Livro: Fabio Giambiagi... - Desenvolvimento Econômico... (2013) - Capítulo 5

                                                                                                                  

Livro: Fabio Giambiagi, Veloso, Pedro Cavalcanti and Pessoa - Desenvolvimento Econômico, Uma Perspectiva Brasileira (2013)



Pgs. 148-184


"CAPÍTULO 5: "O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO NO PÓS-GUERRA"


130 - Brasil em 1950: Ao mesmo tempo, a escolaridade média da população era a menor da América do Sul, e os indicadores de pobreza e desigualdade de renda estavam entre os mais elevados. Coloca que o período 1950-80 trouxe forte crescimento econômico, mas mantendo os indicadores sociais em segundo plano. Brasil continuava em situação relativa bem ruim ao final do período. 


131 - A partir dos anos 80, a economia desacelera forte. Porém, finalmente os índices sociais passam a merecer mais atenção (menos descaso).



132 - Isto aqui certamente foi construído pelas recessões Figueiredo e Collor: ...Entre 1980 e 1992, houve grande flutuação da renda per capita, e, no final do período, seu valor era 8% menor que no início, o que corresponde a uma redução anual média de 0,7%


133 - ...Esse processo foi revertido entre 1992 e 2003, quando ocorreu uma expansão média anual de 1,1Em 2003, no entanto, a renda per capita superava seu valor em 1980 em pouco mais de 4%. Entre 2003 e 2011, houve uma aceleração do crescimento da renda per capita para 3,1% a.a., o que representou um crescimento acumulado de 28% nesse período. 


134 - Produtividade por trabalhador. Entre 2003 e 2009, a produtividade passou a crescer a uma taxa média anual de 2,3% a.a.:



135 - Bônus demográfico e participação das mulheres explica a permanência do crescimento da renda per capita. No início da década de 1980, a renda per capita brasileira correspondia a pouco mais de 30% da norte-americana, enquanto nossa produtividade relativa era de 40%. Ou seja, a participação da nossa força de trabalho ainda era menor que lá.



136 - ...em 1960, a produtividade coreana correspondia a 70% da produtividade brasileira. Em 1980, essa razão era um pouco menor (67%), mas hoje a produtividade coreana é quase três vezes superior à brasileira. Já a produtividade do trabalhador chileno, que em 1980 correspondia a 72% da brasileira, passou a ser o dobro em 2009.


137 - PTF = eficiência agregada da economia, incluindo a tecnologia. Tem a ver com a eficiência alocativa. Ou seja, a PTF também depende da alocação setorial da mão de obra. Por exemplo, quando um trabalhador se transfere para setores mais produtivos, a PTF e o produto por trabalhador tendem a aumentar, como veremos adiante.


138 - Apresenta as mesmas fórmulas e considerações que já fichei no primeiro ou segundo capítulo do livro. Vale ressaltar que, em virtude de limitações de dados, essa medida de capital humano não leva em consideração a qualidade da educação. Caso a qualidade fosse incorporada, o capital humano do Brasil seria ainda menor, como se percebe pelo baixo desempenho dos estudantes brasileiros em exames nacionais e internacionais. Ao que entendi, é aquela definição tradicional de PTF, não a alternativa.


139 - A produtividade total dos fatores, que já estava estagnada na segunda metade da década de 1970, sofreu queda significativa na década de 1980. Nos anos 1990, a PTF continuou a cair, embora de forma mais lenta. A partir de 2003, ela passou a crescer, mas em 2009 ainda estava um pouco abaixo do seu nível do início da década de 1990. O capital físico por trabalhador (e, consequentemente, sua contribuição) cresceu continuamente entre 1950 e o final dos anos 1960, e de forma acelerada na década de 1970. No entanto, ficou praticamente estagnado nos 30 anos que se seguiram. (...) Em relação ao capital humano, há que se levar em conta que ele partia de um patamar muito baixo. Em 1950, a escolaridade média da população com 15 anos ou mais de idade no Brasil era de somente um ano e meio completos, passando para 2,1 em 1960 e permanecendo em torno de 2,8 entre 1970 e 1980. Isto é, em 30 anos, a escolaridade média dos brasileiros cresceu menos que um ano e meio.



