Livro: Fernando Carvalho ... and Sicsu - Economia Monetária e Financeira - Capítulo 1
Livro: Fernando Carvalho, Luiz Fernando De Paula and Joao Sicsu - Economia Monetária e Financeira (2007)
Pgs. 1-24
"CAPÍTULO 1: "A MOEDA E O SISTEMA MONETÁRIO"
1 - Pulei prefácios e afins. Economia monetária financeira: teoria e política / Fernando J. Cardim de Carvalho... [et al.]. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2007 – 9a reimpressão.
2 - Em uma economia monetária, os agentes recebem suas remunerações em moeda e podem, portanto, fazer planos mais flexíveis.
3 - Como foi dito, a unidade de conta que aparece nos contratos se torna moeda corrente, mas para isso é necessário que este objeto que será moeda corrente possua os seguintes atributos econômicos: custo de estocagem e custo de transação negligenciáveis (aproximadamente nulo). O trigo, por exemplo, tem reduzidas chances de se tornar moeda em uma economia desenvolvida porque o seu custo de estocagem não é desprezível e seu custo de transporte ao mercado (custo de transação) pode ser elevado. (...) Deve ser divisível, durável, difícil de falsificar, manuseável e transportável.
4 - No Brasil, durante o período de inflação alta e crônica, nas décadas de 1980 e na primeira metade dos anos 90, a moeda oficial não era utilizada como unidade de conta do sistema de contratos. Ademais, somente para períodos bastante curtos (três dias ou, no máximo, uma semana) a moeda desempenhava a função de reserva de valor. A moeda oficial era somente meio de troca.
5 - O papel-moeda (e a moeda metálica) em poder do público (PMPP) também é chamado de moeda manual. Os depósitos à vista nos bancos comerciais (DVBC) são chamados de moeda escritural. A soma de ambas são os "meios de pagamentos". Haja conceito! É o que se costuma chamar de M1.
6 - Crédito: O banco, ao conceder o crédito, criou meios de pagamento. (...) o montante de depósitos à vista pode ser muito maior que o montante de reservas bancárias em moeda. Essa é a explicação de como um banco pode criar depósitos à vista, ou seja, como pode criar moeda. Escritural. Manual (papel-moeda e as metálicas) só o BC... Contudo, somente parte da quantidade dos recursos emitidos se encontra em poder do público; uma parcela se encontra no interior do próprio Banco Central e outra parcela está no interior dos bancos comerciais. Colocam que o que fica no caixa do BC nem é legalmente moeda.
7 - As demais instituições financeiras não autorizadas a receber depósitos à vista, tais como bancos de desenvolvimento, bancos de investimento, sociedades de poupança (cadernetas de poupança), formam o sistema financeiro não monetário.
8 - As emissões de moeda são um item do passivo do Banco Central em favor dos bancos ou do público não bancário.
9 - Tem se tornado difícil precisar com exatidão a capacidade potencial de demanda do público, porque existem ativos financeiros que podem ser convertidos em moeda com um custo de transação desprezível e em tempo bastante curto. Tais ativos são, por exemplo, os depósitos a prazo que possuem formas, regras de aplicação e remunerações diversas. Em princípio, um depósito a prazo não poderia ser resgatado a qualquer data. Contudo, como estão lastreados em ativos financeiros que possuem um mercado secundário (de revenda) organizado, tais ativos podem ser revendidos e o detentor do depósito a prazo pode transformá-lo em depósito à vista (em tempo bastante curto e com algum custo, em geral, inferior à remuneração auferida).
10 - O Box 1.2 resume as estatísticas M1, M2, M3 e M4, segundo a metodologia do Banco Central do Brasil. (...) Em regimes de alta inflação, tal como ocorreu no Brasil até 1994, M1 tende a ser bastante reduzido em relação a M2, M3 e M4, porque o público busca abandonar os depósitos à vista em favor de aplicações em fundos lastreados em títulos, públicos e privados, incluídos nos agregados M2 a M4. É o repúdio ou não à moeda líquida.
11 - Liquidez segundo a classificação de Hicks: mesmo obras de arte e ouro seriam "líquidos", pois há mercados bem organizados para eles. Quando um indivíduo adquire um ativo líquido, é porque possui planos de revenda. Sabe que incorrerá em algum custo de manutenção e/ou carregamento do ativo, mas espera obter ganhos na venda do ativo que sejam superiores a esses custos. Já... Quando um ativo ilíquido é adquirido, seu possuidor não possui planos de revenda. Máquinas e bens de consumo, por exemplo. Enfim, tudo é um tanto relativo e mutável, pois o grau de liquidez de um ativo depende do grau de organização do mercado onde é transacionado.
12 - A base monetária (B) é a soma do papel-moeda em poder do público (PMPP) com as reservas totais dos bancos comerciais (ET). A base monetária é, então, igual ao total de moeda colocada em circulação pelo Banco Central. É, por vezes, chamada de estatística M0 (eme zero). Essas reservas dos bancos costumam ser só uma pequena parte do que emprestam. Os bancos realizam também encaixes junto às autoridades monetárias. Tais encaixes são impostos externamente, ou encaixes compulsórios; e aqueles que são decididos internamente, ou encaixes voluntários. São os depósitos, creio.
13 - ...Enfim, há o "compulsório" e o resto: As reservas bancárias (o caixa dos bancos, Et ) são de outra natureza. São decididas pelos próprios bancos para que possam operar diariamente. Em verdade, os bancos buscam manter a razão encaixe técnico/depósitos à vista em um determinado intervalo que consideram seguro, de modo a garantir a manutenção das suas operações de saques quotidianamente. Abaixo o resumo completo das possibilidades:
14 - O que é a operação de redesconto? É o BC fechando temporariamente algum "déficit" no balanço do banco. Retiradas acima do normal ou algo do tipo.
15 - ...Contudo, é necessário distinguir uma operação propriamente dita de redesconto de uma operação de concessão de crédito. O resdesconto ocorre quando o Banco Central compra títulos de um banco. Esta é uma operação de crédito, colateralizada por um ativo financeiro. O Banco Central empresta ao banco tomador um valor inferior ao do ativo dado em garantia. Quando o banco for saldar o empréstimo, recomprará o ativo pelo seu valor pleno. A diferença entre os dois valores exprime a taxa de redesconto, isto é, o custo para o tomador do empréstimo feito pelo Banco Central. A aquisição de títulos por parte do Banco Central expande, a princípio, os encaixes do banco que necessitou ser socorrido. O processo alternativo é, simplesmente, um empréstimo direto do Banco Central ao banco que se encontra em dificuldade. A função do Banco Central conhecida como emprestador de última instância é exercida através dessas operações. A taxa de juros de um redesconto pode ser definida de modo punitivo a um banco inclusive. (...) haveria um incentivo à venda desses ativos e, consequentemente, a recomposição de reservas para um patamar mais seguro.
16 - Os bancos possuem as seguintes fontes de recursos: os recursos próprios ou patrimônio líquido, os depósitos à vista e a prazo, os empréstimos tomados no exterior, os auxílios do Banco Central (redescontos e empréstimos) e outras fontes menos importantes. Esse é o passivo bancário. O ativo dos bancos (suas aplicações) é constituído principalmente por: empréstimos ao setor privado, encaixes, títulos públicos e privados, imobilizado bancário (ou seja, suas instalações físicas) e outras aplicações de menor relevância.
17 - Criar crédito nem sempre é criar moeda: Uma mercearia que aceita que seus clientes paguem seus gastos ao final de cada mês concede crédito. Entretanto, somente a concessão de crédito bancário é criação de moeda.
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