Livro: Dalto et al. - Teoria Monetária Moderna - MMT - Capítulo 6 (PARTE I)

                                                                                   

Livro: Teoria Monetária Moderna – MMT: a chave para uma economia a serviço das pessoas (2020)


Pgs. 143-164


"CAPÍTULO 6: "A INFLAÇÃO E OS ASPECTOS POLÍTICOS DO PLENO EMPREGO"


79 - Inflação e os choques de oferta: ...refere-se a todo e qualquer fator que gere choques nos preços que não estão relacionados ao poder de compra na economia. Tais fatores podem produzir choques em taxa de câmbio, meteorologia (efeitos sobre as safras agrícolas, por exemplo), modificações na estrutura concorrencial em diferentes mercados (alterações no mark-up das firmas) entre outros.


80 - Se a inflação é de demanda ou oferta: ...na prática, é difícil de separar as causas.


81 - Basicamente separam as teorias sobre inflação em TQM (convencional) e a do conflito distributivo. 


82 - O “Novo Consenso Macroeconômico” defende que a inflação é um fenômeno que pode ser gerado pelo hiato do produto (produto agregado menos o produto potencial), pela inércia inflacionária, pelas expectativas de inflação e pelos choques exógenos.


83 - ...Produto potencial vem do desemprego "zero"? Não. Vem da "NAIRU" (para tal consenso). O produto potencial é aquele condizente com uma taxa de desemprego ou com o grau de utilização da capacidade produtividade instalada que deixa a taxa de inflação constante.


84 - BC e o juro neutro: Caso a taxa de juros definida pelo Banco Central esteja abaixo da taxa de juros que estabiliza a inflação, a demanda agregada será superior à taxa de crescimento da oferta agregada e ocorrerá inflação. Por outro lado, se a inflação estiver dentro da meta definida pela autoridade monetária e o hiato do produto (diferença entre o produto agregado e o produto potencial) for nulo, a taxa de juros operacional do Banco Central será igual à taxa de juros neutra ou natural. Entra, também, a questão de ancorar as expectativas dos agentes, o que exige credibilidade da autoridade monetária.


85 - ...Alternativamente, há a abordagem que interpreta a inflação como resultado do conflito distributivo na sociedade. Cita Rowthorn como umas das fontes.


86 - Apresentam um modelo um tanto simples relacionando preço a salário, markup e produtividade do trabalho. Capitalista investe - define a demanda por trabalho - baseado na expectativa de demanda e na produtividade. Um quadro geral:



87 - ...A conclusão a que chegamos, utilizando nosso modelo, é que variações dos preços podem ocorrer por três fatores: variações do mark-up das firmas, dos custos salariais e da produtividade das firmas.


88 - Os mark-ups são relativamente estáveis ao longo do tempo. Essa variável tende a depender especialmente da estrutura de mercado em que a empresa está situada – que é mutável ao longo do tempo, mas de forma relativamente lenta. Haveria mais "poder de mercado" do que se pensa, afirmam. Ao contrário do suposto nas teorias convencionais, de que os preços são elásticos à demanda, existem poucas evidências de que os mark-ups respondam a variações da demanda para além ou aquém do grau desejado ou esperado pelas firmas. No caso do Brasil, a grande maioria das empresas responde a aumentos da demanda com aumento de produção.


89 - ...Considerando a produtividade do trabalho como relativamente estável no curto prazo, temos que a variação dos preços se deve especialmente em função de variações dos custos salariais e de matérias-primas


90 - Importância dos salários, especialmente os nominais: Existem pesquisas que mostram que empresas relutam em cortar salários para evitar queda no moral e na produtividade dos funcionários. Além disso, uma crescente literatura mostra que existe relação positiva entre a percepção de justiça dos salários e a produtividade das firmas.


91 - ...O que define o que é “justo” e “normal” são instituições sociais que balizam o mínimo aceitável abaixo do qual a sociedade se desintegraria. (Setterfield e Lovejoy (2006)).


