Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto" - Apresentação, Prefácio e Capítulo 1
Livro: Alice H. Amsden - A Ascenção do "Resto"
Pgs. 7-20
"APRESENTAÇÃO"
1 - Subtítulo: os desafios ao ocidente de economias com industrialização tardia. Edição de 2009. O livro foi, porém, escrito em 2001. Esta apresentação de Glauco Arbix é só um resumo das teses centrais do livro.
2 - Defende definição de metas, incentivos, monitoramento e avaliação permanente do desempenho das empresas e da economia. Seria uma parceria Estado-setor privado, a fim de alavancar os potenciais do binômio conhecimento/desenvolvimento. Se deixado ao arbítrio do mercado, a evolução seria lenta até pelos próprios "mecanismos de defesa" do mesmo.
3 - A ideia não é corrigir falhas de mercado, mas perseguir o gap de conhecimento/tecnologia. Os juros subsidiados do BNDES são apontados aqui na apresentação como um instrumento do tipo que ela defende. (Faltou explicar em que esses subsídios estavam ajudando a superar esse gap...)
4 - O governo intervém distorcendo os preços em favor de sua indústria nativa. Em Amsden, porém, o Estado exige crescimento da produtividade e metas de exportações. Há reciprocidade. Competitividade é chave.
5 - A autora vê Brasil, México, Argentina e Turquia como países que, diferentemente da experiência asiática, apostaram tudo na esperança de transbordamento de tecnologia das empresas estrangeiras instaladas aqui. Ao menos dos anos 80 pra cá. Confiaram na compra de tecnologia e investimento externo. Os asiáticos estariam, por sua vez, sempre mirando a tecnologia própria.
6 - ...Arbix critica, porém, que a autora não reconheça esforços do II PND, por exemplo. Haveria certo reducionismo nessa divisão de países. Coloca ainda outras dúvidas sobre a diferenciação da autora, mas não explica bem, a meu ver.
Pgs. 21-24
"PREFÁCIO"
7 - O prefácio da autora data de maio de 2000. Coloca que o conhecimento, que permite a competitividade, é tudo menos universalmente disponível e gratuito, como parecem querer as "novas" teorias do crescimento. É exclusivo e específico de cada empresa.
I - Ficando para trás, de 1850 a aproximadamente 1950
Pgs. 27-68
"CAPÍTULO 1: "A industrialização tardia"
8 - Traz taxas de industrialização (1965-1995) e elenca os mais significativos países que avançaram no período: China, Índia, Taiwan, Coréia do Sul, Malásia, Tailândia, Indonésia, Turquia, Brasil, Chile, México e Argentina. Afirma que, depois, ficariam mais nítidas algumas diferenças importantes entre eles. De toda forma, quem não se industrializou ficou pra trás.
9 - Critica as teorias que simplificariam a aquisição/disponibilidade de conhecimentos. Como as propriedades de uma tecnologia não podem necessariamente ser de todo documentadas, a otimização de processos e a especificação de produtos permanecem uma arte. Cita Nelson, Rosenberg e Schumpeter como referências disso. São habilidades tácitas, difíceis de copiar, que geram a seus detentores rendas monopolísticas (Wernerfelt, 1984).
10 - ...Mesmo uma venda do ativo pode dificultar engenharia reversa, aprendizado ou algo do tipo. O objeto da venda pode compreender tão-somente a parte codificada de uma tecnologia e o sigilo é protegido por lei. Como resultado disso tudo, qualidade e produtividade podem variar significativamente mesmo entre empresas de diferentes países mas pertencentes a um mesmo ramo/indústria.
11 - ...Uma consequência de tudo: mesmo preço da terra, mão-de-obra e capital não garante igual competitividade.
12 - Para competir no mercado, um país pode subsidiar o aprendizado tentando aumentar a produtividade e diminuir o custo unitário da mão-de-obra (cumb). Perigo aqui é que essas políticas estão sujeitas às "falhas de governo". Outra forma de conseguir essa diminuição, sem mexer na produtividade (portanto, sendo algo possível "imediatamente") é depreciar o câmbio ou permitir isso, implicando queda no salário real. O "cumb" também baixará.
13 - Coloca que os mecanismos de controle do Atlântico Norte minimizava as falhas de mercado enquanto que os mecanismos do "resto" - subsídios para tornar empresas lucrativas, por exemplo -minimizavam as falhas de governo.
14 - O resto e a estratégia das "zonas livres de comércio". Em trocas das isenções nas importações, as empresas tinham de exportar 100% de sua produção, aproveitando-se dos salários mais baixos também. A ideia era ser competitivo. O resultado foi mínimo, pois a produtividade ainda era muito baixa e não compensava as vantagens. Depois dos anos 60, manteve-se a política de condicionar subsídios a resultados de exportações, mas foram ampliadas as proteções, manipulando os preços. Já era autorizado a vender no mercado interno, em alguns ramos, desde que se batesse, antes, as metas de exportação.
