Livro: Fabio Giambiagi... - Desenvolvimento Econômico... (2013) - Capítulo 1
Livro: Fabio Giambiagi, Veloso, Pedro Cavalcanti and Pessoa - Desenvolvimento Econômico, Uma Perspectiva Brasileira (2013)
Pgs. 1-23
"Apresentação e Prefácio"
1 - Desenvolvimento econômico: uma perspectiva brasileira / Pedro Ferreira... et al. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. Todos os organizadores do livro: Fernando Veloso; Pedro Cavalcanti Ferreira; Fabio Giambiagi; Samuel Pessôa
2 - A Apresentação data de setembro de 2012 e é feita pelos organizadores. Embora se trate de uma coletânea, o produto que o leitor tem em mãos não constitui um apanhado de artigos sem grande conexão entre si – fato comum a muitas coletâneas. Pelo contrário, o que se pretendeu foi elaborar um material com coesão, a partir de capítulos escritos por autores que têm entre si visões afins sobre o tema. Em particular – e isso é especialmente importante, dado o foco do livro nas questões locais –, os autores compartilham a análise de que o processo de desenvolvimento brasileiro no século XX – até a crise da década de 1980 – se caracterizou por forte crescimento, mas grande exclusão social associada ao modelo adotado.
3 - O Prefácio é de Gustavo Franco. Entre os 45 casos de “inflação muito alta”, o Brasil registra o segundo episódio mais longo (pouco mais de 15 anos), logo à frente do Congo (pouco menos de 14 anos) e perdendo apenas para a Argentina (mais de 17 anos), Stanley F. et al. “Modern hyper and high inflations”. Journal of Economic Literature XL (3), 2002.
4 - Gustavo Franco coloca que a luta pela estabilização foi mais longa do que o que geralmente se nota: Nos primeiros 12 meses de vida da nova moeda a inflação acumulada, medida pelo IPCA, foi de 33%. A inflação caiu abaixo de 20% anuais em abril de 1996, 22o mês, e abaixo de 10% apenas em dezembro, 30o mês da nova moeda. No ano calendário de 1997, o IPCA cresceu 5,2%, e em 1998 a inflação pelo IPCA foi a menor em nossa história: 1,7%. Este é um bom marco para delimitar a conclusão da estabilização da hiperinflação.
5 - Cita ataque de Krugman, nos anos noventa, aos cânones do pensamento sobre desenvolvimento. Krugman referia-se expressamente a alguns economistas como Paul Rosenstein-Rodan, Albert Hirschman, Arthur Lewis e Gunnar Myrdal, quatro dos dez pioneiros da disciplina que o Banco Mundial homenageou em 1984 com um belo volume de ensaios retrospectivos sobre seu surgimento. Seriam por demais "anedóticos", digamos assim (eu que usei o termo).
6 - Faz uma defesa da abordagem mais usual da ortodoxia: Conforme observa Krugman, “quando se trata das ciências físicas, pouca gente tem problemas com a ideia de que para estudar sistemas complexos é preciso construir modelos simplificados”.
Pgs. 24-59
"CAPÍTULO 1: "EXPERIÊNCIAS COMPARADAS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO NO PÓS-GUERRA"
7 - Em 2009, a renda per capita dos Estados Unidos equivalia a 36 vezes a de Uganda, 13 vezes a da Índia, seis vezes a da China e o dobro da de Portugal. (PPP)
8 - A análise deste capítulo baseia-se nos dados da versão 7.0 da Penn World Table (PWT). Baseia-se em PPP (paridade de poder de compra), a fim de neutralizar as valorizações e desvalorizações cambiais.
9 - Crescimento do PIB nos continentes (1960-2009):
10 - ...no Brasil a renda per capita cresceu, em média, 0,9 ponto percentual (p.p.) acima do produto por trabalhador entre 1960 e 2009. Isso se deve ao crescimento da população em idade ativa acima do crescimento da população total, o que caracteriza o chamado “bônus demográfico”. Idem pra Coréia.
11 - ...Quando se divide por subperíodo, vê-se que a coisa é preocupante para a América Latina:
12 - PTF é o crescimento residual. O A:
13 - ...O "a grego" é a participação do capital (k) na renda total. O h é uma medida de capital humano baseada em escolaridade. (...) o estoque de capital em determinado período é igual à soma do investimento do período anterior com o capital que restou após ter sido descontada sua depreciação.
