Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. I - Capítulos 2, 3, 4, "5", "6" e "7"
Livro: Alfred Marshall - Princípios de Economia Vol. I (Os Economistas) (1890)
Pgs. 85-96
"CAPÍTULO 2: "A Substância da Economia"
18 - Algumas afirmações parecem românticas? A verdade é que as melhores energias dos mais hábeis inventores e organizadores de métodos e instrumentos aperfeiçoados são mais estimuladas por uma nobre emulação do que pelo amor ao dinheiro em si.
19 - Isto aqui tem a ver com o valor-de-uso e a questão das preferências: Os prazeres que duas pessoas sentem com o uso do fumo, por exemplo, não podem ser diretamente comparados; nem mesmo a sensação que uma pessoa experimenta, com isso, em diferentes ocasiões. Mas se encontramos uma pessoa em dúvida sobre se deve gastar uns poucos centavos em um charuto, numa xícara de chá ou em tomar uma condução em vez de andar a pé, então podemos, comumente, dizer que espera obter dessas coisas prazeres iguais.
20 - Coloca que a comparação indireta de satisfações - termo que prefere, ao "prazer", para não ser tido como necessariamente utilitarista ou até hedonista - não significa tomar partido no debate ético. O economista apenas "observaria", digamos assim.
21 - Não seria prudente, por conseguinte, dizer-se que dois homens com as mesmas rendas obtêm delas benefícios iguais, ou que teriam o mesmo sofrimento de uma diminuição igual dessas rendas. Coloca, por exemplo, que um imposto de uma libra pode doer de formas bem diferentes em pessoas da "mesma renda", digamos.
22 - ...As médias reduzem ou até quase eliminam a diversidade em comparações desse tipo: Mas essa fonte de erro é atenuada quando consideramos as ações e os motivos de grandes grupos de pessoas. Se nós sabemos, por exemplo, que a falência de um banco arrastou consigo 200 mil libras do povo de Leeds e 100 mil libras do de Sheffield, podemos muito bem supor que o prejuízo causado em Leeds foi duas vezes maior do que em Sheffield, a menos que tenhamos alguma razão especial para acreditar que os acionistas do banco numa dessas cidades eram mais ricos do que os da outra; ou então que o desemprego causado pela falência não seja sentido pela classe trabalhadora em proporções iguais nas duas cidades.
23 - Quando dizemos que um desejo é medido pela ação de que é o motivo, não se deve crer que admitamos que toda a ação seja deliberada e o resultado de um cálculo. Nisso, como de resto em tudo o mais, o economista toma o homem exatamente como ele se apresenta na vida ordinária; e na vida comum as pessoas não ponderam previamente os resultados de cada ação, seja ela inspirada pelos instintos nobres ou baixos de sua natureza. No rodapé, faz uma diferenciação entre pessoas que tendem a agir mais por impulso e capricho, tendo dificuldade de explicar até para elas mesmas suas ações, e pessoas que formam poderosos hábitos, que passam até a "governá-las" sem que seja lembrado, por vezes, o motivo da adoção deles - podendo se originar de reflexões prévias remotas até.
24 - Sobre a "área da economia" na vida, afirma: ...essa é a parte de sua vida onde, quando ele obedece ao hábito e ao costume, e age no momento sem refletir, é muito provável que esses próprios hábitos e costumes tenham nascido de um exame minucioso e ponderado das vantagens e inconvenientes dos diferentes modos de agir.
25 - De forma acertada, coloca que ser ávida por economizar ou ganhar dinheiro nada quer dizer em si: ...O rapaz que trabalha muito e economiza o máximo, de modo a poder custear mais tarde o seu curso universitário, é ávido de dinheiro; mas esta avidez não tem nada de ignóbil. Nem sempre o dinheiro é deus. Coloca, ainda, que alguns sentem prazer na competição/concorrência comercial, como se fosse esporte. Ou buscam "respeitabilidade".
Pgs. 97-104
"CAPÍTULO 3: "Generalizações ou Leis Econômicas"
26 - As leis da Economia devem ser comparadas às leis das marés de preferência à lei simples e exata da gravitação. (...) O termo “lei” não significa então mais do que uma proposição geral ou manifestação de tendências mais ou menos certas, mais ou menos definidas.
