Livro: Fernando Carvalho ... and Sicsu - Economia Monetária e Financeira - Capítulos 4 e 5

                                                                                                                             

Livro: Fernando Carvalho, Luiz Fernando De Paula and Joao Sicsu - Economia Monetária e Financeira (2007)



Pgs. 57-70


"CAPÍTULO 4: "A DEMANDA POR MOEDA, A ESCOLHA DE ATIVOS E A PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ EM KEYNES"


55 - Ressalta a importância de obras anteriores de Keynes: ...Foi no Tratado sobre a Moeda – embora Keynes ainda estivesse a meio caminho da revolução teórica que iria realizar na TG – que o autor desenvolveu o embrião de sua teoria monetária. A ideia de reter moeda - preferência pela liquidez - como opção à escolha de outros ativos veio daí. Moeda como reserva de valor e não apenas meio de troca. (...) quanto maior a incerteza percebida pelos agentes, maior tenderá a ser a retenção de moeda por parte dos mesmos. É um dos bônus de uma economia monetária.


56 - Para Keynes, a moeda não é um mero “véu” nas transações feitas com mercadorias, pois ela afeta os próprios motivos e decisões dos agentes. Caso a renda não consumida seja usada para comprar riqueza não reprodutível – como no caso da moeda e outros ativos líquidos – pode haver deficiência na demanda efetiva na economia. Assim, a taxa de juros, em Keynes, é dada como recompensa pelo agente abrir mão da liquidez. Não se trata apenas de propensão a poupar. A taxa de juros, portanto, ao invés de ser a recompensa pela “espera”, pelo adiamento do consumo, é, segundo Keynes, a recompensa por não entesourar; ou seja, a taxa de juros é o que se ganha não porque se poupa, mas porque se aplica esta poupança em outros ativos (como, por exemplo, ativos financeiros) que não a moeda


57 - ...Neste sentido, a determinação da taxa de juros é tomada como um fenômeno eminentemente monetário – determinado pela preferência pela liquidez dos agentes e pela política das autoridades monetárias (enquanto gestoras da política monetária) – ao invés de ser explicada por fatores reais (tais como as preferências intertemporais dos agentes e a produtividade do capital), como estabelecia a teoria clássica.


58 - A chave está aqui, na análise que Keynes faz da chamada "circulação financeira": ...caso se espere uma alta das taxas de juros no horizonte de decisão, os agentes preferirão reter moeda a títulos. É a batalha entre ursos e touros (usará os termos, diz). (...) O circuito financeiro não tem lugar na TQM, uma vez que a abordagem clássica ignorava a possibilidade de entesouramento ou retenção de saldos inativos por duração indefinida, sendo a moeda vista somente como uma forma temporária de riqueza, uma conveniência, mas não como um ativo. (...) Todo agente que opera com ativos no mercado financeiro tem uma avaliação subjetiva, dada sua própria experiência e seu acesso à informação, do que constitui uma taxa normal de juros, que ele espera que prevaleça depois que se descontem as flutuações observadas nessa variável no curto prazo. Essa taxa funciona como uma âncora para suas expectativas com relação aos movimentos futuros da taxa de juros de mercado (ou corrente). Ela define se o agente será urso ou touro, diante das taxas de juros correntes e, portanto, se demandará moeda ou títulos.


59 - Algumas discussões que me parecem muito conceituais eu não estou anotando. O esquema surgido delas é o seguinte: ...Portanto, sejam M1 o montante de recursos líquidos conservado para satisfazer o motivo transação, M2 o montante conservado para satisfazer o motivo especulação e M3 o montante para satisfazer o motivo precaução, correspondente a três funções de liquidez L1, L2 e L3, em que a primeira depende principalmente do nível da renda, a segunda da relação entre a taxa corrente de juros (e o estado de expectativas quanto ao comportamento futuro da taxa de juros), e a terceira das incerteza quanto ao futuro.


