Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulos 7 e 8

                                                                                                                                                                  

Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva



Pgs. 66-79


"CAPÍTULO 7: "Refinamento, Afirmação - E os Germes da Revolução"


58 - Cita Say, Malthus e Ricardo como ampliadores da obra. Say teria inclusive apresentado as ideias de Smith de forma menos confusa (sem prejuízo de contribuições próprias para a economia, como a "lei de Say"). 


59 - A Lei de Say sustenta que da produção de bens provém uma demanda global efetiva suficiente para adquirir a oferta global destes bens. Nem mais, nem menos. Não há superprodução. Mesmo que escondam no colchão o que ganharam, isso não modificará a situação; os preços se reduzirão por si mesmos para se adaptarem à redução no fluxo de renda. Teóricos como Malthus iriam discordar disso. Porém, o prestígio da lei - quem não a "entendia" era mal visto - só seria seriamente abalado com a Grande Depressão e os argumentos de Keynes. Os preços poderiam não se ajustar naturalmente, digamos assim. O Estado/BC passou a poder melhorar a economia, digamos assim. Nas palavras de Galbraith, "A macroeconomia nasceu da libertação do longo domínio de Jean Baptiste Say."


60 - A questão do crescimento populacional em P.G. e da alimentação em P.A. não era exatamente absurda nos tempos pré-capitalistas (realidade na grande maioria do mundo). Inclusive Malthus fez observações sinistras sobre o futuro da Irlanda nesse sentido que, seja muito pelas razões que ele elencou ou não, acabaram se confirmando. 


61 - Galbraith lembra, também, que Malthus era bem fatalista: ...Se o Estado ou algum outro benevolente e onipotente benfeitor tentasse melhorar a posição das massas, a sua irrestrita procriação faria com que rapidamente retornassem às condições anteriores. E como os pobres não podiam dar conta da oferta crescente (produção industrial começava a acelerar) cabia aos consumidores improdutivos fazer isso. ...empregados domésticos, estadistas, soldados, juízes, advogados, médicos, cirurgiões e sacerdotes. Estes não trabalham para produzir nada de útil, dizia Malthus, mas mesmo assim consomem. Seria uma possível solução para se evitar superproduções. 


62 - Nem Ricardo iria endossar as críticas de Malthus. Ao contrário, defendeu a Lei de Say. Assim, essa acabou "vitoriosa" na época.


63 - Galbraith sobre Ricardo (rs): Ao contrário da prosa de Smith, que ostentava uma clareza e um certa exuberância festiva, a de Ricardo é sombria e difícil. O leitor, após o exaustivo exercício de compreendê-la que ela exige, pode sentir uma certa liberdade de escolher no que ele prefere acreditar. Smith era empírico e ia dos fatos à ideia, digamos assim. Ricardo fazia meio que o caminho inverso. (...) Seu método e suas conclusões levariam os defensores posteriores do capitalismo e os seus opositores mais veementes - sobretudo Marx - a conclusões igualmente firmes e convictas.


64 - Ricardo: sem utilidade (valor-de-uso) não há valor. E o valor vem da escassez ou da quantidade de trabalho. Isso vale para tudo que for reproduzível: tudo que não for “estátuas e quadros raros, livros e moedas escassas, vinhos de qualidade extraordinária que só podem ser fabricados com uvas cultivadas num solo determinado”.


65 - Lei de Ferro: Autores e oradores posteriores tornaram a Lei de Ferro mais constritora e restritiva do que na linguagem cautelosa de Ricardo, para quem a Lei de Ferro era o preço natural - ou, como diríamos hoje, o preço de equilíbrio da mão-de-obra, o nível ao qual os salários tenderiam se estabilizar se os outros fatores permanecerem constantes. Mas, para Ricardo, este nível incluía não só as necessidades básicas do trabalhador como também “as conveniências que, pelo hábito, lhe tornaram essenciais. De toda forma, Ricardo defendia que não se devia intervir nos salários, deixando-os flutuar livremente no mercado, não importa se fossem de miséria ou não. 


66 - Coloca que há confusão quanto ao lucro em Ricardo. O lucro (ainda incluindo os juros) é, de acordo com Ricardo, O pagamento deferido por este trabalho no passado. Trabalho que criou as máquinas e etc. (Por essas e outras que Marx irá dizer que tudo é produzido pelo trabalhador. E, de alguma forma, é). Galbraith só faltou dizer que "isso só pode estar errado": ...Se o lucro reflete um retorno a mão-de-obra empregada no passado na formação do capital, então qualquer renda que o capitalista acumule é uma pouco sutil forma de roubo. Risos: "Desnecessário dizer que nem Malthus, nem Ricardo estavam cientes de estarem elaborando textos para a revolta e a revolução".



