dos "liberais", digamos assim. (Não sei o quanto Argentina se encaixa).
91 - Singer coloca que o próprio consumidor urbano - espécie de classe média da época - também não tinha muito interesse em ver nascer uma industrialização nacional, eis o gosto pelos importados.
92 - A chamada “ revolução burguesa” aconteceu no México, de 1910 a 1917, envolvendo burgueses, operários, camponeses, e dela resultou a queda da velha oligarquia ligada ao Setor de Mercado Externo, e a ascensão de uma nova burguesia industrial. No Brasil, essa revolução ocorreu em 1930, na Turquia, em 1919, e assim por diante. Em países que, no fim da 2ª Guerra Mundial, ainda eram colônias, a revolução burguesa teve caráter de revolução anticolonial. (...) Tendo herdado do regime anterior um Setor de Mercado Externo, o país vai usá-lo para ganhar as divisas com que adquirir no exterior os elementos necessários à sua industrialização. É uma ruptura, porém, no sentido de que a economia deixa de ser reflexa, deixa de ser dependente da demanda externa e passa a ter uma dinâmica própria, dada pela substituição de importações.
93 - Processos de industrialização e criação da infraestrutura urbana exigem o ataque à economia de subsistência, digamos assim: ...É preciso, de alguma maneira, induzir os camponeses a produzir mais, sem ter uma recompensa imediata. O processo russo, por exemplo, foi coletivizar a agricultura, foi colocar o conjunto da produção agrícola sob o controle direto do Estado. O processo brasileiro está em subsidiar grandes empresas que expropriam posseiros e pequenos camponeses, transformando-os em assalariados — e portanto reduzem a participação deles próprios na produção e aumentam a produtividade utilizando métodos mais modernos, e os seus lucros são transformados em excedente alimentar, que é vendido nas cidades. Então as propostas de fundo marxista de desenvolvimento costumam partir dessa substituição, coloca.
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