Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015) - Capítulos 4 e 5
Livro: Krugman et al. - Economia Internacional (2015)
Pgs. 63-87
"CAPÍTULO 4: "Fatores específicos e distribuição de renda"
30 - Mobilidade nas indústrias e mudanças significativas nas demandas dos diversos setores, das indústrias básicas às finais: Embora o comércio possa beneficiar uma nação como um todo, muitas vezes ele prejudica grupos significativos dentro do país em curto prazo e, potencialmente, mas em menor grau, também no longo prazo.
31 - ...Exemplificam com o Japão e sua escassez de terras: Há poucas dúvidas de que o Japão como um todo teria um padrão de vida melhor se a livre importação de arroz fosse permitida. Os agricultores japoneses, no entanto, seriam prejudicados pelo livre comércio.
32 - ...Os exemplos mais recentes são a tarifa de 35% imposta aos pneus (importados da China) durante o primeiro mandato de Barack Obama e uma tarifa de 30% sobre as importações de aço durante o primeiro mandato de George W. Bush. A produção de aço e pneus está concentrada em Ohio, estado chave de definição de várias eleições presidenciais dos Estados Unidos no passado.
33 - O modelo de fatores específicos foi desenvolvido por Paul Samuelson e Ronald Jones. Vai além do ricardiano. A mão-de-obra é o fator que pode se mover entre setores. As máquinas e instalações geralmente não. Enfim, o capital é bem mais imóvel e pode ser perdido/depreciado fortemente. A mão-de-obra no mínimo se realoca com menores perdas. Algum tempo depois o sujeito encontra nova ocupação e etc.
34 - ...Basicamente, o modelo usa fronteiras de possibilidade de produção baseadas na produtividade marginal dos fatores.
35 - No modelo ricardiano, em que a mão de obra é o único fator de produção, a fronteira de possibilidade de produção é uma linha reta, porque o custo de oportunidade de tecido em termos de alimento é constante. Entretanto, no modelo de fatores específicos, a adição de outros fatores de produção altera a forma da fronteira de possibilidade de produção PP para uma curva. A curvatura de PP reflete os rendimentos decrescentes para a mão de obra em cada setor. Estes rendimentos decrescentes são a diferença crucial entre o modelo de fatores específicos e o modelo ricardiano. (...) A inclinação de PP, que mede o custo de oportunidade de tecido em termos de alimentos.
36 - ...(Enfim, mero aperfeiçoamento do encaixe na realidade. Entra a função de produção como um todo em vez de ficar restrito à produtividade da mão-de-obra. Na prática, o resultado na maioria das vezes vai ser parecido, creio.)
37 - Simulações de aumento de preço relativo. Nada muito fora da intuição:
38 - ...Sobre a distribuição de renda, também nada muito fora da intuição: Os trabalhadores acham que sua taxa salarial aumentou, mas menos do que em proporção ao aumento de Pt . Assim, seu salário real em termos de tecido (a quantidade de tecido que podem comprar com seus rendimentos salariais), w/Pt , cai, enquanto seu salário real em termos de alimentos, w/Pa , sobe. Dada essa informação, não podemos dizer se os trabalhadores vão melhor ou pior. Isso depende da importância relativa do tecido e dos alimentos no consumo dos trabalhadores (determinado por suas preferências), uma questão em que não nos aprofundaremos mais.
39 - A abertura econômica leva a uma variação de preço relativo. O resultado geral, então, é simples: o comércio beneficia o fator específico para o setor de exportação de cada país, mas prejudica o fator específico para os setores que concorrem com a importação, com efeitos ambíguos sobre os fatores móveis. (...) aqueles que perdem mais com o comércio (pelo menos no curto prazo) são os fatores imóveis no setor que concorre com a importação. Isso inclui trabalhadores que terão suas habilidades "dispensadas". Ressaltam, ainda, que é sempre possível redistribuir renda, de tal forma que todos ganhem com o comércio.
40 - Sobre redistribuição da renda, lembram que é um fenômeno que ocorre o tempo todo na economia por mil motivos, inclusive evolução tecnológica ou mudanças de preferências internas que existem com abertura ou não. Ademais, "é sempre melhor permitir o comércio e compensar aqueles que estão prejudicados por ele do que proibi-lo".