92 - ...A segunda variável presente nas negociações salariais é o poder de barganha entre as partes em negociação. Isso dependerá de diferentes fatores, como a taxa de desemprego. (...) Caso a economia apresente queda do desemprego, mas as firmas decidam incorporar os aumentos de seus custos pela redução dos mark -ups, os preços permanecerão constantes. (Isso com produtividade quieta, creio)


93 - Risco de espiral se nenhuma das partes "cede": ...se com a queda do desemprego os salários aspirados continuamente sobem – o que implica numa crescente fatia da renda nacional carreada para os trabalhadores – e a margem de lucro almejada das firmas permanece constante, observaremos um aumento dos preços. (...) Com os salários indexados à inflação passada e os trabalhadores com maior poder de barganha, os últimos podem negociar repasses da inflação para os seus salários ou, mesmo, que a expectativa de inflação seja incorporada aos salários, dando origem a uma nova alta de preços. Nessas circunstâncias, a inflação é resultado de uma espiral do salário-preço que continuamente acelera aquela, processo alimentado pelo aquecimento da economia e do mercado de trabalho.


94 - ...Além da taxa de desemprego, variações dos salários dependem dos tipos de acordo trabalhistas existentes, da política salarial das empresas, das leis trabalhistas de cada país – se os contratos de trabalhos são indexados à inflação passada ou não, do grau de sindicalização dos trabalhadores dentre outros fatores.


95 - Austeridade, crédito caro e demanda agregada comprimida: ...as políticas usuais de combate à inflação pela redução da demanda agregada tendem a reduzir novos investimentos e a criar desemprego, fortalecendo o poder de barganha dos capitalistas frente aos trabalhadoresA teoria da inflação baseada no conflito distributivo aceita que possa existir, em circunstâncias específicas, um trade-off entre inflação e desemprego. Nesse sentido, é possível afirmar que existe uma curva de Phillips fundamentada pela teoria da inflação de custos resultante do conflito distributivo.


96 - A competição não implica necessariamente vender mais barato. As empresas temem iniciar uma guerra de preços. Ou seja, manter preço constante mesmo frente a uma alta dos custos, por exemplo. Assim, o resultado final para a firma que manteve os preços constantes seria uma queda em sua margem de lucro sem ter a compensação de uma maior participação no mercado em que atua. Por esse motivo, o preço tende a não ser um mecanismo de competição normalmente utilizado, sendo mais comum o uso de outros meios que buscam diferenciar os produtos entre si: propaganda, marketing e pesquisa e desenvolvimento (P&D). Ou pela produtividade do trabalho.


97 - Sempre existe a possibilidade de que as empresas repassem aumentos dos custos financeiros para seus preços a fim de evitar que seus lucros sejam comprimidos pelos gastos com juros. Logo, juros mais elevados podem levar algumas empresas a tomarem a decisão de elevar seus preços para proteger suas margens de lucro.


98 - Desvalorização cambial é outra fonte de pressão. Matérias-primas importadas e etc.: ...Se elas não repassarem o aumento de tais custos para seus preços, o resultado será uma maior transferência de recursos para os agentes no exterior e uma redução do volume de lucros. Ademais, desvalorizações da moeda local tornam os produtos importados mais caros, permitindo que as empresas nacionais possam elevar os preços sem perda de parcela de mercado. Por fim, afeta o valor em reais de possíveis estoques de dívida externa. (...) Fortes desvalorizações cambiais levam a uma redução dos lucros contabilizados na moeda estrangeira e aumentam o serviço da dívida externa que estiver denominada naquela moeda. É possível que as empresas elevem seus preços para garantir a capacidade de pagamento do serviço da dívida e continuarem lucrativas.


99 - Todas as relações econômicas entre brasileiros e residentes no exterior são registradas no balanço de pagamentos. Esse balanço está dividido em duas partes. Na primeira, são registrados o resultado da balança de bens e serviços (exportações e importações), do balanço de rendas (total enviado e recebido na forma de rendas – como lucros, dividendos e salários) e das transações unilaterais (como doações). Essas contas formam o balanço de transações correntes. Na segunda parte do balanço de pagamentos, temos a conta financeira, a conta de capital e a conta ativos em reserva.


100 - Privilégio da moeda forte: Enquanto o dólar for a moeda de reserva do sistema monetário internacional, os EUA terão o privilégio de terem déficits em transações correntes sem risco de insolvência.


101 - O conflito distributivo pode ficar fraco: Numa situação em que as regras de distribuição estão a contento para todos os grupos sociais, os preços na economia tendem a ficar estáveis. Não há razão para elevações dos salários, tributos, juros ou preços para além da inflação corrente, mantendo a distribuição funcional da renda constante.


(...)


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