Livro: Fernando Carvalho ... and Sicsu - Economia Monetária e Financeira - Capítulo 8 e 9

                                                                                                                                

Livro: Fernando Carvalho, Luiz Fernando De Paula and Joao Sicsu - Economia Monetária e Financeira (2007)



Pgs. 113-124


"CAPÍTULO 8: "A TEORIA DA POLÍTICA MONETÁRIA NO MODELO KEYNESIANO"


102 - A visão dos velhos-keynesianos sobre a (im)potência da política monetária para alterar variáveis reais é apresentada conjuntamente com o modelo IS-LM. Os velhos-keynesianos consideram que esse modelo, posteriormente batizado de Hicks-Hansen, é o instrumental básico, que, embora simples, descreve os fenômenos essenciais da macroeconomia. A fiscal é que seria a grande estabilizadora. Não adiantaria esperar muito dos juros. Cita-se Paul Samuelson como um dos grandes representantes do chamado "velho-keynesianismo". Na visão deles, por exemplo, uma grande redução da taxa de juros provocaria tão-somente uma reduzida ampliação do investimento. (...) "Observamos uma grande queda da taxa de juros de longo termo de 1932 a 1941 e, não obstante, não observamos um alto nível de investimento". (Lawrence Klein)


103 - ...Daí advém o caráter fiscalista do keynesianismo americano de L. Klein, W. Heller, G. Ackley, O. Eckstein, P. Samuelson, entre outros. Uma exceção que merece destaque entre os velhos-keynesianos é o Prêmio Nobel James Tobin, que sempre defendeu que a política monetária é potente para alterar variáveis reais. Há um box exemplificando como Tobin via a política monetária influenciando o produto (valor de mercado da empresa fica acima do seu custo de capital: ...a colocação de papéis junto ao público, para financiar estes investimentos, se torna mais barata):



104 - ...as firmas com uma emissão pequena de ações podem obter recursos suficientes para adquirir uma grande quantidade de novos bens de investimento.


105 - A curva IS é o conjunto de pontos de equilíbrio no mercado de bens (demanda igual ao produto) representado no plano renda (Y) e taxa de juros (i). A curva LM é o conjunto de pontos de equilíbrio no mercado monetário (demanda por moeda igual à oferta) representado no mesmo plano. A interseção das duas curvas é o ponto em que a economia está em equilíbrio no mercado monetário e no mercado de bens. (...) Quanto mais inclinada a curva IS, menos potente será a política monetária que visa a uma ampliação da renda



106 - ...O que determina essa inclinação? A sensibilidade-juros do investimento que, segundo os velhos-keynesianos, é muito baixa. Então, a curva IS é, para eles, basicamente vertical. (Enfim, cada um calibra o modelo pra dar o que quer, mas são várias páginas explicando)



107 - O governo Kennedy tinha um grupo de conselheiros keynesianos. Porém, parte deles defendia redução de impostos quando a demanda estivesse abaixo da necessária ao pleno emprego e outra parte (John Kenneth Galbraith, por exemplo) um aumento de gastos, principalmente na área social, visando redistribuição. 


108 - Pessimismo das elasticidades e armadilha da liquidez: Uma versão especial do receituário velho-keynesiano de política econômica emerge quando associada à função demanda por bens de investimento com baixa elasticidade-juros vislumbrando-se uma função demanda por moeda com elevadíssima elasticidade-juros. (...) Na armadilha da liquidez, o público transforma todo aumento de oferta monetária em encaixes inativos (fundos especulativos) e não em recursos ativos (fundos transacionais).


109 - Ao fim, há um apêndice chamado A TEORIA DA POLÍTICA MONETÁRIA KEYNESIANA HORIZONTALISTA. A impotência da política monetária não foi sugerida apenas pela síntese neoclássica. Com argumentos totalmente diversos do velho-keynesianismo, Nicholas Kaldor, em seu livro The Scourge of Monetarism, defendeu também tal proposiçãoKaldor concluiu que as autoridades monetárias devem tão somente fixar uma taxa de juros (compatível, por exemplo, com uma taxa de crescimento econômico) e conceder livremente liquidez ao sistema monetário para atender às demandas por reservas dos bancos. (...) Para essa corrente, uma política monetária expansionista poderia criar somente um excesso de reservas bancárias, porque não seria capaz de despertar os espíritos empreendedores dos empresários. São motivos espontâneos (isto é, não monetários) – espírito inovador, por exemplo – que estimulam os empresários a tomar decisões de investimento. Inversamente, uma política monetária contracionista poderia ser prejudicial porque poderia afetar a solvência dos bancos. (...) Em suma, para os horizontalistas, a melhor política monetária que o Banco Central pode (e deve) praticar é aquela que mantém a taxa de juros constante e, ao mesmo tempo, concede reservas aos bancos de acordo com as suas necessidades. Para o horizontalismo, o instrumento de política econômica eficaz seria tão-somente a política fiscal. Portanto, o horizontalismo é também uma corrente essencialmente fiscalista, tal como a síntese neoclássica.