14 - Dito tudo isso, os "logs naturais" explicam. A contribuição de cada fonte para o crescimento do produto por trabalhador é calculada a partir da seguinte fórmula (T e t têm a ver com os períodos de tempo comparados):
15 - A Tabela 1.3 mostra que a acumulação de capital físico e humano foi o principal responsável pelo crescimento do produto por trabalhador no mundo, com contribuição de 94% para a média do crescimento mundial. (...) Os milagres tiveram uma contribuição do capital por trabalhador e da PTF superior em 1,2 e 1,1 pontos percentuais, respectivamente. (Ao que entendi, o "y" dessa tabela é o crescimento total? Não o da renda per capita, no caso? Creio que é isso)
16 - A Tabela 1.4 apresenta os resultados de uma decomposição de crescimento para as diferentes regiões. Podemos observar que os fatores de produção explicam a maior parte do crescimento de cada região. Em particular, a acumulação de capital físico e humano explica cerca de 65% do crescimento do produto por trabalhador dos países do Leste Asiático. O crescimento da PTF na China foi bastante expressivo (2,5% a.a.) e contribuiu com 43% do crescimento do produto por trabalhador.
17 - (Especulo ser possível que a questão da "qualidade da educação" distorça um pouco a estimativa de PTF. Se a escolaridade sobe muito, mas sem muita qualidade, a eficiência alocativa - tecnologia etc. - pode não ser tão ruim quanto parece.)
18 - Por meio de Solow, já se dava para deduzir que A tinha influência positiva sobre K (embora este possa crescer até com A negativo): ...a elevação da tecnologia aumenta a produtividade marginal do capital, o que induz maior acumulação de capital. Portanto, uma parcela da acumulação de capital resulta do progresso tecnológico, medido empiricamente pela PTF.
19 - ...Devido a isso, propõe-se "corrigir" as fórmulas anteriores para levar em conta a produtividade "do capital" advinda do aumento da PTF e, com isso, retirar pontos percentuais do acúmulo de capital para a PTF (que seria a causa por trás de algumas elevações de estoque de capital). (Achei meio polêmico isso aí. É mais uma suposição para embaralhar a questão). Em linguagem chata, fica assim:
20 - ...Em tal caso, os resultados ficariam assim:
21 - ...Ao que me parece, eles estão medindo a contribuição da "qualidade" do capital e não propriamente a acumulação de capital em si aí. Por esse motivo, quando a contribuição do capital físico é medida pela razão capital-produto em vez da relação capital-trabalho, a importância da PTF para explicar diferenças de crescimento entre os países fica ainda mais pronunciada.
22 - A Tabela 1.7 mostra uma decomposição do desenvolvimento, que calcula a contribuição relativa da PTF e dos fatores de produção (capital físico por trabalhador e capital humano) para explicar diferenças no produto por trabalhador entre os países utilizando a razão capital-trabalho como medida do capital físico (decomposição de desenvolvimento tradicional).
23 - A Tabela 1.8 apresenta a contribuição relativa da PTF e fatores de produção para explicar diferenças no produto por trabalhador entre os países, com base na decomposição alternativa (isto é, utilizando a relação capital-produto e não capital por trabalhador). Como a variação da relação capital-produto entre os países é bem menor que a da razão capital-trabalho, essa decomposição atribui importância consideravelmente maior à PTF para explicar diferenças de produtividade entre os países (79% em 2009) (Em rodapé, diz-se que nos anos 70, a PTF explicava menos que os outros, mas sua importância foi crescendo).
24 - América Latina. Renda per capita versus produto por trabalhador:
25 - Explicação "mainstream" sobre a baixa produtividade latinoamericana: ...Segundo os autores, essa baixa produtividade, por sua vez, decorre de barreiras à competição, como tarifas de importação elevadas e regulação excessiva do ambiente de negócios. (Será mesmo? Parece muito fácil).
26 - ...Explica o bom desempenho da PTF sob o modelo de industrialização estatal e de substituição de importações em razão da janela de transformação estrutural, digamos assim: ...Como regra geral, toda economia passa por uma redução da participação do setor agrícola e um aumento da importância da indústria e do setor de serviços.
