Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015) - Capítulos 14 e 15

       

Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015)



Pgs. 290-318


"CAPÍTULO 14: "Taxas de câmbio e mercado de câmbio estrangeiro: uma abordagem de ativos"


259 - A "depreciação competitiva" ocorreu também na longa Crise de 29. Em setembro de 2012, quando muitas moedas de países industriais sofreram depreciação por causa do crescimento econômico lento, o ministro da fazenda do Brasil acusou os países mais ricos de travar “guerras cambiais” contra as economias de mercado emergentes mais pobres.


260 - Principais atores do mercado cambial: O comércio monetário estrangeiro entre bancos, chamado de negociação interbancária, representa muito da atividade no mercado cambial estrangeiro. Na verdade, as taxas de câmbio listadas na Tabela 14.1 são taxas interbancárias, que os bancos cobram uns dos outros. Nenhuma quantia abaixo de um milhão de dólares é comercializada nessas taxas. As taxas disponíveis para clientes corporativos, chamadas de taxas de “varejo”, normalmente são menos favoráveis do que as taxas interbancárias de “atacado”. A diferença entre as taxas de varejo e atacado é a compensação que o banco tem por fazer o negócio. Corporações, instituições financeiras não-bancárias e bancos centrais também movimentam enormes quantias. No último caso, menos, porém, sinalizam para onde pode ir o câmbio.


261 - Dólar moeda mundial (moeda veículo): Embora a transação cambial estrangeira possa igualar quaisquer duas moedas, a maioria das transações (aproximadamente 85% em abril de 2010) é troca de moedas estrangeiras por dólares norte-americanos. Isso é verdade mesmo quando a meta de um banco é vender e comprar uma moeda que não seja o dólar! Um banco que deseja vender francos suíços e comprar shekels israelenses, por exemplo, normalmente venderá seus francos por dólares e então utilizará os dólares para comprar os shekels. Embora esse procedimento possa parecer um desvio, ele na verdade é mais barato para o banco do que a alternativa de tentar encontrar proprietários de shekels israelenses que desejem comprar francos suíços. (Parece que é 85 de 200...)


262 - As taxas de câmbio futuras e spot (a normal), embora não necessariamente iguais, andam bem próximas.


263 - Um swap cambial estrangeiro é uma venda spot de uma moeda combinada com uma recompra futura dessa moeda. Por exemplo, suponha que a companhia de automóveis Toyota acabou de receber um milhão de dólares das vendas nos Estados Unidos e terá de pagar esses dólares para um fornecedor da Califórnia em três meses. O departamento de gestão de ativos da Toyota, nesse meio tempo, gostaria de investir um milhão de dólares em títulos de euro. Um swap de três meses em dólares por euros pode resultar em menores taxas de corretagem do que em duas transações separadas de venda de dólares por euros spot e venda de euros por dólares no mercado futuro. Os swaps somam uma proporção significativa de todas as transações cambiais estrangeiras.


264 - As opções podem ser escritas para muitos ativos (incluindo o câmbio estrangeiro futuro) e, como o contrato de futuros, elas são compradas e vendidas livremente. Transações futuras, swaps, contratos de futuro e opções de compra e venda são todos exemplos de derivados financeiros, que vimos no Capítulo 13.


265 - Para seguirem adiante na análise: ...estamos supondo agora que os participantes do mercado cambial estrangeiro baseiam suas demandas por ativos de moedas estrangeiras exclusivamente em uma comparação das taxas de retorno esperadas desses ativos. A razão principal para fazermos essa suposição é que simplifica nossa análise de como as taxas de câmbio são determinadas no mercado cambial estrangeiro. Além disso, os motivos de risco e liquidez para manter moedas estrangeiras parecem ser de importância secundária para muitas das questões internacionais macroeconômicas discutidas nos próximos dois capítulos.


266 - Podemos ... dizer que o mercado cambial estrangeiro está em equilíbrio quando, e somente quando, a condição de paridade de juros é mantida.


267 - (Boa parte do capítulo é um esforço tremendo pra complicar, em forma de modelo e equação, coisas simples pra quem já viu acontecendo todos esses dilemas na prática).


