Livro: Fernando Carvalho ... and Sicsu - Economia Monetária e Financeira - Capítulos 13 e 14
Livro: Fernando Carvalho, Luiz Fernando De Paula and Joao Sicsu - Economia Monetária e Financeira (2007)
Pgs. 192-208
"CAPÍTULO 13: "OPERACIONALIDADE DA POLÍTICA MONETÁRIA: FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS"
171 - A atuação da autoridade neste mercado – por intermédio das operações de mercado aberto – se faz através de dois tipos básicos de operações: operações definitivas (leilões primários formais e leilões informais de títulos) e operações compromissadas (leilões informais de dinheiro e operações de compra de títulos com compromisso de revenda no âmbito do redesconto).
172 - BC e as reservas: a única instituição com capacidade para criar ou destruir liquidez no curtíssimo prazo (em prazos maiores, uma alteração nos parâmetros de preferência do público por retenção de moeda pode também contribuir para a criação ou destruição de reservas).
173 - Cálculos para previsão de liquidez: Dentre os fatores que afetam as reservas, a demanda por papel-moeda do público segue certa rotina de sazonalidade, facilitando sua previsão pelo Banco Central. Assim, finais de semana, vésperas de feriado, finais de ano e dias de pagamento e recebimento são períodos característicos de saques, enquanto que no início da semana percebe-se um movimento na direção oposta.
174 - ...No caso dos depósitos do Tesouro Nacional, o perfil temporal de gastos e arrecadação impossibilita a movimentação sincronizada entre depósitos e saques, dificultando sua previsão pelo Banco Central. Tipicamente, nos dias de recolhimento de tributos e leilões de títulos há retirada líquida do sistema enquanto nos dias de pagamento de salários ocorre injeção líquida de reservas. (...) Com relação aos ativos externos líquidos, as variações nos mesmos vão ser decorrência do resultado entre exportações e importações e entre compras e vendas financeiras. O BC pode atuar sobre a moeda estrangeira também, via leilões à vista ou swaps.
175 - ...Vale notar, contudo, que o acréscimo ou decréscimo nas reservas internacionais não é exatamente igual às compras ou vendas efetuadas via leilões. Isso porque existem operações diretas do Banco Central, como o pagamento dos encargos da dívida externa, o pagamento de empréstimos de regularização junto ao Fundo Monetário Internacional, e as receitas das aplicações das reservas, entre outras, que não geram contrapartida no mercado monetário.
176 - ...Assim, o Banco Central vai estar diariamente estimando o impacto desses e de outros fatores no mercado de reservas bancárias a fim de adotar políticas que visem à sua neutralização. Tudo para manter a SELIC na meta, digamos.
177- O uso do swap cambial permite que o próprio mercado, mais do que o BC, possa ofertar hedge cambial às empresas. Até explica a teoria - o funcionamento do mecanismo no livro -, mas não entra em discussões práticas. Meu interesse beirou zero.
178 - A atuação da autoridade pode variar de direção ao longo do dia. O Banco Central pode abrir o mercado como doador de recursos e, ao perceber que a liquidez está se elevando para além do requerido, passar a tomar recursos junto aos bancos.
179 - O SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia é um sistema para registro e custódia de transações com títulos públicos federais (títulos do Tesouro e do Banco Central) e depósitos interfinanceiros. Criado em 1979.
180 - (Eu já vi muita explicação sobre compromissadas e achei "ok", pensando até ter entendido bem, mas as desse livro parecem complicadas ou ruins. Pergunto-me até se entendi mesmo.)
181 - ...A frequência com a qual essas operações são realizadas, por outro lado, vai depender basicamente da existência ou não das exigibilidades compulsórias que acomodam as necessidades de reservas. Nos países onde não existem recolhimentos compulsórios, o Banco Central realiza operações compromissadas praticamente todos os dias.
182 - ...Os dealers (credenciados): A instituição dealer deve também funcionar como um “fazedor de mercado” (market maker) atuando tanto nas ofertas primárias de títulos públicos como nos mercados secundários, de modo a garantir a liquidez destes mercados.
183 - Os go-arounds de títulos, por seu turno, são operações denominadas definitivas. O Banco Central vende às instituições títulos já emitidos que estão em sua carteira. O título, portanto, se incorpora à carteira da instituição compradora. Não há neste caso uma operação compromissada entre o Banco Central e os bancos, envolvendo acordo de recompra ou de revenda. As operações definitivas são particularmente indicadas quando o Banco Central quer fazer uma retirada de reservas no mercado de forma mais permanente, normalmente por ocasião da adoção de uma política monetária restritiva de mais longo prazo. Não há leilão público e se atua com os dealers. Cada um oferta uma taxa de juros e o BC vê o que/quanto aceitar.
184 - Outro tipo de leilão definitivo: Diferentemente do leilão informal, o leilão formal é precedido de um anúncio transmitido eletronicamente para todas as instituições habilitadas a participar do mesmo (ver Box 13.6). Neste anúncio constam os tipos de títulos que serão ofertados e em que quantidades, bem como o tipo de leilão e as quantidades mínimas que têm de ser cotadas.
185 - ...Se a demanda for muito baixa, o BC pode acabar elevando os juros.
186 - A taxa de juros de curto prazo, ou taxa básica da economia, nada mais é que o resultado do confronto entre a oferta de reservas, definida pelas atuações do Banco Central nas operações compromissadas e operações definitivas e o saldo do fluxo de entrada e de saída de dinheiro para e do sistema bancário, com a demanda por reservas dessas instituições definida pelas suas necessidades de atender às exigibilidades compulsórias e seus compromissos com o setor não monetário da economia. (...) A maneira mais usual de evitar ruídos nessa comunicação é através do anúncio de metas para taxa de juros. O Federal Reserve e o Banco Central do Brasil, por exemplo, adotam esse modelo.
