Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva - Capítulos 1 a 3

                                                                                                                                                               

Livro: John Galbraith - O Pensamento Econômico em Perspectiva



Pgs. 1-8


"CAPÍTULO 1: "Uma Visão Geral do Panorama"


1 - Ao que parece, o livro é de 1987. O primeiro capítulo é basicamente uma apresentação dos temas do livro. Instiga a curiosidade.



Pgs. 9-18


"CAPÍTULO 2: "After Adam"


2 - Trocadilho com Gênesis. 


3 - Começa o capítulo refletindo sobre a economia e ideias econômicas na Antiguidade. A economia estava completamente subordinada à Ética. Os juros eram condenados (até a Idade Média), por exemplo. Até porque boa parte dos empréstimos nem se destinava a fins produtivos, mas sim a satisfazer desesperadoras necessidades urgentes, digamos assim. Então "lucrar" com isso eram mal visto. Até hoje é assim um pouco de certa forma para os empréstimos "não-produtivos". A escravidão tinha justificativa ideológica (cita as famosas frases de Aristóteles) e como não havia preço do trabalho (salários) nem do capital (juros), funções de custo de produção não eram visíveis. Consequência: o chamado "preço justo" era um mistério discutido.  


4 - ...Nem nas cidades maiores havia propriamente alguma atividade manufatureira de relevância. As classes privilegiadas desfrutavam basicamente de serviços - especialmente escravos. Não era uma economia de bens de consumo. O dinheiro para pagar por alimentos e vinhos vinha possivelmente de tributos e rendas (aluguéis, por exemplo). Eram comuns proprietários ausentes morando nas cidades. 


5 - A agricultura era o grande "setor moral".Galbraith disse que os ecos disso voaram longe, passando até pelos fisiocratas da era moderna. 


6 - O dinheiro era visto como mero meio de troca e podia ser qualquer coisa transportável. Galbraith coloca que assim foi em muitas economias e cita o "padrão-fumo" que vigorou durante bom tempo nas colônias sulistas dos EUA. Até brinca que algum dia algum senador reaça vai propor à volta ao padrão-fumo. 


7 - Xenofonte foi discípulo de Sócrates e teve interesse passageiro pela economia. Elogiou o comércio, pois criava oportunidade para que as cidades se especializassem mediante divisão do trabalho. Enfim, um Adam Smith na antiguidade. Era um entusiasta da paz e boas relações com os vizinhos. Paz era prosperidade, segundo ele. 


8 - Ao tratar de Platão, Galbraith coloca trechos que podem até ser considerados "socialistas" para alguns desavisados. A economia idealizada pelo grego seria organizada por "guardiões" ascéticos. Não teriam sequer propriedades, para que não visem o bem privado. As rendas deles ficariam restritas às necessidades. Espécie de "pura ética comunista" no centro do poder. A livre-iniciativa seria permitida, mas é coisa dos "de baixo". Já Aristóteles fazia praticamente louvores à propriedade.


9 - Coloca que a contribuição dos romanos para a "economia" acabou sendo no Direito. O direito romano trouxe a formalização do direito de propriedade pleno.



Pgs. 19-28


"CAPÍTULO 3: "O Prolongado Ínterim"


10 - Galbraith menciona também o cristianismo como legado romano. Jesus não falava em divindade dos reis e andava entre pessoas simples, desafiando o sistema à sua forma. 


11 - ...Tou por fora: Com relação a este último ponto, sigo o meu amigo e colega Krister Stendahl, ex-rei - reitor da Escola de Teologia de Harvard. (Ele é hoje bispo de Estocolmo).Veja o seu Meanings: The Bible as Document and as Guide (Filadélfia: Fortress Press, 1984), p. 205 e seguintes. Na p. 210, ele observa que ”há provas crescentes de que O papel de Pilatos foi consideravelmente maior na execução de Jesus do que a tradição ou mesmo os evangelhos nos levam a crer-...A crucifixão - uma execução romana - fala uma linguagem clara, indicando que Jesus deve ter se mostrado suficientemente messiânico, e não só no sentido puramente espiritual, para constituir uma ameaça à ordem política pelos padrões romanos.


12 - O ataque de Jesus aos mercadores do templo: ...Ele legitimou a rebelião contra um poder econômico maligno ou opressivo. Os padres da América Central que se unem ao povo em oposição a uma autoridade corrupta ou rapinadora acreditam, para a agonia de muitos cidadãos respeitáveis, estar agindo de acordo com o seu exemplo.


