Livro: Kahneman - Rápido e Devagar - Duas Formas de Pensar - Capítulos 11, 12, 13 e 14

                                                                   

Livro: David Kahneman - Rápido e Devagar - Duas Formas de Pensar (2011)



Pgs. 86-92


"CAPÍTULO 11: "ÂNCORAS"


132 - Adulteraram uma roda da fortuna que, de 0 a 100, dava sempre 10 ou 65. Pedia para o participante girar. Depois, perguntavam duas coisas: A porcentagem de nações africanas entre membros da ONU é maior ou menor do que o número que você acabou de escrever? (...) Qual é sua melhor estimativa sobre a porcentagem de nações africanas na ONU? Pois bem... As estimativas médias dos que viram 10 e 65 foram 25% e 45%, respectivamente.


134 - Se lhe perguntassem se Gandhi tinha mais do que 114 anos quando morreu, você acabaria com uma estimativa muito mais elevada da idade da morte dele do que teria se a pergunta de ancoragem se referisse à morte com 35 anos. ...Se você considera quanto deveria pagar por uma casa, vai ser influenciado pelo preço perguntado. A mesma casa parecerá mais valiosa se o preço fornecido pelo corretor for elevado, não baixo, mesmo que você esteja determinado a resistir à influência desse número; e assim por diante — a lista de efeitos de ancoragem é infinita.


135 - Ajuste insuficiente explica perfeitamente por que você tende a dirigir rápido demais quando sai da rodovia e entra nas ruas da cidade — principalmente se estiver conversando com alguém enquanto dirige. Ajuste insuficiente também é uma fonte de tensão entre pais exasperados e adolescentes que gostam de música alta no quarto. LeBoeuf e Shafir observam que “um jovem bem-intencionado que abaixe a música excepcionalmente alta para atender a um pai que está lhe pedindo para ouvir música em um volume ‘razoável’ talvez deixe de se ajustar suficientemente a partir de uma âncora alta, e ele pode sentir que suas tentativas sinceras de fazer uma concessão estão sendo desprezadas”.


136 - Nick Epley e Tom Gilovich encontraram evidência de que o ajuste é uma tentativa deliberada de encontrar motivos para se afastar da âncora: pessoas que são instruídas a abanar negativamente a cabeça 2 quando dão ouvidos à âncora, como se a rejeitassem, movem-se para mais longe da âncora, e pessoas que balançam afirmativamente a cabeça acentuam a ancoragem. Epley e Gilovich também confirmaram que o ajuste é uma operação trabalhosa. As pessoas ajustam menos (ficam mais próximas da âncora 3 ) quando seus recursos mentais estão esgotados, seja porque sua memória está carregada com dígitos, seja porque estão ligeiramente bêbadas. Ajuste insuficiente é uma falha de um Sistema 2 fraco ou preguiçoso.


137 - ...Porém, não se trata apenas - ou sempre - de um ajuste insuficiente do sistema 2. ...o Sistema 1 faz o melhor que pode para construir um mundo em que a âncora é o número autêntico. Essa é uma das manifestações da coerência associativa que descrevi na primeira parte deste livro. Cita estudos que mostram o "priming" influenciando a ancoragem: ...Uma âncora elevada primou seletivamente os nomes de marcas luxuosas (Mercedes, Audi), ao passo que a âncora baixa primou marcas associadas com carros populares (Volkswagen). Já vimos que qualquer priming tenderá a evocar a informação que é compatível com ele. Tanto a sugestão como a ancoragem são explicadas pela mesma operação automática do Sistema 1.


138 - Experimentos de ancoragem com corretores imobiliários: Anúncio descritivo do preço de venda de casa, com visita e tudo, com valores pedidos substancialmente mais altos ou mais baixos do que seria o normal. Todos os corretores deram sua opinião sobre um preço de compra razoável para a casa e o preço mais baixo em que o corretor concordaria em vender a casa se fosse seu dono. Perguntou-se então aos corretores sobre os fatores que haviam afetado seu parecer. Extraordinariamente, o preço pedido não foi um desses fatores; os agentes se orgulhavam de sua capacidade de ignorá-lo. Eles insistiam que o preço de venda não tinha efeito algum em suas respostas, mas estavam enganados: o efeito de ancoragem foi de 41%. Na verdade, os corretores eram quase tão suscetíveis aos efeitos de ancoragem quanto alunos de uma faculdade de administração sem qualquer experiência em negócios imobiliários, cuja ancoragem foi de 48%.


