Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. II - Capítulos "17", "18", "19" e "20"
Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. II (Os Economistas) (1890)
Pgs. 170-183
"CAPÍTULO 17: "Exame Preliminar da Distribuição (Continuação)"
89 - O valor nominal de cada coisa, seja de determinada espécie de trabalho ou de capital, ou qualquer outra coisa, descansa, como a chave de uma abóbada, na posição de equilíbrio entre as pressões contrárias de seus lados opostos - as forças da procura pressionam de um lado, e as da oferta do outro.
90 - As quantidades e preços dos diversos agentes de produção se regulam reciprocamente. (...) quando um grande peso é suspenso por diversos fios de elástico, de diferentes resistências e comprimentos (estando todos eles esticados), presos em vários pontos do teto, as posições de equilíbrio de todos os cordões e do peso determinam-se reciprocamente.
91 - Parece ... não haver bom fundamento para a sugestão feita por Bohm-Bawerk (The Ultimate Standard of Value, §IV, publicado em Zeitschrift far Volkswirtschaft, v. II) de que o valor deve ser determinado geralmente pela procura, sem direta referência ao custo, porque a oferta eletiva de mão-de-obra é uma quantidade fixa: pois, mesmo que o número de horas de trabalho durante o ano fosse rigidamente fixado - o que não acontece - , a intensidade do trabalho continuaria elástica.
92 - Força de trabalho: uma alta no seu preço-procura, aumenta a sua oferta. Nem que seja em intensidade, coloca.
93 - Para se defender de críticas de Bohm-Bawerk, ao que entendi, deixa clara sua posição: Os salários tendem a igualar-se ao produto líquido do trabalho. Sua produtividade marginal regula o seu preço de procura. Por outro lado, os salários tendem a manter uma relação estreita, embora indireta e intricada, com o custo de criação, instrução e sustento da energia da mão-de-obra eficiente. Os vários elementos do problema se determinam (no sentido de regular) reciprocamente, e isso garante que o preço de oferta e o preço de procura tendem à igualdade: os salários não são governados pelo preço de procura nem pelo preço de oferta, mas por todo o conjunto das causas que regulam a oferta e a procura.
94 - Um largo aumento na procura de capital em geral, portanto, será atendido, durante algum tempo, não tanto por um aumento de oferta, mas por uma alta na taxa de juros, que há de fazer com que o capital se retire parcialmente dos empregos em que é mais baixa a sua utilidade marginal. Só devagar e gradualmente o acréscimo na taxa de juros há de aumentar o estoque total de capital.
95 - O fator terra é diferente, pois a oferta é mais rígida. É verdade, também, porém que a terra não é senão uma forma particular de capital, do ponto de vista do industrial ou do lavrador individualmente.
96 - Mobilidade de capital a fim de aproveitar as oportunidades e desequilíbrios: O processo de substituição, cujas tendências temos discutido, é uma forma de concorrência, e talvez valha insistir em que não presumimos seja a concorrência perfeita. A perfeita concorrência exige perfeito conhecimento da situação do mercado.
Pgs. 184-193
"CAPÍTULO 18: "Ganhos do Trabalho"
97 - Igualdade salarial na mesma tarefa depende de coisas como a livre e ativa mobilidade de trabalhadores.
98 - Custos fixos e maquinários pedem que, nos pagamentos por tarefa, os trabalhadores sejam o mais eficiente possível. Vão ganhar mais, mas dar mais lucro. Já na "revenda Jequiti" a lógica deve ser diferente: ...Esse ponto raramente tem muita importância em trabalho ao ar livre, onde há abundância de espaço, e relativamente pouco emprego de maquinaria cara, porque então, exceto no que toca à administração, faz muito pouca diferença para o empregador, cuja folha de salários para tarefa seja de 100 libras, que esta seja dividida entre vinte trabalhadores eficientes, ou entre trinta empregados ineficientes.
