Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulo 20
Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva
Pgs. 240-253
"CAPÍTULO 20: "Crepúsculo e Sino Verspertino"
201 - EUA nunca precisaram se preocupar muito com inflação no Pós-II Guerra até meados dos anos sessenta: a taxa de inflação começou a aumentar a partir de 1966, alcançando 6 por cento em 1969/70, quase 8 por cento em 1972/73 e quase 14 por cento em 1974/75, incorporando a expressão ”inflação de dois dígitos" calamitosamente a terminologia econômica americana.
202 - Concentração industrial (poder de mercado) e sindicatos fortes era um cenário em que podia prosperar uma espiral de preços e salários.
203 - Controles de preços e salários nos anos setenta: Na Áustria, o caso mais avançado e mais bem-sucedido, instituiu-se com grande formalidade um controle salarial e um sistema equivalente de restrição aos preços - que ficou conhecido com Política Social de Mercado. Em outros países os. procedimentos foram menos formais; os salários eram negociados dentro do arcabouço dos preços existentes e dentro do objetivo geral de mantê-los estáveis. Nixon também adotou política formal do tipo entre 71 73. Tudo isso eram medidas temporárias até acharem a nova batida keynesiana perfeita. Porém, veio o choque do petróleo e desnorteou o sistema de então. Em 1975, o presidente Gerald Ford convocou alguns dos mais renomados economistas americanos para que apresentassem sugestões sobre o combate à inflação - 13,5 por cento no índice de preços ao consumidor. As prescrições se limitaram a pedir eliminação de quaisquer eventuais barreiras à concorrência. Galbraith coloca que não resolveu muita coisa. Voltaria à cena, então, o monetarismo.
204 - Sobre Friedman, o grande expoente do monetarismo, traça este breve perfil: O monopólio, o oligopólio e a concorrência imperfeita não desempenharam papéis importantes em seu raciocínio. Friedman foi um poderoso inimigo da regulamentação governamental e da atividade do governo em geral.
205 - Mesmo Friedman, porém, defendia imposto progressivo, chegando até ao chamado imposto de renda negativo. O imposto de renda, propôs ele, deveria, como sempre, cair para zero nas faixas de renda mais baixas; mas, continuou, nas faixas inferiores, o imposto de renda deveria devolver dinheiro ao contribuinte, tanto mais quanto maior fosse o grau de pobreza.
206 - Galbraith põe em dúvida as conclusões que Friedman e Schwartz tiraram dos achados estatísticos do histórico monetário dos EUA: Talvez fossem as oscilações nos preços ou no volume de transações que provocavam alterações na oferta de moeda (não o contrário). Ademais, ninguém sabia exatamente o que era moeda/dinheiro. Alguns exemplos: o que dizer de contas de poupança sacáveis por cheque ou conversíveis em contas correntes? E o que dizer do poder aquisitivo subjacente aos cartões de crédito e às linhas de crédito disponíveis mas não usadas?
207 - Enfim, para Friedman, bastava o FED pra resolver a crise. A política fiscal podia ficar quieta. Seria o contrário do que ocorreu na Era de Ouro. Ademais, contração monetária pode ser algo bom pra quem tem dinheiro pra poupar (rico). Melhor que política fiscal pra pobre, pensarão. Como, na segunda metade dos anos setenta, as políticas fiscais contracionistas não resolveram a crise, veio o monetarismo entre 79/80 (porém, Friedman criticou bastante a forma inicial como foi sendo implementado, chegando a dizer, em 1983, que se isso era monetarismo, ele tava fora, digamos assim).
208 - O início foi de estagflação (desemprego foi a quase 11%, em 1982, e o índice de falências estava nas alturas) ainda, mas depois isso mudou. No final, a inflação foi esmagada. Viu-se que a moeda não está relacionada aos preços através da magia oculta da equação de Fisher, nem da fé ou convicção de Friedman, mas através das altas taxas de juros pelas quais os empréstimos bancários (ou não) e a criação de depósitos são controlados. No início da década de 1980, as taxas de juros atingiram níveis sem precedentes nos Estados Unidos.
209 - Ainda sobre o início turbulento: as altas taxas de juros geraram um intenso fluxo de dinheiro estrangeiro para os Estados Unidos, elevando a cotação do dólar, coibindo as exportações americanas e incentivando tremendamente as importações, principalmente as de produtos japoneses. O resultado global foi a mais grave depressão econômica desde a Grande Depressão. O alto desemprego diminuía a força dos sindicatos, o que ajudava no combate à inflação também. A valorização da moeda aumentava a concorrência com produtos estrangeiros e tirava o poder dos empregadores em manter preços altos também, com setores temendo a falência. Enfim, mais ajuda pra marretar a inflação. Também os patrões pouco podiam fazer com as reivindicações salariais.
210 - Crê que há certo descompasso entre administração e propriedade (maximização do lucro pro acionista de longo prazo) da grande (gigante) empresa moderna: ...estas fusões e consórcios, substituindo a função outrora exercida pelo crescimento, constituem o caminho mais curto para o poder, o prestígio e a alta remuneração associados a uma organização de grande porte.
211 - Ainda sobre as tendências "microeconômicas" da época, Galbraith coloca: Uma relação cooperativa substitui a relação hierarquizada. Cada vez mais este tipo de relação vai tomando conta dos locais de trabalho; nas fábricas, é o operário o responsável pelo controle de qualidade, pela produtividade e pelo controle de operações cada vez mais automatizadas.
212 - Equivalência entre custos salariais marginais e receitas marginais é posta em dúvida: Esta equivalência possuía uma relevância inteligível somente no caso de uma força de trabalho basicamente homogênea, uma força de trabalho que podia ser contratada e despedida à vontade e sem qualquer grave custo para a organização. O emprego de trabalhadores e administradores altamente especializados no contexto de uma organização complexa e da sua hierarquia não permite que se calcule tão facilmente o custo e o retorno marginais da mão-de-obra.
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