Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. I - Capítulo "21"

                                             

Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. I (Os Economistas) (1890)



Pgs. 275-292


"CAPÍTULO 21: "O Crescimento da Riqueza"


129 - Não sei se é histórico ou antropologicamente preciso, mas assim apresenta os primórdios da coisa: ...os poucos, os rebanhos de animais domesticados aumentaram, e durante a etapa do pastoreio eles eram a um tempo o prazer e o orgulho dos seus donos, os emblemas ostensivos de posição social, e acentuadamente a forma mais importante de riqueza acumulada como provisão para necessidades futuras. (...) À medida que a população foi se adensando e as pessoas se fixaram na agricultura, a terra cultivada tomou o primeiro lugar no inventário da riqueza. Benfeitorias como poços e casas iam surgindo. 


130 - ...Em certos lugares, contudo, pedras e metais preciosos, em suas várias formas, cedo se converteram em objetos desejáveis e um meio reconhecido de entesourar riqueza; enquanto isso, não falando dos palácios dos monarcas, grande parte da riqueza social, em muitas civilizações relativamente rudimentares, toma a forma de edifícios para fins públicos, principalmente religiosos, de estradas e pontes de canais e obras de irrigação... 


131 - ...Mas no século XVIII a Inglaterra inaugurou a era dos instrumentos de produção custosos. (...) Os implementos do lavrador inglês foram subindo lentamente de valor, por muito tempo, mas o progresso se acelerou no século XVIII. Logo o uso da força hidráulica, primeiro, e, em seguida, da energia a vapor determinou a rápida substituição dos instrumentos manuais baratos por custosa maquinaria, num departamento de produção depois do outro. Viria também a grande maquinaria nos transportes e indústria.


132 - Os instrumentos agrícolas de que dispõe uma família de lavradores indianos de primeira classe, que conte com seis ou sete homens adultos, são poucos e leves arados e enxadas, principalmente de madeira, com um valor total de cerca de 13 rúpias (PHEAR, Sir G. Aryan Village. p. 233) ou o equivalente ao seu trabalho de um mês; enquanto só o valor da maquinaria numa grande fazenda moderna, bem equipada e arável, atinge 3 libras por acre (Equipment of the Farm, editado por MORTON, J. C.), ou seja, um ano de trabalho de cada empregado. Essa maquinaria compreende máquinas a vapor, sulcadeiras, arados comuns e profundos, alguns movidos a vapor, outros de tração animal, diversas escavadeiras, grades, rolos, destorroadoras, furadoras para semear e estrumar, cultivadores a tração animal, ancinhos, ceifeiras, debulhadoras a vapor ou de força animal, limpadoras de palha, cortadoras de nabos, imprensadoras de feno e muitas outras máquinas. Ao mesmo tempo, aumenta o uso dos silos e dos galpões, e constantes progressos se fazem nas instalações de laticínios e em outras construções da fazenda; todas essas coisas visando, afinal, a grande economia de esforços, mas exigindo participação bem maior destes na preparação do caminho para o trabalho direto do agricultor na labuta da produção agrícola.


133 - ...E se nos voltamos para as indústrias têxteis, ou ao menos para aquelas que fabricam os produtos mais simples, constatamos que nos tempos antigos cada artesão se contentava com instrumentos que custavam apenas poucos meses de trabalho, enquanto nos tempos modernos se estima que a cada homem, mulher ou criança empregados corresponde um capital só em instalação fabril de mais de 200 libras, ou seja, o equivalente a cinco anos de trabalho. Da mesma sorte, o custo de um navio a vapor é talvez equivalente ao trabalho, durante quinze anos ou mais, daqueles que trabalharam nele; enquanto o capital de cerca de 1 bilhão de libras, aplicado em ferrovias na Inglaterra e no País de Gales, equivale a mais de vinte anos de trabalho dos 300 mil empregados nelas.


134 - Faz algumas críticas que podem ter seu grau de injustiça, mas transcrevo: Na Índia, e em menor proporção na Irlanda, encontramos gente que, na verdade, se abstém de prazeres imediatos, guardam somas consideráveis com enorme sacrifício próprio, e esbanjam todas as suas economias em suntuosas festas ou em cerimônias fúnebres e nupciais. Fazem provisões intermitentes para o futuro próximo, mas dificilmente qualquer reserva para o futuro distante: as grandes obras de engenharia pelas quais os seus recursos produtivos muito têm aumentado foram feitas principalmente com o capital do povo inglês, que se impõe muito menos privações.


