Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulos 9 e 10
Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva
Pgs. 93-101
"CAPÍTULO 9: "A GRANDE TRADIÇÃO CLÁSSICA, 2 - a corrente principal -"
79 - Critica a noção incompleta de retorno do capital em David Ricardo: Era mais do que evidentemente óbvio que o dono do equipamento de capital também recebia um pagamento; mais do que evidentemente óbvio que este pagamento em juros e lucro era frequentemente muito superior aos seus gastos passados com salários. Era mais do que claro que este valor excedente estava intimamente ligado aos direitos, às contribuições e ao poder dos donos do capital. Enfim, havia, ainda, de acordo com Senior, um preço em juros ou lucros que tinha que ser pago para persuadir as pessoas, inclusive o capitalista, a protelarem ou adiarem o seu consumo. Nascia a teoria da abstinência. O problema é que havia um consumo opulente/ostensivo das classes em teses beneficiadas pela teoria.
80 - Galbraith entende que só no século XX houve boa justificativa para o lucro e os juros (na cabeça dele): Os lucros, agora já distintos dos juros, passaram a ser vistos, não inteiramente sem razão, como a recompensa pela inovação e pelo risco. E os juros tornaram-se o pagamento equilibrante entre aqueles abençoados com mais recursos do que necessitavam ou podiam aplicar produtivamente e aqueles que tomavam dinheiro emprestado por possuírem menos do que precisavam ou podiam aplicar produtivamente. A solução de Marshall tinha um aspecto semântica: chamar de "espera". Teoria da espera.
81 - Passa a destacar a evolução seguinte: o conceito de utilidade marginal. Não só a demanda, como até a oferta passa a ser vista de outro modo. Nas palavras de Galbraith: E como o relevante é a utilidade à margem, também relevante são os custos a margem. (...) Nascia ainda o mais celebrado de todos os clichês econômicos, um que até hoje raras vezes deixa de estar presente nas conversas das pessoas por mais de uma semana, uma vez que permite uma grande "isenção de responsabilidades": "Afinal, é a lei da oferta e procura". Os preços, agora que sua base deixava de ser o custo de produção para tornar-se a oferta e a procura, passaram a ser determinados por um equilíbrio sempre instável entre as duas. Foi este o equilíbrio estabelecido no final do século nos ensinamentos de Alfred Marshall. Os salários passaram a ter a ver com a contribuição marginal do trabalhador marginal ao produto.
82 - Sobre os juros, Galbraith também vê grande evolução: Novamente oferta e procura. (Separava-se agora os juros dos lucros, que passaram a ser aquilo que compensava pelos riscos e recompensava os inovadores que, com bravura, enfrentavam-no). Da mesma forma como a magia da marginalidade resolveu a questão dos preços e salários, também resgatou a taxa de juros de seus antecedentes anteriormente improváveis. O lucro me parece ser, aqui, o juros mais o prêmio de risco. E, no fundo, os juros continuam tendo a ver com a "abstinência" (espera).
83 - Produção subótima não deixou de existir nessa "nova" economia (neoclássica): ...O monopólio estabeleceu-se como a única grande falha de um sistema admirável, senão perfeito. Os sindicatos, por exemplo, seriam uma mácula monopolista geradora de desemprego. Ao menos para boa parte da visão neoclássica.
Pgs. 102-113
"CAPÍTULO 10: "A GRANDE TRADIÇÃO CLÁSSICA, 3 - a defesa da fé -"
84 - Galbraith inicia admitindo que, de fato, não era totalmente absurdo falar em escravidão assalariada no Século XIX. Porém, ressalta que a vida no campo também era desgraçada (não disse uma palavra, porém, sobre a expulsão das pessoas das terras comunais).
85 - Coloca que chegou a haver alguns protestos ou alertas por parte de nomes da Economia Clássico, citando Smith e Mill, por exemplo. Mas, de um modo geral, a tradição clássica foi reticente sobre a questão do poder. (Ao mesmo tempo, um Mill da vida culpava o pobre pela pobreza. Procriavam demais, segundo ele).
86 - Finalmente, no transcurso do século XIX e com frequência ainda maior nas primeiras décadas do Século XX - em 1907, 1921 e, desnecessário dizer, 1930-1940 -, apareceu em cena o fenômeno denominado alternativamente de pânico, crise, depressão ou recessão, e a associado ao desemprego e ao desespero, um fenômeno aterrorizante e teoricamente incompatível com o sistema clássico.
87 - Cita o utilitarismo de Bentham como uma defesa das mazelas do sistema. A realidade industrial era dura, mas, no geral, levava a uma maior felicidade média, digamos assim. Ainda que uma suposta minoria sofresse muito.
88 - Os Mill - seguidores de Bentham: Pai e filho, como já frisei, trabalharam durante a maior parte de suas vidas para a Companhia Britânica das Índias Orientais. Esta companhia, congregando em si funções governamentais e militares, e usufruindo de fartos privilégios comerciais, era a negação mais perfeita de todo o compromisso utilitarista, da busca irrestrita dos interesses pessoais e do laissez-faire, que alguém poderia vir a imaginar. Nem pai, nem filho, porém, parecem ter se perturbado muito com este fato, talvez porque nenhum jamais tenha presenciado em primeira mão as operações da companhia na Índia — embora James Mill, autor da clássica The History of British India, tenha atacado severamente as tendências não-utilitaristas do sistema de castas, da estrutura social e da religião indianas.
89 - ...Mill, o filho, reformulou o sistema clássico, apresentando uma versão mais ponderada e precisa que a de Smith e Ricardo, e confirmou a defesa utilitarista feita por seu pai e por Jeremy Bentham. Mas ele era um homem sensível e, para seu detrimento na opinião de muitos, aberto a uma variedade de influências humanas. Entre estas, anos mais tarde, estava o pensamento socialista contemporâneo e as ideias de Harriet Taylor, nascida Harriet Hardy, que se tornaria sua esposa em 1851 e que o convenceu que as mulheres deveriam ser emancipadas e gozar de plenos direitos civis - algo extraordinário para a época.
90 - Mill entendia a atratividade do comunismo tendo em vista as injustiças do capitalismo. Pessoas ganhando muito sem trabalhar e outras ganhando muito pouco trabalhando muito duro. Porém, acreditava que o sistema melhoraria aos poucos, ganhando legitimidade.
91 - Spencer e a caridade: O efeito da caridade sobre o progresso social era inegavelmente negativo, mas proibi-lo seria uma violação inaceitável da liberdade dos eventuais doadores. Quase um "por mim, morria tudo".
92 - Os livros de Spencer venderam centenas de milhares de cópias; sua visita a Nova York em 1882 teve semelhanças com o advento de São Paulo ou de uma estrela de rock hoje em dia. A missão do liberalismo agora, segundo ele, era criar limites aos poderes (sociais, creio) do Parlamento (certamente temia o sufrágio cada vez maior).
93 - Pareto: ...ao analisar as declarações de renda de cada país, concluiu que a distribuição social era muito parecida, o que mostrava, segundo ele, uma "divisão natural de talentos", digamos assim. Os indivíduos merecedores de riqueza eram poucos comparados com a multidão dos que mereciam a pobreza, e aqueles que mereciam grande riqueza eram realmente pouquíssimos. No mais, colocava, assim como Senior, que o economista deveria se abster das questões práticas/valorativas. Apenas descreveria como as coisas funcionam. Galbraith acrescenta que autores como Jevons tinham pretensão semelhante. "A economia, se pretender ser uma ciência, tem que ser uma ciência matemática".
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