139 - Ancoragem e sensibilização para doações com fito de salvar aves marinhas: Quando nenhuma âncora era mencionada, os visitantes no Exploratorium — no geral um público sensível a questões ambientais — afirmavam estar dispostos a contribuir com 64 dólares, em média. Quando a quantia de ancoragem era de apenas cinco dólares, as contribuições ficavam em vinte dólares em média. Quando a âncora era uma quantia mais para extravagante, como quatrocentos dólares, a predisposição a contribuir subia para uma média de 143 dólares.


140 - O experimento da altura sequoia poderia levar a conclusão de que âncoras enganam por serem tomadas, conscientemente ou não, como pista informativa. Porém, não é bem isso (pelo menos não sempre): Efeitos de ancoragem de tamanho similar têm sido observados em experimentos em que os últimos dígitos do número de Seguridade Social da pessoa consultada era usado como âncora (por exemplo, para estimar o número de médicos na cidade dela). A conclusão é clara: âncoras não devem seus efeitos ao fato de as pessoas acreditarem que elas são informativas.


141 - Juízes alemães com uma média de mais de 15 anos de experiência em tribunal primeiro liam a descrição de uma mulher que fora detida por furto em lojas, depois lançavam dois dados que haviam sido adulterados de modo a dar sempre 3 ou 9. Assim que os dados paravam de se mover, perguntava-se aos juízes se iriam sentenciar a mulher a uma pena de prisão maior ou menor, em meses, do que o número apresentado no dado. Finalmente, os juízes eram instruídos a especificar a exata sentença de prisão que dariam à mulher. Em média, os que haviam rolado um 9 diziam que iriam sentenciá-la a oito meses; os que obtinham um 3 diziam que iriam sentenciá-la a cinco meses; o efeito de ancoragem foi de 50%.


142 - Ancoragem em negociações: Como em muitos outros jogos, agir primeiro é uma vantagem em negociações envolvendo uma única questão — por exemplo, quando o preço é a única coisa a ser acertada entre um comprador e um vendedor.


143 - O Sistema 2 funciona baseado em dados que são recuperados da memória, numa operação automática e involuntária do Sistema 1. (...) o Sistema 2 não tem qualquer controle sobre o efeito e nenhum conhecimento dele. Os participantes que foram expostos a âncoras absurdas ou aleatórias (como a idade de falecimento de Gandhi aos 144 anos) negam terminantemente que essa informação obviamente inútil possa ter influenciado sua estimativa, e estão enganados. (...) A essência da mensagem é a história, que está baseada em qualquer informação disponível, mesmo se a quantidade de informação é mínima e sua qualidade é ruim: WYSIATI. Enfim, somos influenciados até por coisas sem sentido.


144 - Daniel volta a lembrar os perigos do priming: Se o conteúdo de um irrelevante descanso de tela num computador pode afetar sua disposição de ajudar estranhos sem que você se dê conta disso, até onde vai sua liberdade? Efeitos de ancoragem são ameaçadores de maneira similarVocê sempre tem consciência da âncora e até presta atenção nela, mas não sabe como ela orienta e restringe seu pensamento, pois não pode imaginar como teria pensado se a âncora tivesse sido diferente (ou ausente).



Pgs. 93-98


"CAPÍTULO 12: "A CIÊNCIA DA DISPONIBILIDADE"


145 - Aqui ainda estamos, ao que me parece, na longa série "somos péssimos estatísticos intuitivos": Definimos a heurística de disponibilidade como o processo de julgar a frequência segundo a “facilidade com que as ocorrências vêm à mente”. (...) Um evento proeminente que chama sua atenção será facilmente recuperado da memória. Divórcios entre celebridades de Hollywood e escândalos sexuais entre políticos atraem muita atenção, e os exemplos virão facilmente à sua mente. Você é desse modo propenso a exagerar a frequência tanto de divórcios em Hollywood como de escândalos sexuais de políticos. (...) Um evento dramático aumenta temporariamente a disponibilidade de sua categoria. Um acidente de avião que atrai cobertura da mídia vai alterar temporariamente seus sentimentos sobre a segurança de voar. (...) Experiências pessoais, fotos e exemplos vívidos são mais disponíveis do que incidentes que aconteceram com outros, ou meras palavras, ou estatísticas. Um erro judicial que o afete vai minar sua fé no sistema de justiça mais do que um incidente similar sobre o qual você tenha lido em um jornal.


