Livro: Fernando Carvalho ... and Sicsu - Economia Monetária e Financeira - Capítulos 6 e 7
Livro: Fernando Carvalho, Luiz Fernando De Paula and Joao Sicsu - Economia Monetária e Financeira (2007)
Pgs. 90-100
"CAPÍTULO 6: "A DEMANDA POR MOEDA NO MODELO MONETARISTA: A NOVA TEORIA QUANTITATIVA DA MOEDA"
75 - Galera de Friedman. ...Daí por que os monetaristas se autointitulam novos quantitativistas, e se posicionam de forma crítica à análise da demanda por moeda elaborada pelos keynesianos, em particular a abordagem Tobin-Baumol.
76 - Na prática, não sei bem qual será a diferença entre as TQM, mas vamos tentar ver o que está por trás de abstrações como esta: ...a renda na TQM tradicional era um indicador do volume de bens e serviços a ser transacionado em um dado período, na nova TQM de Friedman, a renda se torna uma variável usada para se obter uma aproximação do valor da riqueza social. (...) Segundo Friedman, a riqueza total é composta de riqueza humana, relacionada à capacidade produtiva dos seres humanos, e de riqueza não humana, que engloba riqueza material, como moeda, ativos financeiros (títulos, ações) e um conjunto heterogêneo de bens físicos (por exemplo, imóveis).
77 - A riqueza "humana" exigirá maior retenção em moeda (cresce a demanda por ela), pois não pode ser vendida em seu total. Seria escravidão. É ilíquida, portanto. Friedman pretende controlar as variáveis que afetam a demanda por moeda. Por isso essas análises todas.
78 - ...Outro exemplo aqui: ...a demanda por moeda das unidades detentoras de riqueza, Md, é uma função inversa das taxas de retorno dos ativos financeiros de renda fixa (ra), e de renda variável (rb) e da taxa esperada de inflação no tempo (1/P dP/dt):
79 - A utilidade da moeda também varia com gostos e preferências. Aqui a coisa me parece bem mais imprevisível. Exemplo: ...é razoável supor que os indivíduos queiram manter uma fração maior de sua riqueza em forma de moeda – aumentando sua demanda por liquidez – quando estão se movimentando geograficamente ou estão sujeitos a uma incerteza incomum (por exemplo, instabilidade política) do que em outras condições.
80 - Enfim, juntando-se tudo, Friedman pretendeu construir uma boa função demanda por moeda:
81 - ...A função acima é uma equação M = kPy na forma expandida (a TQM na leitura Cambridge). Contudo, ao invés de considerar “k” como essencialmente fixa, este economista assume “k” como uma função estável de um número menor de variáveis econômicas, o que permite ver a velocidade-renda da moeda como previsível, ainda que não constante.
82 - Se for só isso, "me mate": ...Os keynesianos tendem a se concentrar em um espectro estreito de ativos negociáveis (moeda e títulos de renda fixa) e taxa de juros, enquanto os quantitativistas consideram um espectro maior de ativos e de taxa de juros que devem ser levadas em conta, tais como bens duráveis e semiduráveis e outros ativos reais. Talvez, por isso, o famoso economista keynesiano Franco Modigliani tenha dito em seu discurso presidencial da American Economic Association, em 1976, que “não há nenhum desacordo analítico sério entre monetaristas e não monetaristas”.
83 - Outro detalhe da "briga" seria se o papel da taxa de juros na demanda por moeda é grande ou pequeno.
84 - Philip Cagan, em seu clássico estudo sobre hiperinflações na Europa nos pós-guerras mundiais (Primeira e Segunda Guerra Mundial) – The Monetary Dynamics of Hyperinflation –, definiu que uma hiperinflação “começa no mês em que o aumento dos preços ultrapassa 50% e termina no mês antes que o aumento dos preços caia abaixo desse valor e que assim permaneça durante pelo menos um ano”. Este fenômeno ocorreu no primeiro pós-Guerra Mundial na Áustria, Alemanha, Hungria, Polônia e Rússia; e no segundo pós-Guerra Mundial na Hungria (país com hiperinflação recorde, com média de inflação de 19.800% ao mês, de ago./45 a jul./46!), China, Grécia e Taiwan. (...). Depois destas experiências, o mundo ficou 34 anos, de 1949 a 1983, sem ter hiperinflação. Contudo, na década de 1980, vários países (entre eles, Bolívia, Argentina, Peru e Brasil) tiveram inflações superiores a 100% num período de 12 meses, ainda que em muitos deles não tenha ocorrido o fenômeno da hiperinflação.