27 - Definições "epistemológicas" - ou sei lá o que - dele:...Assim, uma lei de ciência social, ou uma Lei Social, é um enunciado de tendências sociais, isto é, uma indicação de que se pode esperar um certo curso de ação de membros de um grupo social sob certas condições. (...) Leis Econômicas, ou postulados de tendências econômicas, são leis sociais que se referem aos ramos da conduta na qual a força dos motivos mais em jogo pode ser medida por um preço em dinheiro.
Pgs. 105-113
"CAPÍTULO 4: "A Ordem e os Objetos dos Estudos Econômicos"
28 - A razão de ser da Economia como ciência distinta é que ela trata sobretudo da parte das ações humanas mais sujeitas a motivos mensuráveis e que, por conseguinte, se presta mais que todas as outras a raciocínios e análises sistemáticos. Não podemos, na verdade, medir motivos de nenhuma espécie, sejam de natureza nobre ou baixa, tal como eles são em si mesmos: medimos somente a sua força motriz.
29 - Lança umas mil perguntas de problemas práticos com os quais um economista irá se deparar, alguns bem amplos. Exemplo: Quais os empreendimentos de que a sociedade deve, ela mesma, se encarregar, por intermédio do governo central ou local? (...) Quando o governo não intervém diretamente, até que ponto deve ele deixar os indivíduos e as companhias dirigirem os seus negócios como bem entenderem? Em que medida deve ele regulamentar as estradas de ferro e outras empresas que possuam uma espécie de monopólio, bem como o uso do solo e de outras coisas cuja quantidade não pode ser aumentada pelo homem? Será necessário manter em toda a sua extensão todos os atuais direitos de propriedade; ou terão as necessidades que os originaram desaparecido em parte?
30 - Joga algumas histórias infelizmente mal explicadas: Em parte sob a influência inglesa, algumas colônias australianas estão se lançando em audaciosas aventuras, que prometem maior conforto e descanso imediato para os trabalhadores.
31 - De certa forma, ao final do capítulo, dá uma relativizada até no caráter absoluto do direito de propriedade.
LIVRO SEGUNDO - Algumas Noções Fundamentais
Pgs. 114-120
"CAPÍTULO "5": "Introdução"
(Obs: como é um "livro segundo", Marshall coloca novamente como "capítulo 1", mas continuarei na minha própria numeração).
32 - Nada que julguei importante anotar.
Pgs. 121-128
"CAPÍTULO "6": "A Riqueza"
33 - Marshall fala até em "propriedade de escravos" - "onde isso existe" - como bem. É o auge do "sou descritivo". Descreve todo tipo de bem material e imaterial (tipo "direito à justiça). Sendo as outras condições iguais, uma pessoa tem maior riqueza real do que outra, no mais largo sentido da palavra, se o lugar em que vive tem melhor clima, melhores estradas, água melhor, um sistema de esgotos mais completo, e ainda jornais, livros e locais de recreio e de instrução melhores.
34 - A riqueza nacional e a dívida pública: Por exemplo, na medida em que a dívida nacional da Inglaterra e as obrigações de uma estrada de ferro inglesa estão em mãos de nacionais, podemos adotar o método simples de considerar apenas a ferrovia em si como parte da riqueza nacional, abandonando os títulos da estrada e da dívida pública. Temos, todavia, que deduzir os títulos emitidos pelo governo e por particulares ingleses, possuídos por estrangeiros, e adicionar os títulos estrangeiros de que os ingleses são detentores.
35 - “A palavra Valor”, diz Adam Smith, “tem dois diferentes significados: algumas vezes expressa a utilidade de certo objeto em particular, e outras, o poder de adquirir outras coisas que a posse de tal objeto representa”. Mas a experiência tem mostrado que não é bom o uso da palavra no primeiro sentido. Meio que identifica valor e valor-de-troca: ...o termo valor é relativo e exprime a relação entre duas coisas num lugar e tempo determinados.
36 - Os países civilizados geralmente adotam o ouro ou a prata, ou ambos, como dinheiro. Em vez de exprimir os valores do chumbo e do estanho, da madeira, do trigo e outras coisas uns em relação aos outros, nós os exprimimos em primeiro lugar em dinheiro; e chamamos o valor de cada coisa assim expresso: seu preço.
Pgs. 129-136
"CAPÍTULO "7": "Produção — Consumo — Trabalho — Artigos de Primeira Necessidade"
37 - O homem meio que não cria bens materiais: Tudo o que ele pode fazer no mundo físico é: ou reajustar a matéria, a fim de torná-la mais útil, como no caso de transformar uma tora de madeira numa mesa (...).