60 - ...Depois, adicionou-se um: ...o motivo financeiro (finance motive) refere-se à demanda por moeda antecipada a alguma despesa discricionária planejada, sendo o gasto deste tipo mais vultoso e menos rotineiro – o investimento em bens de capital. Neste caso, saldos monetários são mantidos em antecipação à compra de bens de investimento. (Isso já tava no Livro II em Marx e as porra. Certamente antes) (...) A demanda financeira por moeda cresce quando os gastos discricionários prospectivos (como bens de capital) aumentam, e não a renda corrente, como no caso da demanda transacional


61 - Keynes no TG: “Deveria ser óbvio que a taxa de juros não pode ser um rendimento de poupança ou da espera como tal (...). Pelo contrário, a simples definição de taxa de juros diz-nos, literalmente, que ela é a recompensa da renúncia à liquidez por um período determinado, pois a taxa de juros não é, em si, outra coisa senão o inverso da relação existente entre uma soma de dinheiro e o que se pode obter desistindo, por um período determinado, do poder de comando da moeda em troca de uma dívida (...)."


62 - Keynes colocava que circunstâncias históricas e expectativas podem alterar a escala de preferência por liquidez: "Pode ser que em determinadas circunstâncias históricas os possuidores de riqueza tenham pensado que a posse da terra se caracterizava por um alto prêmio de liquidez; e, visto que a terra participava com a moeda da particularidade de ter, em princípio, elasticidades de produção e substituição muito baixas, é concebível que tenha havido na história ocasiões em que o desejo de possuir terra haja desempenhado o mesmo papel que a moeda em tempos recentes, no sentido de manter a taxa de juros a um nível demasiado alto”.


63 - Keynes trouxe uma teoria de precificação de ativos, com quatro fatores que influenciariam a escolha: ...a) Taxa esperada de quase-renda ou, mais simplesmente, taxa de rendimentos que se espera ganhar pela posse ou uso do ativo, como, por exemplo, máquinas dando origem a bens negociáveis que gerarão lucros, os juros pagos nos títulos, dividendos de ações etc.; b) Custo de carregamento incorrido na retenção dos ativos, como estocagem, custos de seguro etc., de modo a manter o ativo em seu estado original; c) Prêmio pela liquidez, que mede a facilidade de negociação de um ativo no caso de desejo de mudança da composição do portfólio, já que alguns ativos são mais facilmente negociáveis do que outros, dando ao seu possuidor um retorno importante na forma de flexibilidade diante das mudanças inesperadas na economia; d) Taxa esperada de apreciação do ativo ao final de um período, uma vez que o possuidor de riqueza pode ganhar (ou perder) com a apreciação (ou depreciação) dos preços de mercado daquele ativo entre a compra e o fim do período de retenção do mesmo. 


64 - ...A taxa de juros de cada ativo seria a soma de cada uma dessas partes (a do custo é negativo). Nesta abordagem, a preferência pela liquidez é refletida em termos do trade-off entre retornos esperados (a+q–c) e o prêmio pela liquidez (l). (...) Os preços se moverão até que as vantagens relativas de um ativo sobre qualquer outro desapareçam. Tudo depende das condições do momentoAqui, um ativo é líquido quando o tempo requerido para negociá-lo é pequeno e a mudança esperada em seu valor também é pequena.




Pgs. 71-89


"CAPÍTULO 5: "MODELOS NEOCLÁSSICOS KEYNESIANOS DE DEMANDA POR MOEDA"


65 - Keynes formulou sua teoria da preferência pela liquidez num mundo dicotômico, em que o agente tinha duas opções excludentes: reter moeda ou adquirir títulos. Tobin, contudo, elaborou seu modelo de composição de carteira partindo da premissa de que a maior parte das pessoas prefere reter alguma combinação de moeda e títulos.


66 - Coloca que Tobin foi um dos operadores da síntese neoclássica, atuando na teoria monetária. Ele aceitou as premissas de Keynes: Enquanto a demanda transacional por moeda privilegia a função da moeda como meio de pagamento, a demanda especulativa assume que a moeda é também uma reserva de valor


67 - ...Basicamente, a objeção de Tobin é a de que a taxa de juros tida como anormal pode virar a normal (tipo quando acharam que o Brasil com IPCA mais 2,5 vinha pra ficar). Ademais, coloca que ninguém aposta 100% só num tipo de coisa (liquidez total, por exemplo). Até porque alguém está comprando a "aposta" que o outro vende. Logo, a coisa é mais complexa do que parece na teoria de Keynes. (Ok, mas não acho que invalide). Tobin coloca que, em Keynes, o investidor seria meio que um "tudo ou nada" a partir de um determinado ponto crítico.