146 - Enfatiza a importância de se ter conhecimento de seus próprios vieses. (De certa forma, Marx já dizia um pouco isso rs).


147 - Cônjuges: “Até onde vai sua contribuição pessoal para manter a casa em ordem, em porcentagens?” Também foram feitas perguntas semelhantes sobre “levar o lixo”, “tomar a iniciativa dos compromissos sociais” etc. Será que as contribuições autoestimadas2 chegariam a 100%, ou mais, ou menos? Como era de se esperar, as contribuições autoestimadas totalizaram mais de 100%. (...) O viés não é necessariamente uma atitude calculista: os cônjuges também superestimam sua contribuição em ocasionar brigas, embora em menor medida do que suas contribuições para resultados mais desejáveis. O mesmo viés contribui para a observação comum de que muitos membros de uma equipe de colaboradores sentem ter feito mais do que era sua parte e sentem também que os outros não se mostram devidamente agradecidos por suas contribuições individuais.


148 - Outro experimento de autoclassificação: Liste seis (ou doze, em outro grupo) vezes em que foi assertivo. Pessoas que haviam acabado de listar 12 ocorrências classificavam-se como menos assertivas do que pessoas que haviam listado apenas seis. Isso porque o pessoal do "seis" cumpriu a tarefa mais facilmente. Logo, estão "se achando". Já o pessoal do "doze" deve ter pensado: "... se estou tendo tanta dificuldade a mais do que esperava em lembrar de ocorrências de minha assertividade, então não posso ser uma pessoa muito assertiva". (...) As autocategorizações eram dominadas pela facilidade com que os exemplos vieram à mente. A experiência de recuperação fluente de ocorrências prevalecia sobre o número recuperado. Ao que entendi, experimentos parecidos foram feitos por aí. As pessoas...: 



149 - Um professor da UCLA descobriu um modo engenhoso de explorar o viés de disponibilidade. Ele pediu a diferentes grupos de alunos para listar maneiras de melhorar o curso, e variou o número de melhorias exigido. Como esperado, os alunos que listaram mais maneiras de melhorar as aulas atribuíram a elas uma classificação superior!


150 - O curioso é que se o experimento "explica" (falsamente até) o motivo para que seja difícil uma recordação, a diferença entre os grupos ("seis" e "doze") some! Mesmo que o doze demore mais pra recordar. Exemplo: Eles disseram aos participantes que iriam ouvir uma música de fundo enquanto recordavam ocorrências e que a música afetaria o desempenho na tarefa de memória. Foi afirmado a alguns deles que a música ajudaria e a outros que o esperado era que a música diminuísse a fluência. (...) A dificuldade de recuperar 12 ocorrências não é mais uma surpresa e desse modo apresenta menor probabilidade de ser evocada pela tarefa de avaliar a assertividade.


151 - O envolvimento pessoal com o tema da pesquisa também diminui a heurística da disponibilidade, levando a resultados mais normais/esperados, digamos assim. Dá o exemplo lá com participantes com histórico familiar de doenças do coração. . Os alunos com um histórico familiar de cardiopatia exibiram o padrão oposto — eles se sentiram mais seguros quando recuperaram da memória muitas ocorrências de comportamento confiante e sentiram perigo maior quando recuperaram muitas ocorrências de um comportamento de risco. Também mostraram maior propensão a sentir que seu comportamento futuro seria afetado pela experiência de estimar seu risco. (...) A conclusão é que a facilidade com que as ocorrências vêm à mente é uma heurística do Sistema 1, que é substituída por um foco no conteúdo quando o Sistema 2 está mais empenhado.


152 - Os grupos mais sujeitos à heurística da disponibilidade, segundo experimentos:





Pgs. 99-104


"CAPÍTULO 13: "DISPONIBILIDADE, EMOÇÃO E RISCO"


153 - Estatísticas versus intuição estatística: Vítimas e quase vítimas ficam muito preocupadas após um desastre. Depois de cada terremoto significativo, os californianos se mostram por algum tempo diligentes em adquirir seguros e adotar medidas de proteção e alívio.