268 - Há polêmica sobre o quanto o famoso "carry trade" contraria a teoria da paridade de juros. Durante boa parte da década de 2000, as taxas de juros do iene japonês eram próximas de zero (como mostra a Figura 14.3), enquanto as taxas de juros australianas eram confortavelmente positivas, subindo  para mais de 7% ao ano até a primavera de 2008



269 - ...As fortes oscilações - ver 2007/08, mostram, porém, como pode ser arriscado. (...) Podemos obter algum insight desse padrão ao imaginarmos que os investidores esperam que ocorra uma valorização anual gradual de 1% do dólar australiano com alta probabilidade (digamos, 90%) e que ocorra uma grande depreciação de 40% com 10% de probabilidade. Então a taxa de valorização esperada do dólar australiano é: valorização esperada = (0,9) × 1 – (0,1) × 40 = −3,1% ao ano. A taxa de valorização esperada negativa significa que, na verdade, espera-se que o iene valorize em média em relação ao dólar australiano. Além disso, a probabilidade de ocorrer uma queda nos primeiros seis anos do investimento é somente (...) 47%, menos do que meio a meio. O padrão resultante dos retornos acumulativos poderia facilmente ser parecido com aquele mostrado na Figura 14.8. Cálculos como esse são sugestivos e, embora seja improvável que eles expliquem a magnitude completa dos retornos de carry trade, pesquisadores descobriram que as moedas de investimento estão particularmente sujeitas a quedas abruptas e as moedas de financiamento estão sujeitas a valorizações abruptas.



Pgs. 319-344


"CAPÍTULO 15: "Moeda, taxas de juros e taxas de câmbio"


270 - A moeda como meio de troca economiza os custos de pesquisa com viabilidade das trocas. Como unidade de conta: preços de mercadorias, serviços e ativos são normalmente expressados em termos de moeda. Economiza os custos de cálculos de preços relativos entre mercadorias bem diferentes.


271 - Quando falamos neste livro da oferta de moeda, referimo-­nos ao agregado monetário que a Reserva Federal norte ­americana chama de M1, isto é, a quantia total de moeda e de depósitos mantidos por famílias e empresas. (...) Uma decisão de onde colocar a linha entre dinheiro e quase dinheiro deve ser um tanto arbitrária e, portanto, controversa. (...) Moeda não paga juros. (...) com tudo igual, um aumento na taxa de juros faz cair a demanda por dinheiro.


272 - ...Além dos juros, a inflação e o PIB/renda também influenciam a oferta de moeda. Neste caso, a relação não é inversa. Maiores preços pedem mais moeda circulando. Idem para maior oferta de produtos e serviços. Enfim, são os três grandes fatores da equação de demanda por moeda.


273 - Equilíbrio (exemplo): ...Se os indivíduos detêm mais dinheiro do que desejam, dada a taxa de juros ..., eles tentarão reduzir sua liquidez utilizando uma parte do dinheiro para comprar ativos que pagam juros. Em outras palavras, os indivíduos tentarão livrar ­se do seu excesso de dinheiro emprestando ­o para outros. Entretanto, uma vez que existe um excesso agregado de oferta de moeda ..., nem todo mundo consegue ser bem ­sucedido nisso. Enfim, uma galera vai começar a oferecer taxas de juros mais baixas já que a demanda por iliquidez anda tão forte. Isso até chegar num equilíbrio com nova taxa de juros. Nessa taxa de juros, qualquer um que deseje emprestar dinheiro pode fazê-lo, porque o excesso agregado de oferta de dinheiro desapareceu, isto é, a oferta é novamente igual à demanda.


274 - Expansionismo monetário: A economia como um todo não pode reduzir sua posse de moeda, então as taxas de juros são levadas para baixo à medida que os detentores não dispostos a reter moeda corrente para emprestar saldos de moeda em excesso. Na contração monetária, é o contrário: As pessoas tentam vender ativos que pagam juros ... para reconstruir sua desgastada posse real de moeda. Já que nem todos podem ser bem ­sucedidos quando existe excesso de demanda por moeda, a taxa de juros é levada para cima até que todo mundo esteja satisfeito em manter o menor estoque real de moeda.


275 - No aumento real de renda de um país, você só consegue manter a taxa de juros no mesmo patamar se expandir também a oferta de moeda (ou seja, a curva inteira se desloca). Do contrário, a taxa de juros tende a subir pelo descompasso. 


