Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015) - Capítulos 11 e 12

     

Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015)



Pgs. 235-246


"CAPÍTULO 11: "Política comercial nos países em desenvolvimento"


196 - Pedem ao menos cuidado na estratégia da substituição de importações para proteger a indústria nascente. Primeiro, não é sempre uma boa ideia tentar entrar hoje nas indústrias que terão vantagem comparativa no futuro. (...) Os fatores têm que estar prontos, digamos assim. Na década de 1980, por exemplo, a Coreia do Sul tornou‑ ‑se exportadora de automóveis. Provavelmente não teria sido uma boa para a Coreia do Sul tentar desenvolver sua indústria na década de 1960, quando o capital e o trabalho qualificado ainda eram bem escassos.


197 - Adicionam críticas: Alguns economistas avisaram sobre o argumento da “indústria pseu‑ donascente”, no qual uma indústria começa protegida, então se torna competitiva por razões que não têm nada a ver com a proteção. Nesse caso, a proteção da indústria nascente acaba parecendo um sucesso, mas pode ter sido na verdade um custo líquido para a economia.


198 - Creem que o governo não deve se meter no que o setor privado não faz por si só: Em países desenvolvidos, ao menos, os investidores frequentemente apoiam projetos cujos retornos são incertos e repousam no futuro. Até admitem as falhas de mercado: custos de "startup" podem resultar em benefícios apropriados por terceiros, o que leva a um investimento subótimo ou inexistente. Ou então os mercados de capitais são imperfeitos, falhando na alocação de recursos. Entretanto... Na prática, é difícil avaliar quais indústrias realmente justificam o tratamento especial, e há risco de que a política destinada a promover o desenvolvimento acabe sendo capturada por interesses especiais. Existem muitas histórias de indústrias nascentes que nunca cresceram e continuam dependentes da proteção.


199 - Década de 50 e 60: Nos maiores países em desenvolvimento, os produtos nacionais quase que completamente substituíram mercadorias de consumo importadas (embora a produção tenha sido frequente‑ mente feita pelas empresas multinacionais estrangeiras).


200 - O México foi protecionista por décadas até passar por crise nos anos setenta e decidir mudar tudo nos oitenta. Entre 1985 e 1988, o México reduziu drasticamente suas tarifas aduaneiras e retirou a maior parte de suas quotas de importação, que anteriormente protegiam sua indústria. A nova meta da política era transformar o país em um grande exportador de mercadorias manufaturadas, intimamente integrado com a economia norte‑americana. A chegada do NAFTA, em 1990, fez pouco para reduzir as barreiras de comércio, porque o México já tinha feito o trabalho duro da liberalização do comércio na década de 1980. O NAFTA, entretanto, reassegurou aos investidores que a mudança na política não seria revertida. (...) Em 1980, as exportações mexicanas eram somente 10,7% do PIB, e muito disso era do petróleo. Em 2012, estavam em 34% do PIB, principalmente manufaturas. Porém, o crescimento econômico foi tímido no período.


201 - Coloca que a substituição de importações deu bem ruim em alguns países: A Índia era mais pobre em relação aos Estados Unidos em 1980 do que em 1950, o primeiro ano após alcançar sua independência.


202 - A proteção à indústria nascente nem sempre vai funcionar se o país tiver problemas estruturais, como falta de mão-de-obra qualificada. Uma quota de importação pode permitir que um setor manufatureiro ineficiente sobreviva, mas não pode tornar o setor mais eficiente diretamente


203 - ...Parte do problema era que muitos países utilizavam métodos excessivamente complexos para promover suas indústrias nascentes. Isto é, eles utilizavam quotas de importação elaboradas e frequentemente sobrepostas, controles de câmbio e regras de conteúdo nacional em vez de simples tarifas aduaneiras. É muito difícil determinar quanta proteção uma regra administrativa pode de fato fornecer, e estudos mostram que o grau de proteção é geralmente alto e mais variável nas indústrias do que o governo pretendia. Como a Tabela 11.2 mostra, algumas indústrias na América Latina e no sul da Ásia foram protegidas por regras que eram equivalentes a taxas de tarifa de 200% ou mais.