154 - A cobertura da mídia distorce a percepção, coloca. O mundo em nossas cabeças não é uma réplica precisa da realidade; nossas expectativas sobre a frequência dos eventos são distorcidas pela preponderância e intensidade emocional das mensagens às quais somos expostos.


155 - Slovic coloca que entra também, ao que entendi, a heurística do afeto: A heurística do afeto é um caso de substituição, em que a resposta para uma pergunta fácil (Como me sinto em relação a isso?) serve como resposta para uma questão muito mais difícil (O que penso sobre isso?).


156 - Pessoas avaliando tecnologias modernas: Quando as pessoas eram favoravelmente inclinadas em relação a uma tecnologia, classificavam-na como oferecendo grandes benefícios e impondo pouco risco; quando não gostavam de uma tecnologia, só conseguiam pensar em suas desvantagens, e poucas vantagens lhes vinham à mente. Como as tecnologias alinhavam-se claramente de boas a más, nenhuma troca penosa precisava ser enfrentada. (...) A melhor parte do experimento veio em seguida. Após completar o levantamento inicial, os entrevistados leram breves trechos com argumentos em favor de várias tecnologias. Alguns receberam argumentos focados nos diversos benefícios de uma tecnologia; outros, argumentos enfatizando seus baixos riscos. Essas mensagens foram eficazes em mudar o apelo emocional das tecnologias. A descoberta surpreendente foi de que as pessoas que haviam recebido uma mensagem exaltando os benefícios de uma tecnologia também mudavam suas crenças em relação aos seus riscos. Embora não tivessem recebido qualquer evidência relevante, a tecnologia de que agora gostavam mais do que antes também era percebida como menos arriscada. Similarmente, entrevistados a quem fora informado apenas que os riscos de uma tecnologia eram brandos desenvolveram uma opinião mais favorável de seus benefícios. (...) A heurística do afeto simplifica nossas vidas criando um mundo que é muito mais ordenado do que a realidade. Boas tecnologias apresentam poucos custos no mundo imaginário que habitamos, más tecnologias não têm qualquer benefício e todas as decisões são fáceis.


157 - Ainda sobre as mortes, torna a questão mais complicada: Slovic chama a atenção para situações em que as diferenças refletem um genuíno conflito de valores. Ele ressalta que os especialistas muitas vezes medem os riscos pelo número de vidas (ou anos-vida) perdidas, ao passo que o público traça distinções mais sutis, por exemplo entre “mortes boas” e “mortes ruins”, ou entre fatalidades acidentais aleatórias e mortes que ocorrem no decorrer de atividades voluntárias, como esquiar. Essas distinções legítimas são em geral ignoradas nas estatísticas que meramente computam casos. Slovic argumenta a partir de tais observações que o público possui uma concepção mais complexa dos riscos que os especialistas. Diz Slovic: “Risco” não existe “à solta por aí”, independentemente de nossas mentes e cultura, esperando ser medido. Chega a negar a objetividade do risco.


158 - Alguns vão bem contrariamente à posição de Slovic. Cita o jurista Cass Sunstein: Ele parte da posição de que a regulamentação do risco e a intervenção governamental para reduzir os riscos devem ser orientadas pela ponderação racional de custos e benefícios, e que as unidades naturais para essa análise são o número de vidas salvas (ou talvez o número de anos-vida salvos, o que atribui maior peso à proteção dos mais jovens) e o custo monetário para a economia. Coloca que a atenção superdimensionada pode gerar uma "cascata de disponibilidades". Vira uma bola de neve e quem se coloca no caminho é acusado de ter más intenções.


