Livro: Ha-Joon Chang - 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo - Capítulos 16 e 17
Livro: Ha-Joon Chang - 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo
Pgs. 135-142
"CAPÍTULO 16: "Não somos inteligentes o bastante para deixar que o mercado cuide das coisas"
135 - As pessoas não sabem necessariamente o que estão fazendo, porque a nossa capacidade de compreender até mesmo questões que dizem respeito diretamente a nós é limitada — ou, como diz o jargão, temos uma “racionalidade limitada”. (...) Regulamentações, especialmente as financeiras, podem otimizar o resultado social. Até mesmo Milton Friedman admitiu que há casos em que os mercados erram. A poluição é um exemplo clássico. As pessoas “produzem em excesso” a poluição porque não estão pagando os custos de lidar com ela. Por conseguinte, o que são níveis ótimos de poluição para as pessoas (ou empresas individuais) resultam em um nível subótimo do ponto de vista social. O que a galera de Friedman argumenta, porém, diz Chang, é que os erros e falhas do governo podem ser ainda piores. Chang coloca que, pra início de conversa, nem somos tão racionais assim.
136 - Curiosidade (em parte sabida): A propósito, o prêmio não é um verdadeiro prêmio Nobel mas sim um prêmio concedido pelo banco central da Suécia “em memória de Alfred Nobel”. Na realidade, há vários anos, a família Nobel até mesmo ameaçou proibir que o nome do seu ancestral fosse usado no prêmio, pois ele tem sido conferido principalmente a economistas que defendem o livre mercado que não teriam tido a aprovação de Alfred Nobel, mas essa é outra história.
137 - LTCM: O sistema financeiro americano só conseguiu evitar o colapso porque o Federal Reserve Board, o banco central americano, coagiu os aproximadamente doze bancos credores a injetar dinheiro na empresa e tornar-se acionistas relutantes, obtendo o controle sobre 90% das ações. O LTCM acabou deixando de operar em 2000.
138 - Os "prêmio Nobel" participaram de outras duas iniciativas depois disso. Também foram à falência ou quase isso em 2008. Os fundos. A crise da Rússia não foi um erro atípico então.
139 - Traz vários exemplos da crise de 2008 de "gente" que aparentemente não sabia o risco que estava assumindo. Ou estava nem aí. A maioria de vocês — especialmente se forem contribuintes americanos que estão limpando a bagunça do Sr. Cassano — poderá não achar essa suposta falta de petulância muito divertida, considerando-se que a AIG faliu por causa do seu fracasso no seu portfólio de 441 bilhões de dólares de CDS, e não por causa da sua principal atividade de seguros. O ponto de Chang continua sendo: não somos tão racionais assim, logo, o mercado também não será.
140 - Herbert Simon e a racionalidade limitada: ...o principal problema que enfrentamos para tomar uma boa decisão não é a falta de informações, mas sim a nossa capacidade limitada de processar essas informações — um ponto que é belamente ilustrado pelo fato que o celebrado advento da era da internet não parece ter melhorado a qualidade das nossas decisões, a julgar pela confusão na qual nos encontramos hoje. A incerteza reina.
141 - Chang coloca que rotinas e hábitos pessoais são formas de reduzir a complexidade do mundo. Restringir as opções de escolha pode ser eficiente. Mesmo empresas fazem isso. Rotinas produtivas. Não tentam tomar a decisão racional perfeita sempre. Seria lidar com um montante sufocante de informação a toda hora. Vale até para enxadristas ...ao estudar mestres de xadrez, Simon percebeu que eles usam regras práticas (heurística) para se concentrar em um pequeno número de jogadas possíveis, a fim de reduzir o número de situações que precisam ser analisadas, embora as jogadas pudessem ter produzido melhores resultados.
142 - ...a teoria de Simon demonstra que muitas regulamentações funcionam não porque o governo necessariamente saiba mais do que quem é regulamentado (embora às vezes isso possa acontecer), mas porque ele limita a complexidade das atividades, o que possibilita que o regulamentado tome decisões melhores. A crise financeira mundial de 2008 ilustra belamente este ponto. Graças à complexidade dos instrumentos financeiros criados, ninguém sabia - de investidores a fiscalizadores - exatamente o que estava acontecendo. Para Chang, um novo derivativo necessitaria ser analisado-testado, por exemplo, como se fosse uma nova droga perigosa, antes de ser liberado no mercado.
