Livro: Marcelo de Paiva Abreu - A Ordem do Progresso (2014) - Intro e Capítulo 1

                     

Livro: Marcelo de Paiva Abreu - A Ordem do Progresso (2014)



Pgs. 1-20


"INTRODUÇÕES"


1 - Ficha: Abreu, Marcelo de Paiva - A ordem do progresso: dois séculos de política econômica no Brasil/Marcelo de Paiva Abreu. - 2. ed. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2014.


2 - São contribuições de inúmeros autores além de Marcelo de Paiva Abreu: Dionísio Dias Carneiro Netto; Gustavo H.B. Franco; Winston Fritsch; Luiz Aranha Corrêa do Lago; Mário Magalhães Mesquita; Eduardo Marco Modiano; Luiz Orenstein; Demósthenes Madureira de Pinho Neto; André Lara Resende; Antonio Claudio Sochaczewski; Sérgio Besserman Vianna e Rogério Ladeira Furquim Werneck.


3 - Nada demais nas introduções. Firmam o esperado posicionamento liberal dos autores.


4 - Sobre transferências e desigualdade: Proliferaram os mecanismos disfarçados de transferência de recursos: sobrevalorização cambial, controles de estoques de produtos primários, taxas de juros reais negativas. (...) Desde a imigração subsidiada no século passado, passando pela valorização do café na República Velha, pelo confisco cambial e pelas operações vinculadas a partir dos anos 1930 e 1940, pela cobrança de taxas de juros reais negativas pelo sistema previdenciário a partir dos anos 1940 – retomada de forma sofisticada pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH) nos anos 80 e pelo sistema BNDES nos anos 1970 – terminando na estatização da dívida externa.


5 - ...No Brasil não prosperou a adesão acrítica ao laissez-faire que, por exemplo, iria marcar por tantos anos a ação política da classe dominante na Argentina e, portanto, a formulação e a implementação da política econômica. Os cafeicultores brasileiros desde cedo reconheceram as virtudes do controle da oferta como forma de manipulação de preços. Desde cedo, também, diversificaram os seus investimentos não apenas em projetos na infraestrutura de exportação mas, igualmente, de forma significativa, na indústria substitutiva de importações.


6 - Coloca que o intervencionismo brasileiro atuava mais de forma complementar. Setores desprezados pela iniciativa privada local. Como resultado destas características, a estabilidade das políticas econômicas no Brasil foi maior do que em muitos países em desenvolvimento. Ao contrário de outros países, cujas políticas oscilaram entre o liberalismo de livro-texto e a intervenção maciça nos mecanismos de mercado – mais uma vez o caso da Argentina parece exemplar –, as políticas brasileiras foram mais estáveis e, em geral, muito menos intervencionistas.



Pgs. 21-48


"CAPÍTULO 1: "A ECONOMIA BRASILEIRA NO IMPÉRIO, 1822-1889"


7 - Autores: Marcelo de Paiva Abreu e Luiz Aranha Correa do Lago.


8 - A partir da década de 1580, o Brasil, colônia portuguesa, tornou-se o principal produtor mundial de açúcar, com base no trabalho de escravos africanos, posição que manteve até a segunda metade do século XVIIA colônia também produzia fumo, madeiras e couros. Nas últimas décadas do século, a concorrência de colônias inglesas, francesas e holandesas no Caribe prejudicou a economia açucareira do Brasil, que perdeu sua hegemonia, mas a descoberta de ouro nos anos 1690 resultou em nova fase de prosperidade para a colônia. No século XVIII, o Brasil foi o maior produtor mundial de ouro, com cerca de 40% do volume total produzido entre 1701 e 1800, com produção estimada entre 800 e 900 toneladas (Morrisson, Barrandon e Morrisson, 1999, p. 94; Pinto, 1979, p. 114-117 e Morineau, 1985, p. 145).


9 - Na Independência, em 1822, o Brasil tinha provavelmente uma população entre 4,5 e 4,8 milhões de habitantes e cerca de um terço era escrava (inferências a partir de Oliveira (1866, p. 159-199 e tabelas) e Mortara (1941), citados em IBGE, EHB, 1990, p. 26-27). Em 1850, a população brasileira possuía cerca de 7,5 milhões de habitantes, com os escravos ainda respondendo por volta de 30% do total (Furtado, 1959, p. 141; Merrick e Graham, 1980, p. 46-47 e Mortara em IBGE, EHB, 1990, p. 25-27). O censo de 1872 revelaria 10,1 milhões de habitantes, com a população escrava excedendo 1,5 milhão. O recenseamento de 1890 situou a população brasileira em 14,3 milhões. Três anos antes, em 1886/87, às vésperas da abolição da escravidão, ainda existiam pouco mais de 700 mil escravos.


