Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015) - Capítulo 22 ("PARTE A")

              

Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015)



Pgs. 544-557


"CAPÍTULO 22: "Países em desenvolvimento: crescimento, crise e reforma"


518 - Período 1960 a 2010: Durante esse período, os Estados Unidos cresceram muito a taxa per capita anual de 2% a 2,5% que muitos economistas diriam ser o máximo em longo prazo para uma economia madura.



519 - Países em desenvolvimento: difícil traçar aspectos comuns. Conseguem ver um maior controle estatal; inflação tipicamente mais alta (muitas vezes com senhoriagem); setor de crédito e financeiro fraco (citam também leis de falência ruins); maior controle cambial geralmente; recursos naturais e commodities importantes nas exportações; corrupção (citam ranking da Transparência Internacional).


520 - Contas correntes:



521 - A teoria: Os países com baixa renda geram pouca poupança própria para tomar vantagens de todas as suas oportunidades de investimentos lucráveis. Em países com capital alto, por outro lado, muitas oportunidades de investimento produtivas já têm sido exploradas, mas os níveis de poupança são relativamente elevados.


522 - Épocas e mais épocas de calotes: 


1. No início do século XIX, diversos estados dos Estados Unidos ficaram inadimplentes em empréstimos europeus que eles tinham feito para financiar a construção de infraestrutura, como canais de navegação. 


2. Durante todo o século XIX, os países da América Latina tiveram problemas de pagamento. Isso foi especialmente verdadeiro para a Argentina, que gerou uma crise financeira global em 1890 (a Crise do banco Baring) quando ela provou ser incapaz de cumprir suas obrigações. 


3. Em 1917, o novo governo comunista da Rússia não reconheceu as dívidas estrangeiras que tinham sido contraídas por governantes anteriores. (...) 

 

4. Durante a Grande Depressão dos anos 1930, a atividade econômica mundial entrou em colapso e os países em desenvolvimento se encontraram fechados aos mercados de exportação dos países industriais por um muro de proteção (veja o Capítulo 19). Como resultado, quase todos os países em desenvolvimento ficaram inadimplentes com suas dívidas externas, e o fluxo financeiro particular para os países em desenvolvimento minguou por quatro décadas. Diversos países europeus ficaram inadimplentes com suas dívidas da Primeira Guerra Mundial para com os governos aliados, principalmente os Estados Unidos. (...) 


523 - ...A grande contração da produção e do emprego de um país ocorre invariavelmente após uma súbita parada na qual o país perde de súbito o acesso a todos os recursos de fundos estrangeiros (ver Capítulo 19). Em um nível muito básico, a necessidade dessas contrações pode ser vista na equação da conta‑corrente, S – I = CC. Resultado é a súbita contração na demanda ou queda do investimento. Só assim equilibra. Se o déficit externo do país for muito grande, a contração pode ser brutal.


524 - ...Se um país tiver que pagar, ao menos parcialmente, o principal da dívida externa de curto prazo (imediatamente exigível), aí vai ter que fazer superávit em conta corrente - exportações líquidas - em vez de déficit. Situação fica dramática.


525 - ...Atenuantes e mais problemas: Por meio da depleção de suas reservas oficiais, o governo pode proteger a demanda agregada reduzindo o tamanho do excedente de conta‑corrente necessário para preencher as demandas para o pagamento dos credores. Mas a perda de suas reservas deixa o governo incapaz de atrelar a taxa de câmbio por mais tempo. Ao mesmo tempo, os bancos têm problemas quando os depositantes domésticos e estrangeiros, temendo a depreciação da moeda e as consequências de inadimplências, retiram fundos e compram reservas estrangeiras na esperança de pagar dívidas de moeda estrangeira ou enviar riqueza com segurança para o exterior.


526 - Passam a abordar os tipos de financiamento externo. Financiamento de títulos. Países em desenvolvimento algumas vezes venderam títulos para cidadãos estrangeiros particulares para financiar seus déficits. O financiamento de títulos foi dominante no período até 1914 e nos anos entre as guerras mundiais (1918-1939). Essa modalidade ganhou popularidade novamente após 1990, à medida que os países em desenvolvimento tentaram liberalizar e modernizar seus mercados financeiros.


527 - ...Financiamento bancário. Entre o início da década de 1970 e o final da de 1980, os países em desenvolvimento contraíram extensamente empréstimos de bancos comerciais nas economias desenvolvidas. Em 1970, quase um quarto das finanças externas dos países em desenvolvimento foi fornecido por bancos. Em 1981, os bancos forneceram uma quantidade de finanças quase igual ao déficit de conta‑corrente agregada dos países em desenvolvimento não produtores de petróleo, mas nos anos 1990 a importância do empréstimo bancário diminuiu.