Pgs. 194-201
"CAPÍTULO 18: "Ganhos do Trabalho (Continuação)"
99 - Situação da classe: ...o trabalho é, frequentemente, vendido sob desvantagens especiais, resultantes de um grupo de fatos estreitamente conexos de que a força de trabalho é "perecível", que os seus vendedores são comumente pobres e não têm fundo de reserva, e que não podem retirá-la facilmente do mercado. (Aí que tá...)
100 - ...Por exemplo, os que em lugares remotos colhem mariscos para vender nos grandes mercados centrais têm poucos fundos de reserva e pouco conhecimento do mundo e do que outros produtores estão fazendo noutras partes do país. Enquanto isso, aqueles a quem vendem são um reduzido e compacto grupo de atacadistas, com amplo conhecimento e grandes fundos de reserva. Em consequência, os vendedores estão em grande desvantagem na troca.
101 - ...Ainda assim, qualquer coisa que baixe os salários tende a baixar a eficiência do esforço do trabalhador e, portanto, o preço que o empregador preferiria pagar, a passar sem esse trabalho. Os efeitos da desvantagem do trabalhador na negociação são portanto cumulativos de dois modos. Baixam os seus salários e, como vimos, baixam sua eficiência e, por isso, o valor normal de seu trabalho. E, além disso, diminuem a sua eficiência como negociador, e assim aumentam as probabilidades que terá de vender o seu trabalho por menos que o valor normal.
Pgs. 202-209
"CAPÍTULO 19: "Ganhos do Trabalho (Continuação)"
102 - Lucros acima do esperado, em razão de intensa procura, em algum setor acabam levando, ao menos no curto prazo, a salários mais altos: ...quando os negócios vão bem, a força da concorrência entre os próprios empregadores, cada qual desejando ampliar a sua empresa e obter para si o máximo possível desse elevado provento, leva-os a consentir em pagar salários mais altos aos empregados a fim de obter os seus serviços. Mesmo quando agem de comum acordo, e se recusam durante algum tempo a fazer qualquer concessão, uma combinação entre os empregados pode forçar a concessão, sob pena de perderem a colheita que a maré favorável do mercado está oferecendo. O resultado geralmente é que sem demora grande parte dos ganhos estará sendo distribuída entre os empregados, e seus proventos continuam acima do nível normal, enquanto perdurar a prosperidade.
103 - ...Porém, podem ser meras flutuações. Exemplifica: Quando a maré mudou, os recém-chegados, menos aptos para o trabalho, deixaram as minas, porém mesmo então os mineiros que permaneceram eram em número excessivo para o serviço existente, e os salários caíram até a um limite em que os menos aptos à vida da mineração podiam obter mais trabalhando noutras indústrias. E esse limite era baixo, porque a maré alta de crédito, que culminou em 1873, havia solapado o comércio sólido, prejudicado os verdadeiros fundamentos da prosperidade, deixando quase todas as indústrias em condições mais ou menos precárias e depressivas.
104 - ...Enfim, para períodos curtos: ...No caso de qualquer agente de produção - seja humano ou material - essa procura é "derivada" da procura pelas coisas para cuja feitura é utilizado. Nesses períodos relativamente curtos as flutuações dos salários seguem, e não precedem, as flutuações nos preços de venda dos artigos produzidos.
Pgs. 210-221
"CAPÍTULO 20: "Juros do capital"
106 - Vê a possibilidade de juros negativos pelas mudanças de preferências temporais: ...uma pequena modificação das condições de nosso mundo seria bastante para transportar-nos a outro, em que a massa do povo fosse preocupada em se prover para a Idade avançada, e para as suas famílias, e no qual as novas perspectivas para o emprego vantajoso de riqueza acumulada sob qualquer forma fossem tão pequenas que a quantidade de riqueza para que se desejaria custódia segura excederia a que outros desejassem tomar emprestado. Nesse outro mundo, por conseguinte, mesmo aqueles que enxergassem meios de obter vantagens do uso de capital poderiam obter pagamento pelo fato de se encarregarem do mesmo. E os juros seriam negativos em toda linha.