159 - ...Exemplifica: Em Love Canal, lixo tóxico enterrado foi exposto durante uma temporada chuvosa em 1979, causando contaminação da água muito além dos limites permitidos, bem como um odor fétido. Os moradores da comunidade ficaram furiosos e assustados, e um deles, Lois Gibbs, foi particularmente atuante na tentativa de sustentar o interesse no problema. A cascata de disponibilidade se desdobrou segundo o roteiro-padrão. Em seu auge, havia notícias diárias sobre Love Canal, cientistas que tentaram alegar que os perigos estavam sendo superestimados foram ignorados ou tiveram sua voz abafada pela gritaria geral, a rede ABC News levou ao ar um programa intitulado The Killing Ground (O campo mortífero) e caixões vazios de bebê eram carregados em passeata diante do Legislativo. Um grande número de moradores foi transferido às expensas do dinheiro público e o controle de lixo tóxico se tornou a principal questão ambiental dos anos 1980. A legislação que determinou a limpeza dos locais tóxicos, chamada Cercla, estabeleceu um Superfundo e é considerada uma realização significativa da legislação ambiental. Foi também uma medida dispendiosa, e alguns alegaram que a mesma quantia de dinheiro poderia ter salvo muito mais vidas se tivesse sido destinada a outras prioridades. Opiniões sobre o que de fato aconteceu em Love Canal continuam fortemente divididas, e as alegações de danos reais à saúde parecem não ter se confirmado.


160 - Mente humana e os pequenos riscos: ...ou os ignoramos completamente ou lhes damos peso excessivo — nada entre uma coisa e outra. Acho que ele escreveu isto aqui em pleno mandato "W. Bush": No mundo de hoje, os terroristas são os praticantes mais significativos da arte de induzir cascatas de disponibilidade. Com poucas terríveis exceções, como o 11 de Setembro, o número de baixas por ataques terroristas é muito pequeno em relação a outras causas de morte. Mesmo em países que se tornaram alvo de intensas campanhas terroristas, como Israel, o número semanal de baixas quase nunca chegou perto do número de mortes no trânsito.


161 - Kahneman quer conciliar as duas posições divergentes. Slovic e Sunstein. Racional ou não, medo é uma coisa dolorosa e debilitante, e os formuladores de políticas devem se esforçar para proteger o público do medo, não apenas dos verdadeiros perigos. Vê outros ganhos inesperados advindos de certas irracionalidades: O incidente de Love Canal talvez tenha levado a que recursos excessivos sejam alocados para o manuseio de lixo tóxico, mas também exerceu um efeito mais geral em elevar o nível de prioridade das preocupações ambientais.



Pgs. 105-111


"CAPÍTULO 14: "A ESPECIALIDADE DE TOM W"


162 - O início dele é todo repetição daquele problema já exposto do "fazendeiro ou bibliotecário", acho que na Introdução. Tom W foi criado/descrito como um "cara de exatas", tipo ciência da computação e tal... Só que os cursos mais frequentados são da área de humanidades.


163 - Ele se divertindo com os colegas: A primeira pessoa a aparecer para trabalhar nesse dia foi nosso colega e amigo Robyn Dawes, que era tanto um estatístico sofisticado como um cético acerca da validade do julgamento intuitivo. Se havia alguém capaz de ver a relevância da taxa-base, esse alguém seria Robyn. Chamei-o, mostrei-lhe a questão que acabara de escrever e lhe pedi para adivinhar a profissão de Tom W. Ainda me lembro de seu sorriso malicioso ao dizer meio hesitante, “cientista da computação?” Foi um momento de alegria — até os poderosos caíram. Claro que Robyn reconheceu imediatamente seu engano assim que mencionei “taxa-base”, mas ele não pensara espontaneamente nisso.


164 - ...Amos e eu depois recolhemos respostas para a mesma pergunta junto a 114 graduandos em psicologia de três grandes universidades, todos os quais haviam feito vários cursos em estatística. Eles não nos decepcionaram. Suas classificações das nove áreas por probabilidade não diferiram de categorizações por similaridade com o estereótipo.


165 - Embora seja comum, a previsão por representatividade não é estatisticamente o ideal. O best-seller de Michael Lewis, Moneyball, é uma história sobre a ineficácia desse modo de predição. Os olheiros profissionais de beisebol tradicionalmente preveem o sucesso de possíveis jogadores em parte por sua constituição e aparência. O herói do livro de Lewis é Billy Beane, gerente dos Oakland A’s, que tomou a impopular decisão de ir contra seus olheiros e selecionar jogadores segundo estatísticas de desempenho anterior. Os jogadores que os A’s pegavam eram baratos, pois as outras equipes os haviam rejeitado por não terem o perfil. A equipe em pouco tempo conquistou excelentes resultados a um baixo custo.