10 - Quase 90% da população se distribuía entre Nordeste e Sudeste. Esta última só se tornou a mais populosa no final do Império. Destacou-se no período o salto da população do Sul para 10%, enquanto as participações do Norte e do Centro-Oeste se mantiveram praticamente inalteradas (IBGE, EHB, 1990, p. 34).


11 - Em 1821, um levantamento estatístico detalhado revelou população total de 112.695 habitantes na “Corte”, ou seja, na cidade do Rio de Janeiro. Salvador possivelmente tinha cerca de 70 mil habitantes e Recife de 25 a 30 mil. De acordo com o censo de 1872 apenas três cidades tinham mais de 100 mil habitantes. O Rio de Janeiro continuava sendo o maior centro urbano com 275 mil habitantes. Salvador era ainda a segunda maior cidade, com 129 mil habitantes, seguida de Recife com 117 mil. A porcentagem de analfabetos era de 84,3% no Brasil como um todo. Em 1890, a cidade do Rio de Janeiro tinha 523 mil habitantes, Salvador, 174 mil, e Recife, 112 mil. São Paulo surgia como a quarta maior cidade do país com 65 mil habitantes. O índice de analfabetismo do país permanecia em torno de 85%.


12 - Optando por visão de muito longo prazo Coatsworth (1978, Quadro 1) sugere uma taxa média anual de crescimento do PIB per capita do Brasil de 0,36% ao ano entre 1800 e 1860, e de 0,40% para o período 1860 a 1910 (contra 2% do México de 1860 a 1910), Cárdenas Sánchez (2003, p. 318). Maddison (2006, p. 520), por sua vez, sugere taxa de 0,2% entre 1820 e 1870 e de 0,3% entre 1870 e 1913. Estimativa particularmente inaceitável é a de Engerman e Sokoloff (1997, p. 270) que apresentam taxa de crescimento do PIB per capita do Brasil de 0,4% entre 1800 e 1850, mas um declínio de 0,4% ao ano entre 1850 e 1913, incompatível com o crescimento da economia cafeeira e a diversificação da economia, que abarca também o período de prosperidade da borracha. O NE teria sido a região mais prejudicada no Império, com estagnação ou mesmo crescimento negativo, estima-se.


13 - O café ultrapassaria definitivamente o açúcar como o principal produto exportado, em termos de valor, no início da década de 1830. Junto a algodão e fumo, eram quase toda a pauta. Depois veio a borracha, que chegou a 14,2% ao final do Império. Entre o início e o fim do Império, a participação das exportações de café nas exportações totais aumentou de menos de 20% para mais de 60%. RJ era o principal exportador. A importância do açúcar nas exportações brasileiras caiu durante o Império de cerca de 30% para em torno de 10%. Pernambuco e Bahia dominavam e Alagoas era um destaque crescente.


14 - ...Quanto ao algodão, Maranhão e Pernambuco se destacavam. No fumo, reinava a Bahia. O grosso das exportações tinha origem na Bahia: mais de 70% nos anos 1850 e mais de 80% no final dos anos 1880. Couros e peles chegavam a 4% das exportações e o principal estado de tal atividade era o Rio Grande do Sul.


15 - Indústria: Em 1827, foram renovadas as disposições tarifárias de 1810, por 15 anos, sendo a tarifa de importação de 15% estendida a todas as nações. Embora a crítica à renovação da vigência da tarifa de importação 15% habitualmente enfatize os efeitos nocivos sobre competidores domésticos, cabem dúvidas sobre quais seriam as possibilidades efetivas de resposta da oferta doméstica no quadro de um regime protecionista alternativo. O incômodo com as tarifas baixas - graças ao poder de barganha da Inglaterra - era mais fiscal mesmo. Só em 1845 o Brasil recuperaria graus de liberdade na definição de sua política comercial que permitiriam um aumento paulatino da tarifa de importação.