Pgs. 143-151
"CAPÍTULO 17: "Mais instrução por si só não tornará um país mais rico"
143 - Na década de 1960, Taiwan tinha uma taxa de alfabetização de apenas 54%, enquanto a das Filipinas era de 72%. Apesar do seu nível educacional inferior, Taiwan a partir de então alcançou um dos melhores desempenhos econômicos da história humana, enquanto o desempenho das Filipinas tem sido bastante precário. (Será que o desempenho excepcional não esteve atrelado a um rápido avanço educacional?). Coloca ainda que a Argentina tinha situação educacional bem melhor que a da Coréia. No entanto, foi a segunda que voou.
144 - Entre 1980 e 2004, as taxas de alfabetização dos países africanos subsaarianos aumentaram substancialmente, de 40 para 61%. Apesar desses aumentos, a renda per capita da região na realidade apresentou uma redução de 0,3% ao ano nesse período.
145 - Para começar, nem toda instrução ao menos se propõe aumentar a produtividade. Muitas disciplinas não causam nenhum impacto, nem mesmo indiretamente, na produtividade da maioria dos trabalhadores: literatura, história, filosofia e música, por exemplo. A partir de um ponto de vista rigorosamente econômico, o ensino dessas matérias é uma perda de tempo. (...) até mesmo as partes da instrução supostamente voltadas para a produtividade não são tão relevantes para o aumento da produtividade quanto imaginamos.
146 - Algumas afirmações são um tanto polêmicas: Análises estatísticas realizadas em vários países não conseguiram encontrar nenhuma relação entre a pontuação em matemática dos alunos do país com o desempenho econômico dele. Dá exemplos concretos. Alunos de ex-repúblicas soviéticas pouco desenvolvidas tendo desempenho matemático (primário) melhor que os de países avançados - Noruega, Israel etc. (Ok, mas talvez leve décadas para um capital humano elevado levar a uma convergência de renda. Talvez não sem motivo a Europa Oriental esteja avançando mais que a Ocidental ultimamente. Talvez seja um filme, não uma fotografia).
147 - Economia do conhecimento? A depender do sentido que se dê ao termo, é algo que sempre existiu: A China foi o país mais rico do mundo durante o primeiro milênio porque ela possuía um conhecimento técnico que os outros não tinham, com o papel, os tipos móveis, a pólvora e a bússola sendo os exemplos mais famosos, mas de modo algum os únicos. A Grã-Bretanha tornou-se o poder hegemônico do mundo no século XIX somente porque passou a liderar o mundo na área das inovações tecnológicas.
148 - Segundo Chang, em muitos setores, a necessidade de instrução pode estar até diminuindo: O exemplo mais impressionante é o fato de que a maioria dos balconistas nos países ricos nem mesmo precisa saber somar — habilidade de que outrora os seus equivalentes decididamente precisavam — já que as máquinas de leitura do código de barras fazem isso para eles hoje em dia. Outro exemplo é que os ferreiros nos países pobres provavelmente sabem mais a respeito da natureza dos metais no que diz respeito à fabricação de ferramentas do que a maioria dos funcionários da Bosch ou da Black & Decker.
149 - Escolaridade. Ainda no final de 1996, a taxa de matrícula universitária na Suíça continuava a ser menos da metade da média da OCDE (16% versus 34%). A partir de então, a Suíça aumentou consideravelmente essa taxa, elevando-a para 47% em 2007, segundo dados da UNESCO. Entretanto, a taxa suíça ainda permanece a mais baixa entre os países ricos do mundo e está muito abaixo da que encontramos na maioria dos países intensamente voltados para o ensino universitário, como a Finlândia (94%), os Estados Unidos (82%) e a Dinamarca (80%). Curiosamente, a taxa suíça também é muito inferior à de muitas economias consideravelmente mais pobres, como a Coreia (96%), a Grécia (91%), a Lituânia (76%) e a Argentina (68%).
150 - ...Onde Chang quer chegar? Nesta polêmica aqui: a demanda por universidade pode ser em grande parte artificial. Uma necessidade improdutiva de diferenciação. Considerando-se que a Suíça foi capaz de manter, até meados da década de 1990, uma das taxas de produtividade nacional mais elevadas do mundo com uma taxa de matrícula universitária entre 10 e 15%, poderíamos afirmar que percentuais de matrícula muito mais altos do que isso são na realidade desnecessários. (Não seria. talvez, um luxo ao qual só a Suiça pode se dar por ser um paraíso fiscal?)
151 - Crê que a escola-universidade não pode ser o principal motor do ganho de produtividade. Importa muito mais a maneira como os seus cidadãos estão bem organizados em entidades coletivas com uma elevada produtividade — sejam as empresas gigantes como a Boeing ou a Volkswagen, ou as empresas menores de nível internacional da Suíça e da Itália. Recomenda "capital paciente"; proteção industrial e ao trabalhador; uma boa lei de falências etc.
.
Comentários
Postar um comentário