187 - Como o Banco Central é um ofertante monopolista no mercado de reserva, os agentes têm consciência da sua capacidade de determinar a taxa de juros de curto prazo desejada. Uma vez que essa taxa tenha sido tornada explícita, não há por que atuar na direção oposta àquela pretendida pela autoridade. Porém, o BC toma cuidado com movimentos que causem problemas aos bancos. Uma taxa de juros absurda, por exemplo, poderia comprometer toda a liquidez do sistema.
188 - Enfim, capítulo chatíssimo. Quase todo descritivo.
Pgs. 209-222
"CAPÍTULO 14: "MECANISMOS DE TRANSMISSÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA"
189 - Colocam que, até décadas atrás (anos sessenta ou setenta), a política monetária não era vista como algo potente e/ou decisivo. Ao que entendi, depois dos sacolejos de Volcker e estabilidade de Greenspan, a opinião começou a mudar.
190 - Ensinam em detalhes o que é uma curva de juros... O prazo de duração e a liquidez costumam determinar o rendimento. Um papel muito ilíquido, mesmo com prazo menor, pode ter que ofertar maior rendimento. (A curva não fica bonitinha).
191 - Dão as tradicionais explicações incompletas e chatas, eis que essencialmente descritivas: ...Swaps são contratos derivativos em que obrigações de um determinado perfil são trocadas por obrigações de valor semelhante, mas perfil diferente. Em swaps de juros, por exemplo, um tomador de empréstimos a taxas de juros flutuantes troca esse perfil de obrigações por outro, de mesmo valor, mas de taxas de juros prefixadas.
192 - A subida do juros de curto prazo tende a influenciar toda a curva: ...Tomemos como exemplo uma elevação da taxa de curtíssimo prazo. Neste caso, papéis com maturidades imediatamente superiores estariam pagando um acréscimo de taxa de juros que não mais compensaria o risco adicional que representa a maturidade mais longa. Os investidores tentariam realinhar suas carteiras, vendendo o papel de maior maturidade, cuja taxa de juros deixou de ser atraente, para comprar o de curtíssimo prazo, cujo risco é menor mas cuja remuneração cresceu. A pressão de venda dos papéis de maturidade maior faria com que seu preço de mercado caísse, subindo, portanto, sua taxa de juros. (...) Processo semelhante faria com que subissem as taxas de juros sobre os papéis de todas as outras maturidades.
193 - ...Como tudo isso afeta a economia real? Pelo efeito-riqueza (ou seja, não se trata apenas de crédito mais caro e especulação mais rentável): ...a elevação da taxa de juros, ao causar um deslocamento de toda a curva de rendimentos, impõe perdas a todos os detentores de ativos financeiros da economia. Mais pobres, esses agentes tenderão a reduzir seu consumo. Enfim, consumo menor e investimento comprimido. Lembram que ainda tem a questão do "q" de Tobin. Naturalmente, a potência de um tal mecanismo de transmissão depende crucialmente da importância da bolsa de valores na economia, ainda muito reduzida na maioria dos países, inclusive o Brasil.
194 - Relembrando: Redesconto: ...o Banco Central, ao invés de comprar títulos que estão na carteira dos bancos, empresta-lhe as reservas (ou as cobra, se o sentido da política for contracionista).
195 - A taxa de juros de curto prazo obviamente impacta o crédito geral: Os bancos sobem sua taxa de juros sobre empréstimos porque agora contam com uma alternativa mais rentável, que é a compra de títulos.
196 - ...No caso do redesconto, se há racionamento quantitativo por parte do Banco Central, este racionamento obviamente se refletirá na concessão de empréstimos bancários a famílias e empresas. Se o que houve foi um encarecimento do redesconto, os bancos terão as reservas necessárias, mas só poderão emprestá-las a uma taxa de juros maior, a fim de cobrir o aumento da taxa de juros que eles próprios tiveram de pagar pelas reservas obtidas junto ao Banco Central.
197 - Passam a falar da liberalização da conta de capitais. Começou nos desenvolvidos, mas acabou abrangendo a grande parte dos países.
198 - ...Livre fluxo de capitais combinado a uma alta taxa de juros e modelo de câmbio flexível: ...subirá a demanda externa por moeda doméstica, já que os investidores estrangeiros, antes de poder comprar ativos domésticos, terão de comprar a moeda doméstica. Este excesso de demanda, em um regime de câmbio flexível, deverá levar a uma valorização da moeda local diante das moedas do resto do mundo. Também tende a parar de vazar demanda local por moeda estrangeira (investir fora). Os riscos disso: uma erosão das exportações líquidas do país e a um estrangulamento de seu balanço de pagamentos.
199 - ...Para combater a inflação é uma "maravilha": ...uma alta da taxa de juros não apenas contrai a demanda doméstica, como descrito na Seção 14.3, como também barateia importações.
200 - Afirmam que o crédito no Brasil é pequeno em relação à economia, o que pode dificultar o impacto da política monetária; (Não sei o quanto isso mudou desde o livro. Achei o quadro traçado por eles muito drástico: No caso do Brasil atual, não operam o canal de ativos, por causa do reduzido horizonte da curva de rendimentos. Também opera com reduzida eficácia o canal do crédito, dada a atrofia do crédito ao setor privado no país. Opera, por outro lado, com grande força o canal da taxa de câmbio).
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