16 - Embora o governo imperial tenha distribuído subsídios importantes a diversos estabelecimentos industriais, a indústria brasileira no Império tinha peso econômico modesto, não obstante a importância, em alguns casos efêmera, de estabelecimentos isolados como o estaleiro de Ponta d’Areia, o Arsenal de Marinha e o Arsenal de Guerra (Mauá, 1998, p. 44-6 e 100-104 e Faria, 1946, cap. VII). Havia uma indústria incipiente na década de 1880 (Suzigan, 2000), muitas vezes em unidades pequenas ou até artesanais, incluindo principalmente processamento de alimentos, têxtil e vestuário, e bebidas, respondendo, talvez, por 10% do PIB.


17 - As atividades de mineração no Brasil durante o Império – especialmente de ouro (Minas Gerais) e diamantes (Minas Gerais e Bahia) –, alcançaram um pico na década de 1850 e depois declinaram lentamente. (...) As exportações de ouro e diamantes declinaram de algo em torno de 5% das exportações totais no início da década de 1850 para menos de 1% no final da década de 1880.


18 -Serviços: Basta mencionar que, partindo-se de pouco mais de 700 km em operação em 1870, em 1889 a rede em tráfego havia alcançado 9.583 km. Os investimentos, inclusive estrangeiros, na provisão de serviços públicos, tornaram-se importantes à medida que aumentava a importância relativa da população urbana. Houve participação significativa de capital estrangeiro principalmente em companhias de iluminação a gás, e também em serviços de bondes e suprimento de água e esgotos desde a década de 1860.


19 - O setor público era modesto e a pouca urbanização limitava a expansão dos serviços.


20 - A Imigração na primeira metade do século XIX foi quase irrelevante. Cita algumas cidades, inclusiva Leopoldina (BA) e Petrópolis (RJ), originadas de colônias agrícolas de imigrantes europeus no período. 


21 - Por volta de 1847, começam as políticas de "parceria", visando substituir o trabalho escravo, já marcado pra extinção. Abusos da parte dos grandes proprietários e a origem muitas vezes não agrícola dos parceiros, que contribuíam para que estes ficassem endividados por longos períodos, resultaram em conflitos que desencorajaram os fazendeiros a financiar a vinda de novos colonos e estimularam restrições nos países de origemNo Sul, criaram-se colônias agrícolas de pequenos proprietários, por iniciativa pública (governos provincial e imperial) e privada, que foram muitas vezes bem-sucedidas. (...) No contrato de parceria, a família de imigrantes obrigava-se solidariamente a reembolsar as despesas do fazendeiro com sua viagem da Europa, bem como os juros das somas adiantadas.


22 - ...Acelerou: Quando a assembleia provincial de São Paulo autorizou o pagamento do custo integral das passagens, no início de 1884, abriu-se definitivamente o caminho para a substituição do trabalho escravo pelo trabalho livre europeu em maior escala. De fato, o governo provincial gastara com imigração, no início dos anos 1880, uma média de 50 contos por ano, que passaram a mais de 1.100 contos em 1886-87 (Costa, 1966, p. 189-90). (...) Em 1888 e 1889 o governo imperial assinou sete contratos para a entrada de cerca de 775 mil imigrantes nos cinco anos seguintes, intervenção direta no mercado de trabalho, que criou uma oferta elástica de mão de obra estrangeira e que pode ter prejudicado a absorção de libertos e brasileiros natos pelo setor exportador. Antes de 1884, a cultura do café era predominantemente feita com trabalho escravizado.


23 - Na primeira metade do século XIX, a importação de escravos para a “região cafeeira” respondeu, possivelmente, por mais de 2/3 das importações totais de escravos no Brasil, que alcançaram aproximadamente 2 milhões de pessoas. O Sudeste foi o polo da expansão enquanto o Nordeste perdia a primazia (nesse e em qualquer tipo de trabalho).


24 - Tráfico: ...quando a Grã-Bretanha aboliu as preferências coloniais no final da década de 1840, os lobbies açucareiros do Caribe, expostos à competição brasileira, estimularam o uso da Royal Navy, com base no Bill Aberdeen de 1845, para coibir o tráfico brasileiro (ver Drescher, 2004). Em seguida a diversos incidentes graves, o governo imperial decidiu tornar o tráfico ilegal e reprimi-lo de fato em 1850.


