Livro: Ha-Joon Chang - 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo - Capítulos 5 e 6

                                                                                                                                          

Livro: Ha-Joon Chang - 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo



Pgs. 45-51


"CAPÍTULO 5: "Pressuponha o pior com relação às pessoas e você receberá o pior"


32 - Ele começou pela conclusão aqui: Precisamos projetar um sistema econômico que, ao mesmo tempo que reconheça que as pessoas são frequentemente egoístas, explore outros motivos humanos e extraia o que há de melhor nas pessoas. O mais provável é que se pressupusermos o pior com relação às pessoas, obteremos o que há de pior nelas.


33 - Menciona que alguns teóricos defendem que as políticas do Leste Asiático só deram certo em razão do caráter excepcionalmente altruísta e, de certa forma, não-repetível de seus burocratas. Brasil, por exemplo, não teria como copiar.


34 - Resume, mais ou menos assim, a opinião de um executivo da Kobe Steel sobre isso de esperar sempre o pior das pessoas: “Sinto muito dizer isto, mas vocês, economistas, não entendem como o mundo funciona. Tenho um doutorado em metalurgia e trabalho na Kobe Steel há quase três décadas, de modo que tenho algum conhecimento da fabricação do aço. No entanto, a minha empresa é hoje tão grande e complexa que nem mesmo eu compreendo mais do que a metade das coisas que estão acontecendo dentro dela. Quanto aos outros executivos — com formação em contabilidade e marketing — eles realmente não tem muito conhecimento das coisas. Apesar disso, a nossa diretoria aprova rotineiramente a maioria dos projetos apresentados pelos nossos funcionários, porque acreditamos que eles trabalham pelo bem da empresa. Se partíssemos do princípio que todo mundo só pensa em promover os seus próprios interesses e questionássemos o tempo todo os motivos dos nossos funcionários, a empresa pararia de funcionar, pois passaríamos todo o nosso tempo analisando propostas que na realidade não entendemos. É simplesmente impossível administrar uma grande organização burocrática, seja ela a Kobe Steel ou o governo, se partirmos do princípio que todo mundo só pensa em si mesmo.”


35 - Pela teoria liberal, as forças concorrenciais do mercado é que seriam o freio do bando de peste que habita o mundo: ...os donos de loja não o enganarão se tiverem um concorrente próximo; os trabalhadores não ousarão fazer corpo mole se souberem que podem ser facilmente substituídos; os gestores contratados não conseguirão enganar os acionistas se operarem em um vigoroso mercado de ações.


36 - Afirma que empresas bem-sucedidas são geridas com base na confiança e na lealdade, em vez de na desconfiança e no egoísmo. Os livros de administração não enfatizam a repressão. Eles falam principalmente a respeito de como “estabelecer um vínculo” com os funcionários, mudar a maneira como eles veem as coisas, inspirá-los e promover o trabalho em equipe entre eles.


37 - Afirma que, se as pessoas fossem tão egoístas assim, os operários viveriam na "operação tartaruga", por exemplo. Em vez disso, querem, em geral, realizar o melhor trabalho, seja por orgulho, confiança na administração ou qualquer outro motivo.


38 - Capitalistas antigos apostavam tudo na disciplina férrea, com intensidade e velocidade. ...Ao se ver privados da sua autonomia e dignidade, os trabalhadores reagiram tornando-se passivos, descuidados e até mesmo pouco dispostos a cooperar. Desse modo, começando pela Escola das Relações Humanas que surgiu na década de 1930, que ressaltou a necessidade da boa comunicação com os trabalhadores, bem como entre eles, emergiram muitas abordagens administrativas que enfatizam a complexidade da motivação humana e sugerem maneiras de trazer à tona o que há de melhor nos trabalhadores. O apogeu dessa abordagem é o chamado “sistema japonês de produção” (às vezes conhecido como o “sistema Toyota de produção”), que tira partido da boa vontade e da criatividade dos trabalhadores, conferindo-lhes responsabilidades e confiando neles como agentes morais.


39 - O altruísmo é necessário nem que seja por motivos egoístas, digamos assim. O mais importante é que, em um mundo habitado por pessoas egoístas, o mecanismo invisível da recompensa/sanção não pode existir. Cita exemplo do táxi. As pessoas não saem correndo sem pagar, como seria o "lógico" do 100% egoísta.


40 - Quando as pessoas agem de uma maneira não egoísta — seja deixando de roubar os clientes, trabalhando arduamente apesar de ninguém as estar observando ou recusando propinas mesmo sendo um funcionário público mal remunerado — muitas delas, ou até mesmo todas elas, o fazem porque genuinamente acreditam que é a coisa certa a ser feita. Ao contrário do que dizia Thatcher, existe sociedade.



Pgs. 52-59


"CAPÍTULO 6: "A maior estabilidade macroeconômica não tornou a economia mundial mais estável"


41 - Alemanha em meados de 1922: É claro que a hiperinflação era causada, pelo menos em parte, pelas onerosas indenizações exigidas pelos franceses e pelos belgas, mas depois que ela começou, a ocupação do Ruhr pelos franceses e belgas a fim de garantir que receberiam o pagamento das indenizações de guerra em mercadorias, como carvão e aço, e não em um papel inútil, cujo valor diminuiria rapidamente, foi uma atitude completamente racional.


42 - A hiperinflação debilita a base do capitalismo, transformando os preços de mercado em ruídos inexpressivosNo auge da inflação húngara em 1946, os preços duplicavam a cada quinze horas, enquanto haviam duplicado a cada quatro dias nos piores dias da hiperinflação alemã de 1923.


43 - Chang crê que há uma obsessão exagerada com a questão da inflação, pois até mesmo estudos realizados por alguns economistas vinculados a instituições como a University of Chicago e o FMI indicam que, quando menor do que 8 a 10% ao ano, a inflação não tem nenhum relacionamento com a taxa de crescimento de um país. Outros estudos até mesmo elevam esse limite, colocando-o em de 20 a 40% ao ano. Cita Brasil e Coréia dos anos 60 e 70 como exemplos. A segunda tinha inflação de quase 20% em média. Esse pavor à inflação levaria a juros reais altíssimos que comprimem o crescimento (deu o Brasil de FHC como exemplo).


44 - Banco Mundial argumenta no seu relatório de 1993: “A estabilidade macroeconômica estimula o planejamento e o investimento privado a longo prazo e, por intermédio do seu impacto sobre as taxas de juros reais e o valor real dos ativos financeiros, ajudou a aumentar a poupança financeira.” No entanto, a verdade é que as políticas necessárias para reduzir a inflação a um nível muito baixo, de um único algarismo, desestimulam os investimentos. Como concorrer com uma aplicação dando 8% real, por exemplo?


45 - Cita, ainda, um suposto aumento de países passando por crises bancárias e a insegurança no emprego como novidades das décadas mais recentes. 


46 - Observa que o mundo cresce, per capita, menos hoje com inflação baixa que nas décadas da inflação moderada (ok, mas isso pode ser por vários fatores).


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