140 - A decomposição em subperíodos mostra os piores e melhores momentos:



141 - (Ainda acho que o desempenho muito ruim da PTF na redemocratização pode ter a ver fortemente com superdimensionamento do capital humano. O quadro seria menos pior). Atenção para o período Lula/Commodities: ...Nesse período recente, a PTF contribuiu com a maior parcela do crescimento do produto por trabalhador (73%).


142- Voltam a lembrar que já por Solow é possível uma medida alternativa de PTF: ...Primeiro, existe um impacto direto, devido ao fato de que uma melhoria da tecnologia (aumento de A na Equação 2) eleva a produtividade do trabalho. Além disso, ocorre um efeito indireto, já que a elevação da tecnologia aumenta a produtividade marginal do capital, o que induz maior acumulação de capital. Portanto, uma parcela da acumulação de capital resulta do progresso tecnológico, medido empiricamente pela PTF. (...) Nessa metodologia alternativa de decomposição do crescimento, a contribuição do capital humano também captura a soma do seu efeito direto e do efeito indireto sobre a acumulação de capital. (...) De forma análoga ao caso da PTF, a contribuição do capital humano é maior na Equação 8 que na 6.


143 - ...Os resultados não diferem muito do modelo tradicional nas conclusões. Porém, os valores ficam ainda mais bruscos:





144 - Atribui o bom desempenho do período 1950 a 1980 à mudança estrutural. O Gráfico 5.6 mostra a evolução da participação relativa do emprego na agricultura, indústria e serviços no Brasil entre 1950 e 2005. Em 1950, cerca de 63% dos trabalhadores brasileiros estavam na agricultura, 17% na indústria e 20% nos serviços.



145 - Produtividade por setores: ...a partir do início da década de 1980, ocorre queda marcante da produtividade do trabalho no setor de serviços, e, em 2005, ela era 40% menor que 25 anos antes. A produtividade da indústria também sofreu forte redução. (...) a transferência de trabalhadores da indústria – mais produtiva – para o setor de serviços – menos produtivo – após 1980 impactou negativamente o crescimento da produtividade agregada.



146 - Segundo a Tabela 5.1, a PTF contribuiu com 44% do crescimento da produtividade do trabalho entre 1950 e 1980. Como mostra a simulação do Gráfico 5.8, a transformação estrutural contribuiu com cerca de 1/3 do crescimento do produto por trabalhador brasileiro no mesmo período. Portanto, os resultados indicam que o deslocamento da atividade econômica da agricultura para a indústria e serviços pode ter contribuído para uma grande parcela do crescimento da PTF brasileira nessas três décadas. (...) Na medida em que grande parte do aumento de produtividade associado a essa mudança estrutural tinha se esgotado no início dos anos 1980, o crescimento da PTF tendia a desacelerar


147 - Franco (1998) mostra a tendência declinante da taxa de crescimento da PTF entre 1950 e 1980 e atribui essa evidência aos efeitos negativos sobre a eficiência e o progresso tecnológico decorrentes do aumento progressivo dos níveis de proteção da economia brasileira, culminando em um estágio próximo da autossuficiência nos anos 1980. (Não vi onde estava essa tendência declinante nos dados do capítulo. Inclusive certo declínio seria normal, não?).


148 - MSI: Ela começou no setor de bens de consumo duráveis nos anos 1950 e culminou com a substituição da importação de bens de capitais e bens intermediários pela produção doméstica através do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). Tarifas e protecionismo diminuíram bastante as importações de bens de capital, por exemplo. Isso em parte teve a ver com a restrição externa também (crise cambial e tal). Coloca que isso foi prejudicial para desenvolver a automação (e a PTF, de quebra), até pelas duras restrições no setor de informática. Rodapés: Lee (1995) e Majumdar (2001) mostram que a importação de equipamentos de países desenvolvidos aumenta a taxa de crescimento da PTF dos países em desenvolvimento. (...) Luzio e Greenstein (1995) mostram que a reserva de mercado na informática gerou uma forte redução da produtividade brasileira. Bens de capital e intermediários mais custosos.