38 - Nisto aqui eu continuo discordando de Marx: Diz-se, às vezes, que os comerciantes não produzem; que enquanto o marceneiro faz a mobília, o negociante de móveis vende apenas o produto já elaborado. Mas não há fundamento científico para tal distinção. Ambos produzem utilidades, e nenhum deles pode fazer mais: o negociante de móveis movimenta e dá novo destino à matéria, a fim de dar-lhe maior serventia do que antes, e o carpinteiro não faz mais nada. (...) o peixeiro ajuda a transferir o peixe de onde é relativamente de pouca utilidade para onde possa ter maior emprego, e o pescador nada mais faz.
39 - ...em todas as inúmeras modificações que o sentido da palavra “produtivo” tem sofrido, ela sempre se tem referido à riqueza acumulada, deixando um pouco de lado, e até mesmo excluindo, a satisfação imediata e transitória: ...os mercantilistas, que consideravam os metais preciosos riqueza num sentido mais amplo do que qualquer outra coisa, em parte porque eram imperecíveis, tinham na conta de improdutivo ou “estéril” todo o trabalho que não se dirigisse no sentido de produzir bens para exportação, em troca de ouro e prata. Os fisiocratas julgavam estéril todo o trabalho que consumisse um valor igual ao que viesse a produzir, e consideravam o agricultor o único trabalhador produtivo, porque somente o seu trabalho (como o julgavam) deixava atrás de si um excedente líquido de riqueza acumulada. Adam Smith abrandou a definição fisiocrática, mas considerava ainda o trabalho agrícola mais produtivo que qualquer outro. Os seus adeptos abandonaram essa distinção, mas, de um modo geral, adotaram, ainda que com muitas divergências em questões de detalhe, a noção de que trabalho produtivo é o que tende a aumentar a riqueza acumulada; noção que está mais implícita do que expressa no célebre capítulo do Wealth of Nations, que traz o título “Sobre a Acumulação de Capital, ou Sobre o Trabalho Produtivo e Improdutivo”.
40 - ...Enfim, Marshall continua discordando, a meu ver com boa dose de razão, das tradicionais diferenciações entre produtivo e improdutivo. Exemplifica com o "trabalho doméstico": Sem dúvida há em muitas casas grandes uma superabundância de criados, alguns dos quais poderiam ter sua energia transferida para outros empregos, com vantagem para a coletividade. O mesmo é verdadeiro, porém, para a maior parte dos que ganham a vida destilando uísque e, entretanto, nenhum economista propôs chamá-los de improdutivos. (...) Todas as diferentes acepções em que a palavra “produtivo” é usada são muito sutis e têm um certo ar de irrealidade. (...) Algumas delas, por exemplo, levam à conclusão de que um cantor numa ópera é improdutivo, mas o impressor dos bilhetes de ingresso na ópera é produtivo.
41 - Problematiza também a questão dos bens necessários: A expressão artigos de primeira necessidade, como o termo “produtivo”, tem sido empregada de forma elíptica, deixando ao leitor suprir a matéria de que trata.
42 - Tenta distinguir consumo improdutivo de produtivo (coloca que esse é muito mais elástico para indivíduos com extraordinário poder de produção, Exemplificando com Newton e Watt): Podemos dizer que consistem numa casa com boas instalações, vários quartos, roupa quente, com algumas mudas de roupa de baixo, água pura, suprimento abundante de alimentos à base de cereais, certa quantidade de carne e leite e um pouco de chá etc., alguma educação e distrações e, por fim, que sua mulher seja suficientemente livre de outro trabalho, de sorte a cumprir bem os seus deveres de mãe e de dona de casa. Se em algum distrito o trabalhador não-qualificado é privado de qualquer destas coisas, sua eficiência sofrerá tanto quanto a de um cavalo malcuidado, ou a da máquina a vapor com insuficiente abastecimento de carvão. Todo consumo até esse limite é estritamente um consumo produtivo: toda restrição desse consumo não é econômica, mas danosa.
43 - ...Em adição, ainda, certo consumo de álcool e de fumo, e certas concessões à moda no vestir, são em muitos lugares tão habituais que podem ser tidos como necessidades convencionais, já que, para obtê-los, o homem e a mulher médios sacrificarão algumas coisas exigidas para a eficiência. (...) O consumo de objetos de necessidade convencional por operários é comumente classificado como consumo produtivo, mas, estritamente falando, não o deve ser.
44 - (Em tempo, discordo tanto da teoria do "trabalho improdutivo" quanto da do "consumo improdutivo".)
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