276 - Equilíbrios combinados, levando-se em conta juros e câmbio:



277 - ...A linha inclina ­se para baixo por causa do efeito das mudanças na taxa de câmbio atual sob as expectativas de depreciação futura: um fortalecimento do dólar hoje (uma queda em E$/€) em relação ao seu nível futuro esperado dado faz os depósitos de euro serem mais atraentes por levar as pessoas a anteciparem uma depreciação mais acentuada do dólar no futuro. (...) Na interseção das duas linhas (ponto 1’), as taxas de retorno esperadas em depósitos de dólar e de euro são iguais e, portanto, a paridade de juros é mantida. E 1 $/€ é a taxa de câmbio de equilíbrio.


278 - ... as taxas de juros do dólar são medidas a partir de 0 no eixo horizontal e a oferta real de moeda norte ­americana é medida a partir de 0 no eixo vertical descendente. (...) O mercado financeiro norte­americano determina a taxa de juros do dólar, o que por sua vez afeta a taxa de câmbio que mantém a paridade de juros.


279 - Ocorrerá que expansionismo ou contração monetária mexerão com os juros, o que, pela teoria da paridade, irá mover o câmbio de equilíbrio.



280 - Nas páginas seguintes, o modelo irá "mudar". Nossa análise de curto prazo da ligação entre os mercados monetários dos países e o mercado cambial estrangeiro apoiou ­se na suposição simplificadora de que os níveis de preço e as expectativas da taxa de câmbio eram dados.


281 - O que é o equilíbrio de longo prazo? Você pode pensar no equilíbrio de longo prazo como o equilíbrio que seria mantido após todos os salários e preços terem tido tempo suficiente para ajustar seus níveis de equilíbrio de mercado. Uma forma equivalente de pensar nisso é como o equilíbrio aconteceria se os preços fossem perfeitamente flexíveis e sempre ajustados de imediato para preservar o emprego pleno.


282 - Moeda neutra no longo prazo: ...Em especial, se a economia está inicialmente em pleno emprego, um aumento permanente na oferta de moeda eventualmente será seguido por um aumento proporcional no nível de preço. (Penso uma possível exceção: o acúmulo permanente no nível percentual de reservas bancárias não-utilizadas. São moeda? Num cenário longo de juros zero então...)


283 - ...Lembram, porém, que a produção, a taxa de juros e a função da demanda agregada por moeda real podem mudar por razões que não têm nada que ver com a oferta de moeda. Mudanças na produção como resultado de acúmulo de capital e avanço tecnológico (por exemplo, computadores mais poderosos) e o comportamento da demanda por moeda podem mudar como resultado de tendências demográficas ou inovações financeiras, como instalações de transferência eletrônica de dinheiro.



284 - Taxa de câmbio e oferta de moeda: Suponha que o governo norte ­americano substitua cada par de dólares “velhos” com um “novo” dólar. Então, se a taxa de câmbio dólar/ euro fosse 1,20 dólar velho por euro antes da reforma, depois ela mudaria imediatamente para 0,60 dólar novo por euro. Da mesma forma, uma redução para a metade da oferta de moeda norte ­americana iria eventualmente fazer com que o dólar fosse valorizado a partir de uma taxa de câmbio de 1,20 dólares/euro para uma de 0,60 dólares/euro.


285 - Rigidez dos preços gera efeitos no curto prazo: Muitos preços na economia ... são definidos em contratos de longo prazo e não podem ser alterados imediatamente quando as mudanças na oferta de moeda ocorrem. O exemplo mais visível disso são os salários. No mais... a taxa de câmbio é muito mais variável do que os níveis de preço relativo, um fato consistente com a visão de que os níveis de preço são relativamente rígidos no curto prazo. Teve mês que viu apreciação/desvalorização de moeda (forte!) em mais de 10%, por exemplo. A situação cambial muitas vezes antecipa os movimentos dos preços da nação (e ajuda a reforçar, via importados e tal. Quase profecia autorrealizável).


286 - Desde a Revolução Francesa, existiram trinta episódios registrados de hiperinflação: uma inflação aparentemente explosiva e incontrolável na qual o dinheiro perde valor rapidamente e pode até cair em desuso. Todas as hiperinflações foram impulsionadas por um crescimento massivo na oferta de moeda, começando com a emissão de uma moeda em papel pelo governo revolucionário francês, chamada de assignats, para pagar por suas necessidades de despesas.


