Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulos 13 e 14
Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva
Pgs. 140-160
"CAPÍTULO 13: "PREOCUPAÇOES TIPICAMENTE AMERICANAS: o comércio e os trustes; o enriquecimento, a riqueza e os ricos"
124 - EUA: os lotes de 160 acres [65 hectares] garantidos pelo Homestead Act de 1862, tidos como adequados para o sustento de uma família, eram enormes pelos padrões europeus, ou por qualquer outro.
125 - Por volta do final do século, as universidades começaram a criar cátedras de economia política - que logo se chamaria simplesmente economia. Porém, a maioria de seus ocupantes restringiram-se a transmitir a ortodoxia corrente na Grã-Bretanha.
126 - O grande debate dos "primeiros tempos" era a questão da tarifa: O debate começou com o Report on Manufactures de Alexander Hamilton, “possivelmente a tese mais competente em prol do protecionismo jamais escritas". Cita Hamilton, Henry Clay e Henry Carey como baluartes dessa tradição. O Sul, agrícola, era contra. Dificultavam-se as exportações e importações de produtos baratos.
127 - Coloca que, entre 1815 e 1836, o superávit gerado pelas tarifas simplesmente eliminou a dívida federal. Cita, porém, recessões em 1837 e 1857 que reduziram as receitas aduaneiras. Ao fim da Guerra de Secessão, as forças pró-tarifa dominaram até a II Guerra. Havia um protecionismo escancarado. A fixação ”científica" das tarifas exigia agora uma equalização cuidadosa entre os custos de produção dos Estados Unidos e dos outros países. Entretanto, desde antes da virada de século, a ortodoxia britânica, defensora do livre-comércio, já defendia a mudança da política tarifária estadunidense (o que só viria ocorrer no segundo pós-guerra, quando a economia dos EUA precisava menos ainda de protecionismo). Só nos anos setenta e oitenta, com a concorrência asiática, o protecionismo voltaria a ganhar força parcial, mas agora para proteger indústrias velhas!
128 - Monopólios do fim do século XIX: O caso mais espetacular foi o da Standard Oil. Não só a empresa efetuara a consolidação de seus principais concorrentes em 1879, como não hesitou em reduzir o preço do querosene e suportar prejuízos localizados no intuito de eliminar empresas regionais ainda não consolidadas. Ao que entendi, rolava até monopsônio, já que a companhia "negociava" preços de transporte de petróleo altamente favoráveis a ela. Teve que surgir a "Lei do Comércio Interestadual", de 1887 - que pretendeu proibir as manifestações mais dolorosas de tais consórcios e a fixação arbitrária de preços, como acontecia nas ferrovias.
129 - A Lei Sherman foi a confirmação da desaprovação generalizada aos monopólios. Aprovada em 1890. Mais tarde vieram, sob Woodrow Wilson, outras leis mais específicas e mais rígidas contra os monopólios, como a Lei Antitruste Clayton e a lei que criou a Federal Trade Commission. (...) A legislação antitruste obteve o apoio dos consumidores e mais ainda dos pequenos negociantes, empresários e fazendeiros. (...) A fé na eficácia das leis antitruste conseguiu se manter mesmo diante do fato cada vez mais visível delas não terem muito efeito sobre a concentração da atividade econômica. Afirma que dois terços da produção industrial estava nas mãos das mil maiores empresas.
130 - Ao que entendi, Galbraith observa que, apesar de tudo, no mínimo as características monopolistas venceram. Se tornaram meio que regras, já que originalidade, publicidade e marketing se tornaram muito importante na diferenciação dos produtos. Todo mundo quer poder de mercado.
131 - Galbraith relembra que o darwinismo social de Spencer foi abraçado com entusiasmo pela elite americana. Beecher abraçou e foi mais longe, fundindo a coisa com religião (algo tão ao gosto dos EUA), como todo grande picareta: Spencer estava simplesmente dando expressão formal à vontade divina - ”Deus quis que os grandes fossem grandes e os pequenos fossem pequenos”. Outros, como Sumner, temiam para onde o mundo estava indo. Pressentindo as pressões políticas e a compaixão que um dia levariam ao estado do bem-estar, Sumner manteve-se obstinadamente contra ambos.
132 - Em seu tempo, e mesmo nas décadas de 1920 e 1930, Henry George foi o autor econômico americano mais divulgado, tanto nos Estados Unidos como no exterior. Ele, na verdade, foi um dos autores americanos mais lidos de qualquer gênero. George quase foi eleito prefeito de Nova Iorque. Era jornalista, mas metido a economista.
133 - Os problemas do imposto único dos "georgistas": O aumento do valor da terra está longe de ser a única forma fortuita de enriquecimento. Especuladores/investidores passivos há em todo ramo/setor. Os lucros dos outros negócios, espetaculares ou não, curiosamente não seriam tributados no modelo georgista.
134 - Galbraith coloca que, apesar de errada, a tese georgista ecoa até hoje. O especulador imobiliário é considerado intrinsecamente menos honrado do que o homem ou mulher que lucra com a compra e venda de ações, títulos, commodities ou opções. (Mas será que a especulação com terra não tem maiores externalidades negativas que as outras?)
135 - Ao que entendi, até hoje há certo respeito às terras públicas nos EUA: O socialismo não é enfaticamente reconhecido nos Estados Unidos, mas, graças a Henry George, que ninguém duvide do seu valor no que se refere aos parques nacionais, às florestas e as terras públicas.