149 - ...Para fortalecer a hipótese: ...há forte evidência de que o aumento da produtividade e da PTF do setor manufatureiro brasileiro nos anos 1990 está associado à abertura comercial iniciada no início da década. (E/ou a ter quebrado um monte de empresa mais fraca? O problema é: pra onde foi essa galera e capital? Serviços de baixa qualidade, creio. No geral, a produtividade não aumentou. Isso deveria ser discutido)


150 - No mais, cita como motivos para a queda da PTF a diminuição dos investimentos em infraestrutura e os problemas macroeconômicos que tumultuaram o ambiente dos anos 80 em diante. Elogia o PAEG, que teria revertido uma tendência à estagnação da PTF já na primeira metade dos anos sessenta pela "desorganização macro" daquele momento. 


151 - Sobre o período Collor/Itamar/FHC, as interpretações me parecem positivas em excesso. Comemora-se queda da PTF, por ter sido pequena (e isso num contexto em que já tinham caído um bocado): ...Como se pode ver no Gráfico 5.4, as reformas do início dos anos 1990 e do Plano Real, notadamente a abertura, reduziram substancialmente a intensidade da queda da PTF observada na década anterior. No que diz respeito à evolução do produto por trabalhador, sua queda foi inteiramente interrompida.


152 - Enquanto, em 1990, pouco mais da metade da nossa diferença de produtividade do trabalho em relação aos Estados Unidos era explicada por diferenças na eficiência, em 2009 a importância relativa da PTF tinha se elevado para quase 2/3. Da parcela restante, a maior parte é explicada por diferenças de capital humano. Essa contribuição vem se reduzindo devido ao crescimento da educação no Brasil nas últimas décadas. Em 1990, o capital humano explicava quase 60% de nossa diferença de produtividade do trabalho em relação aos Estados Unidos, ao passo que em 2009 essa contribuição era de 27%. Já a taxa de investimento é quase igual a dos EUA, então aí não muda muita coisa. Porém, lembra que pode ser interessante mexer nisso. "...a importação de máquinas e equipamentos, que compõem o investimento, contribui para elevar a PTF."

 


153 - PTF: ...um processo de deslocamento da atividade econômica para setores mais produtivos. Em uma economia eficiente, as firmas menos produtivas perdem participação e, eventualmente, saem do mercado, liberando os fatores de produção para que as firmas mais produtivas se expandam, contratando mais trabalhadores e utilizando um número maior de máquinas e equipamentos. Sobre a agricultura, pode até haver elevação de produtividade nela, claro, mas... em média, a produtividade agrícola no Brasil e em outros países é menor que na indústria e serviços.


154 - América Latina: Uma das principais manifestações de ineficiência na América Latina é a proliferação de firmas pequenas com produtividade muito baixa, particularmente no setor de serviços. (...) No caso do comércio varejista, a PTF pode elevar-se no México em 260%. Dados de 2009: ...Segundo uma pesquisa, os ganhos potenciais de PTF no setor de comércio varejista brasileiro são superiores a 200%. (Os exemplos que dá de ineficiência, porém, são vagos - "...estrutura tributária mal desenhada..." ..."regulação excessiva"... - e ainda fundamenta com a fraude lá do "Doing Business". Tudo parece a coisa mais fácil do mundo. Algumas críticas, porém, parecem válidas: Os indicadores de abertura e fechamento de empresas mostram que existem barreiras significativas à entrada e saída de firmas do mercado no Brasil. A posição relativa do país é particularmente baixa no indicador de pagamento de impostos (150), refletindo a complexidade e o custo elevado do sistema tributário.)