25 - ...Apesar da tendência favorável dos preços dos principais produtos do Nordeste na década de 1850, muitos proprietários de escravos da região, especialmente “os proprietários menores e mais necessitados”, foram atraídos pelos preços elevados oferecidos pelos seus escravos por agentes envolvidos no tráfico interprovincial e os venderam para as áreas cafeeiras. Esta saída prosseguiria nas décadas seguintes. Estima-se que o tráfico interprovincial, principalmente oriundo do Nordeste, teria envolvido cerca de 200 mil escravos, entre 1851 e 1881 (Slenes, 1976, p. 138 e 169).


26 - A Lei do Ventre Livre (1871) matou qualquer possibilidade de crescimento da mão-de-obra escravizada.


27 - No Nordeste, a década de 1870 foi extremamente desfavorável. O fim do boom do algodão e as dificuldades enfrentadas pelo setor açucareiro, inclusive em virtude da moléstia da cana, resultaram em crises regionais que culminaram com a violenta seca de 1877-79, que provocou, direta e indiretamente, a morte de centenas de milhares de pessoas na região, migração para a região amazônica e estimulou a exportação de escravos para a região cafeeira. No entanto, conscientes do perigo político da concentração de escravos na região cafeeira, os governos das províncias de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro estabeleceram um imposto extremamente elevado sobre a importação interprovincial de escravos. Assim, paradoxalmente, um dos últimos fatores que favoreciam a subsistência da escravidão no Nordeste deixou de existir: a impossibilidade de exportar os escravos e a demanda limitada por trabalho escravo em nível local levou a uma rápida queda do seu preço e estimulou a libertação espontânea de todos os escravos como, por exemplo, no Ceará em 1884.


28 - As sesmarias durariam até o início do Século XIX. (...) Por outro lado, em todas as áreas em que a apropriação de terras por uma classe de grandes proprietários foi menos pronunciada ou não ocorreu, realmente prevaleceu o padrão esperado na presença de uma relação terra-trabalho elevada, ou seja, o de pequenas propriedades familiares trabalhadas predominantemente por mão de obra livre como no sul do Brasil nas áreas colonizadas por “ilhéus” no século XVIII, e em muitas áreas de São Paulo onde, em 1818, 79,8% dos “fogos” não tinham escravos (Lago, 1978, cap. 1).


29 - ...Na realidade, na ausência de legislação clara e abrangente, a ocupação de novas terras deu-se através de simples posse, muitas vezes prevalecendo os mais fortes sobre os mais fracos. A coroa imperial perdera o poder de conceder sesmarias a partir de 1823. Durante quase três décadas, a assembleia do Império não aprovou qualquer legislação para substituir o sistema colonial de concessão de terras. A chamada “Lei de Terras” foi aprovada pelo poder legislativo do Império com o objetivo de sanar o vazio legal existente. Essa lei de 18 de setembro de 1850 não impediu a usurpação posterior de terras públicas, já que o registro de propriedades levaria décadas para se efetivar e que não era possível o controle da situação de todas as terras públicas por uma repartição governamental competente (Dean, 1971).


30 - ...No entanto, a lei trouxe segurança ao sistema de pequena propriedade que prosperou no Sul. Bom para as colônias de imigrantes. No Nordeste (e demais regiões até), como predominavam as grandes extensões, foram estas que ficaram protegidas. Foi a situação contrária. Restaram uma classe de proprietários inativos e latifundiários e uma classe de trabalhadores sem acesso à propriedade da terra.


31 - Segunda metade do século XIX: Além de investimento estrangeiro, houve investimento considerável do governo central, de governos provinciais e de capitalistas brasileiros, especialmente em ferrovias. Citam ainda os investimentos em telégrafos e afins. 


32 - O sistema de garantias de taxas de retorno foi amplamente utilizado pelo governo imperial para competir com outros países primário-exportadores na atração de investimento direto estrangeiro. A expansão da infraestrutura dependeu de tais políticas: ferrovias, portos, cabos submarinos, empresas de navegação e de serviços públicos urbanos, entre outros investimentos.


33 - O valor do frete desabou com as ferrovias. Entretanto, coloca que os elevados gastos do governo com tal empreitada levam alguns a contestar o custo-benefício. (faltou a "matemática". Não aprofundam).