15 - Crédito dos bancos públicos: mutuários contribuíam com seu próprio capital em parte. Ademais, as fábricas tinham que obedecer a escala mínima eficiente. Na Coréia, exportações tinham que atender a metas de diversificação geográfica, valor e complexidade.
16 - Coloca que apenas a Argentina não criou uma rede de subsídios.
17 - As falências eram dos proprietários e não das empresas.
18 - Não crê que a corrupção, presente em todo o "resto", tenha sido diferencial de desempenho.
19 - Ásia: investiram no desenvolvimento de habilidades nacionais próprias para a formação de "líderes nacionais". América Latina e Turquia preferiram a dependência estrangeira. De toda forma, não era oito ou oitenta. Todos trabalhavam com "compra" de tecnologia estrangeira e alguma engenharia própria. Joint ventures e alianças estratégicas foram crescendo também.
20 - O critério de industrialização do livro envolvia também certa diversificação entre ramos. Na Venezuela, por exemplo, grande parte de toda a indústria era referente ao petróleo refinado. Além disso, foram excluídos países com história muito particular.
21 - A Ásia vinha de "experiência manufatureira colonial" (transferência direta, embora também houvesse imigração lá) enquanto que a América Latina devia mais sua experiência desse tipo à emigração de indivíduos do Atlântico Norte para os diversos países latinos. Esses países também recebiam maior investimento estrangeiro direto, dificultando o nascimento de indústrias locais.
22 - Coréia, Taiwan e Japão tiveram reforma agrária no pós-guerra, o que distanciou esses países do padrão de desigualdade do "resto". Imagina-se que na China também houvesse bastante igualdade na distribuição de terras, mas faltam dados. Foram estes países asiáticos os que mais investiram na promoção das empresas e habilidades nacionais, correlaciona Amsden. Brasil e Argentina, já em 1960, possuíam índices absurdos de concentração de terra.
23 - Maldição da concentração agrária: Com grandes concentrações de recursos naturais e custos de entrada fixos para o aprendizado manufatureiro, as competências-chave de investidores do setor primário (e terciário) dificilmente se concentrarão nas manufaturas, como é exemplificado pelo Brasil. Há "quase-rendas ricardianas" que tornam difícil o setor secundário ser atrativo.
24 - Curiosamente, os países mais desiguais optaram pela difusão das alocações de ativos visando industrialização, enquanto que os mais igualitários preferiram a concentração em líderes nacionais para tal meta. Habilidades exclusivas e de ponta prosperaram mais nos menos "difusionistas".
25 - Coloca que entre o fim da década de 50 e início dos anos 60, quase todos os países do resto - exceção da Argentina - criaram instituições visando promover a industrialização. Os países influenciavam uns aos outros.
26 - A FCBF foi aumentando progressivamente entre 1950 e os meados dos anos 80. Até na Argentina houve um leve crescimento. Na Ásia e Chile, continuou crescendo mesmo nos anos 90.
27 - Tailândia: benefícios fiscais; proteção tarifária em alguns casos; crédito subsidiado a multinacionais; restrições à entrada em alguns casos; benefícios especiais às empresas estrangeiras. Tudo isso em troca de metas de exportação; políticas de conteúdo local; tetos de endividamento; piso para a propriedade nacional; escala mínima operacional; critério de localização regional e qualidade do produto, tudo com regras ambientais. Gerentes locais tinham que ser contratados, num processo de transferência de tecnologia. Os engenheiros progressivamente eram substituídos por tailandeses. A tarifa de importação nominal média era de 31% em 1983, maior que na Coréia (24%), por exemplo. Se não houvesse similar produzido localmente, indústrias na Tailândia tinham redução ou isenção de imposto de importação de maquinarias e insumos. Enfim, era uma economia "aberta", pero no mucho. Economistas tailandeses e engenheiros analisavam viabilidade técnica dos projetos e compatibilidade com os planos quinquenais para decidir sobre as parcerias. O órgão era o CDI. No seu monitoramento constante, chegaram a cancelar 7% dos clientes beneficiados por não-conformidade. O processo de seleção era aberto a todos os ministérios, a fim de evitar corrupção.
28 - Barreiras à entrada: No caso de tubos para televisores coloridos, por exemplo, considerações quanto a economias de escala levaram o CDI a oferecer privilégios a um único ator.
29 - O CDI foi acusado de ser sem critérios nos anos 60. Tendo sido comparado por um economista a uma "mulher num surto de compras" (o secretariado era todo masculino). Seria generoso demais. Tudo isso, porém, o tornou "popular" e rendeu apoio político e empresarial.
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