166 - Há virtudes nesse tipo de julgamento já que, via de regra, ao menos superam as "conjecturas fortuitas". Não é que estereótipos não sirvam pra nada. Em outras situações, os estereótipos são falsos e a heurística da representatividade induzirá a erro, sobretudo se levar as pessoas a negligenciar informação de taxa-base que aponta em outra direção. Às vezes, a pessoa se apega tanto a imaginar estereótipos que dá altas probabilidades a coisas muito específicas, como "se a pessoa é uma tímida amante de poesia, então é mais provável que estude literatura chinesa que administração". Este segundo subgrupo, em geral, é imensamente maior. "Taxa-base". 


167 - Se a taxa-base é explicitada - ou seja, o sistema II recebe algum alimento? - , os resultados melhoram um pouco. Os psicólogos têm conduzido inúmeros experimentos em que a informação da taxa-base é explicitamente fornecida como parte do problema, e muitos dos participantes são influenciados por essas taxas-base, embora a informação sobre o caso individual quase sempre pese mais do que a mera estatística.


168 - Este aqui reforça o ponto anterior: ...Metade dos estudantes recebiam instruções de inflar as bochechas durante a tarefa, enquanto os demais deviam franzir o rosto4. Fechar o rosto numa carranca, como já vimos, em geral aumenta a vigilância do Sistema 2 e reduz tanto a superconfiança como a fé na intuição. Os alunos que inflaram as bochechas (uma expressão emocionalmente neutra) reproduziram os resultados originais: confiaram exclusivamente na representatividade e ignoraram as taxas-base. Como os autores haviam previsto, porém, os carrancudos efetivamente mostraram alguma sensibilidade às taxas-base. Isso foi uma descoberta instrutiva.


169 - ...No entanto... Quando um julgamento intuitivo incorreto é feito, o Sistema 1 e o Sistema 2 devem ser ambos acusados. O Sistema 1 sugeriu a intuição incorreta, e o Sistema 2 a endossou e expressou-a como um julgamento. Pode ter sido, porém, por ignorância ou por preguiça.


170 - Coloca que o fato de as pessoas serem instruídas a não confiarem muito na descrição desses duvidosos "testes de personalidade" não muda muita coisa: Você em princípio certamente compreende que informação sem valor não deve ser tratada de forma diferente da completa falta de informação, mas o WYSIATI torna muito difícil aplicar esse princípio. A menos que você decida imediatamente rejeitar a evidência (por exemplo, determinando que a recebeu de um mentiroso), seu Sistema 1 irá processar automaticamente a informação disponível como se fosse verdadeira. Kahneman recomenda deixar "as taxas-base ... dominar suas estimativas".


171 - Um rodapé é ótimo em explicar a estatística bayesiana - já havia lido sobre ao pesquisar sobre "falsos positivos": A forma mais simples da regra de Bayes se dá na forma de chances: chances a posteriori = chances a priori × razão de probabilidade, onde as chances posteriores são as chances (a razão das probabilidades) para duas hipóteses concorrentes. Considere o problema da diagnose. Seu amigo testou positivo para uma doença grave. A doença é rara: apenas 1 em 600 casos mandados para teste de fato apresentam a doença. O teste é razoavelmente preciso. Sua razão de probabilidade é 25:1, o que significa que a probabilidade de que uma pessoa que tem a doença testará positivo é 25 vezes mais elevada do que a probabilidade de um falso positivo. Testar positivo é uma notícia assustadora, mas as chances de que seu amigo tenha a doença subiram apenas de 1/600 para 25/600 e a probabilidade é de 4%. Para a hipótese de que Tom W é um cientista da computação, as chances a priori que correspondem a uma taxa-base de 3% são (0,03/0,97 = 0,031). Presumindo uma razão de probabilidade de 4 (a descrição é 4 vezes tão provável se Tom W for um cientista da computação do que se ele não for), as possibilidades a posteriori são 4 × 0,031 = 12,4. A partir dessas possibilidades você pode calcular que a probabilidade a posteriori de Tom W ser um cientista da computação é agora de 11% (pois 12,4/112,4 = 0,11).


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