Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto" - Capítulo 3
Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto"
Pgs. 105-136
"CAPÍTULO 3: "Tribulações da transferência tecnológica"
48 - Como a tecnologia é "subentendida", não sendo nunca completamente codificável, a melhor transferência tecnológica raramente atinge a paridade em produtividade entre comprador e vendedor.
49 - Amsden coloca que IED, o investimento estrangeiro, raramente vem a provocar crescimento. Geralmente vem a reboque. E se chegar cedo demais, pode "deixar de fora" as empresas nacionais. No máximo aceleram um crescimento já existente. (Não desenvolve muito a afirmativa, mas cita fontes).
50 - Coloca que o Japão estava tão ou mais atrasado que os países de industrialização tardia no início do período da Revolução Meiji. Porém, teve um aprendizado exemplar.
51 - Antes das filiais e subsidiárias, apenas indivíduos estrangeiros, sem o mesmo know how, portanto, estabeleciam operações manufatureiras nos países do resto. Isso meio que só iria mudar no século XX. Não era incomum que o know-how estrangeiro beirasse à impostura. Cita alguns exemplos, incluindo a gestão de usinas de açucar no Brasil de 1880 por empreiteiros ferroviários. Um completo fiasco.
52 - ...No Império Otomano de 1850, os conselhos dos ingleses eram, por preconceito cultural e/ou religioso, praticamente ignorados nas fábricas. Havia más relações entre os grupos até pelas diferenças salariais.
53 - Empresas estrangeiras só chegaram nos países do "resto" quando o bonde já estava andando. Não queriam ser o "primeiro ator" ou "catalisar a expansão industrial". "O investimento britânico direto nas manufaturas brasileiras cresceu com o poder industrial brasileiro em geral", mas não o liderou. Na construção de ferrovias no México, operou a mesma lógica. O capital estadunidense só chegou depois das primeiras construções por empresas mexicanas.
54 - Cita mais exemplos na China e Argentina. Estrangeiros já pegavam o mato capinado, digamos assim.
55 - Domínio colonial: A Índia passou boa parte do tempo proibida de ter sua própria usina siderúrgica pelos ingleses.
56 - Também no Japão os estrangeiros só chegaram depois.
57 - Critica-se que engenheiros e gerentes estrangeiros de boa parte das indústrias no "resto" do final do século XIX fossem muito bem remunerados para pouco resultado entregue. Japoneses se queixaram que os alemães contratados para assistência técnica dificilmente eram "de ponta", por exemplo. E os estrangeiros no México pareciam saber mais fazer lobby com o governo que inovar processos produtivos. Vai dando vários exemplos de fracasso no texto e num rodapé.
58 - Coloca que os indianos entraram no século XX ainda precisando de muitos conselheiros e diretores estrangeiros nas fábricas. O aprendizado ainda era aparentemente insuficiente. Idem para Brasil e México: muitos técnicos estrangeiros já na primeira década do século XX. Aos poucos, porém, os nacionais se treinavam e "dispensavam" a contratação externa. Isso começou a ser verificado no Japão antes mesmo da virada do século, ao que entendi.
59 - Afirma que os japoneses da época eram cautelosos e transformaram em uma "arte" a tarefa de comprar as máquinas certas. Já o "proprietário brasileiro em 1925" não se interessava por detalhes da produção. Aparentemente encomendavam sem muito estudo.
60 - Algumas indústrias pequenas do "resto" prosperavam fazendo engenharia reversa e operando com estoques pequenos e sistemas simples de contabilidade de custos. Visavam nichos menores e especializados.
61 - A formação de engenheiros no Brasil demorou a crescer. Industriais preferiam contratar logo técnico estrangeiro que esperar ou fomentar isso. Mais barato. Educação e treinamento como custos era meio que impensável.
62 - ...Havia, no "resto" um desprezo geral quanto à educação. Não era só falta de treinamento e déficit de técnicos em relação às indústrias já instauradas. Em 1950, os anos médios de escolaridade do "resto" não eram nem metade do que eram no Atlântico Norte em 1913. A exceção foi o Japão pós-Meiji, que valorizou muito a instrução. Em 1950, os países avançados tinham escolaridade média de 8,3 anos (acho que o Brasil chegou nisso por agora...). E isso porque os países ibéricos ainda estavam puxando essa média para baixo.
63 - Mais dados de escolaridade 1950: Argentina 4,8. Brasil 2,1. Chile 5,5. México 2,6. Índia 1,4. Coréia 3,4 (já em 1970 alcançaria quase os mesmos 7.0 da Argentina, com o Brasil chegando a 3,8 ainda. Chile estaria já com 8,0). Taiwan 3,6 (em 1970 já seria 7,4). Em 1992, Coréia e Taiwan já teriam 13,6 e 13,8. Brasil 6,4. Argentina 10,7. Chile 10,9. Entre os desenvolvidos, EUA lideraram, com frente de dois anos sobre o segundo, em todos os períodos. Escolarização já de 18 em 1992, sendo que, em 1820, já tinham escolaridade próxima a do Reino Unido da época.
64 - Quanto ao analfabetismo, já ficava abaixo dos 20% nos países desenvolvidos em 1900. A exceção era a, à época "desenvolvida", Argentina, com seu analfabetismo de 54%. Na Índia era de 95%. Coréia já tinha, em 1950, menos da metade do analfabetismo do Brasil (23% contra 51%). Chile tinha 20% e a Argentina 14% nessa época (1950).
65 - Enfim, a industrialização no resto se deu num processo de transferência tecnológica imperfeita. Países do Atlântico Norte também tinham suas tribulações de iniciantes nesse tipo de processo, mas o aprendizado tinha condições de ser mais rápido pela proximidade dos centros de excelência numa época de transporte e comunicações caras. Empresários noruegueses, por exemplo, faziam séries de visitas à Grã-Bretanha. Os alemães também. Inclusive quem, do "resto", também fez isso conseguiu, em geral, se dar bem. E o Japão aqui mais uma vez era exceção, enviando desde sempre engenheiros para aprender fora.
66 - As visitas geravam mais aprendizado se fossem contínuas. Não apenas na fase de implementação.
67 - Os gerentes britânicos passavam pouco tempo em países como Noruega e longos períodos nos países do resto. Um claro indício do quanto a escolarização baixa dificultava a transferência tecnológica.
68 - Como o "resto" se industrializou depois do Atlântico Norte, enfrentou desafios maiores no ganho de escala.
69 - Passa a tratar da indústria da seda na virada do século XIX/XX e como o governo teve papel importante em impedir ou não (no contexto de sua fraqueza) a propagação da doença do bicho-da-seda lá. Cita Turquia (antes do Império Otomano expulsar os emigrados que faziam o sucesso dessa indústria por lá) e Japão como exemplos positivos de intervenção/regulação e a China como exemplo trágico. Governo japonês fez controle de qualidade; limitou entradas e criou banco de desenvolvimento.
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