Vinicius Carrasco, João M. P. de Mello e Isabela Duarte - A Década Perdida - PARTE 1
Vinicius Carrasco, João M. P. de Mello e Isabela Duarte - A Década Perdida
1 - É um trabalho que encarnou no PT, rs: A Década Perdida: 2003 – 2012. Texto para discussão de um pessoal da PUC-RJ.
2 - Do início do governo Lula pra frente: os termos de troca do Brasil – e da maioria dos emergentes – começaram a melhorar substancialmente. Isso, além da política monetária frouxa nos EUA, criaram condições externas bastante favoráveis, não vistas nos dez anos precedentes.
3 - ...Além disso, políticas implantadas nos governos anteriores maturaram durante a década de 2000. Dois exemplos: a universalização do ensino básico e a faxina do setor financeiro, que custou algo como 15% do PIB (De Mello e Garcia, 2011).
4 - Admitem: A não aleatoriedade da chegada do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder causa um problema de comparabilidade. Em suma, o Brasil era diferente de outros países antes de 2003, o que torna difícil, mas certamente não impossível, compará‐lo com outros países depois de 2002.
5 - Vão selecionar países que criem uma síntese "imitativa" do Brasil pré-2003. Elencarão variáveis importantes em tal sentido, dando o devido peso a cada uma (parecem crer que isso é mais objetivo do que realmente é...: "Ao pesquisador cabe apenas definir o grupo inicial de candidatos à comparação e os fatores candidatos a explicar a variável de interesse.").
6 - ...Porém, vão tentar essa objetividade: ...São os países latino‐americanos? É o México, grande e com PIB per capita parecido? Ou a Colômbia, não tão grande, um pouco mais pobre, mas igualmente desigual? Ou o Chile, também exposto à mineração? Ou a Argentina, grande produtora de grãos, como o Brasil, e importante parceira comercial? Será que os emergentes da Ásia e África não têm nenhuma valia em termos de comparação com o Brasil? Em vez de tentar responder essas perguntas, todas muito difíceis, o método deixa os dados decidirem: o melhor peergroupé aquele que melhor imita o Brasil antes do tratamento, i.e., antes de 2003.
7 - A introdução meio que é uma antecipação das conclusões.
8 - O Brasil recebeu um maná externo mais generoso do que os outros países emergentes. No entanto, tivemos um desempenho econômico inferior ao do melhor grupo de comparação em quase todas as dimensões relevantes.
9 - O mercado de trabalho foi a grande estrela. A participação da massa salarial na renda aumentou em relação ao melhor grupo de comparação. No entanto, este aumento não adveio de ganhos reais de salário, que andou em linha com o melhor grupo de comparação, mas sim do aumento do emprego e, principalmente, da participação na força de trabalho. (...) Em suma, colhemos as frutas que estavam baixas na árvore: colocamos as pessoas para trabalhar, o que aumentou a massa salarial e a renda dos trabalhadores. Isso é bom, mas certamente insuficiente para criar crescimento sustentável no longo prazo.
10 - Começam o estudo pelo PIB per capita: Os emergentes, que já vinham crescendo mais do que o Brasil até 2002, seguem crescendo mais fortemente depois. Ou seja, o desempenho econômico do Brasil, medido pelo PIB per capita, não é brilhante, quando comparado à média dos outros países emergentes.
11 - Ao menos a China felizmente não foi ponderada pela população, mas há outro "porém": Como a própria Figura 1 mostra, os emergentes são, em média, mais pobres que o Brasil. Portanto, não é surpreendente que eles cresçam mais acentuadamente. (Ademais, pode haver fatores de longo prazo puxando o crescimento do Brasil abaixo dos outros, que independem de dez anos ou mais de governo. Atraso em escolaridade... herança de dívida mais complicada... espaço fiscal e necessidade de debelar fenômeno inflacionário... fragilidade externa... Despesas obrigatórias e "direitos adquiridos" pouco produtivos, digamos assim... Não se pegou casa arrumada).
12 - Depois de 2002, o PIB per capita médio da América Latina cresce mais rapidamente do que o brasileiro. O PIB per capita médio dos países latino‐americanos é mais alto do que no Brasil. Portanto, o argumento da base mais baixa não se aplica neste caso.
13 - O método do controle sintético mitiga ao máximo o problema de comparabilidade, deixando os dados recuperarem qual é o melhor grupo de comparação para o PIB per capita do Brasil. A Figura 3 mostra a evolução do PIB per capita no Brasil e no seu melhor grupo de comparação. Este é nosso resultado principal.
14 - O grupo de controle do Brasil coloca quase 60% de peso na Turquia, 20% na Tailândia e 15% em Ucrânia.
15 - A Figura 6 mostra o exercício do melhor grupo de comparação considerando todos países da América Latina e Caribe, conforme a definição de regiões do Banco Mundial.
16 - A Figura 7 considera todos os países considerados de renda média alta, conforme classificação do Banco Mundial. O Brasil está nesse grupo.
17 - Por fim, usamos os dados da Economist Intelligence Unit (EIU), que procura utilizar somente dados que sejam, segundo seus critérios, comparáveis internacionalmente. Por exemplo, a EIU evita ao máximo utilizar fontes domésticas de dados. Os números são, portanto, potencialmente diferentes daqueles do Banco Mundial e da Penn World Table e servem ao propósito de checar, mais uma vez, a robustez dos resultados. A unidade reportada pela EIU é o PIB per capita em dólares PPP correntes, por isso o nível mais alto do que os gráficos da Penn World Table.