27 - ...Empregos nos setores: ...Em 1960, cerca de 52% dos trabalhadores mexicanos estavam na agricultura, 18% na indústria e 30% nos serviços. Ao longo do tempo, a força de trabalho deslocou-se para a indústria e, principalmente, para o setor de serviços. Em 1980, a participação dos serviços tinha crescido para 43% da população ocupada, e a da indústria, para 28%. O processo de transformação estrutural no México continuou após 1980. Em 2005, 57% da mão de obra trabalhava no setor de serviços e somente 16% na agricultura. Por outro lado, o setor industrial manteve sua participação relativamente constante em torno de 27% do emprego em 2005.
28 - ...Os países latinos possuem dificuldade em elevar a produtividade no setor de serviços - a informalidade elevada é uma das marcas -, justamente o mais importante nas economias modernas:
29 - ...Apenas o Chile obteve algum crescimento relevante e, mesmo assim, num ritmo menor aos dos EUA. 0,9% ao ano versus 1,6% ao ano.
30 - Leste Asiático: A renda per capita expandiu-se a uma taxa de 5,3% a.a., o que resultou em um aumento de 13 vezes entre 1960 e 2009. O produto por trabalhador, por sua vez, cresceu 4,4% a.a., o que gerou um aumento de quase nove vezes no período:
31 - Traz o debate que há sobre se o crescimento do Leste/Sudeste Asiático se deu pela mobilização extraordinária dos fatores de produção ou pela PTF/progresso tecnológico. O resultado depende daquela divergência, mais atrás, sobre o modo de calcular a PTF. O estudo de Young (1995) teria creditado pouco papel ao progresso tecnológico, mas... Segundo Klenow e Rodríguez-Clare, a metodologia de contabilidade do crescimento utilizada por Young não leva em conta o impacto indireto da PTF no crescimento através da acumulação de capital.
32 - ...Uma pesquisa de Hsieh faz outra crítica ao estudo de Young.42 O autor argumenta que, caso tivesse ocorrido nesses países uma acumulação de capital físico da magnitude calculada por Young, a existência de retornos decrescentes deveria ter resultado em grande redução da taxa de retorno do capital, o que não se verificou. Segundo Hsieh, isso indica que os dados usados por Young a partir das Contas Nacionais superestimam o investimento e a acumulação de capital físico dos Tigres.
33 - ...De toda maneira, o crescimento da PTF é excepcional mesmo na metodologia "tradicional" (que dá 1,5% ao ano versus 2,5% da alternativa). Lembrando que a média do mundo no período foi de PTF quase estagnada. (...) Ademais, esses países da Ásia assistiram a elevação da produtividade também no setor de serviços: Enquanto a produtividade americana cresceu 1,4% a.a. entre 1965 e 2005, a coreana expandiu-se 2% no período. No caso de Taiwan, a produtividade dos serviços cresceu 4,5% a.a. e tem convergido rapidamente para a produtividade americana.
34 - China das últimas décadas: ...Em 1978, a taxa de investimento medida em preços internacionais (US$ PPP) já era elevada, em torno de 30% do PIB. Em 2009, o investimento atingiu 45% do PIB. Além do investimento elevado, a PTF teve papel fundamental para o crescimento chinês (Gráfico 1.13):
35 - ...Entre 1978 e 2004, a PTF da agricultura cresceu 5,4% a.a, e a participação da agricultura no emprego total caiu de 69% para 32%.
36 - ...Mais dados de Brandt et al. (2008): Entre 1978 e 2004, a participação do emprego estatal caiu de 53% para 13% do setor não agrícola (indústria e serviços). Essa realocação da mão de obra teve grande impacto na produtividade, já que, enquanto a PTF do setor privado não agrícola cresceu 4,3% a.a. nesse período, a PTF do setor estatal expandiu-se apenas 1,7% a.a.
37 - Por fim, há um APÊNDICE com os países "modelo" de cada região analisada no capítulo:
38 - ...No mesmo apêndice, há a "Derivação da fórmula da decomposição do crescimento alternativa" e também a tabela complementar, mais detalhada, com subperíodos de crescimento:
.
Comentários
Postar um comentário