155 - Aqui como o pessoal possivelmente superestima essa coisa toda: Kehoe e Ruhl (2010) mostram que, enquanto no México – um país de renda média – reformas estruturais tiveram pequeno efeito, na China – um país de baixa renda – elas tiveram forte impacto sobre o crescimento. Os autores afirmam, entretanto, que se as reformas não continuarem o crescimento chinês poderá diminuir drasticamente, talvez deixando o país com um nível de produto por trabalhador menor que o do México.


156 - Bastariam as tais políticas inclusivas liberais: ...políticas de incentivo à competição e melhoria do ambiente de negócios, entre as quais podem ser citadas a redução da incerteza jurídica e de entraves burocráticos para abertura e fechamento de empresas, uma reforma tributária que simplifique e reduza distorções do sistema, maior garantia de cumprimento de contratos e fortalecimento de mecanismos de defesa da concorrência.


157 - Nossos índices de educação meio que só ganhavam do Haiti na América Latina. Segundo dados do IBGE, nossa taxa de analfabetismo em 1980 era de 25,5% da população com 10 anos ou mais de idade, o que representou um avanço pequeno em relação aos 32% de 10 anos antes. A taxa de matrícula bruta no ensino médio era de somente 34% e, portanto, muito distante da universalização. O maior avanço foi registrado na taxa de matrícula bruta do ensino fundamental, que aumentou de 45% em 1950 para 96% em 1980.


158 - ...Em 1950, o gasto público em educação era de somente 1,4% do PIB. Ao longo do tempo esse valor aumentou, mas correspondia a somente 2,4% do PIB em 1980Além disso, esses gastos eram distribuídos de forma desigual, privilegiando o ensino superior. (...) Em 1950, o gasto público por aluno do ensino fundamental era somente de 10% da renda per capita, enquanto a despesa equivalente no ensino superior era igual a mais de sete vezes e meia o valor da renda per capita. Essa razão de gasto caiu ao longo do tempo, mas em 1980 ainda se gastava 15 vezes mais por aluno do ensino superior que do ensino fundamental.


159 - ...De fato, a pesquisa pioneira de Langoni mostrou que o aumento da desigualdade de renda na década de 1960 resultou de uma forte elevação da demanda por trabalho qualificado durante o “milagre” econômico. Havia grande "desigualdade educacional".


160 - Indicadores sociais: De acordo com dados do IBGE, a taxa de mortalidade infantil (mortes antes de um ano por mil nascidos vivos) era de 135 em 1950, atingindo 124 em 1960 e 82 em 1980. Para efeito de comparação, a taxa de mortalidade infantil no Congo e no Paraguai em 1960 era de 105 e 65, respectivamente. Nos países ricos essa taxa estava em torno de 25 nesse mesmo ano. (...) Em 1950, a expectativa de vida no Brasil era de 51,6 anos, subindo para 61 em 1980. Em 1960, o Brasil possuía somente a 85.ª maior expectativa de vida entre 177 países, em situação pior do que Paraguai e Belize. Em 1980, estávamos ainda pior, na 106.ª posição.


161 - Crê que a queda intensa da produtividade no setor de serviços, nos anos 80, teve a ver também com a questão da demografia. A taxa de fecundidade das famílias mais pobres era bem mais alta. Jovens sem qualificação inundaram o setor informal, que é onde havia emprego mais facilmente.


162 - Pobreza e extrema-pobreza e a redemocratização:



163 - Carvalho Filho e Chamon (2012): Um estudo recente também mostra que, durante a década de 1990, o crescimento do bem-estar, medido pelo consumo, foi bem maior que o crescimento da renda, particularmente entre os mais pobres. Em função disso, se a desigualdade for medida pelo consumo, ela começou a cair de forma significativa logo após o Plano Real.


164 - Possíveis causas da queda de desigualdade na "Era Lula": ...aumento da educação desde o início dos anos 1980 e às políticas de transferência de renda, bem como à retomada do crescimento.


165 - Ao fim do capítulo há interessantes apêndices (ano-a-ano dos gráficos do texto);




.


Comentários