41 - Os Estados Unidos limitaram as importações de açúcar por muitos anos; nos últimos 25 anos, o preço médio do produto no mercado estadunidense tem sido cerca de duas vezes o do mercado mundial. Um estudo de 2000 feito pelo General Accounting Office dos Estados Unidos estima que aquelas restrições à importação e os preços maiores associados ao açúcar geraram perdas anuais de 2 bilhões de dólares para os consumidores dos EUA. O estudo foi atualizado recentemente em 2013, e esse custo subiu acima de 3 bilhões de dólares, representando US$ 10 por ano para cada homem, mulher e criança. (...) Como resultado, a maioria dos consumidores desconhece que a quota de importação sequer existe, ainda mais que reduz seu nível de vida. Daí a dificuldade de dar uma paulada no setor. (...) Claro, as restrições do comércio de fato impedem as perdas de emprego para os trabalhadores, mas o custo ao consumidor por trabalho economizado é astronomicamente alto: mais de 3 milhões de dólares por posto de trabalho poupado. Além disso, as restrições de importação também reduzem o emprego em outros setores que dependem de grandes quantidades de açúcar em seus processos de produção. Em resposta aos preços elevados do produto nos Estados Unidos, por exemplo, as empresas de fabricação de doces mudaram seus sítios de produção para o Canadá, onde os preços do açúcar são substancialmente mais baixos.
42 - Outro problema de transição é o desemprego como um todo: A abertura ao comércio desloca os empregos dos setores concorrentes de importação para os setores de exportação. Como já discutimos, esse processo não é instantâneo e impõe alguns custos muito reais. Ressalta-se, porém, que essa onda é menor do que se pensa e que há pouca correlação, nos EUA, entre abertura e desemprego. (E nos outros países? Não estão na fronteira tecnológica). Durante 2001 a 2010, as ondas de desemprego causadas pela concorrência das importações ou realocações ao exterior representaram menos de 2% dos deslocamentos involuntários totais associados com demissões em massa estendida.
43 - E mobilidade de mão-de-obra? Na média, daria ganhos também. ...como é o caso dos ganhos do comércio internacional, a mobilidade internacional da mão de obra, ao permitir em princípio que todos possam ficar melhor, na prática deixa alguns grupos pior.
44 - Sobre a história das imigrações, colocam que da metade para o fim do século XIX até antes da primeira guerra, houve intenso fluxo entre os países. E há evidências de certa equalização de salários nas ocupações devido a isso.
45 - EUA recebem todo tipo de imigrantes, mas há dois bastante representativos enquanto fração total da categoria: os de muito baixa qualificação e os de muito alta.
46 - ...No geral, há estimativas até de que isso acabe aumentando a renda média. Porém, os trabalhadores de baixa instrução nos EUA acabam realmente sofrendo com a concorrência. Quanto ao PIB e gasto fiscal, as estimativas beiram a neutralidade.
Apêndice do Capítulo 4: mais detalhes sobre os fatores específicos
47 - Ao que entendi, nada de novo. Só o já explicado, só que em linguagem mais chata.
Pgs. 88-113
"CAPÍTULO 5: "Recursos e comércio: o modelo de Heckscher-Ohlin"
48 - É também referida como a teoria das proporções dos fatores.
49 - Começa com uns exemplos/hipóteses de fronteiras de possibilidade de produção (sei lá o porquê) de dois produtos a partir de dois insumos e duas tecnologias já dadas:
50 - ...No ponto 3 de produção, a economia está empregando todos os seus recursos próprios de mão de obra e capital (1.500 máquina‑horas e 1.500 trabalho‑horas na produção de tecido; e 1.500 máquina‑horas junto com 500 trabalho‑horas na produção de alimentos).
51 - Agora vamos tornar o modelo mais realista e permitir a possibilidade de substituição de capital por mão de obra, e vice‑versa, na produção. Essa substituição remove a irregularidade na fronteira de possibilidade de produção. Em vez disso, a fronteira PP tem a forma curva mostrada na Figura 5.2.
52 - ...Acrescentam que a fronteira de possibilidade de produção vai tocar a linha de isocusto mais alta.