85 - ...Governos, segundo Cagan, recorrem à emissão de moeda rapidamente quando são incapazes de conter a expansão das despesas orçamentárias e aumentam a tomada de empréstimos junto ao público. Em todos os casos verificados de hiperinflação, o crescimento do estoque de moeda é alto porque o déficit orçamentário é elevado. É a senhoriagem. Ainda assim, a inflação "ganha vida", digamos, e avança mais rapidamente que a expansão monetária. Embora as moedas depreciadas não sejam abandonadas completamente, o público empreende esforços custosos para reduzir seus encaixes de uma moeda em rápida depreciação. (...) Estes esforços resultam em uma enorme redução nos saldos monetários em termos reais e em um grande aumento na velocidade de circulação da moeda. (...) No caso da hiperinflação alemã de 1922/23, a quantidade de encaixes reais no auge da hiperinflação caiu a 1/20 do seu nível pré-hiperinflação. O imposto inflacionário tem que ser cada vez maior se quiser compensar isso, o que só acelera a coisa. As expectativas agem. Se mantida por um longo período de tempo, uma taxa elevada de expansão monetária acaba por levar a um aumento proporcional tanto da inflação corrente quanto da esperada e à diminuição dos saldos monetários reais. Se o crescimento da oferta de moeda for maior do que a quantidade que maximiza a senhoriagem, o aumento na disponibilidade de moeda provocará a diminuição da senhoriagem. A reação do governo será acelerar a expansão monetária a fim de "fechar as contas/realizar seus pagamentos". Tentará não perder a mão da senhoriagem. Enfim, ciclo vicioso de aceleração da inflação.
86 - Coloca que os resultados de Cagan são compatíveis com o modelo de Friedman. Em condições anormais de aceleração inflacionária, a taxa esperada de inflação se torna o fator fundamental no comportamento da demanda por moeda.
87 - ...Esta redução nos encaixes reais é parte importante no processo de ajustamento diante de um aumento no crescimento monetário, pois significa que em média os preços devem subir mais rápido do que a moeda.
88 - Ainda a hiperinflação: ...enquanto a taxa real de juros varia num período de tempo apenas alguns pontos percentuais, a taxa nominal pode variar em centenas ou milhares de pontos percentuais. Consequentemente, como em períodos de hiperinflação o nível de demanda por encaixes reais depende principalmente do nível de inflação esperada.
89 - Há resumos na conclusão. Cabe destacar: ...Como a elasticidade da demanda por moeda em relação à taxa de juros é baixa, a função demanda por moeda depende principalmente do nível de riqueza total dos agentes. Assim, emissão tenderá a causar inflação.
Pgs. 101-112
"CAPÍTULO 7: "A TEORIA DA POLÍTICA MONETÁRIA NO MODELO DE KEYNES"
90 - Há ... keynesianos que, tal como Keynes, consideram que a política monetária é eficaz para alterar variáveis reais. Entre estes estão, por exemplo, Hyman Minsky, Paul Davidson, Jan Kregel e Victoria Chick. Esse grupo de economistas ficou conhecido como os pós-keynesianos. (...) Keynes disse (...): “...não existe uma única posição de equilíbrio de longo período igualmente válida sem se considerar o tipo de política monetária das autoridades. Ao contrário, existem inúmeras posições que correspondem a diferentes políticas” (Keynes, CWJMK: 29, p. 55). Em suma, Keynes defendeu a ideia que a moeda não é neutra nem no curto nem no longo período e que, consequentemente, a política monetária pode ser eficaz para alterar variáveis reais.
91 - Através do controle de reservas compulsórias e da taxa de juros das operações de redesconto, as autoridades monetárias afetam diretamente o volume de crédito ofertado pelos bancos e, consequentemente, as decisões empresariais relativas ao volume de produção.
92 - Juros e investimento. Disputa entre aplicação em títulos ou ativos reais: “Uma queda na taxa de juros estimula a produção de bens de capital não porque reduz o seu custo de produção, mas porque cresce o seu preço de demanda” (Keynes, CWJMK: 5, p.189).
