Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015) - Capítulo 21

             

Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015)



Pgs. 517-543


"CAPÍTULO 21: "Áreas de moeda ideal e o euro"


485 - A experiência arrojada da Europa, na União Econômica e Monetária (UEM), que muitos viam como uma fantasia visionária apenas alguns anos antes, criou uma área de moeda com mais de 335 milhões de consumidores — cerca de 7% mais populosa do que os Estados Unidos.


486 - Do ponto de vista nacional... O projeto do euro representa assim uma solução extrema para o trilema de política monetária visto no Capítulo 19: estabilidade cambial absoluta e total abertura ao comércio financeiro, mas sem qualquer tipo de autonomia monetária.


487 - O sistema monetário europeu, 1979–1998 (SME): havia margens de flutuação do câmbio. A ideia era ter certa estabilidade cambial interna. Apesar dos diferenciais de inflação, até funcionou bem, mas houve crise do sistema na virada para os anos 90. A reunificação alemã levou à necessidade, por lá, de taxas de juros maiores para conter um boom de consumo. Outros países, que nada tinham a ver, tiveram que elevar juros também para evitar a valorização do marco acima das "bandas". Resultado? Recessão por lá.


488 - ...A maioria das taxas de câmbio “fixadas” pelo SME até agosto de 1993 poderia na verdade flutuar para cima ou para baixo até 2,25% em relação a um valor par atribuído. Alguns membros foram capazes de negociar bandas de ± 6%, um sacrifício maior da estabilidade cambial, mas ganhando mais espaço para escolher suas próprias políticas monetárias. Em agosto de 1993, os países do SME decidiram alargar quase todas as bandas a ±15% sob a pressão dos ataques especulativos.


489 - ...O SME passou por realinhamentos monetários periódicos. Ao todo, ocorreram onze realinhamentos desde o início do SME em março de 1979 e janeiro de 1987. Controles de capital desempenharam um papel importante de blindagem das reservas dos membros contra especuladores durante esses ajustes. No entanto, a partir de 1987, uma remoção gradual de controles de capital pelos países do SME aumentou a possibilidade de ataques especulativos e assim reduziu a vontade dos governos de considerar abertamente a desvalorização ou a revalorização. A supressão dos controles reduziu muito a independência monetária dos países membros (uma consequência do trilema da política monetária), mas a liberdade dos pagamentos e os movimentos de capitais na UE sempre foram um elemento-chave do plano dos países da UE para transformar a Europa em um mercado unificado.


490 - O SME inicial, caracterizado por realinhamentos monetários frequentes e controle governamental generalizado sobre os movimentos de capitais, deixou alguma margem de manobra para as políticas monetárias nacionais.


491 - Moeda única e banco central único: a ideia era reduzir custos de transação (tempo com cálculos e burocracia e tal); acabar com os ataques especulativos e ter mais poder de decisão sobre a política monetária europeia do que simplesmente seguir a Alemanha (conflito da SME) para manter paridades fixas difíceis.


492 - Maastricht: inflação baixa, déficit de 3% e dívida de até 60%. A ideia era essa, salvo situações excepcionais. O Tratado prevê a monitoração contínua dos critérios 3 e 4 mencionados anteriormente pela Comissão Europeia, mesmo após a admissão à UEM, e a aplicação de sanções a países que violam essas regras fiscais e não corrigem situações de dívida e déficits “excessivos”. (...) Eleitores em países tradicionalmente de baixa inflação estavam preocupados se os governos prudentes dentro da UEM seriam obrigados a pagar a conta dos governos perdulários que pegavam emprestado mais do que poderiam ter recursos para pagar.


493 - ...A Grécia não conseguiu qualificar-se em nenhum dos critérios em 1998, embora, em última instância, tenha conseguido passar em todos os seus testes, entrando na UEM em 1o de janeiro de 2001. Desde então, Eslovênia (em 1o de janeiro de 2007), Chipre e Malta (ambos em 1o de janeiro de 2008), a República Eslovaca (1o de janeiro de 2009), a Estônia (1o de janeiro de 2011) e a Letônia (1o de janeiro de 2014) também aderiram à zona do euro.


494 - Para países da UE que ainda não são membros da UEM, um mecanismo de taxa de câmbio revisada — conhecido como MTC 2 — define zonas de ampla taxa de câmbio contra o euro (±15%) e especifica o regime de intervenção recíproca para apoiar essas zonas-alvo. O MTC 2 foi visto como necessário para desencorajar as desvalorizações competitivas diante do euro por membros da UE fora da zona euro e para dar a futuros candidatos à UEM uma maneira de satisfazer o critério de convergência da estabilidade de taxa de câmbio do Tratado de Maastricht. (...) Na prática, o MTC 2 é assimétrico, com países periféricos se fixando ao euro e adaptando-se passivamente às decisões do BCE sobre as taxas de juros.


495 - Quanto mais um país negocia com a zona do euro, mais motivo há para pensar na união monetária, já que a redução de custos de transação/conversibilidade se torna mais atraente. 