53 - Há uma relação correspondente entre w /r e a proporção capital‑mão de obra na produção de tecido. Essa relação é mostrada na Figura 5.5 pela curva do TT. Como traçado, TT é deslocada para fora em relação à AA, indicando que para quaisquer preços dos fatores determinados, a produção de tecido sempre usará mais mão de obra em relação ao capital do que a produção de alimentos. Quando isso é verdade, dizemos que a produção de tecido é mão de obra‑intensiva, enquanto a de alimentos é capital‑intensiva.
54 - ...As curvas TT e AA na Figura 5.5 são chamadas de curvas de demanda dos fatores relativos. (Sinto que esse livro repete muita coisa de micro de forma mais apressada. Gostei mais de Varian).
55 - Efeito de Stolper-Samuelson: a distribuição de renda vai mudar pelas variações de preços relativos. A proporção entre os preços de mercadorias e os preços dos fatores e tal. Se o preço (relativo! não o absoluto) aumenta em setores "trabalho-intensivos", os trabalhadores tendem a ganhar poder real de compra. Se é o contrário, perde.
56 - Abundância de fator melhora o custo-oportunidade de usá-lo (creio que é isso, que o trabalho, abaixo, ficou relativamente mais barato):
57 - Um aumento da oferta de mão de obra expande as possibilidades de produção desproporcionalmente na direção da produção de tecido, enquanto um aumento na oferta de capital amplia desproporcionalmente as possibilidades na direção da produção de alimentos. É a expansão tendenciosa das possibilidades de produção.
58 - Estoque de trabalho pelo estoque de capital vai determinar qual país é abundante no quê. EUA produzirão avião e o México produzirá pano. Convergência dos preços relativos e comércio internacional:
59 - Os proprietários de fatores abundantes de um país ganham com o comércio, mas os proprietários de fatores escassos de um país perdem. (...) Os efeitos de distribuição de renda, que surgem porque a mão de obra e outros fatores de produção são imóveis, representam um problema temporário, transitório (o que não quer dizer que tais efeitos não sejam dolorosos para aqueles que perdem).
60 - ...Comparados ao resto do mundo, os Estados Unidos são abundantemente dotados com mão de obra altamente qualificada, enquanto a mão de obra pouco qualificada é correspondentemente escassa. Isso significa que o comércio internacional tem o potencial de prejudicar os trabalhadores pouco qualificados dos Estados Unidos — não apenas temporariamente, mas em uma base sustentada. O efeito negativo do comércio sobre os trabalhadores pouco qualificados constitui um problema político persistente, que não pode ser remediado por políticas que proporcionam alívio temporário (como o seguro‑desemprego).
61 - Efeitos da abertura comercial cada vez maior? A distribuição dos salários nos Estados Unidos tornou‑se consideravelmente mais desigual desde a década de 1970. Naquela época, um trabalhador do sexo masculino com um salário no percentil 90 da distribuição salarial (ganhando mais do que os 90% abaixo dele, mas menos que os 10% mais bem assalariados) ganhava 3,2 vezes o salário de um trabalhador do 10o percentil inferior da distribuição. Em 2010, aquele trabalhador no percentil 90 ganhava mais de 5,2 vezes o salário do trabalhador do 10o percentil inferior. (...) Em 1980, um trabalhador com diploma universitário ganhava 40% a mais do que um trabalhador com apenas nível médio. Esse prêmio da instrução aumentou constantemente através da década de 1980 e de 1990 para 80%. Desde então, tem sido mais ou menos plana (embora as disparidades salariais entre os graduados de nível superior tenham continuado subindo).
62 - ...Alguns economistas creditam papel maior ou menos da abertura comercial nesses fatos. O crescimento da desigualdade nos EUA tem mais de um motor. Os economistas que argumentam que o papel é pequeno citam a pouca alteração nos preços relativos nas últimas décadas, por exemplo (... deveria haver uma evidência clara de aumento dos preços dos produtos qualificação‑intensivos em comparação com os preços dos produtos mão de obra não qualificada‑intensivos). Ademais, a desigualdade nos países "trabalho-pouco-qualificado-intensivos", digamos, também tem crescido ou continuado alta (citam o México). Por fim, coloca-se que o fluxo de comércio com países subdesenvolvidos ainda não é tão grande assim ao ponto de ter enorme impacto sobre a mão-de-obra total dos EUA (por exemplo) e sua distribuição de renda.