13 - E a economia?: A relação mais específica entre o cristianismo e a economia está nas leis relativas à cobrança de juros. O trabalho como um fator da produção era tido como bom. Jesus e os Apóstolos falavam altivamente do trabalho, e acreditava-se que o trabalhador valia o seu salário, enquanto os  rendimentos dos proprietários de terras não eram severamente criticados. Mas a doutrina cristã primordial condenava severamente a cobrança de juros.


14 - Há um ponto de vista, longe de impecável, que recorre a restrição cristã à cobrança de juros para conferir aos judeus um papel central no desenvolvimento dos primórdios do capitalismo, uma tese que diminui sobremaneira a capacidade da doutrina cristã adaptar-se às necessidades econômicas e a importância extraordinária de alguns cristãos - os Fugger, os Imhof e os Welser - entre os primeiros grandes emprestadores de dinheiro da Europa.


15 - O mercado era algo secundário durante a Idade Média. Servos/camponeses mais entregavam produtos e serviços que qualquer outra coisa. Pouco era vendido. Muito menos produzido para venda. Existiam, é claro, cidades minúsculas e grandes feudos que, por vezes, faziam negócios, mas algo de pequeno monta e eventual, ao que entendi.


16 - Cada vez mais, na medida em que os escravos foram se tornando escassos a partir do final da era romana, uma ou outra forma de arrendamento substituiu a escravidão como aconteceu nos Estados Unidos depois da Guerra Civil.


17 - Corporações de Ofício: ...eram um traço fortemente característico da vida econômica medieval. Seus propósitos eram vários: garantir a qualidade do trabalho; assegurar costumes sociais altamente prazerosos; influir na política; e principalmente, mas nem sempre com sucesso, regulamentar os preços e os salários dos Oficiais artíficesOs preços de um mercado competitivo, ou então determinados determinados de maneira impessoal, eram a exceção e não a norma. Os abusos desses monopólios eram, por vezes, criticados: : “Eu respondo que é um grave pecado praticar a fraude com a finalidade expressa de vender uma coisa por mais do que o seu preço justo.... Vender mais caro ou comprar mais barato do que uma coisa vale é em si injusto e ilícito." São Tomás de Aquino. O preço justo era assim prescrito como uma obrigação religiosa. Galbraith deve ter se divertido ao escrever que faltou apenas dizer o que era um preço justo. 


18 - ...Com o tempo, o mercado virou o juiz. "O preço justo de S. Tomás de Aquino tornou-se uma curiosidade teológica, algo que nem um teólogo devoto leva a sério". (...) Todavia, ainda que exiguamente, a noção de uma ordem de justiça mais elevada que a do mercado também sobreviveu. Um salário mínimo determinado por lei é visto como uma manifestação necessária desta justiçaO mesmo ocorre com preços mínimos agrícolas — ”um preço justo para o produtor". São Tomás condenou, ainda, juros e a venda de produtos com defeitos ocultos. Aliás, até "vender para obter ganho" era algo condenável. A troca comercial deveria ficar restrita às necessidades da vida. Intermediários, corretores, especuladores etc. eram tal mal vistos quanto agiotas. 


19 - Outro autor medieval foi Oresme. Porém, este era muito mais simpático ao comércio. Galbraith "brinca" que foi o primeiro monetarista. Preservar o valor da moeda era imprescindível. "Há três maneiras, em minha opinião, pelas quais é possível obter um lucro do dinheiro, afora o seu uso naturalA primeira destas é a arte da troca, a custódia ou o tráfico das moedas; a segunda é a usura; e a terceira é a a[dul]teração da moeda. A primeira é yil e desprezível, a segunda má, e a terceira é ainda pior". Uma das funções do soberano é punir o falsificador, logo, como poderia ele mesmo falsificar? Indaga Oresme. 


20 - Oresme era bimetalista e defendia proporção fixa entre prata e ouro, passível de ajustes de acordo com as mudanças de oferta. 


21 - O mercado na época de Oresme: Oresme, que soube se dedicar a esta exceção, estava vendo diante de si um mundo novo e em expansão no qual os mercados - e o dinheiro - surgiam com grande intensidade.


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