Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulo 5 e 6
Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva
Pgs. 42-51
"CAPÍTULO 5: "O Modelo Francês"
37 - A França tem uma história um tanto diferente. Foi a aristocracia proprietária de terras que cercou os sucessores de Luís XIV em Versalhes, gozando de precedência e prestígio social. Seus membros fizeram muito menos concessões aos propósitos e interesses dos mercadores que as aristocracias da Inglaterra, da Holanda ou da Itália.
38 - ...Toda aquela congregação de gente ociosa tinha que dar em alguma coisa: Em Versalhes, e apenas em Versalhes, o pensamento logrou intrometer-se na riqueza e na tradição dos proprietários. Em vez de simplesmente proclamar o direito divino às terras, a aristocracia foi atrás de verniz econômico. A agricultura era a raiz da riqueza!
39 - ...Eles próprios se denominaram Les Economistes, uma referência admiravelmente moderna, pois os economistas só seriam assim designados universalmente depois de Alfred Marshall no final do século XIX. Adam Smith, que visitou Paris, Versalhes e os principais genitores da escola de 1765, refere-se às suas ideias como O Sistema Agrícola. Os historiadores do pensamento econômico, por sua vez, optaram pelas menos apropriadas designações, os Fisiocratas — grosso modo, aqueles que afirmam O domínio da natureza. Quesnay, talvez o principal nome da escola, foi médico e só se interessou pela economia aos 62 anos, quando já era um famoso médico francês. Chegou a ser médico do próprio Luis XV e viveu em Versalhes.
40 - Adam sobre os fisiocratas: Em uma de suas fascinantes combinações de louvor e depreciação, Smith afirma em A Riqueza das Nações: "O sistema que representa o produto da terra como a única fonte de renda e riqueza de todos os países não foi, que eu saiba, adotado por nação alguma, e atualmente existe apenas nas especulações de alguns homens de grande erudição e inventividade na França. Certamente não valeria a pena examinar a fundo os erros de um sistema que jamais causou, e provavelmente jamais causará, mal algum em qualquer parte do mundo. (Livro 4, Capítulo 9.)
41 - Turgot foi o segundo nome de maior fama dos fisiocratas. Turgot começou a atrair a atenção do público como intendant de Limoges, na época uma das regiões mais pobres da França, onde patrocinou uma ampla gama de reformas destinadas a incentivar a agricultura, promover O comércio local, aperfeiçoar o transporte rodoviário e limitar os abusos fiscais. Em 1774, foi trazido a Paris por Luís XVI e nomeado tesoureiro e ministro das finanças. Até por temer uma revolução, Turgot pretendia reformar a França: Por ser favorável a uma rígida economia nos gastos públicos e da realeza, a uma reforma tributária, ao livre comércio de cereais dentro da França, à abolição das sinecuras e monopólios, à tolerância para com os protestantes, e a proposta de se eliminar a corveia, uniu contra si uma variedade formidável de interesses: latifundiários, aristocratas, assalariados reivindicando as mais diversas participações nas receitas públicas, especuladores de cereais, sacerdotes e até a própria Maria Antonieta. Prejudicado ainda por uma má safra, foi demitido em maio de 1776 e substituído por Jacques Necker, quando voltou a trabalhar no sistema de ideias pelo qual ele e seus colegas são hoje lembrados.
42 - O terceiro nome citado por Galbraith eu conheço menos: Pierre Samuel du Pont de Nemours (1739-1817), que depois de editar um periódico sobre o setor agrícola e escrever sobre assuntos políticos, reuniu e publicou algumas das obras de Quesnay sob o título "Ia Physiocratíe", de onde, evidentemente, veio o nome pelo qual ele e seus colegas seriam conhecidos. Quando ele imigrou para os EUA, fugindo do terror revolucionário, começou uma dinastia industrial - 150 anos de duração - pelo campo da pólvora (tinha instrução fornecida por ninguém menos que Lavoisier).
43 - Os fisiocratas eram grandes entusiastas da "lei natural" sob todos os aspectos. A regra norteadora das leis de governo em geral deveria ser laissez-faire, laissez-passer. Os benefícios - tipo monopólios - aos mercadores estariam, assim, em desacordo á lei natural. Aos proprietários de terras cabia a função mais importante numa sociedade: supostamente guiar, nortear, supervisionar a classe produtiva (que trabalha na terra). Mercadores, industriais e artesões nada criavam. Eram as classes inferiores. Enfim, a terra agrícola era a responsável por todo o excedente. Galbraith "brinca" que os fazendeiros até hoje pensam assim.
44 - Começam a falar em preços que refletiriam custos de produção, mas não aprofundam a questão. Os Fisiocratas referiram-se ainda, quase de passagem, ao fato dos salários estarem num nível que concedia ao trabalhador o mínimo necessário para a subsistência. Estas questões iriam ser amplamente discutidas e elaboradas na Escócia e na Inglaterra poucos anos depois.
45 - Coloca que o modelo "input-output" de Leontief (premiado com o Nobel em 1973) tem semelhanças com o antigo "Tableau Economique" de Quesnay, mapeando os fluxos de entrada e saída - renda e vendas - de cada setor industrial (no caso de Leontief). Enfim, as ideias fisiocratas têm muitos pontos que ecoam até hoje apesar do indubitável "abandono" de outros.