34 - Voltando ao café... A estrutura das exportações modificou-se consideravelmente no curso do Império, com significativa expansão da importância do café, especialmente antes de 1850, pari passu com a expansão da participação do Brasil no mercado mundial do café, que já correspondia à metade da oferta mundial em meados do século. Nos anos 1880, com a participação brasileira já em torno de 60% ficaria claro que os competidores asiáticos no mercado cafeeiro seriam duramente afetados pela ferrugem, abrindo espaço para a expansão espetacular da produção brasileira no período republicano (McCook, 2006).


35 - ...Borracha: Na última década do Império a borracha foi o terceiro principal produto de exportação do país, respondendo por 8% do total (ver Tabela 1.1). O Brasil era então o maior produtor mundial respondendo por mais de 60% da oferta.



36 - ...A partir de 1873, além disto, o café brasileiro teve assegurada livre entrada no mercado norte-americano com a implementação da política republicana da “free breakfast table”. No final dos anos 1880, o Brasil respondia por quase 70% das importações de café dos Estados Unidos. Em contraste, o café era pesadamente taxado na Europa através de imposto de importação ou impostos sobre consumo.


37 - ...O Brasil dependia quase que exclusivamente de importações para o suprimento de um amplo leque de bens manufaturados. Em meados dos 1870 “artefatos de algodão” correspondiam a 27,5% das importações, bebidas a 18%, peixes a 10%, “artefatos de lã” a 6,6%, trigo e farinha de trigo a 5%, carvão a 3,9%. Máquinas respondiam por apenas 1,7% do total, embora sua importância tenha talvez dobrado na década de 1880 (Soares, 1883).


38 - Quanto as tarifas, iam aumentando quase que a cada década. Fecharam o Império bem altas, beirando os 50%.


39 - No fim das contas, nosso setor de exportação não era exatamente vistoso. Considerando-se uma média trienal centrada em 1890, o Brasil não se destacava em termos de exportação per capita, com apenas US$9,6 por habitante, enquanto as cifras correspondentes eram US$32,4 para a Argentina, US$20,3 para o Chile e US$55,7 para Cuba, mas somente US$4,4 no caso do México (Bulmer-Thomas, 1994, p. 69).


40 - Império e moeda. Achei a cronologia meio pouco explicada. Em determinado momento, jogam isto aqui, por exemplo: Dado que a circulação metálica não correspondia a uma proporção expressiva da oferta de moeda, as oportunidades para apropriação relacionada à senhoriagem ou aviltamento da moeda metálica eram limitadas. Ao que entendi, havia um moderado imposto inflacionário (já que a inflação era cerca de 1,2% ao ano). Há indicações, baseadas em índices de qualidade muito desigual, de que os preços pelo menos dobraram no Brasil entre 1830 e 1889. Assim, a inflação, medida por preços ao consumidor, embora muito inferior à que seria tipicamente registrada no período republicano, foi muito superior à registrada nas economias desenvolvida. (...) Entre 1830 e 1889, os preços por atacado nos Estados Unidos (Bureau of Labor of Statistics) caíram cerca de 10% e o índice de preços Rousseaux para a Grã-Bretanha mais de 30%. Quanto ao câmbio: A depreciação cambial de 50 pence/mil-réis em 1823 para perto de 27 pence/mil-réis em 1889 foi aproximadamente em linha com a inflação estimada no período. A trajetória, porém, foi, na maior parte das vezes, de desvalorização cambial.


41 - O Banco do Brasil herdado da administração portuguesa, com poder de emissão, mas desprovido de suas reservas metálicas com a partida da corte portuguesa, foi liquidado em 1829 em meio a denúncias de gestão desastrada (ver Calógeras, 1960, caps. III e IV). Um novo Banco do Brasil surgiria apenas em 1853 quando, na esteira do novo Código Comercial de 1850, o Banco do Brasil de Mauá & Co. foi transformado em Banco do Brasil controlado pelo governo.


42 - A política monetária do Encilhamento nos anos iniciais da República baseou-se em parte na legislação aprovada ao apagar das luzes do Império, por influência dos “papelistas”, permitindo a emissão múltipla para enfrentar ao aumento da demanda por moeda associada à abolição da escravidão.


