Livro: Fernando Carvalho ... and Sicsu - Economia Monetária e Financeira - Capítulo 10

                                                                                                                               

Livro: Fernando Carvalho, Luiz Fernando De Paula and Joao Sicsu - Economia Monetária e Financeira (2007)



Pgs. 137-150


"CAPÍTULO 10: "A TEORIA DA POLÍTICA MONETÁRIA NOVO-CLÁSSICA"


118 - Robert Lucas, que ganhou o Prêmio Nobel em 1995,Thomas Sargent e Neil Wallace promoveram uma nova revolução já no final da década de 1970. Contra Friedman, a pendenga era só relativa ao tipo de expectativas. Em vez de "adaptativas", racionais. Os agentes ...não formam expectativas olhando unicamente para trás (backward-looking), mas também olham para o futuro (forward-looking). Não é, porém, a única escola a adotar esse pensamento (rodapé diz).


119 - Ao se afirmar que as expectativas são racionais supõe-se que todo e qualquer agente possui o mesmo modo de entender a economia e que tal modo corresponde à verdadeira forma de operação da economia. (...) não formam expectativas racionais os agentes que não sabem qual a implicação de um aumento do estoque monetário, dado que esta informação está disponível. (No sentido inverso, por exemplo, não consigo ver o senhor feirante parando de aumentar preço assim que o BC anunciar a subida de 75 pontos bases.)


120 - Pode-se, portanto, concluir que, segundo a teoria da política monetária novo-clássica, partindo-se de uma situação em que a taxa corrente de desemprego é igual à taxa natural e o governo anuncia um aumento da oferta de moeda, os agentes reagiriam à decisão das autoridades exclusivamente aumentando os seus preços, sem contratar qualquer trabalhador adicional. Assim, a taxa corrente de desemprego permaneceria repousada sobre a taxa natural. (...) Sargent e Wallace mostraram, contudo, que unicamente as políticas monetárias que causam surpresa poderiam provocar efeitos reais na economia.


121 - Moeda superneutra: Posteriormente, uma nova vertente novo-clássica mais radical surgiu. É a chamada teoria dos ciclos reais, que tem como um dos seus maiores expoentes o economista americano Charles Plosser. (...) Segundo Plosser, a capacidade dos governantes de implementar políticas de surpresa desaparece. Isto ocorre porque existe um modelo para orientar a tomada de decisão dos governantes que se torna conhecido por todos. Se os agentes formam expectativas racionais, incorporam também o modelo decisório dos dirigentes do Banco Central. Assim, as flutuações do produto não podem ser explicadas pela falta de informação. (...) A explicação dada pela teoria dos ciclos reais é que variações do produto e do emprego são decorrentes de choques tecnológicos e não de choques monetários. (Inclui os choques da "natureza", como o do petróleo ou um terremoto).


122 - O modelo de Lucas me parece bem menos rígido, pois ainda permite erros empresariais: ...Entenderiam que o aumento de preços não estaria sendo provocado por um aumento de oferta monetária, mas sim por um real aumento de demanda por seus produtos. Afinal, variações setoriais e mudanças nas preferências ocorrem. O resultado seria contratação de mais trabalhadores, não simples aumento de preço. Ainda assim, tudo isso seria no curto prazo. Certa ilusão monetária. Quando tal elevação do nível de preços é percebida por empresários e trabalhadores, a produção é reduzida (a curva de oferta vai de SCP para SCP’) e o desemprego volta ao seu ponto original equivalente à taxa natural (de U’ para Un). Ou seja, os novo-clássicos não consideram recomendável agir de forma a surpreender os agentes. Não resolve nada, dizem.


123 - ...Consequências práticas do modelo: Se estes tenderam a surpreender os agentes no passado, terão que pagar pela desconfiança do público no futuro, tendo que administrar uma economia com a taxa corrente de desemprego igual à taxa natural e com inflação. (...) A conclusão é, então, que é melhor não tentar enganar os agentes para não criar um ambiente de expectativas inflacionárias nervosas, que têm como consequência a própria inflação.


124 - Alesina e Summers mediram grau de independência de BC's correlacionado à inflação: 



125 - Como supostamente um BC não pode fazer muita coisa quanto à taxa de desemprego, que tenderia sempre à natural, restaria ao mandato do BC perseguir implacavelmente a estabilidade de preços. Podemos dizer que essa é a posição novo-clássica. Doa ao político que doer.


126 - ...Na teoria, tudo é lindo: ...se as autoridades monetárias têm elevada reputação e suas políticas são consideradas críveis, os custos da desinflação serão nulos. Sob essas circunstâncias favoráveis, se as autoridades monetárias anunciam que eliminarão a variação do estoque de moeda que causa a inflação que deve ser anulada, os agentes acreditarão que tal política será implementada e desistirão de reajustar seus preços e salários – aceitando a eliminação da inflação existente. Tudo seria rápido e indolor.


127 - Alguns querem engessar ainda mais a coisa: ...Walsh sugere que seja estabelecido um contrato entre o Banco Central e o governo. Esse contrato deve impor custos (perda do cargo, por exemplo) ao presidente do Banco Central e à sua diretoria quando a inflação ultrapassar o nível considerado ótimo pelo governo e/ou parlamento.


128 - Keynesianos e mesmo Friedman tendem a ser contrários à tese da independência do BC. O segundo objeta que é muito poder. Prefere regras objetivas de expansão do estoque monetário ao que entendi. Isso, na cabeça dele, manteria sob controle a inflação sem precisa dar superpoderes monetários a uma autoridade. Já para Tobin e outros: ...O seu objetivo deveria ser não exclusivo, isto é, controlar tão-somente a inflação, mas também reduzir o desemprego.


129 - Há um apêndice, que me lembra fichamentos que já fiz de livros de Introdução e Macro: A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA CURVA DE PHILLIPS. Samuelson e Solow referendaram a antiga descoberta de Phillips. Excetuando períodos como o da Grande Depressão, os governantes e sociedades dos diversos países poderiam escolher inúmeras combinações de desemprego e inflação


130 - A economia estadunidense dos anos sessenta: Samuelson e Solow aconselharam o Governo americano a alcançar um desemprego de 4% que, segundo eles, era compatível com uma taxa de inflação menor que 3% ao ano. Logo, a busca velho-keynesiana pelo pleno emprego significava na prática algum nível de desemprego. Dessa forma, a administração de John Kennedy anunciou em 1962 uma meta de 4% para o desemprego. A meta de 4% tornou-se, através de repetição nos meios de comunicação, a meta de pleno emprego.



131 - Nos anos setenta, isso parou de funcionar e o gráfico virou uma bagunça. Foram buscar soluções nas ideias monetaristas, à época em segundo plano. Segundo os teóricos monetaristas, simplesmente o que tinha acontecido é que a curva de Phillips teria se deslocado para a direita, já que os agentes econômicos não tinham mais expectativas de que os preços se manteriam inalterados. (...) trabalhadores têm interesse no seu salário real, e não no seu salário nominal.



132 - ...Assim, o eixo vertical do plano onde a curva de Phillips é descrita deve mostrar a diferença entre a inflação esperada e a efetiva.


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