204 - Mercados pequenos foi outro fator: A concorrência por esses lucros normalmente leva várias empresas a entrar em um mercado que não tem espaço nem mesmo para uma delas, e a produção é feita em uma escala altamente ineficienteA resposta para o problema de escala para países pequenos é, como observado no Capítulo 8, especializar‑se na produção e exportação de uma variedade limitada de produtos e importar outras mercadorias. A industrialização de substituição de importação elimina essa opção focando a produção industrial no mercado nacional.


205 - Após 1985, muitos países em desenvolvimento reduziram tarifas aduaneiras, retiraram as quotas de importação e, no geral, abriram suas economias para concorrência da importação. Importações e exportações de quase todos os países cresceram em relação ao PÌB.



206 - As taxas de crescimento no Brasil e em outros países latino‑americanos têm, na verdade, sido mais lentas, desde a liberalização do comércio no fim da década de 1980 do que eram durante a industrialização de substituição de importação. A Índia, por outro lado, tem vivenciado uma aceleração impressionante de crescimento — mas como veremos bem na próxima seção deste capítulo, existe uma intensa disputa sobre quanto dessa aceleração pode ser atribuído à liberalização do comércio.


207 - ...parece justo dizer que as histórias de sucesso na Ásia demonstram que os defensores da industrialização de substituição estavam errados: é possível alcançar desenvolvimento mediante um crescimento orientado para a exportação. (Ou não, pois a substituição de importações imperou em alta numa primeira fase... De toda forma, a orientação exportadora é incontestável).



208 - Nota-se, por exemplo, que a Índia, o extremo da substituição de importações, foi "fechada ao comércio" por décadas, tendo crescido muito pouco no período. A aceleração do crescimento veio com a abertura. (Enfim, história inversa a do Brasil). ...Outros apontam que o crescimento indiano começou a acelerar por volta de 1980, considerando que as grandes mudanças na política de comércio não ocorreram até o começo de 1990. O que quer que tenha causado a mudança, a transição indiana tem sido um desenvolvimento bem‑vindo. (Rodrik).



Pgs. 247-265


"CAPÍTULO 12: "Controvérsias na política comercial"


209 - Subsidiar as indústrias de alta tecnologia, no qual o investimento em conhecimento é a parte chave do negócio? Onde tais externalidades (benefícios que são revertidos para partes diferentes das empresas que os produziram) podem mostrar‑se importantes é o indício de um bom caso para subsidiar a indústria. Às vezes basta uma engenharia reversa pra imitar.


210 - Krugman e etc. afirmam que é muito difícil focar na pesquisa em si ao se apoiar ativamente uma iniciativa do tipo. Há inovação fora do setor de tecnologia e há atividades não-inovadoras no setor e dentro das empresas.


211 - Quando começa esse tipo de preocupação. Mais ou menos anos oitenta. De modo mais notável, entre 1978 e 1986, a parcela norte‑americana na produção mundial de chips de memória RAM, um componente‑chave de muitos dispositivos eletrônicos, caiu de cerca de 70% para 20%, enquanto a parcela japonesa aumentou de 30% para 75%.



212 - Argumento diferente: Durante a década de 1980, um novo argumento para o direcionamento industrial recebeu substancial atenção teórica. Originalmente proposta pelos economistas Barbara Spencer e James Brander da Universidade de British Columbia, esse argumento identifica a falha de mercado que justifica a intervenção do governo como a falta de concorrência perfeita.


213 - ...É um problema que acaba sendo estrutural: ...Em determinadas indústrias, eles apontam que existem somente algumas empresas em concorrência efetiva. Por causa do número pequeno de empresas, os pressupostos de concorrência perfeita não são aplicados. Em particular, normalmente existirão retornos em excesso, isto é, as empresas terão lucros acima dos investimentos de igual risco que poderão ganhar em outra parte da economia. Existirá, portanto, uma concorrência internacional para ver quem consegue esses lucros. (...) essa captura de lucros dos competidores estrangeiros poderia significar que o subsídio aumenta a renda nacional à custa de outro país.


214 - Simula um exemplo interessante: numa espécie de duopólio (inicialmente_, a produção de um novo item pode conferir imensa vantagem lucrativa a quem chegar primeiro. Se a segunda resolver imitar, ambas terão prejuízo. O mercado não comporta. Porém, se o governo entra, por exemplo, com subsídio de 25% à segunda, pode compensar a perda, tornando até bem lucrativa a produção. Assim a segunda entra. Só que aí a primeira, sem subsídio do seu governo, passa a ter prejuízo. Perde sua vantagem. Melhor sair... Enfim, dá pra ver já o problema.