Pgs. 125-136


"CAPÍTULO 9: "A TEORIA DA POLÍTICA MONETÁRIA DO MODELO MONETARISTA"


110 - Friedman é que teria trazido o "moeda importa". Segundo Friedman, é possível reduzir a taxa de desemprego com políticas monetárias expansionistas, ainda que apenas temporariamenteDaí vem a denominação dessa corrente, o monetarismo, em oposição ao fiscalismo keynesiano. Friedman apoia suas ideias no tripé: taxa natural de desemprego, curva de Phillips e expectativas adaptativas.


111 - Taxa natural: ...é aquela taxa de desemprego que incorpora as características estruturais e institucionais do mercado de trabalho e do mercado de bens, tais como a tecnologia, as imperfeições, as variações sazonais na demanda e oferta, o custo e o tempo de coletar informações sobre vagas disponíveis e o custo e o tempo de mobilidade de um emprego para outro – entre outras características. Só há friccional e voluntário.


112 - O Gráfico 9.1 resume algumas das ideias até aqui expostas sobre a taxa natural de desemprego. A taxa natural de desemprego muda ao longo do tempo em função, por exemplo, de mudanças nas preferências dos trabalhadores entre lazer e trabalho e de melhorias em outras condições, entre elas uma mobilidade geográfica maior dos trabalhadores ou a busca de empregos e empregados via Internet. Ao que sei, mudanças nas leis trabalhistas também poderiam influenciar isso?



113 - Expectativas adaptativas e a ilusão monetária gerada por uma expansão que coloca o desemprego abaixo da taxa natural: ...Os trabalhadores, contudo, somente perceberão que estavam sofrendo de ilusão monetária quando estiverem realizando suas compras. Nesse momento, irão perceber que o salário que receberam não pode adquirir os bens e serviços que gerariam mais satisfação do que o lazer que estavam desfrutando enquanto estavam ociosos.


114 - ...Quando os trabalhadores subestimam a inflação futura em razão de uma política monetária expansionista, o desemprego se reduz, por exemplo, para o ponto B, onde a taxa corrente de desemprego é menor do que a taxa natural. A curva de Phillips indica que quanto maior for a decepção de expectativas (P"ezinho"), maior será a diferença entre a taxa corrente e a taxa natural de desemprego.



115 - A curva de Phillips "aceleracionista": Para que o desemprego permaneça abaixo da taxa natural é necessário que os trabalhadores sejam iludidos continuamente. Para tanto, é necessário que seja implementada uma política de aumento das variações positivas do estoque de moeda. Tal política aumentará continuamente a taxa de inflação, isto é, irá acelerar a velocidade de crescimento do preços.


116 - Friedman, ao criticar o ativismo monetário, ainda adicionou o problema das defasagens: A primeira defasagem, também chamada de defasagem interna, refere-se ao intervalo de tempo que transcorre entre um choque econômico (que aumenta o desemprego, por exemplo) e a ação das autoridades monetárias em resposta ao distúrbio. Tal defasagem ocorre porque há uma demora no reconhecimento do problema e na implementação das medidas corretivas. A segunda, chamada de defasagem externa, é decorrente do intervalo que ocorre entre a implementação das medidas e os seus efeitos sobre a economia. Esta última acontece porque as políticas monetárias não exercem um impacto imediato sobre as variáveis reais da economia. Seu receituário é uma expansão monetária constante a taxas baixas.


117 - Exemplo de dilema prático que um governo enfrenta se quiser reduzir a inflação com terapia de choque ou de forma gradual: ...O governo pode acabar com a inflação de um ano para o outro, mas faria a taxa de desemprego crescer de 6% para 18%. Alternativamente, poderia zerar a inflação em três anos, somente provocando um desemprego de 10%, somente 4% além da taxa natural de 6%. Enfim, há uma "taxa de sacrifício". No fim das contas... é seis por meia dúzia talvez.


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