63 - ...O que, então, é responsável pelo distanciamento crescente entre trabalhadores qualificados e não qualificados nos Estados Unidos? A opinião da maioria é que o vilão não é o comércio, mas sim as novas tecnologias de produção que põem uma grande ênfase na qualificação de mão de obra (como a introdução generalizada de computadores e outras tecnologias avançadas no ambiente de trabalho).
64 - Caso empírico: EUA das últimas décadas. Com poucas exceções, os cargos de não produção exigem níveis mais elevados de instrução — e, portanto, podemos medir a proporção de empregos qualificados ‑ não qualificados em um setor como a proporção de emprego não produção para empregos de produção. Tipo peão (produção) e direção (não-produção).
65 - ...Esse aumento generalizado na maior parte dos setores da economia dos EUA é uma das principais evidências que apontam a tecnologia como explicação para os aumentos na desigualdade salarial dos Estados Unidos. Isso às vezes não terá a ver com abertura, mas outras sim: Por exemplo, alguns estudos mostram que as empresas que começam a exportar também evoluem para tecnologias de produção mais qualificação‑intensivas. A liberalização do comércio, então, pode gerar mudanças tecnológicas generalizadas ao induzir uma grande parte das empresas a fazer tais escolhas de atualização da tecnologia.
66 - Convergência dos preços nesse modelo de abertura: Para compreender como ocorre esta equalização, temos que perceber que quando Doméstica e Estrangeira fazem comércio uma com a outra, está acontecendo algo mais do que uma simples troca de mercadorias. De uma maneira indireta, os dois países estão na verdade comercializando fatores de produção.
67 - Empecilhos à convergência dos preços dos fatores: Por exemplo, um país com tecnologia superior pode ter tanto uma maior taxa salarial e uma maior taxa de aluguel do que um país com menos tecnologia. Protecionismo e custos de transportes também impedem a convergência de preço de mercadorias que levaria à de fatores. Por fim, os preços dos fatores não precisam ser equalizados entre os países com proporções radicalmente diferentes de capital para mão de obra ou de mão de obra qualificada para a não qualificada. Pois produzirão bens de composição orgânica diferente, para usar um termo marxista.
68 - ...Tudo isso faz com que, nos testes empíricos, toda a teoria do modelo não se confirme. Os EUA, por exemplo, importavam mais produtos capital-intensivo do que exportavam (embora exportassem especialmente produtos intensivos em mão-de-obra qualificada, o que até condiz parcialmente com o modelo). Num teste envolvendo 27 países, 39% não seguiu o esperado pelo modelo - não é muito melhor do que se poderia obter ao jogar aleatoriamente um “cara ou coroa”!. (...) Na verdade, o comércio de fatores acaba por ser substancialmente menor do que o modelo de Heckscher‑Ohlin prevê.
69 - Para o modelo funcionar, teriam que ser eliminados/"desequalizados" (digamos) os pressupostos que minam a convergência (levar-se em conta as diferenças de tecnologia de cada país na produção, por exemplo... e/ou as suposições de que os países produzem o mesmo conjunto de mercadorias):
70 - ...Para esse estudo, os dados necessários (que incluíram informações detalhadas sobre as tecnologias utilizadas por cada país) estavam disponíveis apenas para dois fatores (mão de obra e capital) e 10 países. (...) Na quarta e última coluna a suposição de igualação do preço de mercadorias por meio do comércio sem custo também é deixada de lado. O sucesso preditivo para a direção do comércio aumenta até 91%. Enfim, o relaxamento dos pressupostos importa mais que o modelo puro. Em outras palavras: Na realidade, a completa equalização dos fatores‑preços não é observada em virtude de grandes diferenças de recursos, barreiras ao comércio e diferenças internacionais em tecnologia.
71 - Gráfico: o que cada país (abundante em alta qualificação ou não) exporta para os EUA (ou seja, o padrão das mercadorias comercializadas entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento ... se encaixa muito bem nas previsões do modelo):
72 - O aumento da qualificação dos chineses vem se fazendo sentir:
APÊNDICE: Preços dos fatores, preços de mercadorias e decisões de produção
73 - Microeconomia que me parece ser repetição chata do que fichei em Varian e do já explicado no texto deste capítulo. Se a oferta de trabalho cresce em relação ao capital, a economia deslocará ainda mais recursos escassos (capital e mão-de-obra) para produzir o produto intensivo em trabalho, isso ainda que os preços relativos se mantenham constantes.
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