215 - ...Mas nada é tão simples: ...Os críticos argumentam que fazer uso prático da teoria demandaria mais informação do que é possível estar disponível, que tais políticas correriam o risco de retaliação estrangeira e que, nesse caso, as políticas nacionais de comércio e a política industrial impediriam a utilização de ferramentas de análise sutis. (...) se o governo entender errado, uma política de subsídio pode tornar‑se um equívoco dispendioso. Os dados do jogo perde-ganha não são tão autoevidentes. Parece que a conveniência das políticas de comércio estratégicas depende de uma leitura exata da situação


216 - ...Mesmo uma política que seja bem‑sucedida em dar às empresas norte‑americanas uma vantagem estratégica em uma indústria, tenderá a causar desvantagem estratégica em outro lugar. Para perguntar se a política é justificada, o governo estadunidense teria de pesar esses efeitos de compensação


217 - ...Políticas estratégicas são políticas de empobrecimento do vizinho que aumentam nosso bem‑estar à custa de outro país. Essas políticas, portanto, arriscam uma guerra comercial que deixam todos em pior situação.


218 - Japão e o protecionismo nos semicondutores: Os observadores também afirmaram que o mercado japonês protegido (se esse era mesmo o caso) promovia indiretamente a capacidade japonesa de exportar semicondutores. O argumento era assim: a produção de semicondutores é caracterizada por uma curva de aprendizado íngreme (lembre‑se da discussão das economias de escala dinâmica no Capítulo 7). Com a garantia de um mercado nacional grande, os produtores japoneses de semicondutores tinham certeza de que seriam capazes de trabalhar para descer a curva de aprendizado, o que significava que eles estavam dispostos a investir em novas fábricas que também poderiam produzir para a exportação.


219 - ...Porém, Krugman e etc. colocam que, no mínimo, a estratégia não deu certo no nível que se esperava: ...durante a década de 1990, as duas justificativas para mirar nas memórias RAM (externa‑ lidades tecnológicas e retornos em excesso) aparentemente não se materializaram. De um lado, a liderança do Japão em memórias RAM por fim não foi traduzida em uma vantagem em outros tipos de semicondutores: por exemplo, as empresas norte‑americanas mantiveram uma liderança segura em microprocessadores. Por outro lado, em vez de continuar diminuindo, o número de produtores de memória RAM começou a aumentar de novo, com os principais novatos da Coreia do Sul e de outras economias recém‑industrializadas. No fim na década de 1990, a produção de memória RAM foi considerada um negócio de commodities: muita gente podia fazer memórias RAM e não havia nada especialmente estratégico sobre o setor. (...) no fim, ela não rendeu nem fortes externalidades nem retornos em excesso.


220 - Sobre movimento antiglobalização, o evento de Seattle em 99 tinha a ver com os desdobramentos da Rodada Uruguai. No fim, a reunião foi considerada um fracasso. A maior parte dos experts em política de comércio acredita que a reunião teria fracassado mesmo na ausência das manifestações, mas o movimento antiglobalização ao menos pareceu interromper uma importante conferência internacional.


221 - ...Ao discutirem as demandas do movimento, colocam o exemplo das maquiladoras mexicanas, que foram impulsionadas pelo NAFTA: Os oponentes do acordo de livre comércio argumentaram que ao tornar mais fácil para os empregadores substituírem trabalhadores de altos salários nos Estado Uni‑ dos por trabalhadores de baixos salários no México o acordo tinha prejudicado a mão de obra nos dois lados da fronteira. Krugman e etc. veem como normal tendo em vista a diferença de produtividade média entre os trabalhadores de cada país. No caso específico das maquiladoras, os economistas argumentam que embora os salários sejam muito baixos comparados com os salários nos Estados Unidos, a situação é inevitável por causa da falta de outras oportunidades no México, que tem uma produtividade bem menorNa verdade, o rápido aumento de empregos nessas fábricas indica que os trabalhadores preferem os empregos que eles encontram lá aos alternativos.