Pgs. 80-92


"CAPÍTULO 8: "A GRANDE TRADIÇÃO CLASSICA, 1 --- pelas margens —"


67 - No início do século XIX, a Alemanha ainda era uma miscelânea politica— mente desordenada e economicamente atrasada de pequenos principados, cada um cobrando tarifas aduaneiras sobre os produtos dos demais, cada um reagindo com inveja diante da recepção indiferente dos seus próprios interesses, cada um refletindo em maior ou menor grau a personalidade e, não raramente, a excentricidade do seu governante.


68 - Coloca que a filosofia alemã daquele tempo, de enaltecimento do Estado como base civilizatória em detrimento da posição individualista, era uma decorrência do meio: O Estado era algo onipresente na Alemanha; os príncipes não aceitavam que se denegrisse seus propósitos. E, portanto, os pensadores pensaram de acordo. Havia respeito pelo Estado e pelos serviço público.


69 - Cita Adam Muller e List como principais "estatistas", digamos assim. Para List, livre-comércio só dentro da nação. Sua defesa de uma política comercial liberal entre os Estados alemães ajudou a criar zonas de livre comércio em toda a Alemanha, as Zollvereins. No seu período nos EUA, simpatizou com as ideias de Hamilton, Henry Clay e Henry Carey.


70 - List e as tarifas. Elas não seriam úteis para um país no estágio primitivo, nem necessárias para um no último estágio. A proteção à indústria nascente se tornou regra na maioria dos países. Galbraith vai além e cita que os países ricos muitas vezes protegem até indústrias senis/tradicionais contra concorrência dos prodígios estrangeiros (cita as asiáticas, por exemplo).


71 - Caridade: New Lanark foi a concepção de David Dale (1739-1806), o capitalista e filantropo escocês que esvaziou os orfanatos de Glasgow e Edimburgo, levando seus desamparados habitantes para os dormitórios da sua cidade fabril modelo, onde as crianças eram obrigadas a trabalhar nas tecelagens durante não menos que treze horas por dia.


72 - Sobre o experimento de Owen na Indiana: Lá fundou uma comunidade plenamente socialista, à qual deu o nome de New Harmony. Ela atraiu alguns dos mais rematados aproveitadores da república americana, e acabou sendo um absoluto fracasso.


73 - Sismondi (França): Ele foi “um dos primeiros economistas a falar da existência de duas classes sociais, os ricos e os pobres, os capitalistas e os trabalhadores, cujos interesses estariam em constante conflito entre si". Esperava que o Estado protegesse os pobres e impedissem que os homens fossem "sacrificados em nome do aumento de uma riqueza da qual eles não obterão proveito algum". Uma classe oprime a outra. Entretanto, o autor francês defendia coisas contestáveis, como o modo de produção artesanal, até para evitar superprodução. O artesão que, ao contrário do operário fabril, sabia o que ele próprio produzia.


74 - Cita, ainda, Proudhon: Sua solução, reduzida ao mais essencial, era abolir os juros (e outros retornos sobre o capital) e entregar toda propriedade a cooperativas ou associações voluntárias de trabalhadores. Estes seriam financiados por um banco especial com poderes de imprimir dinheiro; este dinheiro financiaria a produção e a compra de produtos. Na sociedade de Proudhon, o Estado desapareceria. (...) Galbraith xingou essa proposta de magia monetária. Quando fazendeiros cotizam-se para comprar fertilizantes, querosene ou outros implementos agrícolas, ou quando consumidores se juntam para adquirir frutas e verduras, ouvem-se elogios às idéias de Proudhon.


75 - EUA: Num contexto em que o trabalhador podia a qualquer momento expressar seu descontentamento desertando para os confins ainda inexplorados do país, não havia muito fundamento para uma teoria salarialSe os fazendeiros podiam possuir e cultivar suas próprias terras, não havia necessidade de uma teoria da renda da terraSem estes custos, havia pouco espaço para a elaboração de uma teoria dos preços


76 - ...Retornos decrescentes?  No Novo Mundo - e isto era algo que Ricardo infelizmente desconhecia  - a colonização começara no alto das colinas e montanhas, onde as florestas eram menos cerradas e resistentes. A estes terrenos os colonizadores, tendo observado a tendência das residências feudais na Europa, talvez atribuíssem maior valor, proteção e prestígio. Mas então estes pioneiros foram descendo para vales mais férteis e produtivos, obtendo assim um retorno crescente, e não decrescente. Os empregos tinham que ser cada vez melhores/produtivos para atrair gente. As ideias de Malthus também não vingavam. Havia uma população em expansão partilhando um oferta de alimentos não estagnada, não decrescente, mas também em rápida expansão.


77 - ...Henry Carey: ...imitou seu compatriota temporário Friedrich List numa outra concessão às circunstâncias. Após expor inicialmente as virtudes do livre-comércio, ele também tornou-se defensor do protecionismo.


78 - Apenas com o passar do Século XIX, as terras foram ficando escassas nos EUA. Foi a época das discussões sobre a tributação da valorização (georgistas etc.).


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