496 - ...Analisam o exemplo da Noruega para citar outra questão: O ganho de eficiência monetária de a coroa aderir ao euro também será maior se os fatores de produção puderem migrar livremente entre a Noruega e a zona do euro. Os noruegueses que investem nos países da zona do euro se beneficiam quando os retornos sobre seus investimentos são mais previsíveis. Da mesma forma, os noruegueses que trabalham nos países da zona do euro podem beneficiar-se se uma taxa de câmbio fixa fizer com que seus salários fiquem mais estáveis em relação ao custo de vida da Noruega.


497 - ...Solução do atrelamento: ...se o nível de preços da zona do euro for estável e o compromisso de taxa de câmbio da Noruega for firme, a conclusão principal é: quando a Noruega adere ao euro, ganha com a estabilidade de sua moeda em relação ao euro, e esse ganho de eficiência é maior quanto mais próximos forem os mercados da Noruega e os mercados da zona do euro. A tendência é a inflação ser combatida com mais facilidade. A razão é que a estreita integração econômica conduz à convergência dos preços internacionais e, portanto, diminui as possibilidades de variação independente no nível de preços do país que está aderindo


498 - ...O ruim? Perda da flexibilidade na política monetária para combater desarranjos internos (recessão causada pela queda do preço do petróleo, por exemplo). Porém, a maior integração econômica gera contrapesos positivos em tais casos:  A capacidade dos fatores de produção para migrarem para o exterior, portanto, reduz a severidade do desemprego na Noruega e a queda da taxa de retorno disponível para os investidores.


499 - ...A depender do nível de diversificação de portfólio, esse processo de torna ainda mais forte: Equipamentos e fábricas instalados normalmente são caros de se transportar para o exterior ou de se adaptar às novas utilizações. Os proprietários dos capitais noruegueses relativamente imóveis, portanto, sempre vão ganhar baixos retornos após um turno adverso na demanda por produtos noruegueses. No entanto, se o mercado de capitais da Noruega for integrado com o de seus vizinhos da UEM, os noruegueses vão investir algumas das suas riquezas em outros países, enquanto, ao mesmo tempo, parte do estoque de capital da Noruega estará em posse de estrangeiros.


500 - Outro "detalhe" nessa coisa de economias "integradas": Uma vez que, nesse caso, as importações da zona do euro compõem uma grande fração do consumo dos trabalhadores noruegueses mudanças na taxa de câmbio euro/coroa rapidamente podem afetar os salários nominais noruegueses, reduzindo qualquer impacto sobre o emprego. Uma depreciação da coroa em relação ao euro, por exemplo, provoca uma queda acentuada nos padrões de vida dos noruegueses, quando as importações da zona do euro são substanciais; os trabalhadores são, portanto, propensos a exigir maiores salários nominais de seus empregadores para compensar a perda. Nessa situação, a estabilidade macroeconômica adicional que a Noruega obtém de uma taxa de câmbio flutuante é pequena, assim o país tem pouco a perder ao fixar a taxa de câmbio euro/coroa.


501 - Voltando aos possíveis problemas: Considere, por exemplo, um aumento no tamanho e na frequência das mudanças repentinas na demanda pelas exportações do país. Como mostrado na Figura 21.6, tal mudança empurra LL1 para cima, até LL2.



502 - ...Mantendo iguais todas as outras variáveis, o aumento na variabilidade em seus mercados de produto faz os países ficarem menos dispostos a entrar em áreas de taxa de câmbio fixa — uma previsão que ajuda a explicar por que os choques de preço do petróleo depois de 1973 fizeram os países não quererem reviver o sistema de Bretton Woods de taxas de câmbio fixas (Capítulo 19). Resposta a choques externos.


503 - Mais "detalhe": Os diferentes padrões de exportação dos países europeus do norte e do sul criam mais oportunidades para os choques assimétricos. Um exemplo: o maior crescimento chinês tem efeitos muito diferentes sobre as economias alemã e portuguesa. Se há ajuda fiscal aos países que passam por mais dificuldades (chamam de federalismo fiscal), isso pode ser uma compensação positiva.


504 - A extensão do comércio intraeuropeu, no entanto, não é grande o suficiente para dar uma explicação definitiva para crermos que a própria União Europeia seja uma área de moeda ideal. (...) Baldwin estima que o euro aumentou os níveis de comércio mútuo de seus usuários somente em cerca de 9%, com a maioria dos efeitos ocorrendo no primeiro ano, 1999. (...) as discrepâncias de preços intraeuropeus realmente diminuíram ao longo da década de 1990. Eles não acharam evidências, no entanto, de maior convergência de preço após a introdução do euro em 1999.


505 - Mobilidade da mão-de-obra (língua e cultura certamente contam): as diferenças nas taxas de desemprego regional são menores e menos persistentes nos Estados Unidos do que as diferenças entre as taxas de desemprego nacional na União Europeia.




506 - A farra do crédito nos anos 2000 levou a um boom habitacional também na Europa, especialmente na Irlanda e na Espanha.