18 - Os termos de troca inclusive deveriam ter impulsionado justamente o Brasil. A Figura 10 mostra os termos de troca do Brasil e do melhor grupo de comparação que gerou a trajetória de PIB per capita da Figura 3. (Importante e significativo, mas queria ver também o da "6", que é a única com a amostra realmente "grande")
19 - Interpretação sobre o gráfico acima: O melhor grupo de comparação contém 60% de Turquia, país relativamente industrializado que surfou menos a onda das commodities. Já o Brasil recebeu um presente na forma do boom de commodities. Portanto, não podemos atribuir ao cenário comercial externo o pior desempenho do Brasil em relação ao melhor grupo de comparação do PIB per capita. (A desindustrialização pode ter culpa nisso?)
20 - Passa à análise do "maná interno": A variável demográfica mais importante para o desempenho macroeconômico é a razão de dependência, o número de idosos acima de 60 anos e de adolescentes e crianças abaixo de 15 anos. Traz um gráfico meio esquisito, já que aponta queda da PIA de cerca de 60% para 45% tanto no Brasil quanto nos quatro ou cinco países lá que o método pinçou. Conclui que não há influência de maná interno. Até parece razoável que não exista, mas achei estranho.
21 - Para produtividade (PIB por pessoa empregada), o nosso lento crescimento é conhecido. Porém, novamente me pergunto se o "efeito China" não pesa demais a comparação.
22 - De fato, é preciso que haja pessoas qualificadas para operar o estoque de capital físico da economia. O World Economic Survey compila um índice de falta de capital humano. (A explicação tá num "apêndice B")
23 - (Queria maiores explicações. Muita variação brusca para um índice sobre algo tão "lento" como capital humano...)
24 - A Figura 16 mostra a evolução da formação bruta de capital. Formação bruta de capital é, grosso modo, investimento em capital físico. (...) mais e melhores máquinas (amplamente definidas) tendem a aumentar a produtividade marginal do trabalhador. (...) Como investimento compõe o estoque de capital físico ao longo do tempo, a diferença de investimento observada nos anos 2003 – 2011 produziu uma grande diferença de estoque de capital entre o Brasil e o melhor grupo de comparação. Isso ajuda a entender a diferença de PIB por pessoa empregada: sendo baixo o investimento, a produtividade (marginal) do trabalho será menor.
25 - De certa forma, buscaram uma "proxy" da "produtividade do capital": Temos, no entanto, uma medida de ineficiência no uso de um dos insumos que pode ser interpretado como componente relevante do estoque de capital da economia: energia. De fato, é inegável que energia é componente da infraestrutura de um país. Desperdícios em seu uso implicam produto marginal na economia do insumo energia (novamente, pode ser interpretado um dos insumos que compõem o estoque de capital agregada) menor do poderia ter prevalecido.
26 - ...A partir de 2003, enquanto o desempenho brasileiro fica estagnada, as perdas no melhor grupo de comparação mantêm‐se em queda acentuada. Ou seja, fomos bastante pior do que o melhor grupo de comparação a partir de 2003. Em suma, o produto marginal de um componente importante da infraestrutura do Brasil ficou bastante aquém do que poderia ter.
27 - Em quilometragem de estradas, o Brasil também tomou surra.
28 - Outra métrica relevante é o consumo de diesel pelo setor rodoviário. Manifestando o mesmo fenômeno do gráfico anterior, o consumo de diesel do setor rodoviário andou bem menos no Brasil do que no melhor grupo de comparação. Ver Figura 21.
29 - Mais dados de transportes:
30 - Gráfico abaixo: A nova classe média trocando o ônibus pelo avião é um dos símbolos na prosperidade encontrada. Vemos um crescimento pronunciado depois de 2003, mas muito aquém do crescimento no melhor grupo de comparação.
31 - Surpreendentemente, o transporte portuário teve evolução "em linha"...
32 - PTF: A Figura 25, abaixo, apresenta a evolução da TFP (sigla do inglês, Total Factor Productivity), uma medida de produtividade agregada, para o Brasil e o melhor grupo de comparação.
33 - Eles mesmos observam que a coisa já vinha feia antes do PT nesse sentido. Ainda assim, analisam a estagnação: Há ao menos duas dimensões a serem consideradas. Em primeiro lugar, para as empresas abertas há dados a respeito de empréstimos do BNDES. Lazzarinni e Mussacchio (2014) não encontram efeito dos empréstimos sobre investimentos. Segue, portanto, que o BNDES tem financiado um conjunto projetos cujo Valor Presente Líquido Social é Negativo. Isso, certamente, reduz a produtividade agregada da economia. Há o custo do crédito subsidiado sem a contraparte.
34 - ...Em segundo lugar, ao dar crédito subsidiado para atividades que, por não apresentarem retornos sociais diferentes dos privados, não o justificam – conceder empréstimos para a consolidação do setor de frigoríficos é um exemplo – o BNDES distorce a alocação de recursos na economia. Mais capital e mais trabalho, devido às complementaridades entre os dois fatores, do que o socialmente desejável são alocados às atividades subsidiadas. O subsídio induz uma cunha entre a produtividade marginais do capital e trabalho entre diferentes setores. Uma realocação de capital dos setores com menor produtividade marginal para os com maior produtividade aumentaria a produtividade agregada.
35 - A Figura 26 apresenta a evolução de uma medida de investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D): o número de artigos publicados em periódicos científicos ou técnicos. Até 2002, o Brasil e o melhor grupo de comparação tinham produções científicas próximas e que cresciam continuamente. (efeitos China ou até Índia podem ter falado alto aí...)
36 - Traz um tal índice de qualidade regulatória, mas achei mal explicado o porquê do desempenho tão ruim do Brasil já entre 2003 e 2006 (que piora acentuada do "ambiente de negócios" houve aqui?). E, na verdade, melhora acentuadamente entre 2007 e 2010. Por não pegar muito bem os critérios, ignorei essa parte.
(...)
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