222 - Propostas de melhoria? Mais liberal impossível: certificados de bom pagamento ao trabalho. Como os consumidores podem escolher comprar somente mercadorias “certificadas”, eles ficam em melhor situação, pois se sentem melhor sobre suas compras. Os próprios proponentes colocam não mudaria muita coisa, mas... "faz mais bem do que mal".


223 - Um passo mais firme seria incluir padrões trabalhistas formais, isto é, condições que as indústrias de exportação devem seguir como parte dos acordos de comércio. Tais padrões têm apoio político considerável em países desenvolvidos. De fato, o presidente Bill Clinton falou a favor desses padrões na desastrosa reunião de Seattle, descrita anteriormente. (...) O argumento econômico a favor dos padrões trabalhistas em acordos de comércio é similar ao argumento em favor da taxa do salário mínimo para os trabalhadores nacionais: embora a teoria econômica sugira que o salário mínimo reduz o número de trabalhos de baixa qualificação disponíveis, alguns (mas de forma nenhuma todos!) economistas razoáveis argumentam que tais efeitos são pequenos e ultrapassados pelo efeito do salário mínimo em aumentar a renda dos trabalhadores que continuam empregados. Há o mesmo debate sobre a inclusão de normas ambientais. 


224 - ...E a aplicação seletiva da lei? Uma preocupação em especial (na verdade, foi uma das preocupações que levou ao fim das conversas em Seattle) é que os padrões trabalhistas seriam utilizados como base para processos judiciais contra as companhias estrangeiras, similar à forma com a qual a legislação de antidumping foi utilizada por companhias privadas para incomodar os concorrentes estrangeiros.


225 - OMC interfere na soberania nacional? Os defensores da OMC apontaram, que a decisão foi baseada no fato de que os Estados Unidos estavam aplicando diferentes padrões para as importações e para a produção nacional. Afinal, algumas refinarias norte‑americanas fornecem gasolina que é mais poluente do que a média, e ainda é permitido que elas continuem operando. Então a decisão com efeito impediu a venda de gasolina poluente da Venezuela nos mercados estadunidense, mas permitiu a venda de gasolina igualmente poluente de uma refinaria nacional. Se a nova regra aplicasse os mesmos padrões para a gasolina nacional e estrangeira, ela teria sido aceita pela OMC.


226 - Colocam que o boicote, por si só, aos produtos feitos em condições de trabalho degradante podem em nada ajudar àqueles trabalhadores especificamente. Exemplifica com a indústria de exportação de tecidos de Bangladesh, que possivelmente acabaria se tivesse que remunerar melhor o trabalho. (salvo se todo mundo que faz igual fosse boicotado, por mais que isso custasse ao consumidor...)


227 - ...Em novembro de 2007, o governo do primeiro‑ministro australiano John Howard foi retirado do poder pela votação. A maioria dos analistas políticos acredita que a derrota decisiva do partido que estava no governo teve muito a ver com as impressões públicas de que o Partido Liberal da Austrália (que é, na verdade, conservador – os trabalhadores são a esquerda) não estava disposto a agir contra as ameaças ambientais.


228 - ...os países mudam o mix de sua produção e consumo conforme ficam mais ricos, até o ponto em que tendem a reduzir o impacto ambiental. Por exemplo, ao mesmo tempo em que a economia norte‑americana se dedica cada vez mais à produção de serviços em vez de mercadorias, ela tende a utilizar menos energia e matéria‑prima por dólar do PIB. Haveria uma curva ambiental de Kuznets. Talvez a China tenha passado do topo dela agora. (...) quando um país fica suficientemente rico, ele pode arcar com as ações para proteger o meio ambiente.


229 - Desmonte de navios e como, em alguns casos, a globalização aumentará a poluição: ...Realmente, Alang tornou‑se um refúgio da poluição: graças ao comércio internacional, uma atividade econômica sujeita a fortes controles ambientais em alguns países pode ser feita em outros países com regulamentações menos rigorosas. Apesar do exemplo, minimizam tal problema (referenciados em um estudo de 2004 no rodapé): ...não existe muita evidência de que indústrias “sujas” mudaram ‑se para países com regulamentação ambiental permissiva. Mesmo no caso da indústria de desmonte de navios, os baixos salários indianos parecem ter sido mais atrativos do que suas frouxas restrições ambientais.

 

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