507 - ...Com o risco de taxa de câmbio agora eliminado entre países da área do euro, os rendimentos de títulos do governo se aproximaram da igualdade. Além disso, os mercados pareciam convencidos de que nenhum governo europeu deixaria de pagar suas dívidas (inadimplência) — afinal, nenhum país avançado em qualquer lugar tinha feito isso desde a década de 1940.


508 - ...Problema dos PIIGS na Europa: Com uma inflação mais elevada do que a da Alemanha, mas com taxas de títulos essencialmente iguais, esses países tinham menores taxas de juros reais durante meados da década de 2000, um fator que os estimulou a gastar e a aumentar a inflação ainda mais (veja a Figura 21.10 para taxas de juros reais). Surgiram pesados déficits externos. Depois, com a crise, os juros reais começaram a subir forte.





509 - ...Já não bastava a contaminação dos bancos europeus com os ativos tóxicos do mercado imobiliário dos EUA: A crise começou quando um novo governo grego foi eleito em outubro de 2009. Muito rapidamente, o novo governo anunciou uma má notícia: o déficit fiscal grego situava-se em 12,7% do PIB, mais que o dobro dos números anunciados pelo governo anterior. Aparentemente o governo anterior tinha deixado de relatar suas estatísticas econômicas por anos, e a dívida pública, na verdade, elevou-se a mais de 100% do PIB. (...) O governo grego anunciou grandes cortes no orçamento e elevou alguns impostos nos primeiros meses de 2010, mas foi logo confrontado com greves e protestos de rua. Houve medo de que os outros PIIGS passassem pelo mesmo.


510 - A ajuda aos PIIGS, especialmente no caso grego, foi bem insuficiente até 2012 ao que entendi. O BCE então reverteu uma política que anunciara anteriormente e começou a adquirir os títulos dos países devedores da zona do euro com problemas, despertando acusações de que ele estava violando o espírito do Tratado de Maastricht ao recompensar os excessos fiscais. Na verdade, a motivação do BCE foi evitar um pânico bancário, apoiando os preços dos ativos amplamente mantidos pelos bancos europeus.


511 - ...No final de 2010, a Irlanda negociou um pacote de empréstimos do EFSF de € 67,5 bilhões com a troika, composta pela Comissão Europeia, o BCE e o FMI. Portugal negociou um empréstimo da troika de € 78 bilhões em maio 2011.19 Ambos os empréstimos, como o grego, tiveram condições exigindo que os destinatários cortassem orçamentos de governo e instituíssem reformas econômicas estruturais (como a desregulamentação do mercado de mão de obra). A troika era responsável por controlar a conformidade ao acordo.



512 - A Irlanda é o exemplo mais drástico, com a dívida subindo de apenas 25% do PIB em 2007 para mais de 90% em 2010, impulsionada não só pela recessão, mas por uma ajuda financeira dos bancos que tinha conduzido ao boom de propriedade irlandês.


513 - O feedback bilateral do banco em dificuldades aos problemas de empréstimos do governo foi chamado de doom loop (literalmente “ciclo fatal”) pelos economistas. Como resultado do doom loop, o dinheiro privado fugiu dos bancos em países onde o governo estava tendo problemas com empréstimos. Esses países experimentaram uma parada brusca na concessão de empréstimos privados, e para evitar seus bancos de entrarem em colapso, o BCE teve que participar como emprestador de operações de últimos recursos em grande escala.


514 - Em março de 2012, a Grécia enfim reestruturou sua dívida pública, impondo grandes perdas aos detentores de títulos privados. No entanto, a dívida total do país caiu apenas um pouco (Figura 21.11). Então, grande parte da dívida foi realizada oficialmente (em especial pelo BCE) e, além disso, o governo grego precisou pedir dinheiro emprestado para recapitalizar os bancos nacionais, que perderam muito em consequência da inadimplência. Em junho de 2012, ministros de finanças da zona do euro estenderam à Espanha um empréstimo do SME potencialmente tão grande quanto € 100 bilhões para cobrir a recapitalização do sistema bancário debilitado. Apesar desses incrementos, Grécia e Espanha permaneceram em tumulto.


515 - Foi reconhecida a importância de certa "união bancária". Um por todos e todos por um, digamos. Recapitalização de bancos em outros países se/quando necessário. (...) Em setembro de 2012, a Comissão recomendou uma abordagem tripla à união bancária, destinada a centralizar a supervisão financeira, o seguro depósito e a resolução de bancos insolventes dentro da área do euro.


516 - Criticam a baixa mobilidade e pouca flexibilidade da mão-de-obra europeia: Na maioria dos países da União Europeia, os mercados de mão de obra permanecem altamente sindicalizados e sujeitos a taxas de emprego e regulamentos que impedem a mobilidade da mão de obra entre indústrias e regiões. O resultado tem sido níveis persistentemente altos de desemprego.


517 - Novamente um bom resumo ao final do capítulo lá.


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