43 - Receitas: Os custos de arrecadar impostos internos eram muito superiores aos relativos a impostos sobre comércio exterior, especialmente se o comércio fosse por via marítima.16 Resistências políticas impediam a taxação da propriedade ou do uso da terra. As chamadas taxas e direitos interiores incidiam sobre transações não relacionadas ao comércio exterior, tais como transferência de imóveis e escravos, contratos, heranças e propriedade de escravos com empregos urbanos. A participação do imposto de importação na receita ordinária do governo central depois de 1833 foi sempre superior a 50%, aumentando para quase 60% no final dos anos 1830 e quase 70% em meados dos anos 1850. Depois disto, reduziu-se, mantendo-se em torno de 50-60% até o final do Império. A taxa de exportação imperial depois de flutuar entre 5% e 7% na década de 1850 e início da década de 1860, foi aumentada para 9% durante a Guerra do Paraguai, voltando a 7% em meados dos anos 1870. Impostos sobre exportação arrecadados pelo governo central correspondiam a mais de 5% da receita total no início dos anos 1830, mas sua participação aumentou rapidamente até alcançar 25% no final da década. Depois de um recuo para 12% nos anos 1850, estabilizou-se em torno de 15% a 17%, só caindo no final dos anos 1880 de novo para 12%. Os impostos de importação e exportação combinados aumentaram sua participação na receita total do governo central de algo abaixo de 60% para mais de 80% no início da década de 1850. No fim do Império esta ainda era superior a 70%.


44 - As províncias, com contumaz insuficiência de recursos, se viravam à margem da lei. A despeito de longos debates no Legislativo, no início da década de 1880, não houve acordo quanto a um novo critério de distribuição das receitas em favor das províncias e o governo central fechou os olhos para a disseminação de taxação provincial das importações, a despeito de sua ilegalidade


45 - Havia uma importante diferenciação entre ser tomador ou formador de preço internacional (ainda mais quando há demanda pouco elástica): Nas províncias do Nordeste, em vista da concorrência sofrida pelas exportações de açúcar e de algodão no mercado mundial, não era possível taxá-las sem reduzir a quantidade exportada e produzida. Isto contrastava com a posição das províncias cafeeiras, pois, em vista da posição dominante do Brasil no mercado mundial de café, o ônus do aumento de taxação da exportação podia ser transferido ao consumidor externo através de aumento de preços (ver Melo, 1984, p. 250).


46 - O nível de despesas do governo central dependia em grande medida dos gastos militares relacionados a operações internas e externas. As despesas dos ministérios militares corresponderam a 50% dos gastos totais no fim dos anos 1820, com a Guerra da Cisplatina e, mais ainda, nos anos 1830, com operações contra os separatistas no sul do Brasil. Nos anos mais pacíficos, entre a maioridade e a Guerra do Paraguai, as despesas militares nunca caíram abaixo de 35%, e no conflito alcançaram 65% dos gastos totais. Só no final do Império caíram para uns 20%. Tudo isso levava a picos de déficit fiscal.


47 - Quando da Abolição, o governo imperial não indenizou os proprietários de escravos, muitos dos quais abraçaram então a causa da República. Foi decidida a concessão de empréstimos à grande lavoura com recursos públicos principalmente através do Banco do Brasil, já que a rede bancária brasileira era muito pouco densa. A iniciativa teve alcance limitado e possivelmente beneficiou fazendeiros que tinham maior viabilidade, capazes de oferecer garantias adequadas, uma vez eliminada a possibilidade de utilização de escravos como colateral.


48 - Após o pesado endividamento do início da história independente, a dívida externa manteve-se praticamente estável em termos nominais até 1850, só então aumentando lentamente. A relação dívida-exportações, que alcançou quase 1,7 nos anos 1820, caiu a 0,42 em 1860 e no final do Império era de 1,18. Colocam que o Brasil Imperial era um dos poucos países "bom pagador", isso após as dificuldades iniciais na década de 1820. (...) Enquanto as taxas internas de retorno de consols britânicos (títulos perpétuos da dívida pública) oscilaram entre 2,4% e 3,8% ao ano, as taxas internas de retorno dos títulos brasileiros lançados no Império oscilaram entre 3,9% e 10,1%. Vão lançando mais números assim sem maiores explicações. Sabe-se lá se é juro real.. nominal... em que moeda...


49 - ...Em 1830, cerca de 80% da dívida total era externa, mas em 1850 a proporção havia caído para a metade. Houve um aumento nos anos 1860, mas em 1870 já era inferior a 40% e, em 1889, da mesma ordem.


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