528 - ...Empréstimo oficial. Os países em desenvolvimento algumas vezes contraem empréstimos de agências estrangeiras oficiais, como o Banco Mundial ou o Banco de Desenvolvimento Interamericano. Tais empréstimos podem ser feitos sob uma base “concessional”, ou seja, a taxas de juros abaixo dos níveis do mercado, ou sob uma base do mercado, que permite que o credor ganhe a taxa de mercado de retorno.


529 - Investimento estrangeiro direto (IED) e em portfólio também são formas de financiamento externo. Chegam "dólares" para adquirir patrimônio e não títulos de dívida. Enfim... Os cinco tipos de financiamentos descritos podem ser classificados em duas categorias: financiamento de dívidas e financiamento de patrimônio


530 - ...A vida frequentemente é mais fácil, contudo, com o financiamento de patrimônio. No caso de patrimônio, uma queda da renda doméstica reduz automaticamente os ganhos dos acionistas estrangeiros, sem violar qualquer acordo do empréstimo. Ao adquirir patrimônio, os estrangeiros concordaram efetivamente em compartilhar tanto os tempos ruins quanto os tempos bons da economia.


531 - País rico pode fazer dívida externa em sua própria moeda! Um privilégio. Um país que pode contrair empréstimos no estrangeiro em sua própria moeda consegue reduzir os recursos reais que deve aos estrangeiros, sem desencadear uma moratória, simplesmente por desvalorizar sua moeda. Um país em desenvolvimento forçado a contrair empréstimos em moeda estrangeira não tem essa opção e pode reduzir o que deve aos estrangeiros apenas por meio de alguma forma de moratória imediata.


532 - Como vimos no Capítulo 21, o governo da Grécia deixou de pagar sua dívida em 2012, a primeira moratória por um país de renda alta desde a década de 1940.


533 - Dívida externa, valorização do dólar, juros altos e queda das commodities foi um mix fatal para boa parte da América Latina no início dos anos 80. Também foram atingidos os países do bloco soviético, como a Polônia, que tinha contraído empréstimos de bancos europeus. Os países africanos, cujas dívidas na maioria eram com agências oficiais, como o FMI e o Banco Mundial, também ficaram inadimplentes. (...) no final de 1986, mais de 40 países tinham encontrado graves problemas de financiamento externo.


534 - Havia preocupação: Em 1981, os empréstimos de países em desenvolvimento dos oito maiores bancos dos Estados Unidos ascenderam a 264% de seu capital, então as perdas de 50% dos empréstimos os teriam tornado insolventes. (...)  (Como você pode ver, houve mais de uma quase tragédia no caminho até a crise financeira de 2007-2009!).


535 - ...Mas a crise não acabou até 1989, quando os Estados Unidos, temendo a instabilidade política ao sul, insistiram em que os bancos norte‑americanos dessem alguma forma de alívio da dívida para os países em desenvolvimento devedores. Em 1990, os bancos concordaram em reduzir a dívida do México em 12% e, dentro de um ano, acordos de redução também tinham sido negociados por Filipinas, Costa Rica, Venezuela, Uruguai e Níger. Quando a Argentina e o Brasil chegaram a acordos preliminares com seus credores em 1992, foi como se a crise da dívida da década de 1980 tivesse enfim sido resolvida, mas só depois de anos de estagnação econômica. As taxas de juros nos EUA baixaram no início dos anos noventa e o crédito voltou a fluir. 


536 - Argentina dos anos noventa: A Lei da Conversibilidade também exigiu que a base monetária fosse lastreada por ouro ou moeda estrangeira, assim em um único golpe ela reduziu abruptamente a capacidade de o banco central financiar os déficits do governo mediante a criação constante de dinheiro. A Lei da Conversibilidade representou uma versão extrema da abordagem baseada na taxa de câmbio para reduzir a inflação que tinha sido tentada muitas vezes no passado, mas previsivelmente terminara em uma crise monetária. A lei monetária de 1991 exigindo 100% de respaldo do câmbio externo para a base monetária tornou a Argentina um exemplo de "currency board", no qual a base monetária é respaldada inteiramente por moeda estrangeira e o banco central, desse modo, detém os ativos domésticos. Dessa vez, a abordagem funcionou por quase uma década. Entretanto, ainda havia um pequeno, mas constante, diferencial de inflação. A valorização real levou ao desemprego (embora aqui eles culpem a "rigidez do mercado de trabalho" pela permanência do problema) e a um déficit de conta‑corrente crescente.


537 - Reformas do Chile começaram antes. De modo muito importante, o país instituiu um ambiente regulatório rígido para as instituições financeiras domésticas e removeu uma garantia explícita de resgate que tinha ajudado a agravar a crise anterior da dívida do Chile. Um tipo de indexação crawling‑peg do regime de taxa de câmbio foi usado para derrubar a inflação gradualmente, mas o sistema foi operado com flexibilidade para evitar a extrema valorização real. O banco central chileno tornou‑se independente das autoridades fiscais em 1990 (no mesmo ano em que um governo democrático substituiu o regime militar do General Pinochet). Mencionam também os controles de capital a fim de evitar instabilidade. 


(...)


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