Pgs. 52-65
"CAPÍTULO 6: "O Novo Mundo de Adam Smith"
46 - A Revolução Industrial: O capital que os mercadores antes investiam nas matérias-primas que eram enviadas aos vilarejos para serem transformados em tecidos, ou que servira para comprar a mão-de-obra de artesãos independentes, estava agora no processo de ser investido em quantidades drasticamente maiores em fábricas e máquinas, ou nos salários bem pouco munificentes que mantinham vivos, mal e mal, os trabalhadores. O industrial, voltado para a produção, começava a assumir o lugar econômico do mercador como figura predominante e dinâmica. Se a causa da revolução foram invenções - fortuitas ou não - como a máquina a vapor de Watt e/ou as de tecelagem ou se foi mérito dos empreendedores daquele tempo, Galbraith diz que não importa tanto, mas sim toda a transformação que passou a se operar.
47 - Coloca que Smith estava observando as primeiras fábricas. Ainda bem menores e impactantes do que viria a ser a regra nas décadas posteriores. O que mais o impressionou foi inclusive a especialização e divisão do trabalho. Futuramente, as máquinas assumiriam maior papel.
48 - Smith tratava também dos incentivos. Um professor, por exemplo, devia receber de acordo com o número de alunos que atraísse. A mão invisível fazia com que a busca do autointeresse resultasse em benefício público.
49 - Galbraith menciona que "A Riqueza das Nações" foi um imediato sucesso e lamenta que muitos o comente, hoje em dia, sem ler. Cita uma série de passagens ácidas. Sobre os acionistas, Smith dizia que praticamente só se importam com dividendos, mal sabendo o que a empresa produz.
50 - A realidade da sua época fez com que Smith tratasse de vários temas com afinco considerável. Exemplo: ...quando o arrendatário substituiu o meeiro ou o servo, a renda da terra tornou-se uma questão de grande importância. Galbraith irá considerar arcaicas as longas contribuições aqui. Ademais, coloca que os "aluguéis" são tratados de forma meio conflitante. Ora parecem determinar os preços, ora são meros resíduos após o desconto de lucros e salários.
51 - Sobre o Valor-Trabalho, coloca que Smith nunca deixou muito claro o que determina os custos. A ambiguidade em que Smith finalmente deixou a questão do que determina o preço tem sido infindavelmente discutida pelos estudiosos. Mas este é um passatempo que não precisa nos ocupar. O fato é simplesmente que o próprio Smith não chegou a nenhuma conclusão definitiva.
52 - Sobre a distribuição, traz a concepção de Smith sobre os salários: Ele considerou os salários basicamente como o custo de transformar o trabalhador em trabalhador e de mantê-lo em seu emprego. Esta, a teoria do salário de subsistência, seria mais tarde convertida por David Ricardo na Lei de Ferro dos Salários, usada para manter as classes trabalhadoras com o mínimo salário necessário para a sua sobrevivência. O retorno do capital ficava sem explicação em si, o que deixava um germe para teorias futuras. Esta visão inocentemente subversiva seria desenvolvida e refinada no Século seguinte por Ricardo. E se tornaria a principal fonte da indignação e agitação revolucionária de Karl Marx.
53 - Ainda sobre Smith: Os Fisiocratas insinuam-se também aqui; na agricultura, sustenta Smith, a natureza trabalha lado a lado com o ser humano, contribuindo algo que lhe é próprio — novamente o produit net — aos esforços do homem. Há uma contradição particularmente perturbadora entre o modo como Smith vê os preços, que presumivelmente refletem o custo do trabalho incorporado ao produto, e o modo como vê o papel da terra, que “em quase todas as situações produz uma quantidade maior de alimentos do que é suficiente para manter e sustentar toda a mão-de-obra necessária para fazê-los chegar até o mercado”. A Solução para este dilema é mais uma vez deixar Smith para aqueles cujo sustento erudito ou acadêmico depende de tais contradições.
54 - A produtividade do trabalho passa a ser o foco. Ouro e prata virão do exterior para comprarem os produtos, e o nível dos metais preciosos se resolverá por si. Faltando produtividade, nem controle de capital adianta: “Nem todas as leis sanguinárias da Espanha e de Portugal conseguiram evitar a evasão do seu ouro e da sua prata".
55 - Smith não é rigidamente dogmático na questão do livre comércio; ele permitiria a cobrança de tarifas naquelas indústrias essenciais à defesa nacional e possivelmente também como retaliação a abusos tarifários de outras nações, e favoreceria uma retirada gradual do apoio às indústrias protegidas e seus trabalhadores. Mas nada além disso.
56 - Smith era cético sobre deter o conluio de preços, mas os Estados continuam tentando.
57 - . Smith é no mínimo favorável a um imposto de renda proporcional: “Os cidadãos de qualquer Estado devem contribuir para o sustento do governo de acordo, na melhor medida do possível com suas respectivas capacidades; isto é, em proporção às rendas que eles respectivamente auferem sob a proteção do Estado."
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