135 - Incentivos na história (ou como os progressos eram represados pela insegurança sobre os direitos): o camponês laborioso e que se impunha privações para acumular alguma riqueza, só para vê-la ser arrancada pela mão de um mais forte, era um incentivo aos seus vizinhos para gozarem o prazer e o repouso quando pudessem. A região fronteiriça entre a Inglaterra e a Escócia fez pouco progresso durante um longo período porque estava sujeita a incessantes incursões; do mesmo modo, pouco economizavam os campônios franceses do século XVIII, que só podiam escapar da espoliação dos coletores de impostos fingindo-se de pobres; igualmente os camponeses da Irlanda, que, ainda há quarenta anos, eram obrigados em muitas fazendas a agir da mesma forma a fim de evitar que os proprietários rurais lhes exigissem rendas exorbitantes.


136 - Outra crítica que não sei bem se cola:...Esse tipo de insegurança quase desapareceu no mundo civilizado. Mas ainda estamos sofrendo na Inglaterra os efeitos da Lei dos Pobres, que vigorou no começo do século passado, e introduziu uma nova forma de insegurança para as classes trabalhadoras. Pois dispunha que uma parte dos seus salários devia, com efeito, ser paga em forma de assistência aos pobres; e esta distribuída entre eles na proporção inversa do seu trabalho, da sua parcimônia e da sua previdência, de sorte que muitos consideravam insensatez economizar para o futuro.


137 - ...A economia monetária aumenta a variedade de usos entre os quais uma pessoa pode distribuir seu gasto futuro. Uma pessoa que, numa etapa primitiva da sociedade, armazena algumas coisas para precaver-se contra uma necessidade futura pode achar, afinal, que não necessita tanto dessas coisas como de outras que não guardou: e há muitas necessidades futuras para as quais não é possível prover-se diretamente pelo armazenamento de bens. Mas aquele que guardou capital, do qual aufere uma renda em dinheiro, poderá comprar o que quiser para enfrentar as necessidades, à medida que surgirem.


138 - Apesar de reconhecer a capacidade da classe rica de poupar, defende certa redistribuição de renda para incentivas as classes médias - no mínimo - a fazê-lo também, elevando o bem-estar geral. Seria disciplinador.


139 - ...Um povo no qual a riqueza é bem distribuída e que tem altas ambições é capaz de acumular grandes riquezas sob a forma de propriedade pública; e só as economias feitas dessa forma pelas democracias ricas constituem uma parte não desprezível dos melhores legados que a nossa época herdou das precedentes. O progresso do movimento cooperativo em todas as suas múltiplas formas — sociedades de construções residenciais, de socorros mútuos, sindicatos, caixas econômicas de trabalhadores etc. — mostra que, mesmo quanto à imediata acumulação da riqueza material, os recursos do país não se perdem inteiramente, como supunham os antigos economistas, quando despendidos no pagamento de salários.


140 - Coloca que emprestar algo sem juros seria como "juros negativos", afinal, não se está remunerando o risco nem o dissabor do adiamento da satisfação do gasto. Enfim, entra a teoria da abstinência - embora Marshall não goste do termo, pois não necessariamente se trata de um sujeito vivendo sem luxo... Pelo contrário até - na veia: ...E sendo a natureza humana como é, temos razão em considerar o juro do capital como a recompensa do sacrifício causado pela espera do gozo dos recursos materiais, porque poucas pessoas poupariam muito sem recompensa. Prefere, portanto, o termo "espera". Seria a espera que legitimaria o capital, não a abstinência (coloca que Marx deitou e rolou na impropriedade desse termo). Coloca que não importa, nesse caso, a origem - legítima ou não - do recurso. Seu ponto é que ele está sendo utilizado de modo a gerar crescimento econômico, em razão da espera da satisfação possível.


141 - Segundo Marshall, a dependência em que está o crescimento do capital da alta estimativa dos “bens futuros” parece ter sido superestimada pelos autores antigos, não subestimadas, como argumenta o prof. Böhm-Bawerk.


142 - Os velhos economistas foram longe demais sugerindo que um aumento de juro (ou de lucros) a expensas dos salários sempre aumenta a capacidade de poupar, pois esqueceram que, do ponto de vista nacional, o investimento de riqueza no filho do trabalhador é tão produtivo quanto o seu investimento em cavalos ou maquinaria.


143 - A parte da "nota estatística" além de datada usa termos que nem entendi exatamente. Passei o olho só. Não pareceu mais útil.


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