136 - Passa a falar de Veblen. Os Veblen eram pessoas frugais mas não sem recursos. ...ele estudou economia em Cornell, indo lecionar em seguida nas universidades de Chicago, Stanford e Missouri, encerrando sua carreira na New School for Social Research em Nova York. Galbraith, pra variar, tem uma visão meio ácida sobre o sujeito (rs): ...Assim é a teoria clássica. Este estado de ânimo irreverente, quase agnóstico, passou a caracterizar todo um ramo nada desprezível do pensamento econômico americano: as ideias aceitas são suspeitas; os motivos devem ser todos questionados; as medidas governamentais, mesmo com as melhores das aparentes intenções, devem ser encaradas com ceticismo. Thorstein Veblen foi uma figura reconhecidamente destrutiva que raramente - talvez nunca - rebaixou-se a ponto de fazer uma recomendação prática.
137 - Durante um certo tempo na década de 1930 floresceu um movimento político vebleniano sob a liderança de Howard Scott: a Tecnocracia, uma estrutura econômica e política que pretendia dar total liberdade às energias produtivas dos engenheiros e de outros técnicos, restringindo a importância dos interesses comerciais. Mas o movimento teve vida curta. Galbraith aponta a dificuldade de se estabelecer qual esforço produtivo/inventivo é desperdício ou não sem o sistema baseado nos preços e lucros. Em Veblen, deve haver condições para que o trabalhador se orgulhe do trabalho.
138 - Pessoal que tem cão vai odiar o trecho de Veblen sobre os doguinhos. Mas enfim, ele coloca como legado de Veblen a ridicularização do consumo ostensivo nos EUA. Será?
Pgs. 161-173
"CAPÍTULO 14: "Remate e Juízos Críticos"
139 - Galbraith coloca que veio de Lênin a ideia de que os trabalhadores não deveriam ter compromisso com os desígnios da "pátria" (Estado Nacional). Ou seja, não deveriam servir de bucha de canhão para guerras do comitê executivo da burguesia. Na hora "H", porém, a I Guerra, o compromisso supranacional da classe trabalhadora revelou-se um mito efêmero e superficial. Se até os socialistas alemães apoiaram...
140 - Ao fim do Século XIX, os bancos centrais já vendiam títulos a fim de enxugar liquidez excessiva, quando julgavam haver muito empréstimo na praça. Banco da Inglaterra e tal.
141 - Na estabilidade da economia "marshalliana" surgiam contribuições (ou arranhões). Exemplo: ...Esta nova dimensão vem da figura central do sistema de Schumpeter, o entrepreneur, também já discutido, que, com a ajuda do crédito bancário, desafia o equilíbrio estabelecido com um novo produto, um novo processo ou um novo tipo de organização produtiva. Surge então a tendência para um reequilíbrio.
142 - Schumpeter acreditava, ainda, que o monopólio poderia ser redimido pela inovação. Esta poderia ser melhor financiada, melhor incentivada e melhor recompensada se o inovador estivesse livre das ameaças da imitação e da concorrência. Ora, tal liberdade torna-se mais possível num contexto monopolista. O mundo competitivo, em contraste, seria, em termos criativos, relativamente estéril. A tese não fez muito sucesso. Monopólios eram essencialmente mal vistos. Chamberlin e Joan Robinson tiveram mais sucesso nisso alguns muitos anos depois. Estes percebem que nem tudo era oito ou oitenta (meio que começa a surgir mais definida a noção de competição monopolística, creio). Observam o poder das marcas e etc. Certo controle do preço, como se escapasse um pouco ou muito à concorrência.
143 - ...Também surgem observações sobre os "jogos" dos oligopólios: O oligopolista inteligente (e certamente era preciso pressupor inteligência), ao fixar seu preço, consideraria atentamente qual seria o mais vantajoso para todos. E o mesmo fariam todos os outros do seu setor. Sujeitos a alguns pequenos acertos, o preço e o lucro assim obtidos não seriam significativamente diferentes dos estabelecidos por um monopólio. Um "líder reconhecido" poderia guiar a coisa. (Implicitamente, pra fugir das leis).
144 - Coloca que, com o tempo, "o jeito", no pensamento econômico, foi tolerar os oligopólios e monopólios.
145 - Lange e Kalecki passaram períodos nas universidades do Ocidente e retornaram ambos ... a cargos importantes na Polônia do pós-guerra -— Kalecki foi durante um tempo responsável pelo planejamento a longo prazo, Lange tornou-se eventualmente presidente do Conselho Econômico Estatal da Polônia. Coloca que foi uma experiência tensa e Lange dormia toda noite com medo de acordar "sendo levado preso" (anos stalinistas). Outros economistas, mais reformistas, também vieram da Europa Oriental: Kaldor, inicialmente na London School of Economics e durante muito tempo professor na Universidade de Cambridge, foi o principal elemento na elaboração do Relatório Beveridge, o grande plano para a criação do welfare state britânico no pós-guerra. Defendia, ainda, os impostos progressivos, sobre consumo pessoal (não renda. O que fosse pra poupança e investimento não seria tributado).
146 - Galbraith coloca que Mises e Hayek via qualquer passo fora da ortodoxia clássica (creio que no sentido de "não-intervenção estatal" - até no tráfico de drogas! - e autorregulação dos mercados) como um sinal claro de direcionamento socialista. Seguro-desemprego, pensão e auxílio aos pobres... Tudo era socialismo e degradação. O sistema capitalista seria destruído por essas reformas. Para Mises, até a Marinha tinha que ir pra iniciativa privada. Por fim, Galbraith coloca que, ironicamente, a Áustria fez tudo ao contrário da corrente austríaca, construindo um muito bem negociado Estado de Bem-Estar Social.
147 - Certamente ninguém foi mais severo - nem mais influente - em sua crítica a ortodoxia clássica e à necessidade de reformas do que Kaldor e Balogh. Ninguém defendeu - e ainda defende, ocasionalmente, no momento em que escrevo estas linhas - tão poderosamente uma oposição intransigente às reformas quanto Friedrich von Hayek.
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