68 - ...Tobin organizou a coisa de modo mais neoclássico, digamos: Os agentes expressam suas preferências entre rendimento esperado e risco por intermédio de um conjunto de curvas de indiferença. Os pontos destas curvas correspondem às diferentes combinações entre rendimentos e riscos que proporcionam aos indivíduos um mesmo grau de satisfação. Supõe-se, como é usual, que o objetivo do indivíduo é o de alcançar a curva de indiferença mais alta possível, dentre as disponíveis. Também trouxa algo parecido com a restrição orçamentária: As curvas de oportunidade correspondem, assim, às oportunidades disponíveis aos indivíduos.


69 - ...No mais, é um monte de equação e gráfico pra explicar algo que aprendemos informalmente após alguns anos de experiência investindo ou menos.


70 - Enfim, a principal diferença de Tobin para Keynes parece ser somente a de que o primeiro ressalta que as coisas são mais graduais. A expansão da taxa de juros atrai maiores parcelas de recursos para aplicação em títulos por parte dos diversificadores, já que leva a maiores retornos esperados


71 - Modelo "Baumol-Tobin": Keynes considerou que a demanda por moeda para transações é proporcional à renda. A abordagem de Baumol-Tobin da demanda transacional procura mostrar que esta demanda é função não somente da renda, mas também da taxa de juros. Ou seja, não se trata apenas da demanda para especulação com moeda. Ou mesmo precaucional. Isso porque títulos possuem liquidez razoável: ...No limite, o indivíduo poderia colocar toda a sua riqueza em títulos e ir vendendo-os quando fosse necessário fazer pagamentos. Porém, a tendência é que não se chegue a tanto. O outro extremo também é pouco provável: ...os agentes buscarão minimizar os custos de oportunidade relacionados à manutenção de saldos monetários ociosos.


72 - ...Na prática, também não há qualquer novidade na teoria para um investidor experiente: ...o ponto que irá maximizar a carteira dos agentes será aquele em que a receita marginal das aplicações em títulos se igualar ao custo marginal. Em outras palavras, haverá um certo nível de retenção de títulos em que se maximiza a diferença entre os ganhos de juros e os custos da carteira. Quando se fala aqui em custo, refere-se especialmente ao custo-oportunidade. O risco de precisar do dinheiro justamente numa variação negativa do título em função de uma subida da taxa de juros, por exemplo. Os portfólios terão que levar isso em conta. (...) A principal conclusão da abordagem de Baumol-Tobin para a demanda de moeda para transações é que as elevações da taxa de juros resultam numa ampliação do número de transações e consequente aumento do montante de moeda aplicado em títulos. Ou seja, nenhuma novidade. ... uma maior taxa de juros sobre os títulos diminui os saldos médios de dinheiro (cash) retidos, e estimula o indivíduo a ir ao banco com mais frequência e fazer saques menores (assim em média os saldos retidos em dinheiro diminuem


73 - Passa a falar dos problemas de assimetria, risco moral e seleção adversa. Os exemplos de sempre. A solução para a superação do problema de seleção adversa no mercado de carros usados é a existência de revendedoras, que atuam como intermediárias entre vendedores e compradores de carros usados. Como as revendedoras querem manter uma boa reputação junto a seus clientes, elas acabam disseminando as informações aos compradores, vendendo os carros (bons e ruins) a seu devido preço.


74 - ...As assimetrias podem levar a racionamento de créditos ("os emprestadores se recusam a fazer empréstimos mesmo que os tomadores estejam dispostos a pagar a taxa de juros estabelecida ou mesmo uma taxa maior"), causando ineficiência no mercado. São os problemas da informação imperfeita.


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