107 - Faz uma crítica a Bohm-Bawerk no rodapé, mas não peguei os detalhes da polêmica. Parece que o austríaco quer excluir da análise da taxa de juros de uma economia certos empregos do que ele próprio deveria chamar de capital, talvez por julgar "improdutivos". Casas, hotéis, etc.
108 - Nas sociedades primitivas não havia senão poucas oportunidades para o emprego de capital novo em empreendimentos, (...). Os que tomavam emprestado eram geralmente os pobres e os fracos, pessoas cujas necessidades eram urgentes e cuja capacidade de negociação era muito pequena.
109 - Os prestamistas profissionais eram cruéis e mal vistos: Não somente as pessoas não educadas, mas também os doutos dos tempos primevos, os padres da Igreja medieval, e os governantes ingleses da lndia em nosso tempo têm-se manifestado no sentido de que os prestamistas "traficam com os infortúnios alheios, procurando ganhar da adversidade do próximo: sob o pretexto da compaixão, cavam uma cova para os oprimidos".
110 - Aristóteles havia dito que o dinheiro era estéril, e que extrair juros pelo empréstimo do mesmo era dar-lhe um uso antinatural.
111 - Critica Marx e os socialistas por considerarem tudo obra do "trabalho" e não do "trabalho e espera". Em outras palavras: a ser verdade que o adiamento das satisfações envolve em geral um sacrifício da parte daquele que adia, assim como acontece no caso de um esforço adicional da parte de quem trabalha; a ser verdade que esse adiamento permite ao homem empregar métodos de produção cujo custo inicial é grande, mas pelo qual o conjunto de satisfações aumente, tão certamente como no caso de um aumento de trabalho - então não pode ser verdadeiro que o valor de uma coisa depende simplesmente do trabalho gasto na mesma. (Fica parecendo que ele crê que numa sociedade autogerida não iam decidir esperar nada, rumando felizes à extinção.)
112 - A definição de Marshall de juro líquido tem a ver com a inadimplência: A necessidade de fixar uma soma adicional a título seguro contra o risco é tão óbvia que é raro se olvidar. Em palavras mais completas: ...o preço que o tomador tem de pagar pelo empréstimo de capital, e que considera como juro, do ponto de vista do prestamista deve ser considerado mais como lucro, pois inclui seguro contra riscos, freqüentemente muito pesados, e os ganhos de administração, quase sempre muito árdua, para reduzir o mais possível esses riscos.
113 - Atualmente o juro líquido sobre o capital na Inglaterra é de pouco menos de 3% ao ano, pois não se pode obter mais do que isso invertendo em valores mobiliários de primeira classe que garantam ao portador um rendimento seguro sem apreciável incômodo ou despesa de sua parte. E ao encontrarmos negociantes capazes tomando emprestado sobre hipotecas perfeitamente seguras, a, digamos, 4 % , podemos considerar esse juro bruto de 4% composto de um juro líquido, ou juro propriamente dito, de pouco menos de 3 % , e dos ganhos de administração dos prestamistas de pouco mais de 1 %.
114 - Por fim, explica a já muito sabida diferença entre juros reais e nominais.
115 - As antecipações da vida e efeitos distributivos da inflação: ...Quando há probabilidade de os preços subirem, as pessoas correm a tomar dinheiro emprestado e comprar mercadorias, e desse modo contribuem para a elevação dos preços. (...) os que trabalham com capital emprestado devolvem menos do que o valor real da quantia tomada por empréstimo, e enriquecem à custa da coletividade.
116 - Para Marshall dar este exemplo aqui, creio que as flutuações antigamente realmente eram bem mais pesadas em todas as economias. Antes das grandes intervenções dos BC's: ...Quando depois o crédito se abala e os preços começam a cair, todos desejam livrar-se das mercadorias e obter dinheiro, que está aumentando rapidamente de valor. Isso faz com que os preços caiam ainda mais depressa, e quanto maior a queda, mais se reduz o crédito, e assim por muito tempo os preços caem porque baixaram. De toda forma...: Veremos que as flutuações nos preços são motivadas apenas em muito pequena extensão pelas flutuações na oferta dos metais preciosos.
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