287 - Zimbábue e a hiperinflação pra financiar a guerra: ...a taxa de câmbio da moeda, embora oficialmente controlada pelo governo, sofreu depreciação rapidamente em um mercado negro paralelo em que as forças de mercado prevaleceram. (...) Várias "reformas monetárias" foram acontecendo pra tentar manter a senhoriagem cada vez mais impossível. (...) Ainda outra reforma monetária, em 3 de fevereiro de 2009, criou o quarto Z$, equivalente a 1 trilhão das unidades monetárias anteriores. No começo de 2009, entretanto, a hiperinflação estava chegando a um fim por si só, porque as pessoas estavam evitando o instável Z$ e, em vez dele, recorreram a moedas estrangeiras como o dólar norte‑americano, o randi sul africano e o pula de Botsuana. (...) Um novo governo de coalizão legalizou a utilização de moeda estrangeira, suspendeu o estatuto de curso legal do Z$ e anunciou que conduziria todas as suas transações em dólares norte‑americanos.


288 - Ainda sobre efeitos de curto prazo de um expansionismo monetário: Um aumento na oferta de moeda tem um efeito expansionista na economia, aumentando a demanda total por mercadorias e serviços. Para suprir essa demanda, os produtores de mercadorias e serviços devem empregar hora extra para os trabalhadores e fazer novas contratações. Mesmo se os salários são dados no curto prazo, a demanda adicional por mão de obra permite aos trabalhadores pedirem maiores salários na próxima rodada de negociação. Os produtores estão dispostos a pagar esses salários altos porque sabem que em uma economia em expansão não será difícil repassar esses custos para os consumidores por meio dos preços dos produtos


289 - Expansionismo monetário e longo prazo:



290 - ...Em sua depreciação inicial após o aumento na oferta de moeda, a taxa de câmbio salta de E 1 $/€ até E 2 $/€, uma depreciação maior do que a de longo prazo, de E 1 $/€ para E 3 $/€. Por que não vai direto? Por que leva esse tempo aí? Superar é uma consequência direta da rigidez de curto prazo do nível de preço. Em um mundo hipotético, no qual o nível de preço poderia ser ajustado imediatamente para o novo nível de longo prazo após um aumento da oferta de moeda, a taxa de juros do dólar não cairia, porque os preços ajustariam imediatamente e impediriam que a oferta real de moeda aumentasse. Portanto, não existiria necessidade de superação para manter o equilíbrio no mercado de câmbio estrangeiro. A taxa de câmbio manteria o equilíbrio simplesmente subindo de imediato para seu novo nível de longo prazo.


291 - “Paradoxo” de a inflação maior do que esperada causar valorização da moeda em vez de depreciação? Existe num cenário de credibilidade do BC. Se é sabido que este vai atacar a inflação com subida eficaz do juros, não se pode apostar na desvalorização cambial. (A forma que eles explicam eu achei mais confusa, então estou usando apenas minhas palavras aqui, pois creio que é uma questão simples).


292 - Enfim, metas de inflação de um BC crível parecem defender a moeda da "inflação inesperada". Um estudo analisou dez países e chegou aos seguintes resultados: 1. Em média, para as dez moedas estudadas, as notícias de que a inflação está inesperadamente alta de fato leva a uma valorização da moeda e não depreciação. (...) 2. O efeito é mais forte para a inflação de núcleo do que para a global. (...) 3. O efeito é muito mais forte para os países com meta de inflação do que para os Estados Unidos e o Japão, os dois países que não anunciaram metas de inflação. No caso do Canadá, por exemplo, o anúncio de uma taxa de núcleo de inflação anual que é 1% ao ano acima da expectativa do mercado leva a uma apreciação imediata do dólar canadense em torno de 3% em relação ao dólar estadunidense. O efeito correspondente para a taxa de câmbio estadunidense dólar/euro, embora na mesma direção, é somente em torno de um quarto maior. (...) 4. Para países nos quais as séries de dados sufi‑ cientemente longas estão disponíveis, o efeito do reforço da inflação inesperada na moeda está presente após a introdução da meta de inflação, mas não antes.


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