93 - ...Há poréns: Na visão de Keynes e dos pós-keynesianos, a redução dos percentuais de reservas bancárias compulsórias e/ou a redução da taxa de juros das operações de redesconto por parte das autoridades monetárias com o objetivo de estimular decisões privadas de investimento poderia não ser bem-sucedida. Essa redução simplesmente poderia aumentar as reservas disponíveis dos bancos, mas não estimularia a tomada de crédito que financiaria decisões de investimento. No máximo, a baixa de juros serviria para, no curto prazo, atender a alguma demanda reprimida por empréstimos.: “O processo de estímulo do investimento por esta via não pode ir além do ponto no qual não existe mais qualquer franja de insatisfeitos...” (Keynes, CWJMK: 6, p. 327.)
94 - Visão keynesiana: O mesmo objeto, a moeda, quando vai à ilha da circulação industrial assume um papel de meio de troca; quando volta à ilha da circulação financeira, transforma-se num ativo – como qualquer outro produto circulante nesse locus.
95 - ...A arte da política monetária sugerida por Keynes e pelos pós-keynesianos, que visa ao aumento do produto ou, equivalentemente, à redução do desemprego, é conseguir transformar moeda-ativo em moeda meio de troca. Em outras palavras, a arte é induzir a viagem de moeda da circulação financeira para a circulação industrial. Operações no mercado aberto reduziriam os juros dos ativos líquidos, "empurrando" "dinheiro" pra circulação industrial. (...) Nesse sentido, a política monetária que objetiva o crescimento econômico visa, por um lado, à troca de liquidez por iliquidez e, por outro, à troca de rendimentos de juros por lucros recompensador.
96 - Porém, tudo isso precisa ser combinado com os russos, digamos. ...a eficácia da política monetária não depende exclusivamente da utilização dos seus instrumentos, mas é função, fundamentalmente, das avaliações sobre contextos futuros feitas pelos agentes econômicos. Por exemplo, os bancos, primeiros receptáculos do expansionismo, podem simplesmente estocar reservas. A despeito das ações do Banco Central, a recomposição de portfólios se daria pela troca de rendimentos de juros por rendimentos nulos compensados pela troca de ativos líquidos por ativos plenamente líquidos.
97 - Uso de reservas dos bancos para aquisição de papéis financeiros: Caso o aumento de reservas dos agentes econômicos fosse utilizado para a compra de papéis financeiros em mercados secundários, o efeito da política monetária seria nulo. Haveria tão-somente uma pressão altista sobre os preços dos itens financeiros já existentes. (...) Cabe observar, entretanto, que se existissem firmas desejosas de investir, estas provavelmente lançariam papéis novos no mercado primário com preços e remunerações para concorrer com os ativos financeiros já existentes. Logo, se os agentes optassem pela segunda via dificilmente os resultados seriam completamente nulos.
98 - Ao final deste breve capítulo, há o apêndice O PRINCÍPIO DA DEMANDA EFETIVA DE JOHN MAYNARD KEYNES.
99 - Sobre o trabalho, Keynes aceitou que a demanda patronal por trabalho se dá pela produtividade marginal do mesmo. Recusou, porém, o que foi chamado de segundo postulado marshalliano: “A utilidade do salário [real] quando um dado volume de trabalho está empregado é igual à desutilidade marginal do montante de emprego.” Isto porque não é bem assim. Keynes supôs implicitamente que os trabalhadores preferirão trabalhar a não trabalhar, e que eles irão se ater a um contrato (que especifica salário nominal e jornada de trabalho) para uma ampla gama de salários reais; isto é, trabalhadores irão manter seus empregos nos termos fixados nos contratos mesmo diante de uma queda do salário real.
100 - O piso do gráfico de Keynes é o limite físico mesmo.
101 - O resto do apêndice eu achei pura abstração. Não sei o que quis. Na parte "textual" só obviedades: "para Keynes são as expectativas empresariais sobre a demanda futura que determinam emprego e produto correntes". Já sabemos que o retorno esperado com aplicação de qualquer tipo é o que importa. Ou...: quanto mais incerto é considerado o futuro, maior é a preferência pela liquidez no presente.
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